terça-feira, 30 de junho de 2020

"Eles não servem para nada, não comprem", diz Natalia Pasternak sobre testes rápidos de Covid-19

Gazeta da Torre

Quando a especialista Natalia Pasternak fala que "Eles não servem para nada...”, ela está se referindo aos testes rápidos de Covid-19 vendidos em farmácias e não ao governo.

Na entrevista no Roda Viva (TV Cultura) desta segunda-feira (29), a microbiologista Natalia Pasternak falou sobre a efetividade de testes do novo coronavírus vendidos em farmácias e a falta de testes eficazes para profissionais de saúde.

Pasternak é doutora em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e autora do livro 'Ciência no Cotidiano'. É fundadora e primeira presidenta do Instituto Questão de Ciência.

A cientista falou sobre as diferenças entre o RT-PCR, considerado o teste padrão no diagnóstico da Covid-19, e os testes sorológicos e rápidos, e avaliou os números de diagnósticos da doença no Brasil.

Sobre os testes rápidos, a pesquisadora foi categórica: "Eles não servem para nada, não comprem. Não deveria ser vendidos em farmácias, mais confunde a população do que ajuda, as pessoas não sabem interpretar os testes".

"A maioria desses testes rápidos de farmácia não é bom. Eles são ruins. Além de tudo a qualidade deles é duvidosa, a sensibilidade deles é baixa, eles podem dar muito erro de falso-positivo, como de falso-negativo", alertou.

TV Cultura

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Sutiã, calça jeans, maquiagem: a quarentena será a queda de alguns costumes?

Gazeta da Torre

“Minha gaveta de sutiãs deve estar com saudade de mim.” “Faz dois meses que não coloco uma calça jeans.” “Maquiagem? Não lembro o que é.” É fácil encontrar essas observações ao navegar pelo Twitter, Facebook ou nos grupos de amigos do WhatsApp. Durante a quarentena, as necessidades são reduzidas ao básico. E, as roupas, claro, entram no esquema. Pijama, chinelo e moletom são o uniforme dessa nova era?

Por mais difícil que seja prever hábitos futuros, até mesmo tratando-se do próximo mês, é possível traçar paralelos entre a atualidade e outros pontos da história para, talvez, encontrar semelhanças nos comportamentos.

Um histórico recente: do pós-guerra ao ‘new look’

Um dos momentos históricos de mudança radical na moda feminina foi a Primeira Guerra Mundial. Com os homens na Europa sendo enviados ao front, incluindo adolescentes, as mulheres, até então tratadas como bibelôs, ocuparam os postos de trabalho braçal. Pela primeira vez, elas se livraram das saias pesadas para vestirem calça e macacão durante as jornadas nas fábricas. A oportunidade de usar uma roupa leve e confortável já havia mudado o panorama para sempre.

“O contexto de guerra tornou a indumentária atribuída às mulheres até então inútil, pois você precisa de movimento de corpo, seja para trabalhar em fábricas, como enfermeiras em hospitais ou angariando fundos de guerra. A mulher encurta o cabelo, a roupa se torna mais prática, e ela vai conquistando o ambiente urbano”, explica Patrícia Helena Soares Fonseca, professora dos cursos de Moda e Design da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), o uso da calça comprida ficou ainda mais popular na Europa. Afinal, não é eficiente correr de bombardeios usando vestidos.

Mas no pós-Segunda Guerra, surgiu uma mudança conservadora. O corpo da mulher voltou a ser preso, e veio a opulência dos vestidos, cheios de dobras, camadas e estruturas pesadas. Era o ‘new look’ inventado por Christian Dior, que saiu das passarelas e influenciou guarda-roupas em todo o planeta.

A história recente do mundo ocidental deixa claro que prever o que as pessoas vão querer vestir depois da pandemia é tarefa quase impossível. “Há a possibilidade de repensar o vestuário. É claro! E seria o ideal. Mas isso vai acontecer?”, questiona Patrícia.

Mulheres refletem sobre padrões e consumo

Se depender de Nuta Vasconcellos, sim. Criadora do projeto Chá de Autoestima, palestrante e estudante de Psicologia, ela tem levado a discussão para as suas seguidoras: 26 mil na conta do projeto e 14,3 mil na pessoal. Isso só no Instagram. A descrição de seu perfil, aliás, já dá o spoiler: “feminino consciente”.

“Noto que as seguidoras estão refletindo mais sobre o que fazem pensando em agradar ao olhar masculino ou para serem mais bem aceitas socialmente”, observa Nuta, que também encontra espaço para repensar seus próprios padrões: “Durante a quarentena, notei que faço minhas unhas por questões sociais. Não tenho feito em casa, e não ligo. Mas sempre fazia para dar as palestras.”

O look de home office estava integrado à rotina há muito tempo: roupa mais folgada, sapatos confortáveis (ou nenhum).

“Sempre usei roupa básica e funcional para trabalhar em casa. Mas quando tenho vontade de me arrumar mais, colocar maquiagem, fazer um penteado, eu faço”, diz, antes de acrescentar: “Ah, mas se tem uma coisa que não coloco pra ficar em casa é jeans”.

A empresária de nome artístico Gaia Qual a-versão, que conduz o projeto de educação sexual para mulheres “Meu clitóris minhas regras”, reforça que a quarentena está demonstrando que “ter guarda-roupas cheio não vale de nada”. Ela já era adepta de um guarda-roupas básico, enxuto e confortável (“de calçados tenho só três pares de tênis, um sapato e dois chinelos”). Ela não usa sutiã há sete anos.

“E vou te dizer que é complicado tentar viver com o mínimo, viu? Eu tenho que bater perna pelo Centro de São Paulo inteiro para encontrar uma camiseta preta lisa ou uma calcinha de algodão, que são as recomendadas para não irritar a pele e manter a saúde da vulva. Aliás, está aí uma dica importante para as mulheres, não apenas durante a quarentena”, aponta Gaia. Para ela, a própria indústria não está pronta nem tem interesse em uma mudança a um estágio mais básico do consumo. “É muito mais rentável vender peças que, em seis meses, sairão de moda, e precisarão ser repostas.”

Olhar para o futuro

Presidente da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda e diretora da editora Estação das Letras e Cores, Kathia Castilho acredita que a moda se adapta rapidamente às novas realidades, o que é uma ótima notícia. A parte não tão boa é que, para isso, é preciso vontade de mudar os padrões de consumo.

“A moda veste a história, então está conectada ao seu tempo. Já estamos vendo soluções de designers para máscaras que protegem o rosto mas sem esconder as expressões faciais, por exemplo, e pesquisas tecnológicas para pensar na roupa como defesa, tecidos antibacterianos… O aspecto utilitário da moda está borbulhando”, analisa Kathia Castilho, que é doutora em Comunicação e Semiótica. “A questão é pensar no que vamos valorizar, como sociedade, nesse momento pós-pandemia.”

Para ela, apesar do muito que se caminhou em direção a uma moda mais confortável e útil para as mulheres, há características que merecem uma boa reflexão ainda. A primeira delas é a de que a maneira de vestir o corpo feminino muitas vezes ainda é direcionada a um suposto olhar masculino de sedução. “Isso inclui a roupa ajustada no corpo, nem sempre o mais saudável ou confortável para quem veste. É importante desvincular a vestimenta do olhar do homem e do poder sobre o corpo feminino”, pondera a Kathia.

Outro ponto primordial é que as transformações e evoluções da moda se deem na direção da sustentabilidade.

“A indústria da moda é uma das principais causas de poluição e agressão ao meio ambiente. Mas há alternativas, como participar de grupos de compra consciente, consumir produtos mais duráveis e fomentar a indústria local, em vez de grandes marcas”, acredita a pesquisadora.

Patrícia Fonseca, professora da FAAP, também chama a atenção para o ponto: o de que é preciso se discutir os excessos.

“Espero que haja uma reflexão sobre o que queremos como sociedade. Pensar a moda aliada à ciência, à saúde, ao meio ambiente, e repensar o consumo. Fazer uma moda mais sustentável e tecnológica? Ou sair correndo em direção ao shopping assim que a quarentena acabar?”, provoca Patrícia.

Nuta já escolheu de que lado quer ficar e comprova na prática: a conta do cartão de crédito teve redução de 60% no período de quarentena.

“Não estou deixando de ter nada de essencial: comida, luz, internet, remédios… Estou bem e gastando menos. E isso me fez pensar no quanto consumimos porque estamos num mundo que faz a gente consumir o tempo todo.”

Como após qualquer grande ruptura, nasce um momento propício para repensar as prioridades. É a hora ideal para pensar de quais hábitos se livrar.

*Por Marina Cohen, jornalista com trabalhos no jornal O Globo e Jornal do Brasil. Hoje, escreve para o Projeto#Colabora.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Por que tão pouca gente sorri nas obras de arte?

Gazeta da Torre
Autorretrato de Marie Louise
Élisabeth Vigée-Le Brun
com Sua Filha’, 1786, no 
Museu do Louvre, em Paris

Os sorrisos nem sempre foram tão apreciados ao longo da história.         

Apesar de relacionarmos os sorrisos com a naturalidade e a simpatia, a história da arte nem sempre compartilhou essa visão. Basta se perder entre as salas de algum museu para observar que, em meio à multidão de personagens retratados, os sorrisos escancarados brilham por sua ausência. Não importa a data, o estilo ou a procedência, a maioria dos retratados adota um semblante sereno e sóbrio, quase distante. Por que motivos quase não encontramos sorrisos nos museus?

Algumas teorias

Vários críticos analisaram essa situação e encontraram explicações para todos os gostos. Por exemplo, é preciso levar em conta que posar para um retrato a óleo leva horas ou mesmo dias completos, em várias sessões exaustivas. Manter um sorriso, portanto, é praticamente impossível, porque é muito difícil fingir a espontaneidade que geralmente acompanha essa expressão. Pois, como aponta o artista e escritor Nicholas Jeeves em um artigo sobre o assunto, um sorriso se parece bastante com um rubor, na medida em que é uma reação impossível de manter no tempo.

Por outro lado, a consideração cultural acerca dos sorrisos foi variando ao longo da história. No século XVII, por exemplo, os aristocratas, históricos mecenas da arte, associavam os sorrisos amplos, desses que mostram os dentes, às classes sociais mais baixas, aos bufões, aos atores e aos bêbados, como os que Velázquez imortaliza em seu O triunfo de Baco. Os retratos que mostravam amplos sorrisos não correspondiam, portanto, à solenidade perseguida pela maioria das personalidades que podiam bancar uma obra desse tipo.

O interesse dos artistas do barroco holandês por imortalizar o cotidiano também os levou frequentemente a escolher como protagonistas personagens das esferas mais baixas da sociedade. Nessas obras o riso parece ser quase um fator comum, como se pode observar, por exemplo, em O filho pródigo, de Gerrit van Honthorst. Embora neste caso não se ativesse apenas às classes baixas: o próprio Rembrandt recorreu ao riso em alguns de seus autorretratos, que podem ser considerados antecessores de nossas selfies.

Alguns historiadores, como Colin Jones, encontram a explicação para esse rechaço na falta de uma higiene bucal eficiente até o século XVIII, razão pela qual mostrar a dentição era considerado pouco decoroso. Com os avanços nesse âmbito, expor os dentes passou a ser uma nova ferramenta para expressar a sensibilidade. Assim, para Jones, o Autorretrato de Marie Louise Élisabeth Vigée-Lebrun com sua filha, de 1786, é extremamente revolucionário: porque é um dos primeiros que deixam escapar um (ligeiríssimo) sorriso.

Ao longo da história é possível encontrar algumas exceções, embora com sorrisos sutis e ambíguos. Antonello di Messina, pintor do Renascimento italiano, passou à posteridade por imortalizar muitos de seus retratados com um meio sorriso, supostamente como reflexo de seus sentimentos e de sua vida interior. Sem ir mais longe, seu Retrato de marinheiro desconhecido foi considerado durante muito tempo como o sorriso mais enigmático da arte, até ser desbancado por La Gioconda.

Efetivamente, Mona Lisa (ou La Gioconda), que Leonardo da Vinci pintou no começo do século XVI, começou a atrair cada vez mais atenções durante o século XIX, até que acabou virando o sorriso (embora também discreto) mais chamativo da arte. Por que a protagonista do retrato aparece sorrindo? A resposta é um enigma, como quase tudo que cerca essa obra. Inclusive com o passar dos anos continuaram surgindo novas teorias ao seu redor. Em 2018, um cientista chegou a dizer que uma doença na tireoide obrigava a retratada a manter aquela expressão, embora muitos outros estudiosos não estivessem de acordo.

No século XX, os sorrisos foram se tornando um pouco mais comuns na arte. As melhoras na fotografia e a aparição do cinema fomentaram seu uso como uma forma de revelar as emoções internas dos retratados, o que levou alguns artistas a se lançarem a explorar seu potencial expressivo. O expressionista abstrato Willem de Kooning, por exemplo, recorreu ao sorriso para representar sua Woman I, a primeira de sua série de mulheres em que rechaça a figura tradicional feminina da Vênus e imortaliza um aspecto quase demoníaco, muito influenciado pelas deusas paleolíticas. O sorriso lhe serve para potencializar sua ferocidade.

Talvez o exemplo mais destacado de artista com um uso constante do sorriso ao longo de sua produção seja Yue Minjun, integrante do chamado Realismo Cínico chinês, que constantemente se autorretrata com sorrisos especialmente exagerados, quase maníacos. Influenciada pela história da arte oriental em sua representação de Buda e pela publicidade, o que sua risada oculta é, na verdade, uma profunda crítica política e social do país onde vive.

A seriedade nas primeiras fotos

A introdução da fotografia também representou um salto gigantesco na reprodução dos sorrisos —embora isto não tenha ocorrido desde o começo, já que as fotografias antigas transmitem uma enorme solenidade e seriedade. Alguns quiseram encontrar a explicação nas limitações tecnológicas, que exigiam tempos de exposição elevados para conseguir plasmar as fotos instantâneas. Mas, na verdade, mesmo quando as câmeras melhoraram, reduzindo esses tempos, a ausência se manteve.

O verdadeiro motivo tem mais a ver com o fato de as primeiras fotografias beberem diretamente da tradição do retrato pictórico, por isso suas referências eram mais sérias. Além disso, quem podia se permitir posar para um fotógrafo, mais do que querer guardar um momento concreto, procurava imortalizar sua própria imagem, uma imagem solene e atemporal que nada tem a ver com a fugacidade do riso. Passar à posteridade com um semblante ridículo ou zombeteiro era um medo comum.

Existem exceções, como nos retratos pictóricos. Por exemplo esta fotografia intitulada Eating Rice, China, que pertence à expedição do historiador Berthold Laufer ao país oriental, em que o protagonista sorri escancaradamente. Tirada em 1904, o que certamente faz a diferença com relação a outras imagens contemporâneas é seu objetivo: Laufer, como historiador e antropólogo em expedição ao exterior, certamente queria capturar a essência e as diferenças culturais do país onde se encontrava. Inclusive as próprias diferenças podem ser o verdadeiro motivo pelo qual o retratado não faz reparo algum em mostrar o maior de seus sorrisos.

Com a progressiva democratização da fotografia e o crescimento da publicidade, começaram a se multiplicar imagens de pessoas sorridentes na comunicação de massa: os sorrisos, como amostra de felicidade, se tornaram um gancho publicitário.

Nos últimos anos, as redes sociais parecem ter levado esta associação ainda mais longe. Hoje em dia compartilhamos nossas fotos sem descanso e sorrimos a não mais poder, já que transformamos o sorriso em uma nova maneira de socializar e de exibir nossa felicidade e autoconfiança. Embora, conforme já pareciam saber nossos antepassados, a felicidade nem sempre vem acompanhada de um sorriso.

Clara González, historiadora de artes

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Mestre Saúba – Um Patrimônio Vivo da arte de criar com as mãos os próprios sonhos

Gazeta da Torre

Os brinquedos populares do Mestre Saúba resistem ao tempo e unem gerações em torno dos encantamentos que despertam

CEPC/PE | Conselho de Preservação | Cultura popular e artesanato | Fundarpe | Patrimônio Cultural | Secretaria de Cultura

Numa casinha simples e de poucos cômodos, no bairro de Vila Rica, Jaboatão dos Guararapes, trabalham dois irmãos de mesmíssimo nome: José Antônio da Silva. Dedicam-se ao mesmo ofício; um como criador, o outro como ajudante. Para não confundir, desde pequenos são chamados por apelidos: Saúba e Cocota. O primeiro ficou famoso em todo Pernambuco: é hoje o Mestre Saúba, criador de brinquedos que já alegraram (no passado, bem mais que hoje) a infância de algumas gerações de crianças. Quem nunca brincou de equilibrar um Mané Gostoso no apertar e soltar das hastes de madeira que o prendem? E quem já rodou um Rói-rói até os ouvidos doerem com o zunido do brinquedo?

Foto: Mestre Saúba costuma passar o dia na sacada da casa, onde também é seu ateliê, cortando ou montando suas peças

Quem conhece Saúba de perto, sabe que ele é inseparável do irmão, homônimo. Cocota está fazendo uma pequena reforma que vai ampliar a estrutura da casa em Jaboatão, onde funciona o ateliê dos brinquedos populares de Saúba. Ele também ajuda na colheita da madeira e no corte das peças do irmão artesão. Saúba, aos 66 anos de idade, costuma passar o dia inteiro no primeiro andar da casa, uma sala com portas abertas para a rua, sem qualquer varanda ou sacada. Quem passa pela rua, já de longe avista Saúba sentado na sacada, com as pernas penduradas, tomando um ventinho e entalhando suas peças.

A sua peça preferida é o Mané Gostoso. Com um galho da embaúba, de mais ou menos dois metros, ele faz uns quarenta bonecos articulados. São cinco partes: tronco, duas pernas e dois braços. Todos são furados e amarrados com barbante. O boneco é preso, pelas mãos, a duas hastes de madeira que, pressionadas na base, fazem os bonecos pularem de um lado para o outro, simulando os movimentos de um acrobata.

A rotina do mestre é acordar de madrugada para começar a trabalhar. Às 4h, já está de pé. Toma café e segue para a rotina de fazer os brinquedos. Saúba gosta de ter o estoque sempre bem diverso e com número grande de peças, pois as encomendas, quando chegam, sempre são de uma quantidade razoável de peças. O mestre não gosta de ser pego desprevenido. Só descansa quando viaja. Estando em casa, os Manés Gostosos, Ratinhos, Rói-róis e Borboletas ocupam até o espaço da sua cama. “Ficam lá espalhado. No final do dia, quando vou deitar, ligo a televisão e fico ali amarrando os bonecos, até dar o sono”, conta. No final de cada mês, a produção chega a umas duzentas peças, de cada tipo de brinquedo.

Depois do Mané Gostoso, que é mais popular, os ratinhos móveis feitos de papel machê são bastante procurados. Para fazê-los, Saúba encaixa uma espécie de carretel debaixo da peça, com uma linha enrolada. Montado o brinquedo, é só puxar a linha por cima do ratinho e, ao soltá-la, o brinquedo se move sozinho. Cocota sabe todos os segredos do irmão. Mestre Saúba nunca segurou as informações que foi adquirindo, até porque, foi observando outros profissionais aprimorou suas técnicas e criou outras.

Mesmo antes de ser titulado Patrimônio Vivo de Pernambuco, em agosto de 2019, Mestre Saúba já cumpria a missão de repassar seus conhecimentos sobre o ofício dos brinquedos populares. Fato que se espera de um verdadeiro mestre. Começou dentro da própria casa. Além de Cocota, seus próprios filhos, Evinha e Carlos José, também aprenderam com o pai. A neta Maria Júlia, de 11 anos, hoje também ajuda a montar Mané Gostoso. Mestre Saúba também passou a ser um artista requisitado em eventos escolares, onde faz curtas demonstrações para alunos do ensino infantil e fundamental.  “Sou sempre chamado às escolas para mostrar como faz para as crianças, e já levo tudo cortado, só para eles pintarem e a gente montar junto. É um boneco muito fácil e todos ficam encantados”, conta.

BRINQUEDO NA ROÇA – Mestre Saúba nasceu no município de Pombos, em 10 de março de 1954. Seus pais eram agricultores e, como toda criança que nasce e cresce na roça, não demorou muito para que suas mãozinhas estivessem na lida da enxada. A dificuldade do trabalho no campo crescia proporcional à sua força de menino. Limpou mato, alimentou bichos, cortou cana e aos 14 já carregava uma Maria Fumaça com grandes transportes da cana. A dureza da rotina no campo, que retirou-lhe o direito básico de ir à escola, pelo menos não destruiu a necessidade do brincar e do encantamento.

O trabalho debaixo do sol causticante do Agreste, rendeu ao menino uma pele que não bronzeava, mas ficava rosa, vermelha como uma formiga saúva, ou saúba, como chamava o povo. Daí veio o apelido. Com muito trabalho e pouco tempo, e nenhum dinheiro para divertimentos, o menino Saúba aprendeu a fazer carrinhos de madeira com pedaços de pau encontrados na usina. “Era o que tinham para brincar”. Dali a pouco, estava fazendo por encomenda, para outros garotos da região. “Dia de domingo, a gente brincava de fazer esses brinquedos. Ninguém ensinou. Eu fazia carrinho, rolimã, fazia usina, burrica”, conta. Burrica é uma espécie de “roda-roda”, um pequeno carrossel. Saúba nunca imaginou que levaria aquela diversão como um ofício na vida, mas aos poucos foi se transformando num sonho de aprender cada vez mais, de ser um mestre daquela profissão.

“Eu mesmo fazia com minha inteligência. Não tinha energia na minha mocidade, nós éramos soltos na rua, não tínhamos medo de nada e éramos felizes”, recorda. Caso fosse possível mudar alguma coisa do seu passado, conta que teria insistido para que o pai tivesse o deixado ir à escola. O homem, no entanto, só queria que os seis filhos trabalhassem para ajudar no sustento da família. Hoje, Saúba acredita que é tarde para aprender, mas lamenta por ter sempre que sair acompanhado, de filhos ou parentes, ou não consegue resolver coisas simples do dia-a-dia. “Mãe diz que quem não sabe ler, é cego. Hoje me faz falta. Eu chego em ambiente luxuoso e fico embaraçado”, relata.

Se não sabe ler, por outro lado, Mestre Saúba sabe se comunicar como poucos. Sua inteligência é nata, e sabe disso desde menino, quando inventava brinquedos e brincadeiras. Aos vinte anos, quando o pai morreu, as dificuldades aumentaram e ele veio com a mãe, além de mais quatro irmãos, morar em Jaboatão. Estava disposto a qualquer trabalho. Limpar mato, trabalhar na construção civil, o que aparecesse. Saúba não sabia que seu sonho estava próximo de virar realidade. No primeiro trabalho que conseguiu, precisava carregar e transportar material de construção, com ajuda de um burro. Trabalhou como vigia e como carpinteiro de uma grande construtora.

Continuava fazendo os brinquedos, mas ninguém de seu conhecimento dava muita importância. Estava só, até conhecer a cigana. Maria do Socorro vendia bonecos de madeira em feiras de rua na cidade de Moreno. Saúba, que vivia querendo aprender como se fazia artesanato, sem sucesso em encontrar alguém que lhe passasse os segredos, foi convidado pela cigana para ir até sua casa. Lá, conheceu o pai e a mãe da mulher. Era uma família de artesãos. Saúba casou com a cigana e tiveram dois filhos. Hoje, eles moram em São Paulo e não querem saber de artesanato. “Estão muito bem de vida”, conta o pai.

Foram dez anos ao lado da cigana Socorro. Foi com ela que aprendeu a fazer o Mané Gostoso e o ratinho. O casal via os brinquedos em feira e faziam igual ou adaptavam. Rodavam por tudo quanto era feira, parques e praças de Pernambuco, onde tivesse criança. “Hoje, o celular está tirando a atenção da criança, mas antigamente elas não podiam ouvir o som do rói-rói ou da borboleta, que ficavam encantadas e queriam ir atrás. Vendemos muito”, conta.

“As borboletas, eu criei depois que me separei da cigana”, lembra Saúba. Ele conta que desenhou e montou a peça junto com o irmão, Cocota. O brinquedo é composto por duas asas de madeira coloridas, que são presas a uma longa haste de madeira com rodinhas. Ao empurrar o cabo, as asas batem fazendo um barulho chamativo.

Foto: Com um galho da embaúba, de mais ou menos dois metros, Saúba faz uns quarenta bonecos articulados de Mané Gostos

Atualmente, o mestre deixou de andar por praças e feiras. Por muitos anos, foi figura cativa nas feiras do pátio do Museu do Homem do Nordeste, que lhe deu fama entre os estudiosos da arte popular. Foi nesta temporada que seus caminhos se abriram. Os colégios levavam as crianças para visitar o estande do Mestre Saúba e elas não saíam de lá sem comprar um boneco dele. Dali, era convidado para outros eventos, incluindo as oficinas nas escolas. Circulou muito também pelos mercados da Madalena, São José, Encruzilhada e Casa da Cultura. O povo ouvia de longe o ruído do Rói-rói de Saúba e se aproximava, ciente da riqueza que iria encontrar.

Brinquedos como aquele nunca estariam numa loja do centro ou de um shopping. Encantavam não só as crianças, mas os próprios adultos, que sempre tinham uma história para contar de sua própria infância, quando confeccionar o próprio brinquedo era prática habitual. Hoje em dia, Saúba não circula mais pelas praças, parques, feiras e eventos, como fazia no passado. Por outro lado, sua produção criativa é a mesma. Pelo menos uma vez ao mês, vai numa mata, perto de casa, buscar a embaúba.

Ele próprio criou o transporte usado para a missão. Tem direção, freio, duas rodas e uma pequena caçamba. Desce na banguela até o lugar onde são recolhidos os galhos da planta. Depois, sobe empurrado por ajudantes, de volta à casa/ateliê de Saúba. A madeira vira Mané Gostoso, Rói-rói, Ratinho e Borboleta, que podem ter perdido lugar nas estantes das crianças. No entanto – quanto mais passa o tempo, e Saúba resiste com sua arte – ganham espaço na memória afetiva do povo e na vida de quem entende a importância do brincar que conta sobre nossas tradições, antepassados e histórias.

domingo, 21 de junho de 2020

Reinventando o sexo nos primeiros encontros: o que é seguro fazer?

Gazeta da Torre

Não perdemos a vida social durante o confinamento, nós a virtualizamos. As baladas passaram a ser por videochamada, e os aniversários ficaram para a lembrança em montagens de vídeos de amigos. O sexo também se tornou virtual. Muitos já estavam acostumados ao sexting (enviar, receber ou encaminhar mensagens, fotografias ou imagens sexualmente explícitas, principalmente entre telefones celulares, de si mesmo para outras pessoas) e muitos outros estrearam nisso de enviar vídeos e fotos picantes. Mas com a volta gradual à normalidade, e às baladas no terraço, continuamos sem saber se o sexo tradicional voltará a fazer parte dos encontros.

É que o coronavírus criou uma brecha social em termos de sexo: de um lado, casais que convivem e que podem seguir com sua vida sexual; do outro, casais separados ou solteiros que tiveram de se reinventar nos últimos meses.

“Se seu parceiro sexual convive com você durante a quarentena, ambos estão isolados há mais de 14 dias e nenhum apresenta sintomas, não há razão para contraindicar essa prática tão saudável”, destaca Zoraida Granados, mestre em sexologia, orientação e terapia sexual. Mas “se você não cumpre essas condições e não tem certeza absoluta de que não foi exposto ao vírus, deve adotar medidas diferentes”. Será que isso nos deixa relegados ao sexo virtual ou já podemos considerar outras alternativas?

Um novo conceito de sexo seguro

Sexo seguro já não significa apenas usar preservativo. Agora, significa usar máscara também. “Embora o uso de máscara possa representar, a priori, um elemento que altera o erotismo da relação, pode ser uma medida de segurança muito eficaz para evitar o contágio, principalmente durante a penetração ou jogos que envolvam uma proximidade física especial”, esclarece Carlos San Martín Blanco, coordenador do grupo de Sexologia da Sociedade Espanhola de Médicos de Atenção Primária.

Então, usar máscara garante ter sexo seguro? Não exatamente. A chave está na proximidade. Segundo o especialista, poderíamos dizer que seriam de menor risco “todas aquelas práticas e jogos sexuais em que não há um contato especialmente estreito ou não se estabelece uma proximidade extrema, principalmente cara a cara”.

Todo isso respeitando outra medida-chave do contato social: lavar as mãos. “É muito recomendável também um banho prévio, tanto se a relação for com nosso parceiro habitual como se for com um parceiro esporádico.” Por último, a crise do coronavírus tampouco nos exime das medidas de sempre. Usar preservativo é mais importante que nunca.

O debate dos fluidos genitais

Sabemos que os beijos estão proibidos porque a saliva é contagiosa. Assim, só nos resta fazer sexo à moda de Uma Linda Mulher. No entanto, há certas dúvidas sobre quais outros fluidos devemos evitar.

Como informou a Clínica Mayo (centro médico acadêmico norte-americano sem fins lucrativos , focado em atendimento integrado ao paciente, educação e pesquisa), “neste momento, não há nenhuma evidência de que a covid-19 se transmita através do sêmen ou dos fluidos vaginais, mas o vírus foi detectado no sêmen de pessoas que se recuperaram ou que estão se recuperando do vírus”.

Isso significa que, embora não haja evidência de contágio, tampouco há prova do contrário. Por isso, volta a ser imprescindível o uso do preservativo. Não só na penetração vaginal, mas também na anal, já que os especialistas lembram que foi detectada a presença do vírus nas fezes.

Também é recomendável usar preservativo ou uma barreira bucal durante o sexo oral. No caso do cunnilingus, geralmente é útil cortar um preservativo pela metade e colocá-lo sobre a vulva. Quanto ao annilingus, é melhor deixá-lo de lado por enquanto.

O Ministério da Saúde da Espanha publicou recentemente um guia sobre “aspectos-chave para a prevenção do HIV e de doenças sexualmente transmissíveis no relaxamento do confinamento por covid-19”. O guia ressalta que o novo coronavírus, SARS-CoV-2, “ainda não foi detectado nos fluidos vaginais, mas está presente na saliva, no sêmen e nas fezes. Embora no momento não haja evidência de transmissão por saliva, sêmen ou fezes, o documento recomenda que sejam adotadas medidas para evitar o contato com esses fluidos e/ou matéria fecal”, insistindo na importância dos métodos de barreira de proteção.

Além disso, em relação ao sexo oral há outra questão no ar: o contato com a saliva. Mais uma vez, a Clínica Mayo lembra que um parceiro íntimo pode se contagiar com o vírus ao tocar certas superfícies “e depois tocar a boca, o nariz ou os olhos”. Não que seja o mais comum, mas certamente uma sessão de sexo não parece o melhor momento para nos concentrarmos em não tocar depois nosso próprio rosto. É melhor evitar tentações e colocar barreiras. Afinal, durante o sexo oral também é possível o contágio com infecções de transmissão genital, que poderiam ser evitadas usando preservativo.

Então, o que podemos fazer?

No sexo, costumamos ver qualquer limitação como um problema. As sexólogas adoram vê-las como novas oportunidades. Tudo bem, talvez não possamos fazer tudo que vêm à cabeça de forma natural, mas quando resolvemos inovar também surgem boas ideias.

Para Leticia García Castelló, Psicóloga, Sexóloga e Terapeuta de casais, este é o momento de pôr em prática muitas das coisas que imaginávamos durante longas sessões de sexting, mas agora ao vivo: “Se falamos sobre o quanto gostaríamos de acariciar seu peito, agora podemos fazer essas carícias”. As massagens e as carícias, que sempre parecem ficar em segundo plano, depois de tanto tempo sem contato de pele com pele, podem ser grandes protagonistas. Desde que não fiquemos cara a cara e mantenhamos certa distância. Podemos até usar elementos como massageadores, penas ou chicotes, se quisermos experimentar coisas novas.

Outra opção é que nós mesmos nos toquemos, para o prazer sexual de nosso companheiro. “Masturbar-se diante do parceiro pode ser muito excitante”, aponta García Castelló. Além de instrutivo.

Ficando no meio-termo, o do sexo a distância, mas ao vivo, a sexóloga também propõe usar brinquedos sexuais com controle remoto para estimular o parceiro, embora não seja com nossas próprias mãos. “Há brinquedos com os quais a pessoa que tem o comando pode controlar e sentir as vibrações do brinquedo que se introduz na outra pessoa”. Assim, as duas pessoas participam. Claro que devemos sempre cuidar muito da higiene dos brinquedos e não compartilhá-los com parceiros diferentes.

Caso, no final, não consigamos aguentar a vontade de penetração, a sexóloga sugere o conhecido “coronasutra”. Uma coleção de posições para penetrar mantendo certa distância. Não é uma prática de risco zero, porque sempre que há proximidade há risco de contágio, mas consiste em reduzir ao máximo esse risco. Para isso, “é importante não ficar cara a cara e recorrer a posições de costas”. Como a conhecida posição do cachorrinho. Tudo isso sempre com máscara e preservativo. “Que são elementos que, longe de cortar nosso estímulo, também podem ser erotizados”. Mais uma vez, tudo é questão de usar a imaginação e a vontade.

A também sexóloga Zoraida Granados insiste que, se for ocorrer um contato mais estreito, será preciso reforçar ao máximo as medidas de segurança. “É preciso lavar as mãos antes e depois, lavar também qualquer brinquedo antes e depois de utilizá-lo, evitar os beijos e evitar o contato oral-anal”, além de tomar um banho tanto antes como depois da relação sexual.

Escolha bem com quem

A sexóloga Zoraida Granados Granados ressalta que é preciso tomar cuidado não só com as práticas que fazemos, mas também com o parceiro que escolhemos para realizá-las. “Não mantenha relações sexuais se você ou seu parceiro não está bem ou se o parceiro não pertence ao seu ambiente habitual”.

O coronavírus não nos mudou tanto como dizemos e, como sempre, continuam existindo pessoas responsáveis quanto à sua sexualidade, e outras nem tanto. Leticia García Castelló, Psicóloga, Sexóloga e Terapeuta de casais, relata que, com base no que vê no consultório, “há pessoas que parecem ter certeza de que a água com sabão, as máscaras e o álcool em gel são suficientes para ter relações sexuais. Outras têm plena consciência dos riscos que podem acarretar os jogos que realizávamos antes da pandemia, por isso são mais cautelosos e buscam opções alternativas”. O verdadeiro risco depende do grupo em que acreditemos estar e naquele em que estiver nosso possível parceiro.

Fonte: Silvia C. Carpallo I El País I

O Governo do Estado de Pernambuco, por meio da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), lançou cartilha com orientações para festas juninas

Gazeta da Torre

Festas juninas diferentes, com isolamento social, sem fogueiras e sem fogos de artifícios. São medidas que devem ser adotadas por causa da Covid-19, mas também para proteger a vida dos animais silvestres. Para reforçar a orientação, o Governo do Estado, por meio da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), lançou na sexta-feira (19/06), “Um balancê diferente”, com um poema alusivo ao momento.

“De acordo com as autoridades da área de saúde, as fogueiras e os fogos podem aumentar a quantidade de pessoas necessitadas de atendimento médico, seja por conta da fumaça ou em decorrência de queimaduras. Tem também a questão dos animais silvestres e o próprio desmatamento para a queima das árvores”, explicou o diretor-presidente da CPRH, Djalma Paes.

Na publicação, que está disponível no site da Agência (www.cprh.pe.gov.br), os personagens são animais que falam em favor de vidas humanas e também comentam sobre o próprio sofrimento: o desabrigo, por conta da derrubada das árvores, a fumaça das fogueiras e dos fogos. Estes, inclusive, provocam barulho que são terror à vida dos animais. Para acessar a publicação, clique  http://www.cprh.pe.gov.br/Publicacoes/Educativas/41788%3B72342%3B4903%3B0%3B0.asp#balance .

Sem fogos de artifícios e sem fogueiras, a alegria das festas juninas pode ser ao sabor das comidas típicas, com o som do forró e a esperança em dias melhores. “Sabemos que a tradição é muito forte. Porém, mais forte que o desejo de manter a tradição viva, deve ser a nossa decisão de viver bem. Não podemos esquecer que a Covid é uma realidade cruel e que cada pessoa é muito importante para combater o aumento da disseminação do vírus”, comentou Djalma Paes.

Fonte:CPRH

quinta-feira, 18 de junho de 2020

O que fazer com o financiamento do seu imóvel quando dispuser de uma renda extra

Gazeta da Torre

O momento é desafiador, muitos pediram uma pausa no contrato de financiamento neste período de pandemia, a fim de aliviar um pouco orçamento por alguns meses, mas uma dúvida comum que vejo no dia a dia das pessoas é a respeito do financiamento do imóvel. Pintou uma grana extra.... e agora? É melhor investir ou amortizar o saldo devedor do imóvel? No caso de amortizar, vale mais a pena diminuir o saldo ou parcela? Tem algumas reflexões e análises que são o ponto de partida para que você faça a melhor escolha.

O primeiro ponto que se deve pensar é: você já tem o seu fundo de reserva? Essa é uma premissa básica e fundamental da vida financeira. Não adianta você usar todo o seu montante para quitar um imóvel e ficar descapitalizado. Jamais parta para uma opção como essa! O ideal é que você tenha como reserva de emergência o valor equivalente a pelo menos seis meses das suas despesas mensais. Preserve esse valor!

Com a gordura desse fundo de reserva, aí, sim, é hora de pensar na possibilidade de amortizar o saldo devedor do seu imóvel. Importante você entender bem as taxas do seu contrato. A maioria das pessoas, não sabe o peso do financiamento, mas é a partir daí que você vai tomar uma decisão. Pois, só vale a pena investir se o investimento te der um retorno superior à taxa de juros do financiamento do seu imóvel. Porém, infelizmente, não é comum conseguir essa condição.

Se você viu que realmente o ideal é reduzir o saldo devedor, nesse momento, o banco vai te perguntar: você prefere reduzir o prazo, mantendo o valor da parcela no mês a mês ou manter o prazo e reduzir o valor da parcela?

Diante dessas duas alternativas, você precisa refletir o seguinte: o valor da parcela cabe no seu orçamento com tranquilidade? Se sim, o melhor é manter o valor da parcela e reduzir o prazo. Afinal, em cada parcela, além dos juros, vem taxa de acessórios, administração, seguros... ou seja, quanto menos parcelas você pagar, menor o seu custo total.

Por outro lado, se você paga a parcela com dificuldade, se o seu orçamento está apertado, sem dúvidas a melhor alternativa é reduzir o valor da parcela, por mais que financeiramente tenha opção melhor, mas você não vai estar com a corda no pescoço num financiamento que, normalmente, é de longo prazo.

Seguimos então, até a próxima e te espero também no meu canal do youtube no Instagram  https://www.instagram.com/personalfinanceiro/?hl=en 

Abraço!

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Violência contra mulher aumenta em meio à pandemia; denúncias ao 180 sobem 40%.

Gazeta da Torre

Diante da dificuldade das vítimas de pedir socorro, estão surgindo várias iniciativas de canais silenciosos de denúncias. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou no dia 4 de junho a campanha “Sinal vermelho contra a violência doméstica”. A iniciativa já existe em outros países e agora começa funcionar no Brasil. A mulher vítima de violência mostra a palma da mão marcada com um X vermelho feito de batom ou outro material ao atendente de uma farmácia cadastrada, que aciona a Polícia Militar para socorrê-la.

Um X vermelho de batom estampado na palma da mão, um botão de pânico num aplicativo de loja online de eletroeletrônicos e até um vídeo fake de automaquiagem que, na prática, orienta a fazer denúncias. Por meio de formas inusitadas como essas, governo, empresas e organizações da sociedade civil se mobilizam para ajudar a mulher a buscar socorro em caso de violência doméstica nesses tempos de pandemia do coronavírus. Isolada dentro de casa e, na maioria das vezes, tendo de conviver com o agressor, um número crescente de brasileiras está sendo vítima de abuso doméstico na quarentena.

Em abril, quando o isolamento social imposto pela pandemia já durava mais de um mês, a quantidade de denúncias de violência contra a mulher recebidas no canal 180 deu um salto: cresceu quase 40% em relação ao mesmo mês de 2019, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH). Em março, com a quarentena começando a partir da última semana do mês, o número de denúncias tinha avançado quase 18% e, em fevereiro, 13,5%, na mesma base de comparação.

Apesar do maior volume de denúncias, o aumento da violência doméstica escapa das estatísticas dos órgãos de segurança pública. A razão é que, isolada do convívio social, a vítima fica refém do agressor e impedida de fazer um boletim de ocorrência na delegacia. “A queda que houve nos boletins de ocorrência e processos no período de pandemia não corresponde à realidade das agressões”, alerta a promotora Valéria Scarance, coordenadora do Núcleo de Gênero do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Um estudo coordenado pela promotora buscou outros indicadores para avaliar como andava a violência doméstica em São Paulo na quarentena. Constatou que, no início do isolamento, de fevereiro para março, as prisões em flagrante envolvendo agressores de mulheres aumentaram 51,4%. O resultado é muito diferente do registrado em fevereiro, quando houve queda de 10% no número de prisões na comparação anual. Também a determinação de medidas protetivas para mulheres aumentou 29,5% de fevereiro para março no estado, depois de ter avançado 23,5% em fevereiro em bases anuais.

Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com a empresa Decode, feito a pedido do Banco Mundial, revela aumento de 431% em relatos de brigas de casal por vizinhos em redes sociais entre fevereiro e abril deste ano. Segundo a outra pesquisa realizada junto a órgãos de segurança de 12 estados do País, casos de feminicício aumentaram 22,2% de março para abril, enquanto houve queda nos boletins de ocorrência em casos de agressão e violência sexual. Esses resultados confirmam a tese de que há incremento da violência doméstica e familiar no período de quarentena, ainda que esse avanço não esteja sendo captado pelos boletins de ocorrência, aponta o estudo.

No mundo online, o Magazine Luiza, uma das maiores varejistas do País, registrou em maio, ante o mesmo mês de 2019, aumento de 450% no uso do botão de denúncia de violência contra a mulher dentro do canal específico que existe em seu aplicativo de compras.

O avanço de casos de violência doméstica na pandemia não ocorre só no Brasil. Outros países que enfrentaram a covid-19 tiveram o mesmo problema. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem recomendado medidas para prevenir e combater a violência doméstica durante a pandemia, com investimentos de denúncia online, serviços de emergência em farmácias e supermercados, abrigos temporários para as vítimas, entre outros.

Empresas também têm dado prioridade a campanhas na internet de denúncias veladas, necessárias quando a mulher convive com o agressor. O Magazine Luiza, por exemplo, voltou à carga com um post no Instagram que atrai a mulher com produtos de maquiagem para “esconder manchas e marquinhas” (da violência), mas direciona a vítima a usar o botão de denúncias. O botão está conectado ao canal 180 do MMDH. “A vantagem é que a mulher pode disfarçar que está fazendo compras, aperta o botão e a gente fica sabendo”, diz Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e também do Mulheres do Brasil, grupo apartidário com 40 mil integrantes.

A varejista que tem um canal específico para o atendimento a funcionárias vítimas de violência combinou um código secreto para monitorar os casos “mais críticos” em tempos de pandemia, conta Tarsila de Paula Mendonça, responsável pelo canal. Quando a mulher monitorada fala sobre determinado assunto combinado na conversa por meio de mensagens, é o sinal de alerta de que está correndo perigo. Tarsila conta também que a periodicidade das conversas mantidas com as mulheres que enfrentam problemas mais críticos de violência doméstica também aumentou depois da pandemia.

Campanhas globais

A pandemia de violência doméstica contra mulher se tornou também um problema global, assim como a covid-19. Por isso, as ações para enfrentar o problema extrapolam as fronteiras dos países. O Instituto Avon da Argentina, do grupo Natura &Co, por exemplo, teve a ideia de fazer uma campanha global #isoladassimsozinhasnão para todas as marcas da companhia.

A iniciativa, que foca na violência doméstica em tempos de pandemia, foi importada pelo Brasil e outros países da América Latina. “A campanha faz um chamado para que cada pessoa preste atenção nos ruídos da vizinhança para identificar casos de agressão”, explica Daniela Grelin, diretora do Instituto Avon no Brasil.

Nesses países, a empresa desenvolveu uma forma de alcançar as vítimas de violência disfarçadamente. Compartilha, por meio de WhatsApp, um vídeo com tutorial de maquiagem, por exemplo, e durante a exposição são exibidas informações de combate a agressões, telefones de emergência e incentivo de apoio às vítimas.

Daniela explica que no Brasil, o Instituto Avon foi além. Lançou, também por meio de um número de WhatsApp, um serviço de chatbox (caixa de diálogo) em parceria com a Uber. Por meio desse chatbox é feito o rastreamento das necessidades da vítima e o nível de risco a que ela está exposta.

A vítima recebe todas as orientações e são passados os endereços mais próximos onde pode encontrar ajuda. Se ela não tem como ir, a Uber oferece uma corrida gratuita até o destino do socorro. O mapa do acolhimento funciona no País inteiro e o transporte é gratuito, onde há serviços da Uber.

“A melhor forma de libertação da vítima de violência é construir uma rede de apoio”, explica Daniela. Em um mês de funcionamento, o chatbox teve 925 acessos e atendeu a 863 mulheres. Destas, 311 foram identificadas como casos de alto risco e 116 pediram ajuda urgente.

Abusos físicos e verbais

Casada há menos de dois anos, uma personagem vítima de maus tratos do marido relatou ao Estadão, sob a condição de anonimato, as agressões físicas sofridas durante o período de isolamento social, que culminaram na recente separação. Maria (nome fictício) relatou que, durante o namoro, o marido era o “homem dos sonhos”: agradável, gentil, um amor de pessoa, disse. Mas depois do casamento, na igreja e no cartório, a situação mudou. Desempregado, ele passou a agredi-la verbalmente. Trabalhando o dia todo, Maria o encontrava somente à noite.

Mas com a pandemia do novo coronavírus, o patrão de Maria suspendeu temporariamente o contrato de trabalho e ela teve de ficar em casa. “Quando fiquei sem trabalhar e tivemos de passar o dia inteiro juntos, as humilhações por boca começaram a ser mais frequentes, mas continuei quieta”, disse. Até que no mês passado, a agressão verbal se transformou em agressão física. Durante um discussão noturna, Maria, aos gritos, pediu socorro aos vizinhos que chamaram a polícia. Com hematomas, foi encaminhada ao hospital e à delegacia e pediu medida protetiva contra o agressor.

“Com a pandemia e o maior tempo de convivência, ele se revelou outra pessoa”, disse. Ela acredita que o fato de o agressor estar desempregado e fazer uso de droga piorou o relacionamento, que já era ruim.

Valéria Scarance frisou que “nenhum homem pacífico se torna violento por causa do isolamento imposto pela covid-19”. Ela explicou que a violência é um padrão aprendido em casa ou na sociedade, com pessoas muito próximas. “70% dos homens que praticam violência hoje viram violência em casa.”

Ocorre, no entanto, que existem fatores de risco que funcionam como faíscas para detonar a violência pré-existente. São eles: isolamento da vítima, maior controle, aumento do consumo de álcool e drogas e problemas econômicos. “Esses fatores fazem com que a violência exploda, mas nenhum homem fica violento porque consumiu álcool ou drogas ou por estar desempregado”, pondera a promotora de Justiça.

“Muitas vezes se convive por muito tempo com uma pessoa, mas sem conhecer de fato quem ela é”, admitiu Maria. Como tantas outras mulheres, machucadas física e psicologicamente por seus companheiros neste período de isolamento social, Maria pediu a separação judicial do marido agressor. E tenta agora a sacudir a poeira para construir uma vida nova pós-pandemia.

Fonte:Estadão

terça-feira, 16 de junho de 2020

Rádio Cordel - programação especial para as festas juninas


Gazeta da Torre

O programa é veiculado em rádios públicas, educativas e comunitárias, além do Spotify.

As edições especiais da Rádio Cordel UFPE: na frequência do Agreste, produzidas em um contexto de pandemia da Covid-19 desde março, entram em uma nova fase. Em junho, esse projeto de extensão, desenvolvido pelo curso de Comunicação Social, do Centro Acadêmico do Agreste (CAA), campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em Caruaru, veicula programas para rádio e podcast sobre as festas juninas em tempos de distanciamento físico. Desde o último dia 2 de junho, exibe edições com crônicas, reportagens e entrevistas para mostrar como fica o São João de Caruaru em tempo de quarentena.

Sem a tradicional festa de rua, que transformou Caruaru na Capital do Forró, professores e alunos do curso de Comunicação Social estão realizando uma série de programas, veiculados às terças e sextas-feiras, para apresentar que a cultura dos festejos juninos continua forte, mesmo sem as aglomerações das pessoas na cidade e no campo. Às terças, programetes, de até cinco minutos, relembram a magia da época por meio das Crônicas Cantadas do País do São João, histórias autorais de alunos daquele curso, premiadas nacionalmente pela Intercom, Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, a mais prestigiada entidade do campo da comunicação do País.

Durante as sextas-feiras de junho, programas, de 20 minutos, são compartilhados para estimular a memória afetiva do ciclo junino com suas cores, cheiros, sons e sabores. Os dois primeiros programas recordam a festa dos anos 90 com o resgate de músicas e costumes daquela fase. Já os dois programas restantes focam no contexto atual, o da reinvenção da festa diante do impedimento da realização de grandes eventos e, consequentemente, de aglomerações para evitar a disseminação do novo coronavírus, que originou a maior crise sanitária do planeta desde a Segunda Guerra Mundial.

RÁDIO CORDEL - O projeto faz parte das ações do grupo de mídias sonoras do Núcleo de Design e Comunicação, do CAA, orientadas e supervisionadas pelas professoras do curso de Comunicação Social Sheila Borges e Giovana Mesquista, que envolve, neste período de pandemia, 20 alunos. Todos trabalham de casa desde que as aulas presenciais foram suspensas em respeito à orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS). O projeto é desenvolvido desde 2018 com a produção de programas quinzenais, envolvendo quadros de informação e entretenimento sobre o CAA.

Diante deste novo cenário, a Cordel decidiu elaborar edições especiais. Entre março e maio, produziu 24 programas com reportagens e dicas para responder à pergunta: como sobreviver ao distanciamento social? Com episódios inéditos de até 10 minutos, veiculados três vezes por semana, abordou diversos temas, como trabalhar na quarentena, passar o distanciamento longe de casa e a produção de máscaras de proteção para doação. Todos os episódios do projeto estão no Spotify Rádio Cordel, no Instagram  @radiocordel, no Facebook da Aveloz, agência experimental de comunicação, e no site  www.radiocordel.ml.

 Fonte:Secretaria de Cultura de Pernambuco

Oliver Stuenkel: Brasil pagará preço incalculável por ter um presidente incapaz na pandemia

Gazeta da Torre
Na imagem, brasileiros em busca do pequeno Auxílio Emergencial. O povo paga caro pelo despreparo do seu governante.

*Oliver Stuenkel, professor e pesquisador de relações internacionais,  mestre em Políticas Públicas pela Kennedy School of Government de Harvard University e doutor em Ciência Política pela Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha.

O coronavírus provavelmente moldará nossa era mais do que qualquer outro evento, elevando governantes mundo afora à posição de líderes cujas decisões terão impacto por décadas.

A pandemia como a que estamos vivendo é tão rara e grave que pode ser tornar o evento histórico mais marcante de nossas vidas. Marcará o início de uma nova era. Em função disso, as decisões dos líderes no momento e nos próximos anos, em um mundo em fluxo, terão consequências sistêmicas em longo prazo para seus países e a ordem global.

Como afirmou recentemente Janan Ganesh, colunista do jornal britânico Financial Times, é provável que o próximo presidente dos Estados Unidos tenha, junto com o presidente chinês Xi Jinping, a oportunidade de definir os fundamentos da era pós-pandemia. Cita como exemplo histórico o presidente americano Harry Truman, que chegou ao poder depois da morte de Franklin D. Roosevelt no fim da Segunda Guerra Mundial. Em circunstâncias normais, Truman dificilmente teria sido um líder relevante. O momento histórico em que se tornou presidente, porém, era atípico. Truman implementou o Plano Marshall para reconstruir a economia da Europa Ocidental e fundou a OTAN, tornando-se o líder americano de maior impacto da segunda metade do século 20. Por décadas, seus sucessores operaram dentro do sistema geopolítico que ele havia desenhado. Em um mundo em fluxo, líderes ao redor do mundo se tornaram altamente relevantes para suas nações naquele momento, desde Konrad Adenauer na Alemanha, Mao Tsé Tung na China até o premiê indiano Jawaharlal Nehru e o líder israelense David Ben-Gurion. Como observa Ganesh, “as circunstâncias contavam mais do que o indivíduo. 

Tal como em 1945, há cada vez mais evidência de que a atual pandemia será um momento de transformação, elevando governantes mundo afora, mais uma vez, à posição de líderes cujas decisões terão impacto em seus países por décadas. A resposta confusa dos EUA ao novo coronavírus sugere que a época marcada pela liderança global de Washington chegou ao fim, iniciando um processo complexo de transição para um sistema liderado por duas potências. A pandemia também deve simbolizar o fim da hiperglobalização, provavelmente com um maior papel do Estado na economia e taxas de crescimento mais baixas em países em desenvolvimento. James Crabtree, professor da Universidade Nacional da Singapura, escreveu recentemente que todo o conceito de Mercados Emergentes deve deixar de existir, com profundas consequências para a distribuição global de poder e o futuro do capitalismo. A crise sanitária global causará o primeiro retrocesso no desenvolvimento humano global em três décadas, causando aumentos bruscos nas taxas de pobreza e instabilidade política em numerosos países ao redor do mundo, alimentando a xenofobia, o nacionalismo e acelerando a crise do multilateralismo. Até a chegada de uma vacina, países terão que intercalar a flexibilização da quarentena com novos períodos de isolamento, sempre acompanhados de milhares de testes.

No meio disso tudo, nascerá uma ordem diferente, moldada pelas estratégias adotadas por líderes ao redor do mundo. Como as escolhas durante a atual pandemia deverão definir o contexto no qual futuros governos operarão, os países que atualmente têm líderes inteligentes e visionários provavelmente serão recompensados ​​desproporcionalmente —simplesmente porque, devido ao momento histórico, suas lideranças terão maior impacto. Países com governos eficientes sairão da crise mais unificados e resilientes, com sociedades mais empáticas e seguras de sua capacidade de superar desafios complexos. Nesse países, cientistas e profissionais da saúde ganharão mais visibilidade e respeito, e há um debate público construtivo sobre como encontrar o equilíbrio certo entre aumentar a capacidade de monitoramento do Estado e a proteção da privacidade, como reabrir a economia sem pôr vidas em risco e como financiar os pacotes de estímulo econômico.

Países que atualmente têm maus líderes, por outro lado, podem acabar sendo punidos mais do que em circunstâncias normais. Além de gerir mal a pandemia e prorrogar a crise sanitária e econômica, eles não levam evidência científica em consideração e não atuam de maneira transparente. Deixarão de estabelecer as bases necessárias para iniciar a dolorosa adaptação de longo prazo. Ao invés de unificar seus países, deixarão suas sociedades mais divididas e desconfiadas, inviabilizando um debate público sobre os numerosos desafios, desde o futuro da educação, da economia, do emprego, do transporte e até do processo eleitoral em tempos de pandemia. Como sempre na história, países com lideranças inteligentes aproveitarão do mundo em fluxo para galgar posições, enquanto as nações à deriva perderão relevância.

Levará muito tempo para se poder avaliar as consequências geopolíticas da pandemia e o inevitável rearranjo na distribuição de poder entre nações. Porém, até agora, tudo indica que o Brasil será um dos grandes perdedores geopolíticos deste momento histórico. Quando o Brasil não foi nem sequer convidado para lançar, em abril, a iniciativa “Colaboração Global para Acelerar o Desenvolvimento, Produção e Acesso Equitativo a Diagnósticos, Tratamento e Vacina contra a Covid-19”, que reúne Governos, organizações internacionais, fundações e empresas privadas, revelou-se ali uma irrelevância internacional do Brasil que pode ser o novo normal pós-pandemia —e que demoraria anos para ser revertida. A triste realidade é que, neste momento, o Brasil traz muito pouco à mesa dos debates sobre os maiores desafios que a humanidade enfrenta. É relevante apenas no sentido em que causa preocupação dentro e fora do país. Além das muitas mortes que poderiam ser evitadas com uma resposta mais coerente e baseada em evidências científicas, o Brasil pode chegar a pagar um preço muito maior, por muito mais tempo, do que a maioria acredita.

domingo, 14 de junho de 2020

Papa: com Jesus, podemos nos imunizar contra a tristeza

Gazeta da Torre

No altar da cátedra da Basílica Vaticana, o Papa Francisco presidiu à missa no dia em que a Itália celebra a Solenidade de Corpus Christi. Jesus se faz presente "na fragilidade desarmante da Hóstia".

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

"A Eucaristia não é simples lembrança; é um fato: é a Páscoa do Senhor, que ressuscita para nós." No dia em que a Itália celebra a Solenidade de Corpus Christi, o Papa Francisco presidiu à missa na Basílica de São Pedro, com a participação de cerca de 50 fiéis.

A homilia do Pontífice foi inspirada no seguinte versículo extraído do Deuteronômio: «Recorda-te de todo esse caminho que o Senhor, teu Deus, te fez percorrer» (Dt 8, 2). As palavras do Papa, portanto, falam de memória: memória de quem somos e do que devemos fazer.

Fazei isto em memória de Mim

Para Francisco, é essencial recordar o bem recebido: se o não conservamos na memória, tornamo-nos estranhos a nós mesmos, meros «passantes» pela existência. Pelo contrário, fazer memória é amarrar-se aos laços mais fortes, sentir-se parte duma história transmitida de geração em geração.

Nossa memória é frágil, recordou o Papa, por isso Deus nos deixou um memorial. Não nos deixou apenas palavras, mas nos deu um Alimento: a Eucaristia não é simples lembrança; é um fato: é a Páscoa do Senhor, que ressuscita para nós. “Fazei isto em memória de Mim.”

A Eucaristia cura a nossa memória ferida e órfã. Introduz em nossa memória um amor maior: o Dele. Cura também aquilo que o Pontífice chamou de "nossa memória negativa", isto é, pensar de que não servimos para nada, que só cometemos erros.

“O Senhor sabe que o mal e os pecados não são a nossa identidade; são doenças, infeções. E Ele vem curá-las com a Eucaristia, que contém os anticorpos para a nossa memória doente de negativismo. Com Jesus, podemos imunizar-nos contra a tristeza.”

Somos portadores de Deus

Os problemas cotidianos não desaparecem, mas o seu peso deixará de nos esmagar, porque, na profundidade de nós mesmos, temos Jesus que nos encoraja com o seu amor.

“Aqui está a força da Eucaristia, que nos transforma em portadores de Deus.” Justamente por isso, ao sair da missa, não podemos continuar a reclamar, a criticar e a nos lamentar, pois a alegria do Senhor muda a vida.

Enfim a Eucaristia cura a nossa memória fechada. Se no início somos medrosos e desconfiados, aos poucos nos tornamos cínicos e indiferentes, agindo com insensibilidade e arrogância.

“Só o amor cura o medo pela raiz, e liberta dos fechamentos que aprisionam. É assim que faz Jesus, vindo ter conosco com mansidão, na fragilidade desarmante da Hóstia; assim faz Jesus, Pão partido para romper a carapaça dos nossos egoísmos.”

Eis o convite a não desperdiçar a vida, correndo atrás de mil coisas inúteis que criam dependências e deixam o vazio dentro. “A Eucaristia apaga em nós a fome de coisas e acende o desejo de servir.” Somos as mãos de Deus para saciar o próximo e juntos devemos formar correntes de solidariedade:

“Agora é urgente cuidar de quem tem fome de alimento e dignidade, de quem não trabalha e tem dificuldade em seguir para diante. E fazê-lo de modo concreto, como concreto é o Pão que Jesus nos dá.”

Por fim, uma recomendação: “Queridos irmãos e irmãs, continuemos a celebrar o Memorial que cura a nossa memória: a Missa. É o tesouro que deve ocupar o primeiro lugar na Igreja e na vida. E, ao mesmo tempo, redescubramos a adoração, que continua em nós a ação da Missa”.

A cerimônia se concluiu com a exposição do Santíssimo, com o qual o Pontífice concedeu a sua bênção.