Gazeta da Torre
Espectadora assídua de programas de televisão como parte
de suas pesquisas, Maura Martins, jornalista, mestre e doutora em comunicação,
e professora-pesquisadora dos cursos de jornalismo e publicidade e propaganda diz
se sentir atraída pelos reality shows devido à imprevisibilidade dos formatos,
citando edições recentes do Big Brother Brasil como exemplo.
"Tudo é imponderável: nunca sabemos quais as
fórmulas exatas para o sucesso, mesmo quando os programas se desgastam (vide,
por exemplo, a edição ruim de BBB 19 e depois a de BBB 20 que parece ter
acertado em tudo). Além disso, como a maior parte dos espectadores, sou atraída
pela perspectiva de ver o 'real' que emerge da convivência dos indivíduos,
mesmo que seja por um breve segundo", conta.
Sobre assistir aos reality shows ser uma forma de
"cuidar" da vida dos outros, Martins diz que ao mesmo tempo em que
esses programas são sem significado, eles podem ser ainda mais que isso,
ressaltando que a matéria-prima destes conteúdos são, sem dúvida, a
bisbilhotice alheia. A educadora diz ainda que essa característica é inata do
ser humano, que está sempre curioso para ver "como as pessoas vivem,
convivem, reagem e qual é a sua essência".
Maura vai mais além: "Lembro, por exemplo, que essa
premissa – a de querer ver a vida do outro – é o que fundamenta a estética
realista na literatura. E ninguém acharia que obras realistas clássicas, como
as de Balzac ou Flaubert, são apenas entretenimento. Por isso, os que acham que
se trata de um entretenimento descartável ou inútil estão mais julgando o
veículo (a televisão) do que o conteúdo em si dos programas (o
cotidiano)", ressalta.
Questionamos Martins sobre o que pode ser absorvido com
esses conteúdos, e se os reality shows são mais que uma forma de alienação —
falamos aqui sobre a alienação sem ser, necessariamente, algo negativo — ou se
é possível retirar informações úteis sobre a vida em sociedade. A profissional
respondeu que o BBB, por exemplo, é formado pela convivência entre pessoas que
estão em uma sociedade, contando ainda que a edição do ano passado trouxe à
tona questões que, nos dias de hoje, vêm sendo bastante debatidas, como o
machismo e sexismo. "Cada temporada, ao que me parece, acaba refletindo um
pouco os debates do seu tempo – o que, é claro, também é estrategicamente
reforçado pela edição do programa", completa Maura.
Neste ano, o BBB 21 trouxe novos debates que também falam
muito sobre a nossa sociedade atual: a cultura do cancelamento. Os
participantes, mais do que em qualquer outra edição, estão sendo criticados
pelo público por atitudes "canceladoras" que extrapolam os limites da
humanidade e de um convívio saudável. A pesquisadora finaliza ainda dizendo que
ser popular não significa ser algo ruim, e que esses programas que mostram a
realidade fazem sucesso por falarem sobre nós, como indivíduos em sociedade.
Sendo assim, Maura diz que os debates podem reverberar em outros espaços, como
família, trabalho ou até na escola.
Fonte:Natalie Rosa/Canaltech
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