quarta-feira, 30 de junho de 2021

Método SUPERA x reforço escolar: O que pode levar seu filho mais longe?

 Gazeta da Torre

Depois de um ano longe da escola, crianças precisam hoje, mais do que nunca, de uma ajuda extra para superar as perdas de desempenho trazidas pela pandemia.

Mais do que aulas particulares focadas em matérias específicas, é preciso retomar o planejamento de vida dessa geração a médio e longo prazo.

A estimulação cognitiva desde a infância é a chave para construir uma geração mais focada em resolver problemas, com mais motivação, resiliência e desenvolvimento de suas capacidades emocionais e pessoais.

Se você quer ajudar o seu filho a desenvolver todo o potencial que ele tem, esse conteúdo é pra você. Aqui vou te explicar um pouco mais sobre o que é o Método SUPERA e qual a diferença entre o método e o reforço escolar, já que é comum que as pessoas que estão em busca de melhor desempenho escolar durante o processo de aprendizagem se confundam com as duas definições.

Neste conteúdo você verá:

• Como será o pós-pandemia para o desenvolvimento de crianças e adolescentes;

• Três diferenças entre Método Supera e reforço escolar;

• Necessidades para o futuro;

• Como ajudar crianças e jovens se desenvolverem para o futuro.

Como será o pós-pandemia?

A pandemia acelerou tendências e mudanças que estavam previstas para os próximos anos, como o maior uso do ensino remoto, por exemplo.

Com um mundo mais acelerado e efêmero, ou seja, em constante mudança, as próximas gerações terão como um dos principais desafios acompanhar essas mudanças, o que exigirá bem mais do que apenas o conhecimento trazido pelo ensino regular.

“Nossas crianças precisam aprender a lidar com um mundo que muda muito rápido e por isso é tão importante trabalhar o estímulo cognitivo. Não para que elas vivam em um constante ciclo de exigências, mas, sim, para que tendo um cérebro ativo e preparado, consigam lidar com essas novas realidades da forma mais serena possível e se desenvolvendo de forma plena e feliz”, explicou Patrícia Lessa, Diretora Pedagógica do SUPERA.

Três diferenças entre Método SUPERA e reforço escolar

Há quinze anos o método SUPERA ensina crianças de todo o Brasil a desenvolverem suas habilidades cognitivas e emocionais, melhorando os níveis de concentração, raciocínio e memória.

O reforço escolar é uma das alternativas encontradas pelos pais ou responsáveis quando os filhos apresentam alguma dificuldade nos conteúdos escolares ou porque gostariam de ampliar sua rede de conhecimentos.

Conteúdo 

O reforço escolar coloca-se como uma alternativa quando o aluno precisa de auxílio com um conteúdo específico e pontual, como por exemplo contas de divisão ou multiplicação. São conteúdos que, por não apresentarem relação com o cotidiano, perdem sua força de fixação, e, muitas vezes, são esquecidos quando não praticados.

O Método Supera não se limita e por isso não trabalha com conteúdo preestabelecido. Acreditamos que sair da zona de conforto é o primeiro passo para pensar fora da caixa e garantir alta performance escolar.

Por essa razão, trabalhamos com uma diversidade de recursos que garantem mais dinamicidade às aulas:

Livros: desenvolvidos pela nossa equipe de suporte pedagógico, possuem exercícios que ajudam nossos alunos em todas as matérias escolares;

Jogos: selecionados tendo em mente o desenvolvimento de um conjunto específico de habilidades que impulsionam o desempenho escolar e trabalham a estimulação cognitiva;

Ábaco: uma ferramenta milenar de cálculos que promove atenção e agilidade de raciocínio, habilidades essas que também impactam diretamente no desenvolvimento escolar.

Acreditamos que ter opções no processo de aprendizado é uma oportunidade de fazer com que o aluno se sinta seguro, e que, ao escolher o meio com que melhor se adapta e extraindo deste todas as possibilidades, tem-se um aumento das capacidades de memorização, assimilação e aplicabilidade do conteúdo nos mais diferentes aspectos da vida.

Metodologia

Um dos conceitos que embasam nossa metodologia é o da metacognição, ou seja, a tomada de consciência das estratégias que cada um usa para aprender. A eficácia da aprendizagem depende da construção de estratégias cognitivas e meta cognitivas sólidas que possibilitam ao indivíduo planejar e monitorar o seu desempenho.

E como a metacognição pode influenciar na motivação?

Pense bem: se o aluno tem capacidade de controlar e administrar os próprios processos cognitivos, isso lhe trará mais responsabilidade, segurança e autonomia com relação às suas próprias capacidades.

Raciocínio

Os conteúdos trabalhados em reforços escolares muitas vezes envolvem a memorização de datas, fórmulas, nomes etc. Essa forma de aprendizado, embora necessária, é relevante até certo ponto.

Isso porque é possível observar que a interpretação dos textos e do mundo tem sido cada vez mais cobrada, tanto no âmbito profissional quanto escolar.

Algumas atividades objetivam observar como se dá a construção de pensamento e raciocínio do indivíduo diante de uma situação atípica. Da mesma forma, observa-se que nas provas de vestibular é cobrada cada vez mais a interpretação de textos, seja eles enunciados matemáticos ou relacionados às humanidades.

E são para essas situações que preparamos nossos alunos! Nossas aulas de ginástica para o cérebro envolvem novidade, variedade e desafio crescente para que todos estejam preparados para qualquer situação.

Necessidades do futuro

Especialistas em recrutamento e tendências já elencam como uma das características mais valorizadas daqui para frente, a criatividade e capacidade de resolver problemas. Em um mundo tão complexo, quem não gostaria de ter uma mente mais criativa para lidar com os problemas da vida?

Uma mente mais atenta e ágil apresenta melhor capacidade de processar informações. “A estimulação cognitiva correta melhora o desempenho, desenvolvendo concentração, raciocínio lógico, criatividade e perseverança. Há também grandes benefícios comportamentais como o desenvolvimento da segurança e autoestima o que vai ser fundamental para os estudantes nos próximos anos”, alertou a especialista.

É preciso ensinar a pensar

Apresentar novos caminhos para o conhecimento e melhorar o processo de aprendizagem são propostas do Método SUPERA – rede pioneira em ginástica para o cérebro e estimulação cognitiva no Brasil. Por meio de exercícios que envolvem novidade, variedade e grau de desafio crescente, o SUPERA oferece a milhares de alunos no Brasil a possibilidade de ampliar o desenvolvimento do cérebro, possibilitando maior capacidade de raciocínio, performance, melhora no desempenho escolar, memória e desenvolvimento pessoal.

Frequentar aulas, realizar provas, fazer simulados. Essa é a rotina de milhares de jovens espalhados pelo país. Mas e quando o aluno encontra dificuldades no processo de aprendizado?

Busca-se alternativas as mais variadas: professores particulares, vídeo aulas e, dentre as mais eleitas e já comentada, reforços escolares, uma opção que, por apresentar resultados imediatos, coloca-se como a melhor das escolhas.

Mas e se eu te dissesse que é possível ir além? Que existe um método que ultrapassa os limites do básico e desenvolve capacidades que ajudarão seu filho para necessidades a médio e longo prazo? Essa é a filosofia do Método SUPERA!

“Quando estimulamos nosso cérebro da maneira correta fortalecemos a capacidade de memorizar e aprender coisas novas, o que, consequentemente influencia nossa vida pessoal e profissional. A estimulação cognitiva é a resposta para milhões de crianças neste momento, que precisam despertar o seu cérebro e a vontade de estudar e aprender”, concluiu Patrícia Lessa.

Para reflexão:

Tudo sempre parece impossível até que seja feito. Nelson Mandela

Você sabia:

Existem de 80 a 100 bilhões de células nervosas no cérebro.

Desafio de Junho:

O que é algo e ao mesmo tempo nada.

Resposta na próxima edição.

Resposta do desafio de Maio:

Três pessoas vão pescar, sendo 2 pais e 2 filhos. Como isso é possível?

Resposta: Estas três pessoas são o avô, o pai e o filho. Pois o pai é filho do avô e o avô, pai do pai.

Serviço:

Método Supera - Ginástica para o Cérebro

Responsável Técnica: Idalina Assunção (Psicóloga, CRP 02-4270)

Unidade Madalena

Rua Real da Torre, 1036. Madalena, Recife.

Telefone: (81) 3236-2907

Unidade Boa Viagem

Telefone: (81) 30331695

terça-feira, 29 de junho de 2021

Naturalização da violência no trabalho contra a mulher é obstáculo no combate ao assédio

 Gazeta da Torre

Maioria das mulheres já sofreu algum tipo de violência ou assédio no trabalho, mas demoram a perceber a situação

Dois casos de assédio chamaram a atenção no mundo do futebol nas últimas semanas. Rogério Caboclo, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), foi acusado de assédio moral e sexual por uma funcionária da entidade. Dias depois, Caboclo foi afastado do cargo. Já o atacante Neymar, da Seleção Brasileira e do Paris Saint-Germain, da França, foi acusado de assédio sexual por uma funcionária de uma empresa de material esportivo, que patrocinava o jogador. O caso está sendo investigado.

Os casos ganharam grande repercussão na mídia, mas são apenas a ponta do iceberg, já que a maior quantidade dos casos sequer é denunciada. Para se ter ideia, um levantamento feito pelo Instituto Patrícia Galvão, organização feminista de referência na defesa às mulheres no Brasil, revelou que 76% das mulheres já sofreram violência ou assédio no trabalho.

Violência no trabalho

A palavra assédio, seja moral ou sexual, traz a ideia de que existe uma relação de poder do assediador sobre a vítima. Mas é preciso entender cada caso e suas diferenças, como explica a terapeuta ocupacional Maria Paula Panúncio, professora e presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

O assédio moral se configura com gestos, palavras e comportamentos que expõem uma pessoa a circunstâncias humilhantes e constrangedoras, e que podem ser ofensivas à personalidade, dignidade e integridade física ou psíquica, com o objetivo de excluir a pessoa das suas funções, desqualificar ou prejudicar o trabalho. “Esses atos, para serem considerados como assédio, têm que ser frequentes, repetidos e intencionais”, destaca Maria Paula.

Já o assédio sexual se caracteriza por palavras ou atitudes que constrangem uma pessoa com a finalidade de conseguir vantagem ou favorecimento sexual. Conta a professora que esse tipo de assédio “pode ser caracterizado mesmo que praticado uma única vez e que a vítima se negue a realizar os atos sexuais”.

Apesar de o tema ser cada vez mais discutido, muitas pessoas ainda têm dificuldades em reconhecer uma situação de assédio. Segundo Maria Paula, a naturalização desse tipo de violência – já enraizada na sociedade – é um dos principais obstáculos. Brincadeiras e comentários sexistas ou de cunho sexual, assim como o tratamento rude ou grosseiro de um chefe, são exemplos de assédio moral e sexual, vistos com naturalidade no cotidiano.

Fonte:Jornal da USP

domingo, 27 de junho de 2021

Confinamento pelo coronavírus fez miopia infantil disparar no mundo todo

 Gazeta da Torre

O confinamento rigoroso para tentar evitar o contágio pelo coronavírus fez que, durante vários meses de 2020, os meninos e meninas de todo o mundo deixassem de ir à escola e não saíssem para brincar nos parques com seus amigos, como faziam antes da pandemia. Uma das consequências silenciosas desse isolamento obrigatório foi o aumento da miopia infantil. Estudos recentes de diferentes universidades da China, Canadá e América Latina concordam em apontar que a principal razão para o crescimento desta doença ocular no último ano foi a falta de luz solar.

Carolina Picotti, médica, oftalmologista pediátrica e autora de um estudo publicado recentemente na revista The Lancet, explica por telefone que os raios solares liberam dopamina na retina, e essa substância evita que o globo ocular se torne mais longo, o que resulta na miopia. “Se as crianças não saem ao ar livre e não recebem luz de sol, seu corpo não gera este neurotransmissor, e a doença dispara”, afirma a pesquisadora argentina. E acrescenta: “Nenhuma luz artificial pode substituir os raios solares na geração de dopamina”.

De acordo com Picotti, as conclusões do trabalho, que teve a participação de mais de 16 oftalmologistas de todas as regiões do país sul-americano, demonstram que a miopia dos participantes, com idades entre 5 e 18 anos, cresceu em média 40% entre 2019 e 2020, o ano no que estiveram presos em suas casas por causa do confinamento. “O percentual de aumento da miopia não só é muito alto como também confirma a hipótese de que os fatores ambientais, e não só os genéticos, podem intensificar ou atenuar esta doença”.

Picotti insiste em que em circunstâncias normais a evolução da miopia em crianças e adolescentes é oposta à que se observou no ano do confinamento: “À medida que o tempo passa e a criança cresce, a percentagem de progressão deve diminuir. Neste caso aconteceu o contrário: as crianças cresceram e a doença disparou”. Este aumento nos problemas de foco na visão à distância, que se repete em várias regiões do mundo, é muito preocupante quando se leva em conta que recentemente a Organização Mundial da Saúde estimou que em 2050 metade da população mundial será míope.

David Musch, professor do departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Universidade de Michigan, concorda com Picotti. Musch afirma por e-mail que o estudo do qual foi coautor, publicado há alguns meses na revista médica JAMA Network, confirma que as crianças da China apresentaram um drástico aumento da sua miopia durante os meses do confinamento.

Ele explica que o estudo comparou os níveis de miopia de mais de 100.000 alunos de escolas primárias na cidade de Shandong entre 2015 e 2020. “Nós nos perguntamos se a redução da exposição ao ar livre e à iluminação natural, resultantes do confinamento rigoroso entre janeiro e maio do ano passado, teria afetado à miopia dos menores”. A resposta foi contundente: encontrou-se miopia em uma percentagem mais alta nas avaliações de 2020 em comparação com as pesquisas anuais anteriores.

As crianças de seis a oito anos foram as mais afetadas. Musch afirma que o vertiginoso aumento da miopia pode trazer consequências mais graves para a saúde visual das pessoas à medida que vão crescendo. “Algumas desenvolverão complicações da miopia que ameacem a vista no futuro, como cataratas, glaucoma e descolamento de retina.”

Um estudo no Canadá, dirigido pela pesquisadora Sarah A. Moore e publicado no final do ano passado, revelou que nos meses mais duros do confinamento as crianças passavam em média mais de cinco horas por dia em atividades de lazer na frente das telas, além do tempo que já dedicavam às tarefas e aulas on-line.

Uma pesquisa na Colômbia, México e Chile revelou que 76% dos participantes jovens aumentaram sua exposição a telas durante o confinamento. Entre eles, 46% disseram que o tempo de exposição cresceu entre três e seis horas; 29%, mais de seis horas, e 25%, de uma a três. Este uso excessivo das telas está relacionado com alguns sintomas como secura ocular, fadiga ou cansaço visual, visão imprecisa temporária e dor de cabeça.

Entretanto, os especialistas concordam que o aumento da miopia nos menores não se deve, como se acreditava antes, ao uso intenso das telas, e sim à pouca atividade ao ar livre e, consequentemente, à ausência dos raios de luz solar. A pesquisadora Picotti afirma que “cientificamente” ainda não está comprovado que “a luz dos dispositivos eletrônicos gere miopia”. O que outros estudos já demonstraram é que a distância em relação à tela, o tamanho das letras e o contraste de fundo podem fazer o globo ocular aumentar ou diminuir, resultando em mudanças na qualidade da visão.

Musch insiste em que essa associação entre exposição aos raios de sol e controle da miopia deve servir para estimular pais e escolas a deixarem as crianças passarem mais tempo ao ar livre. “Em caso de novas pandemias, deveria ser permitido que os menores se divirtam ao ar livre em condições seguras”, afirma o especialista. Para Piccoti, estar ao ar livre pelo menos duas horas por dia é suficiente para ajudar a evitar a progressão da miopia nas crianças.

Fonte:El País

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Especialistas querem inclusão de alimentos ultraprocessados nas discussões da Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU

 Gazeta da Torre

Mais de 80 cientistas, representantes de governo e da sociedade civil, produziram documento em que sintetizam evidências científicas sobre os malefícios dos alimentos ultraprocessados à saúde humana e planetária. A proposta, que será encaminhada à Cúpula de Sistemas Alimentares, da Organização das Nações Unidas (ONU), pleiteia que o tema seja tratado com a devida relevância e que seja incluído nas discussões do evento, que acontecerá em setembro de 2021, quando se discutirá pontos críticos de sistemas alimentares, com foco em alcançar os objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. O  documento, sob o título Diálogo sobre ultraprocessados: soluções para sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis, foi lançado dia 24, com transmissão pelo canal do YouTube da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

O encontro que gerou o documento foi organizado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) e pela Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, ambos da FSP. Contou com a presença de cientistas como Carlos Monteiro (coordenador do Nupens), Tereza Campello (ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e atual professora titular da Cátedra) e José Graziano da Silva (ex-diretor geral da FAO, atual diretor do Instituto Fome Zero).

Dividido em seis tópicos, o documento explora evidências científicas sobre os impactos dos ultraprocessados na saúde humana e por quais mecanismos esses produtos elevam o risco de desenvolvimento de doenças. O texto mostra, ainda, como a produção e o consumo desses alimentos afetam o Planeta. Traz de forma detalhada três soluções globais necessárias para o enfrentamento do problema: a elaboração de guias alimentares que abordem os malefícios dos ultraprocessados, a produção de uma rotulagem de alimentos clara para o consumidor e a regulação de ambientes alimentares (onde ocorrem compra e venda de produtos alimentícios).

Segundo Tereza Campello, os impactos dos alimentos ultraprocessados no meio ambiente e no clima vêm sendo negligenciados nos debates internacionais. “O texto produzido coletivamente, com base na ciência, demonstra a urgência de ação para a regulação da indústria de alimentos, e será uma ferramenta estratégica para pautar a agenda de ultraprocessados tanto na Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU, quanto na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 26) e na Conferência de Biodiversidade. Não podemos continuar alimentando a ilusão de que a indústria vai se autorregular”, explica.

A Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU foi anunciada no Fórum Econômico Mundial, em 2019, pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em reconhecimento da urgência em tornar os atuais sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis.

A reunião tem como princípios o compromisso dos participantes em honrar a visão e os objetivos do encontro, reconhecer a complexidade da agenda de sistemas alimentares, adotar postura de inclusão de todos os atores envolvidos e construir confiança mútua para que haja consenso e para que as decisões sejam implementadas em diferentes níveis.

Mais informações: Marina Yamaoka, e-mail catedrajc@usp.br, e Murilo Bomfim, e-mail mbomfim@usp.br.

Fonte:Jornal da USP.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

A festa do santo São João - Memória, tradição e resistência cultural

Gazeta da Torre
24 de junho, dia do santo São João Batista
24 de junho - Dia do santo São João Batista

Dentre as manifestações culturais do Nordeste brasileiro os festejos juninos configuram como uma das maiores expressão da sua identidade. Chegada ao Brasil pelas mãos dos portugueses, a festa religiosa da tradição católica cristã amalgamou-se as especificidades regionais, as práticas do mundo rural e as tradições afro-indígenas –  das práticas mágico-sagradas, expressa nas crendices e superstições, as comidas a base de milho. Assim, tornou-se uma manifestação festiva edificada em consonância com o cotidiano de um povo mestiço que à festa transmitiu a diversidade de suas formas de ser e estar no mundo. 

A festa nascida entre os povos pagãos do Hemisfério Norte que em junho, no dia do solstício de verão, reuniam-se para saudar aos deuses e deusas objetivava garantir a fertilidade da terra e as boas colheitas. Ao ser incorporada ao calendário festivo da Igreja Católica (em torno do Século VI) a festa, agora dedicada a comemoração do nascimento de São João Batista, manteve sua condição de festa da colheita. De tal modo, no Nordeste brasileiro sendo o mês de junho época de fartura, no meio rural a festa passou a acontecer com a finalidade de comemorar as boas colheitas, momento de anunciar para todos a abundância. 

Nas últimas décadas, os festejos juninos passam por transformações, um contínuo processo de ressignificação da tradição que terminam, em alguns casos, por alterar completamente a essência da festa. É importante chamar atenção para o fato a transformação inicial deu-se a partir do processo de “rurbanização” da mesma (processo de transição do espaço rural para o urbano). Nesse processo, os elementos estruturadores da festa (conhecimentos, normas, valores, crenças e símbolos) começaram a perder seu sentido e caindo gradativamente em desuso. Aquela tradicional cerimônia onde parentes, os amigos, os namorados contraíam relações de compadrio, apadrinhamento, namoro e até casamento há muito caíram em desusança. Também não se ler a sorte, os esperados prognósticos de futuro, não se faz adivinhações para casamento. E as quadrilhas, momento do riso, da alegria e do improviso? Hoje são estilizadas, uniformizadas, padronizadas, coreografadas (secretamente), arduamente ensaiadas (por meses a fio) e dançadas num ritmo alucinante.

Mas, independente do formato e da pandemia que enfrentamos, os festejos juninos no Nordeste continuam lugar de destaque, disputando com o ciclo natalino a posição de festa mais importante da região. Continuam a revelar vivências, um prolongamento dos acontecimentos e valores que permearam a constituição da nossa sociedade, reveladoras dos diversos segmentos sociais nos quais é possível detectar a estrutura de relações da sociedade.

As festas juninas ainda se constitui em lugar de reprodução de valores, fortalecimento da identidade do grupo e consequente espaço de resistência e espaços de fortalecimento dos laços comunitários. Confirmando, como afirma Marcos Ayala (2001), que a festa além de permitir a recriação simbólica da memória, também estabelece vínculos com o passado, desperta uma forte consciência de filiação a uma nação, e contribui para reconstituir o sentimento de comunidade e pertença a um grupo, deixando “patente este vínculo essencial entre a memória, a identidade e o poder de resistência cultural”, um espelho através do qual os grupos se percebem - não apenas como portadores de valores culturais, mas também, como seus produtores.

Viva o Santo São João Batista! Viva o São João!

*Heloisa de Sousa, antropóloga e pesquisadora

sábado, 19 de junho de 2021

Estudo indica combinação de atividades para fugir do sedentarismo e da inatividade

 Gazeta da Torre

Cientistas da Universidade Caledônia de Glasgow, em conjunto com a Universidade Federal de Pelotas, descobriram uma espécie de “coquetel” de exercícios para reduzir os riscos de morte prematura e aumentar a longevidade. Eles descobriram que ficar sentado por muito tempo pode desfazer os benefícios da prática de atividades físicas.

Ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Ana Jéssica Pinto, pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição das Faculdades de Medicina (FM) e de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, afirma que existem duas situações distintas: inatividade física e sedentarismo. O primeiro caso ocorre quando a pessoa não atinge os 150 minutos de atividade semanais recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Já o sedentarismo consiste em permanecer muito tempo em atividades na posição de repouso, como sentado ou deitado.

“O estudo é muito legal porque ele tenta combinar duas coisas distintas. A gente tem atividade física e tempo sedentário sendo avaliados em conjunto”, diz. “Durante as 24 horas do dia, a gente tem três possibilidades: estar dormindo, estar fazendo uma atividade sedentária ou fazendo um comportamento ativo”, explica. Esse comportamento ativo é dividido pelas intensidades muito leve, leve, moderada e vigorosa. “O tempo que você passa em cada uma dessas coisas pode afetar sua saúde.”

O estudo indica que apenas cumprir com a recomendação semanal não é suficiente. Os benefícios da atividade física estão relacionados não só com a duração do exercício, mas também com o tempo gasto na atividade sedentária. “Eles identificaram que um tempo sedentário maior que 11 horas por dia era capaz de anular esse benefício que a gente viu com a prática de atividade moderada e rigorosa.”

Através do estudo, os pesquisadores recomendam uma combinação de atividades. Ana explica que três minutos de exercício moderado a vigoroso por dia, acrescidos de seis horas de atividade física leve e nove horas de tempo sedentário podem representar uma redução de 30% no risco de mortalidade. Esse é apenas um exemplo de combinação. “Eu posso não conseguir atingir a recomendação [de 150 horas semanais], mas ainda assim ter uma proteção com outros tipos de atividade.” A pesquisadora ressalta que o importante é combinar o aumento da atividade física e a redução do tempo sedentário.

Desde 2016, o Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição estuda os efeitos de reduzir o tempo sedentário em populações clínicas. Por meio de um estudo já concluído, o grupo observou a redução da glicose, os marcadores de inflamação, a pressão arterial e algumas classes de lipídios através de diferentes tipos de exercícios. “A conclusão da recomendação da OMS é que qualquer movimento conta, então movimente-se mais e sente-se menos”, conclui.

Fonte:Jornal da USP.

terça-feira, 15 de junho de 2021

A grande força de trabalho nômade digital está realmente chegando?

 Gazeta da Torre

Estamos realmente à beira de trabalhadores remotos espalhados pelo mundo em massa - ou as previsões do novo e grande movimento nômade digital foram exageradas?

As palavras “nômade digital” geralmente evocam a imagem de um expatriado milenar na Costa Rica, salpicando o Instagram com selfies em uma rede, um computador em uma mão e piña colada na outra. A legenda: escritório para o dia .

Agora, no entanto, com as vacinas sendo lançadas e os trabalhadores começando a tomar decisões em uma realidade pós-pandêmica, um número crescente de pessoas pode estar adotando o estilo de vida nômade digital - e não apenas jovens trabalhadores posando sob as palmeiras. Globalmente, a ascensão de um novo grupo grande de trabalhadores remotos e viajantes é uma das narrativas predominantes sobre um mundo de trabalho reformado pela Covid-19.

Algumas iniciativas dos principais participantes do setor de viagens aumentam essa previsão. Olhando em direção a um futuro pós-pandêmico, o Airbnb mudou seu foco de acomodação de curta duração para aluguel de longa duração - um mês ou mais, por exemplo - para escapadelas e viagens de trabalho, mesmo após o fim da era dos 'retiros de distanciamento social'. A empresa acredita que muitas pessoas podem não apenas continuar a trabalhar em casa - elas trabalharão em chalés na praia, cabanas na floresta e casas suburbanas fora dos caros centros das cidades.

Mas esta é uma previsão exagerada? Possivelmente não. O gênio do trabalho remoto saiu da garrafa: os trabalhadores desejam espaço para se movimentar mais do que nunca e têm mais recursos para fazer isso do que antes. No entanto, alguns especialistas dizem que não devemos esperar que todos que conhecemos vão embora: apenas alguns grupos de trabalhadores em tipos específicos de empregos serão realmente capazes de abraçar um estilo de vida digitalmente nômade, deixando outros para trás. Também não está claro quantas pessoas realmente darão o salto se tiverem a oportunidade.

No entanto, certamente há confiança de que a força de trabalho digitalmente remota está crescendo de alguma forma - aqui, ali e em todos os lugares. Mas quem exatamente será capaz de participar provavelmente se resume a quem tem o privilégio de fazê-lo.

Um futuro nômade?

Há nunca foi mais interesse no nomadismo digitais - “as pessoas que escolhem abraçar um estilo de vida habilitados para tecnologia independente do local que lhes permite viajar e trabalhar remotamente, em qualquer lugar do mundo Internet-conectado".

E nem todos os nômades digitais são mochileiros estereotipados que moram na praia com laptops, montando shows freelance criativos. À medida que o interesse pelo nomadismo digital aumentou durante a pandemia , o termo está se tornando cada vez mais amplo - uma espécie de nômade digital novo, atualizado e modificado. Esses funcionários podem se sentir muito mais familiares: pessoas que trabalham em horário integral das 9h às 17h em uma grande empresa.

Durante a pandemia, muitos trabalhadores 'convencionais' já começaram a se mover em direção a configurações digitalmente nômades. Da Suécia aos Estados Unidos , os trabalhadores se aglomeraram em chalés e cabines equipadas com wi-fi para trabalhar remotamente em locais de permanência adequados e aprovados pelo gerente. 'Apartamentos de quarentena' e 'retiros de distanciamento social' atraíram trabalhadores remotos a quilômetros de distância, em busca de mais espaço por algumas semanas - ou alguns meses. No primeiro trimestre de 2021, o Airbnb relatou que a quantidade de estadias de longo prazo (pelo menos 28 noites) quase dobrou ano a ano.

Um estudo mostra que em meados de 2020, a população nômade digital nos EUA explodiu em 50% em 2019 , passando de 7,3 milhões para 10,9 milhões. E, à medida que mais trabalhadores se tornam nômades, o estilo de vida se popularizou: dizer à sua família ou empresa que você deseja se mudar enquanto trabalha pode ter atraído olhares céticos no passado, mas a ideia não parece tão rebuscada agora - especialmente porque algumas empresas estão cada vez mais permitindo que seus funcionários trabalhem remotamente por tempo indeterminado .

Os dados sobre os desejos dos trabalhadores combinam com esse interesse crescente em estilos de vida digitalmente nômades. Pesquisas em todo o mundo mostraram que a maioria dos trabalhadores deseja continuar a trabalhar remotamente de alguma forma - seja em casa, em uma casa à beira-mar, em uma casa de fazenda em um subúrbio muito menos caro do que a cidade em que viviam antes ou em um país completamente diferente.

“Não vejo razão para que isso não continue a acontecer no futuro”, diz Robert Litchfield, professor associado de economia e negócios do Washington & Jefferson College, nos Estados Unidos. Ele é coautor de um livro sobre nômades digitais com Rachael Woldoff, professora de sociologia da University of West Virginia, nos Estados Unidos. Eles apontam que qualquer mudança em direção ao nomadismo estaria em linha com as tendências que surgiram muito antes da pandemia: uma pesquisa com 15.000 americanos em 2017 mostrou que 43% já trabalhavam remotamente pelo menos algumas vezes, um número que subiu 4 % de 2012.

“As pessoas não vivem onde está seu trabalho, mas trabalham onde vivem - essa era a ideia” que foi reforçada durante a pandemia, acrescenta Olga Hannonen, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade da Finlândia que estuda nômades digitais.

Mas, embora o interesse esteja disparando e alguns trabalhadores estejam realmente experimentando o nomadismo, alguns especialistas estão céticos de que a força de trabalho ficará repentinamente repleta de nômades digitais permanentes, à medida que a vida diária em muitos países começa a se estabilizar.

“Essa ideia de que as pessoas serão nômades por muito tempo é muito irreal”, diz Erin Kelly, professora de estudos de trabalho e organização do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. “Acho que a maioria das pessoas deseja ter uma casa, conhecer seus vizinhos e estar baseada em um determinado lugar.” Embora ela espere que algumas indústrias aceitem o nomadismo entre os funcionários - setores como TI que já têm uma cadeia de trabalho global, ela diz - “Não acho que veremos isso em grande escala”.

Campo de jogo desigual

Mesmo se houver uma mudança em massa em direção ao nomadismo digital, no entanto, a mudança não será demograficamente igual. A oportunidade e a capacidade de entrar em um estilo de vida de trabalho em trânsito simplesmente não estão disponíveis para todos.

“Para ser um nômade digital, você precisa ter uma liberdade tremenda - você precisa ter um bom passaporte, não pode ter antecedentes criminais, não pode ter muitas dívidas”, diz Beverly Yuen Thompson, professora associada de sociologia no Siena College, em Nova York, que estuda nômades digitais. Ela diz que esse sempre foi o caso dos nômades digitais tradicionais, mesmo que eles não ganhem muito dinheiro ou tenham se mudado para o exterior porque não podiam pagar seu país de origem.

“Essas pessoas não acham que são ricas, mas se sua família pode enviar uma passagem de avião para salvá-lo se você estiver na Tailândia e estiver em uma situação difícil, isso é um grande privilégio.”

“A cada estudo sobre nômades digitais, essa questão [da desigualdade] é levantada”, diz Hannonen. “No momento, ser um nômade digital é um fenômeno muito ocidental de pessoas que podem viajar pelo mundo”; tornar-se um é símbolo de um “estilo de vida privilegiado”. É mais fácil para algumas pessoas se tornarem nômades digitais e mais difícil para outras, nacional ou internacionalmente, antes ou depois da Covid-19.

Thompson também aponta que a maioria dos nômades digitais são brancos. Isso acompanha uma nova pesquisa do Economic Policy Institute, que mostra que, nos Estados Unidos, um em cada quatro trabalhadores brancos consegue trabalhar em casa - o que é comparado a um em cada cinco trabalhadores negros e um em cada seis trabalhadores hispânicos . A organização também encontrou disparidades entre os níveis de educação: um em cada três trabalhadores com diploma de bacharel conseguiu trabalhar em casa durante a pandemia, em comparação com cerca de um em 20 trabalhadores com apenas o ensino médio.

Thompson acredita que se mais trabalhadores se tornassem nômades, isso reforçaria a desigualdade. Por causa das profundas desigualdades sistêmicas que existem há décadas que levaram as pessoas mais pobres e negras a serem colocadas em um caminho que leva a piores níveis de educação e empregos com pior remuneração, é menos provável que encontrem um emprego que permita o trabalho remoto em primeiro lugar, muito menos permitir que trabalhem por um longo prazo em um local diferente. Uma força de trabalho nômade em escala real poderia simplesmente manter esse ciclo em andamento, dando mais privilégios e vantagens para pessoas já privilegiadas.

E mesmo entre os trabalhadores brancos e bem pagos da economia do conhecimento que constituem a maioria dos teletrabalhadores, as únicas pessoas que poderiam realmente se tornar nômades digitais - que talvez vivam em um local distante e depois venham para o escritório uma ou duas vezes um quarto - são executivos de nível sênior, explica Susan Lund, sócia da McKinsey & Company, sediada em Washington, DC, que pesquisa mão de obra, desenvolvimento econômico e trabalho remoto.

As empresas estarão mais dispostas a acomodar os chefes poderosos e de alto rendimento, diz ela. No entanto, isso pode depender da situação - Litchfield e Woldoff dizem que entrevistaram mais trabalhadores juniores para seu livro, que ficaram surpresos ao receber ofertas de retenção de seus chefes quando disseram que pediriam demissão se não pudessem trabalhar remotamente por um longo prazo.

Mesmo assim, deixando o nomadismo digital de lado, Lund diz que, com base na pesquisa da McKinsey, “60-70% da força de trabalho tem zero oportunidades” de trabalhar remotamente . Muitas pessoas estão “cortando cabelo, estão cuidando de pacientes, estão em uma fábrica onde você trabalha com máquinas ou em um laboratório que trabalha com equipamentos especializados”.

“Definitivamente, há uma questão de patrimônio líquido”, diz Lund. "São predominantemente os trabalhadores de colarinho branco com ensino superior, que trabalham em escritórios e que podem fazer isso."

O resultado mais realista

Especialistas dizem que algumas indústrias definitivamente terão mais nômades digitais entre seus funcionários após a pandemia. Mas eles acrescentam que uma grande mudança em direção ao nomadismo digital geral provavelmente não acontecerá.

Um resultado mais provável é que mais trabalhadores podem acabar em situações em que suas organizações implementam um cronograma de trabalho híbrido que os força a vir para o escritório pelo menos às vezes, e os trabalhadores podem ser realocados com base nesse requisito. Se as pessoas quiserem se mudar, Lund acredita que será um pouco mais longe do escritório, mas ainda em uma distância de deslocamento. “Acho que há essa [tendência das pessoas] se espalhando para cidades menores e áreas rurais - mas ainda não, 'Eu quero ir para a Croácia' ou 'Eu quero viver em Aspen'”, diz ela.

Mesmo que o número de pessoas que podem viver indefinidamente em uma Airbnb em Lisboa por meses a fio aumente após a pandemia, o privilégio de fazer isso ainda permanece apenas com um grupo minúsculo.

No geral, diz Kelly, “eu diria que o trabalho 100% remoto é uma possibilidade para alguns funcionários e talvez viável em alguns setores, mas não se tornará o novo normal”.

Fonte: BBC News

domingo, 13 de junho de 2021

Cinco “investimentos” que frustram muita gente

 Gazeta da Torre

Certamente, você também já viu o mesmo que eu: muita gente bater no peito, se orgulhar por ter feito investimentos e estar avançado nesse caminho. Mas, a realidade é que, muitas vezes, são maus negócios. Por isso, resolvi falar de cinco desses “investimentos” que costumam ser pegadinha na vida de várias pessoas. Fique atento e busque reais oportunidades de investir, e se alguma dessas deu certo para você, que bom, foi realmente premiado, tem disso também.

O primeiro “investimento” que você ou alguém da sua família pode ter caído é a compra do imóvel, investir na casa própria. Os nossos pais passaram para a gente que essa aquisição é importante porque “haja o que houver, você vai ter o seu canto, o seu teto”. Na realidade, se for financiado e você deixar de pagar a prestação por três, quatro meses, vai ver que ele não é tão seu, está em nome do banco, e diante de sua dívida, pode ir a leilão.

É preciso entender que imóvel é passivo e não ativo, pois, com a compra dele, você tem condomínio, IPTU, taxa de bombeiros, despesas de manutenção, energia, água, além das despesas iniciais que muitos têm antes de entrar no imóvel com reforma. Ou seja, mais gastos no seu dia a dia.

Investimento é aquilo que te dá retorno, que vai te rentabilizar de alguma forma, se é para morar, você pode encarar como um investimento filosófico, emocionalmente falando. Se você compra um apartamento para alugar, aí sim, pode ser um investimento. Mas, de alguns anos para cá, poucos alugueis estão valendo a pena para os proprietários.

O segundo “investimento” que não é investimento é a compra de criptomoedas, sendo bitcoins a mais famosa delas. A minha concepção é que se trata de uma aposta e não de investimento. É um ativo, o governo brasileiro (e não só ele), não vai assumir como moeda e admitir duas “moedas” em circulação no país. Sendo assim, devemos declarar no imposto de renda como um ativo. Mas, de certo, esse ativo não vai produzir para você. Se você tem um bitcoin, vai ter sempre essa mesma quantidade. O que pode acontecer é o valor de uma unidade valorizar ou desvalorizar, como acontece quando compramos moeda estrangeira que, da mesma forma, tende a variar de acordo com a oferta e demanda. As criptomoedas, como o nome nos remete, são em sua essência moedas, livres de intervenções e intermediários, com mais autonomia, mas que surgiram para ser transacionadas. Porém, é possível ver pessoas que as defendem como um investimento, que pode ser indicado para a proteção do portfólio, da carteira de investimentos.

Agora, trago o terceiro que muita gente chama de investimento: a previdência privada. Pode ser um bom investimento ou um péssimo negócio, a depender de vários detalhes que, em geral, não são analisados da melhor forma, o que termina levando muita gente a aportar recorrentemente em produtos de péssima qualidade e ineficazes, porém, claro, existem bons produtos e que fazem sentido no planejamento financeiro de muita gente. Eu vejo a previdência como uma renda complementar para o seu futuro, muitos veem como um seguro, uma forma de você garantir uma velhice mais tranquila. É uma alternativa para se planejar e ter segurança no longo prazo. Digo mais: ao longo desses anos trabalhando com planejamento financeiro, ainda não encontrei ninguém que tivesse uma previdência e pudesse viver no futuro apenas com a renda que essa previdência vai proporcionar. Ou seja, é mais um meio para um futuro mais tranquilo, mas não vai sanar todas as despesas dessa fase.

Frequentemente, vejo também títulos de capitalização e consórcios serem vendidos como investimentos. Os títulos de capitalização, em muitos casos, você tira menos do que aportou ao longo do tempo, tendo como vantagem indicada no contrato a participação em sorteios. Cuidado com esse tipo produto, que termina se assemelhando a uma rifa ou produtos de loteria. E o consórcio vem como uma forma de pagamento, meio para a aquisição do imóvel que a pessoa deseja morar, o que, como vimos mais acima, se caracteriza como um passivo e não um ativo.

Cuidado ainda com as pirâmides, que a cada ano pegam milhares de pessoas por aí. Em geral, as que caíram, buscavam ganhos fora da curva, alta rentabilidade num curto prazo, e esses atalhos não se encontram assim, mas as promessas existem em cada esquina, em muitos perfis nas redes sociais. E sempre terá alguém que vai testemunhar a favor, afirmar que teve ganhos, retorno, e isso acontece de fato, acontece com os primeiros a aderir, pois o estelionatário precisa ter algumas pessoas que bravem aos quatro ventos que dá certo e que contem vantagem por aí, e esses trarão mais gente e quando o “circo tiver armado”, o golpe acontece!

Tenha atenção para esses cinco exemplos que eu trouxe hoje para você. Alguns deles têm pontos positivos na vida de uma pessoa, a partir do momento que você entende e tem claro na mente o motivo pelo qual está adquirindo aquilo, o propósito e papel dele no seu planejamento. Siga em frente e procure boas oportunidades de investir respeitando sempre o seu perfil, seja ele conservador, moderado ou arrojado.

 

Até a próxima!

sábado, 12 de junho de 2021

Dia dos Namorados: o efeito do amor no cérebro

Gazeta da Torre

“É o amor, que mexe com a minha cabeça e me deixa assim!”. Assim como diz a famosa canção, o amor é um dos sentimentos que mais proporciona reações diversas em nosso cérebro! Ele faz com que surjam borboletas no estômago, faz a gente suar frio e ainda nos faz passar horas e horas imaginando um futuro ao lado da pessoa por quem estamos apaixonados. A mão treme, o coração dispara, perdemos noites de sono, sorrimos sem motivo, ficamos “bobos” … Você sabia que existe uma explicação científica para todas essas reações que acontecem no nosso corpo?

Nosso corpo reage quimicamente aos sentimentos; saiba quais são as reações em nosso cérebro quando estamos apaixonados

Primeira curiosidade: você sabia que o amor acontece primeiro no cérebro? De acordo com estudos da neurociência, o amor se assemelha a um vício, uma vez que faz com que sejam liberadas substâncias químicas ao reconhecerem uma suposta recompensa – entre elas, a dopamina, ocitocina, adrenalina – em nosso corpo, trazendo sensações como ansiedade, prazer, euforia, conforto, apego.

Falando em emoções, elas estão intimamente ligadas às nossas capacidades cognitivas. Segundo Solange Jacob, especialista em habilidades cognitivas e diretora acadêmica da rede de escolas SUPERA – Ginástica para o Cérebro, há uma relação direta entre emoção e cognição. A qualidade das conexões neuronais começa a ser garantida no início da vida, justamente no período de construção de apego seguro – principalmente, ao termos contato com o amor materno, por exemplo. “O amor modifica o cérebro; é um dos sentimentos capazes de fazer com que a outra pessoa seja insubstituível; muda o nosso comportamento e nos torna melhores”, diz a profissional.

De acordo com o professor Pedro Calabrez, pesquisador do Laboratório de Neurociências Clínicas da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, a paixão existe e é fruto de alterações no funcionamento do cérebro, sendo regulada por hormônios e neurotransmissores.

Ainda segundo o especialista, os amantes e apaixonados de plantão apresentam baixos níveis de serotonina – neurotransmissor que regula nosso humor, sono e disposição. Essa é a explicação para aqueles que dormem e acordam pensando na pessoa amada.

E as outras sensações que temos quando estamos apaixonados? Como explicar?

Pensamento nas Nuvens

O ato de pensarmos na pessoa por vários momentos do dia, faz com que nosso sistema límbico seja ativado, trazendo a sensação de recompensa! Esse é o motivo pelo qual o mundo “parece cor-de-rosa” quando estamos apaixonados, fazendo com que enxerguemos a pessoa amada como perfeita!

Borboletas no estômago

A partir do momento em que idealizamos a pessoa amada por meio da liberação da dopamina, nosso corpo começa a reagir… E a famosa sensação de borboletas no estômago se torna real! Isso ocorre porque nosso corpo envia estímulos às glândulas adrenais, localizadas nos rins; local onde os hormônios como a adrenalina e a norepinefrina são bombeadas. Esses hormônios são responsáveis pela alteração nos batimentos cardíacos, euforia e excitação.

O amor é cego

E não é que isso também é verdade? A paixão faz com que nossa amígdala – responsável pela nossa percepção de medo, raiva -, passe a funcionar de maneira diferente. Ela fica no lobo temporal e é responsável por comandar nossas decisões e nosso bom senso. Por isso, o amor pode trazer mudanças significativas em nossas emoções e atenção, uma vez que nosso controle cognitivo é prejudicado. E a pessoa amada se torna livre de defeitos!

Após os primeiros momentos de euforia, casais que estão juntos por muito tempo voltam a produzir serotonina, trazendo a sensação de confiança; a produção de novos neurônios também retorna ao seu estágio normal. Uma área especial do cérebro, denominada ventral pallidum passa a ser ativada, com a produção de oxitocina (hormônio do amor) e vasopressina; ambos relacionados à monogamia.

Não queremos largar um só minuto

Você sabia que temos o hormônio do amor? Sim, a ocitocina será liberada e é produzida quando as pessoas estabelecem contatos físicos, como o abraço, o beijo e por aí vai. De acordo com estudo da CNN, a ocitocina é responsável por fortalecer os laços sociais, fortalecendo as relações entre os casais, reduzindo os níveis de estresse e dando aquela sensação de não querer sair de perto da pessoa amada por nenhum momento.

Mesmo diante de tantas alterações, sabemos que o amor não se resume somente a reações químicas. Ele é construído diariamente, com diálogo, respeito, carinho, atenção, momentos de alegria, compreensão. Sem restrições, sem rótulos, com liberdade – somente o desejo de fazer o outro feliz. E é assim que o SUPERA deseja um Feliz Dia a todos os casais, vivam sempre esse sentimento da cabeça aos pés!

Serviço:

Método Supera - Ginástica para o Cérebro

Responsável Técnica: Idalina Assunção (Psicóloga, CRP 02-4270)

Unidade Madalena

Rua Real da Torre, 1036. Madalena, Recife.

Telefone: (81) 3236-2907

Unidade Boa Viagem

Telefone: (81) 30331695

domingo, 6 de junho de 2021

Conivência com a violência ficará marcada na biografia dos tempos atuais

 Gazeta da Torre

Ato contra Bolsonaro no Recife (29/5)
termina com truculência

Enquanto produzia o seu mais recente livro, Arrancados da terra, uma obra sobre judeus refugiados no Brasil e nos Estados Unidos no século 17, o biógrafo Lira Neto se deparou com temas como demonização étnica e propagação de discursos de ódio. Não obstante, em determinados momentos, o escritor já não sabia mais se estava trabalhando com o passado ou o presente, dadas as similaridades observadas nos dois períodos.

Em entrevista a plataforma UM BRASIL, Neto, jornalista com projeção na literatura biográfica, destaca que “o futuro vai nos cobrar pelos atos e pelas omissões” vistos no Brasil contemporâneo, o qual ele classifica como tempos “de retrocesso de décadas de conquistas civilizacionais”.

“Começamos a naturalizar o discurso violento e preconceituoso, inclusive quando era enunciado em defesa da liberdade de expressão. Ou seja, da forma mais cretina, tentamos estabelecer um contraponto ao politicamente correto numa adesão total ao politicamente incorreto, sem limites”, observa o escritor.

Morando em Portugal, por não conseguir “respirar o ar tão tóxico” da terra natal na atualidade, Neto afirma que, no Brasil, “a ignorância se tornou vaidosa de si mesma”.

“O fato de ser pouco ilustrado ou polido virou um valor, um ativo valorizado, inclusive como modo espontâneo de ser. Então, a deseducação virou novamente uma coisa mais do que aceitável, perseguida”, frisa o jornalista.

Biógrafo de nomes como os ex-presidentes Getúlio Vargas e Castello Branco, a cantora Maysa, o escritor José de Alencar e o sacerdote católico Padre Cícero, Neto pontua que o gênero no qual se especializou não se limita a contar a trajetória de personalidades históricas.

“Sempre digo que quando você biografa uma pessoa, não está biografando um homem ou uma mulher, mas toda uma época, todo um contexto, porque esta existência dialoga todo o momento com o mundo em que está inserida. Nenhum homem é uma ilha, como dizia o poeta. Então, toda a ideia, quando biografo alguém, é fazer um retrato de uma época”, explica.

Neste sentido, ele ressalta o desafio de, no futuro, relatar a conivência com o fato de a sociedade ter deixado “o que de mais perverso e de pior tínhamos” ser alçado ao poder.

“Quem fizer a biografia deste tempo e quem estiver fazendo a história do presente não podem deixar de levar em consideração o momento em que isso iniciou. (…) Assim como podemos perguntar a um alemão por que ele deixou que acontecesse o nazismo, nossos netos vão nos perguntar como é que deixamos acontecer o que está acontecendo na atualidade. O que os livros de história vão dizer sobre a nossa omissão?”, indaga o escritor.

Fonte:UM BRASIL

O escritor nordestino Gilmar de Carvalho, guardião da cultura brasileira

Gazeta da Torre

O escritor nordestino Gilmar de Carvalho
construiu uma vasta obra

Um pesquisador nada óbvio, apaixonado por um Padre Cícero pop e encantado pelas estátuas do santo que dividiam espaço com as imagens de Madonna, a cantora, nas feiras de Juazeiro do Norte, no Ceará. Gilmar de Carvalho era devoto das tradições em movimento, fiel incentivador dos saberes da terra. Professor universitário, escritor e curador, o cearense costumava disparar palavras tão ácidas quanto diretas. “Mais jovem, eu era da categoria dos insuportáveis”, disse certa vez em uma entrevista. Atuando ora na vanguarda criativa literária ora na pesquisa das tradições culturais, Gilmar passeou pelo jornalismo, pela publicidade, pelo romance, pelo teatro e pelas teses acadêmicas. Costumava sentir-se um tanto “inadequado” pela falta de paciência em abraçar uma bajulação que pudesse dar-lhe mais projeção nacional.

Sonhou com o sucesso e era vaidoso, mas preferiu voltar seus passos ao desbravamento das culturas populares brasileiras, quase sempre à bordo de seu carro popular e às custas de seus próprios recursos. Estudava as tradições com o olhar no futuro e recusava a pecha do folclore para falar ―e especialmente escrever― sobre o Nordeste e o Ceará. Mergulhou na literatura de cordel, retratou e reeditou o poeta Patativa do Assaré. Desbravou histórias de gerações que faziam arte do barro e trouxe à tona a contemporaneidade de uma centena de rabequeiros que, escondidos pelos sertões, perpetuavam suas toadas. Levava tudo por onde fosse: da academia às salas de aula e museus.

Gilmar publicou mais de 50 livros, a maioria deles acadêmicos. E, não fosse a covid-19 levar-lhe (ele faleceu no dia 17 de abril), lançaria neste ano o livro Poéticas da Voz – Aboios, Benditos, Cantoria, Cordel, Emboladas, Loas, Saraus, Torém, Trovas para retratar o cordel cearense desde o século 19. O livro está pronto e ainda será publicado. “É uma verdadeira enciclopédia sobre o assunto que, somada ao conjunto de sua obra, eleva Gilmar de Carvalho à altura de um Mário de Andrade, de um Câmara Cascudo”, define a pesquisadora Anna Maria Kieffer. A vasta obra do pesquisador cearense foi tema do seminário Gilmar de Carvalho: Devoção e Pesquisa, realizado pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

O seminário se debruça na obra do professor aposentado da UFC (Universidade Federal do Ceará) que virou um pouco memória da cultura brasileira. Gostava de ganhar a estrada e revisitar várias vezes poetas e artistas. Fez acervo tradicional e até em sua conta do Instagram. Acreditava que os mistérios das manifestações culturais precisavam ser decifrados com tempo, paciência e silêncios. “Desconfiem de quem saca tudo num olhar apressado”, dizia.

Gilmar de Carvalho nasceu em 1949 em Sobral, a mais de 200 quilômetros de Fortaleza, mas com menos de dois anos foi morar na capital cearense, onde cresceu. Formou-se em Direito e Comunicação Social. Durante a faculdade, até pensou em mudar-se para o eixo Rio-São Paulo, mas, já maduro e com os dois pés fincados na Universidade Federal do Ceará (onde foi professor), parecia grato por não ter debandado de vez rumo ao Sudeste. Morou em São Paulo por alguns anos para cursar o mestrado em Comunicação na Universidade Metodista e depois o doutorado em Comunicação e Semiótica na PUC. Sempre optou por voltar ao Ceará. “Acredito que para onde quer que eu fosse, eu seria uma pessoa inadequada, incômoda, desagradável, como dizem que eu sou. Então não acredito que eu tivesse feito sucesso”, justificou certa vez em uma entrevista, após ser questionado se uma vida no Sudeste teria lhe dado maior reconhecimento. “Valor eu sei que tenho, mas falta molejo para uma negociação que nem sempre eu topo fazer, da bajulação, da subserviência.”

Em 2019, o pesquisador foi indicado para receber o título de Doutor Honoris Causa pela UFC, mas recusou devido à nomeação de Cândido Albuquerque como reitor da instituição por Jair Bolsonaro. Gilmar de Carvalho considerava Albuquerque um “interventor”, já que sua ascensão ao posto aconteceu mesmo tendo sido o menos votado pela comunidade acadêmica para a função.

Gilmar de Carvalho construiu sua trajetória com o pé na estrada e um olhar à frente do tempo. Viajou por muitas cidades do interior do Ceará em busca de tradições, poetas, xilogravuristas, artesãos, artistas. “É preciso viver para saber, para sentir. Desaconselho o olhar de turista sobre qualquer manifestação”, defendia. Com algum conforto na condição de professor e pesquisador da UFC, levava os alunos muitas vezes ao mundo que desvelava em suas pesquisas e livros. Gilmar estava interessado na tradição que se move, se molda a novas situações, tangencia.

Rejeitava o rótulo de engessamento das culturas tradicionais e abria-se para compreender os diálogos da cadeia de produção capazes de levar, por exemplo, um cristo de neon ao centro de um cruzeiro de penitentes. Ou a fazer Madonna e Padre Cícero dividirem as feiras do Horto no Juazeiro. Ou levar o humor das tradições mais arraigadas do Estado para a indústria do turismo, para a TV mainstream e, agora, para o YouTube. “É um olhar que não só recolhe a tradição e a preserva, mas é aberta para o futuro. Não é um olhar que fica para trás”, afirma Kieffer. Ao lado do companheiro de vida, o fotógrafo Francisco Sousa, Gilmar mapeava, documentava e destrinchava uma rica produção popular, naturalmente atrelada ao contemporâneo. “Estas viagens me deram noção de que o cordel se espalhou e é feito em todo o Ceará, em boa parte, por conta das lan-houses e das gráficas rápidas”, explicava.

Sua obra evoluiu de discursos acadêmicos para a construção de um pensamento próprio. “Não gostaria de deixar o Gilmar preso ao Ceará porque ele tem uma importância primordial à cultura brasileira. Ele é um grande pesquisador da cultura brasileira, que é cearense”, pondera Kieffer. Gilmar gostava do estrangeiro, mas não das vitrines de grandes feiras literárias ditando o que era bom. Apaixonado pela literatura de cordel, não aventurava-se a escrever poesia. “Não sei fazer e, para fazer porcaria, tem muita gente fazendo por mim.” Publicou um único romance, Parabélum, no qual faz uma releitura da arte popular nordestina e do mito de Virgulino Lampião com um viés relacionado à indústria cultural e linguagem inovadora. “Pouca gente conhece, mas é um dos romances mais importantes da pós-modernidade”, diz Kieffer, que ressalta o vanguardismo de Gilmar com os textos de teatro nos anos 1970 e a atuação também como curador de arte. Era amigo de artistas como Sérvulo Esmeraldo e Antônio Bandeira. O professor, que se tornaria a primeira referência como intelectual e gay para uma geração de alunos da UFC, foi colaborador do icônico jornal Lampião da Esquina, no anos 70.

Ele gostava do escracho, da esculhambação. Não à toa um de seus apelidos era “presidente da academia brasileira da maledicência”. Dizia que reclamava tanto das coisas que poderia parecer amargo. Não era. Estava sempre imerso em algum novo projeto e era um grande incentivador de seus alunos, aos quais ensinava a atravessar a superfície e perceber a profundidade das culturas populares. Como definiu o jornalista Xico Sá, Gilmar de Carvalho tinha “o olhar nada óbvio de um apanhador de cacos e imagens para emendar uma sabedoria inteira”. Dedicou a vida a mergulhar na cultura brasileira passeando pelo erudito e pelo popular, com suas camisas sociais sempre muito bem engomadas e um certo prazer em passar despercebido. Encantado pela diversidade que dá cores ao mundo cultural, tinha certo medo de que isso acabasse, como contou ao amigo e professor Wellington Júnior durante uma visita à Bienal do Livro do Ceará. “A gente não pode arredar pé”, lhe disse. Não arredemos.

Fonte:El País