quinta-feira, 30 de julho de 2020

Cinemateca Brasileira agoniza e se torna símbolo da falta de política cultural do Governo Federal

Gazeta da Torre

União deve 14 milhões de reais à mantenedora da instituição, cujo acervo conta com mais de 250.000 filmes da história do Brasil e é a quinta maior cinemateca em restauro do mundo.

O arquivo completo de Glauber Rocha, maior expoente do Cinema Novo. As películas do cinejornal futebolístico Canal 100, feitas entre 1958 e 1986. As gravações de Marechal Rondon sobre as Forças Expedicionárias Brasileiras. O original de O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto, que fez sucesso em Cannes e é considerado o primeiro filme brasileiro com reconhecimento internacional. Esses são alguns dos tesouros guardados no maior acervo de imagens em movimento da América do Sul, a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, e que estão em risco de desaparecer por falta de financiamento do Governo Federal. A Associação Roquette Pinto, mantenedora da Cinemateca desde 2018, afirma que o Executivo não repassou qualquer verba a ela neste ano e acusa o Governo de Jair Bolsonaro de uma dívida de 14 milhões de reais. No último capítulo dessa novela que se arrasta há meses, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou, em 15 de julho, uma ação civil contra a União, considerando que Executivo é responsável pelo “estrangulamento financeiro e abandono administrativo” do local. O resultado de tal ação deve sair até o final desta semana.

Criada na década de 1940 e conhecida como a quinta maior cinemateca em restauro do mundo, a instituição abriga 250.000 rolos de filme, sendo 44.000 títulos de curta, média e longa-metragens, além de programas de TV e registros de jogos de futebol. O custo de manutenção é de 1,2 milhão por mês. Há quatro meses, os 150 funcionários não recebem salários e entraram em greve, incluindo a brigada de incêndio, fazendo pairar sobre o local o fantasma da tragédia do Museu Nacional, que pegou fogo em 2 de setembro de 2018. Os rolos de películas em nitrato de celulose, que correspondem aos filmes produzidos até os anos 1950, são altamente inflamáveis, já que essa substância tem a propriedade de entrar em combustão espontânea, ou seja, a capacidade de incendiar-se apenas com calor. Por isso, algumas paredes da instituição têm até dois metros de espessura e algumas salas contam com um sistema de refrigeração específico.

Apesar dos cuidados, a Cinemateca já enfrentou quatro incêndios. O mais recente, em fevereiro de 2016, destruiu definitivamente 270 títulos e outras 461 obras que tinham cópia de segurança. Em fevereiro deste ano, uma enchente no depósito da instituição danificou 113.000 cópias de DVDs. “Não existe uma consciência política ou social do que podemos perder, da importância cultural da documentação de uma época. As épocas não são documentadas através do PIB, através da política econômica, mas sim com a arte e a cultura”, afirma ao EL PAÍS o ator Carlos Vereza, que denunciou a situação da Cinemateca nas redes sociais.

Vereza, que foi um dos poucos apoiadores de Jair Bolsonaro na classe artística —o ator rompeu com o presidente em abril, após a demissão de Henrique Mandetta do Ministério da Saúde—, acusa o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub de ter começado o “desmonte” da instituição. Em dezembro, Weintraub encerrou o contrato da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp) para a realização da TV Escola, cujo orçamento de 400 milhões de reais ao longo de cinco anos subsidia a Cinemateca. Vereza, que apresentava o programa Plano Sequência no canal público, foi chamado para uma reunião. “Ele deixou claro que ele queria levar meu programa para a EBC [a estatal Empresa Brasil de Comunicação] e esquecer a TV Escola. Eu disse que de jeito nenhum. Mas ele acabou com a TV Escola e, em consequência, está acabando com a Cinemateca também”, lamenta o ator.

Com o fim do canal público educativo, a situação virou um imbróglio jurídico, já que o acordo original com a Cinemateca vai até março de 2021 e a Roquette Pinto continuou a manter a instituição com recursos próprios. À dívida da União, de aproximadamente 14 milhões de reais, somam-se ainda pendências anteriores: em 2019, o Governo só pagou sete dos 13 milhões de reais previstos. “É uma prova de que não existe política cultural neste Governo. Pelo contrário, existe um projeto frio e consciente de acabar com o pensamento, a cultura e a arte no país”, afirma Vereza.

Além do bolso da Fundação Roquette Pinto, a Cinemateca tem contado com ajuda financeira da Prefeitura de São Paulo, que, através do SPCine (entidade municipal de cinema e audiovisual) e da Câmara de Vereadores, têm pago uma equipe de segurança no local, além de algumas contas atrasadas. “Eu expus ao prefeito Bruno Covas a ideia de pedir ao Governo Federal que o município, através de um conselho administrativo com artistas e técnicos, gerisse a Cinemateca. Dessa forma, poderíamos solicitar uma emenda parlamentar de um milhão de reais e destiná-lo à instituição”, diz o vereador Xexéu Tripoli (PSDB). Covas fez a solicitação formal ao Ministério do Turismo, responsável pela Secretaria Especial de Cultura, mas não obteve resposta.

Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo, e Mário Frias, secretário da pasta cultural, visitaram a Cinemateca no dia 23 de junho e publicaram, em um vídeo no Instagram, o compromisso de “resolver o impasse”. Frias substituiu a atriz Regina Duarte na Secretaria de Cultura, para quem Bolsonaro prometeu uma posição de chefia na Cinemateca. A vaga, que não existe, virou mais uma das dúvidas em torno da instituição. Em outro vídeo, em 15 de julho, Frias e o ministro do Turismo afirmam que técnicos do Governo foram impedidos por funcionários da Cinemateca de entrar no local e negam a responsabilidade de assumir a “dívida de um contrato que não está vigente há mais de seis meses”.

O Ministério do Turismo afirma ainda que, desde a rescisão contratual do Ministério da Educação com a Roquette Pinto, o Governo não tem acesso aos dados que permitam tomar as decisões relativas à manutenção do patrimônio público, como custos de água, energia, brigadistas e segurança, entre outros. E, por isso, não fez repasses de verba à instituição neste período. A Fundação Roquette Pinto garante, no entanto, que já enviou 1,5 terabyte de informação ao Executivo. Marcelo Álvaro Antônio e Mário Frias chegaram a especular a mudança da Cinemateca para Brasília e que o Governo passasse a administrá-la, algo que seria ilegal. Isso porque o termo de doação em 1984 do acervo cedido à União —lavrado em escritura pública e ao qual o EL PAÍS teve acesso— pela sociedade Amigos da Cinemateca determina que a instituição deve localizar-se em São Paulo e impede o Governo de empregar funcionários públicos ou assessores de confiança na mesma. O documento, assinado pela União durante o Governo militar de João Figueiredo, visa a proteção do acervo e a memória audiovisual do país de ideologias políticas.

“Na Cinemateca não está só a história do cinema, mas uma parte importante da história do Brasil. Lá está a Marcha da Família, de 1964, a revelação do cineasta Marechal Rondon, que filmava e revelava na selva, fez o primeiro nu cinematográfico de um indígena brasileiro... É um tesouro que não dá para simplesmente transferir para outro lugar. Não é qualquer funcionário que vai saber manusear o material”, argumenta Carlos Vereza.

O futuro da instituição parece estar, de fato, nas mãos do MPF, cuja ação pede, em caráter de urgência, a renovação de contrato com a Roquette Pinto até o fim de 2020 e dá 60 dias para a reestruturação, manutenção e empoderamento do Conselho Consultivo da Cinemateca, incluindo a ordem de que não sejam demitidos ou dispensados funcionários. “[Os documentos apresentados demonstram] a necessidade de se manter mobilizado o corpo técnico de funcionários especializados, com inigualável expertise na área cinematográfica, cuja desmobilização (por mera dispensa ou ausência reiterada de pagamento) causará irreparável prejuízo imaterial à União (que demorou anos, décadas, para formar ali um polo reprodutor de tal conhecimento especializado)”, diz o documento. “Enquanto esperamos, o que nos resta é fazer pressão política, popular e cultural para que eles resolvam a situação”, diz o vereador Tripoli.

Jornal El País, Cultura


terça-feira, 28 de julho de 2020

Como a pandemia impactou na sexualidade de jovens, mulheres e LGBTQI+

Gazeta da Torre

A pandemia da Covid-19 provocou alterações importantes no cotidiano dos jovens. Uma das mudanças foi a redução ao acesso a informações relevantes sobre sexualidade. É o que mostra uma pesquisa feita por estudiosos das renomadas universidades de Columbia e Rutgers, ambas localizadas nos Estados Unidos.

O estudo aponta que o fechamento de escolas e centros sociais impediram a continuidade das discussões sobre sexualidade. Além disso, a imposição da quarentena dificultou o acesso dos jovens – devido a impossibilidade de ir à farmácia ou ao médico – a métodos contraceptivos, como preservativos, pílulas anticoncepcionais e DIU. “Com a pandemia, o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos está prejudicado” afirma a médica Luiza Cadioli, diretora do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. Os grupos mais afetados pelo confinamento, e que sofrem com a possível perda de seus direitos sexuais, são as mulheres e a população LGBTQI+ – lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, queer, interssexuais e outras sexualidades ou identidades que não sejam heterossexuais ou cisgêneros.

Um dos temores dos pesquisadores americanos é que a dificuldade de acesso a informações via conversas ou palestras faça com que muitos jovens, independentemente da identidade de gênero, busquem respostas ou tirem suas dúvidas na internet, onde podem encontrar conteúdos incorretos ou não acharem as soluções.

Entre os indivíduos da população LGBTQI+, o isolamento pode agravar o sofrimento de muitos que não assumiram suas identidades de gênero ou opções sexuais. Muitas vezes, eles estão em casa, na companhia de familiares refratários. “Além disso, eles não têm com quem conversar” conta Ricardo Dias, coordenador de Políticas LGBTQI+ da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo.

Tecnologia como espaço de conversa

Uma das formas utilizadas tanto pelo coletivo quanto pela Secretaria Municipal de Diretos Humanos e Cidadania para falar sobre o tema é o uso das plataformas digitais. Por meio delas, as equipes de sexólogos, médicos e psicólogos conseguem se aproximar das pessoas que estão atrás de informações e de ajuda. Contudo, diferentemente das rodas e conversas presenciais, no entanto, o uso do meio digital pode intimidar ou provocar o temor de exposição.

Por Nicola Ferreira, da Agência Einstein

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Com as ferramentas científicas das quais dispomos hoje, o rendimento do aluno não deve ser avaliado apenas pelas cores do boletim

Gazeta da Torre

O desenvolvimento da ciência tem proporcionado um sem-número de avanços em todas as áreas do conhecimento. Da geração dos nossos avós para cá, houve muitas mudanças que trouxeram grandes benefícios à sociedade. É inegável a contribuição dos estudos científicos, diante das necessidades do Planeta como um todo, sobretudo em termos de saúde, condições de vida e moradia, preservação do meio ambiente etc.

No que tange à Educação, acadêmicos se debruçam nos estudos, com vistas ao desenvolvimento humano, o que não é nada fácil. Têm-se à mão muitas teorias formuladas para facilitar o aprendizado do aluno, admitindo aspectos de multidisciplinaridade. O que antes não chegava à agenda do professor, hoje deve fazer parte da rotina. O desempenho do aluno não deve ser mais medido pela nota que lhe é atribuído mediante provas orais ou escritas. Considera-se o aspecto do aprendizado cognitivo somado a variáveis, como o comportamento, a interação com os demais alunos, a capacidade de agir ou reagir após algum conflito, interesse nas questões de ordem social, criatividade para superar desafios, entre outras.

Nesse sentido, imagina-se o quanto um aluno com necessidades especiais pode ser auxiliado no espaço escolar. No entanto, não basta o monitoramento das variáveis já citadas. Do educador, é exigida, além da qualificação profissional que leve em consideração aspectos, na predominância, sociais e econômicos, a aplicação de uma abordagem diferenciada, única para cada educando.

Daí surge a necessidade de uma equipe multidisciplinar. Antes, o professor acumulava muitas funções, dentro e fora da sala de aula. Na expectativa de um super herói, ele agia de acordo com o conhecimento que possuía e o tempo que aplicava na dedicação ao ofício de ensinar. A realidade atual mostra as modernas especificidades do processo educacional, sendo humanamente impossível um único profissional acompanhar o aluno, especial ou não, em seus múltiplos requisitos de desenvolvimento.

Compreende-se que a escola era um lugar onde a criança recebia instruções, fazia trabalhos de pesquisa, era submetida a provas e praticava atividade física. Hoje, deve-se entender como escola o espaço - não limitado por paredes físicas - destinado a práticas que emancipem o educando, formando-o na integralidade, ou seja, capacitando-o intelectual e moralmente.

Fica a seguinte provocação: será que as escolas estão preparadas para essa realidade? Será que profissionais, como pedagogos, psicólogos, neuropediatras, linguistas, nutricionistas etc. participam do ambiente escolar em equipe multidisciplinar? Será que, diante de uma tal ou qual dificuldade do aluno, existe alguém capacitado para lhe apresentar o conteúdo programático sob a ótica de  uma outra abordagem pedagógica, facilitando seu raciocínio?

Com as ferramentas científicas das quais dispomos hoje, o rendimento do aluno não deve ser avaliado apenas pelas cores do boletim. Vamos refletir nisso!  

sábado, 25 de julho de 2020

A população deve estar disposta a fiscalizar os serviços de saneamento

Gazeta da Torre

O saneamento básico é mais do que urgente no Brasil, sendo do conhecimento de todos, e a falta de uma rede de coleta de esgoto atinge diretamente a população menos favorecida. O Brasil ocupa a nona economia do mundo e a segunda maior concentração de riqueza, mas em contrapartida está na sétima posição mundial em desigualdade.

O Atlas do Brasil: Disparidades e Dinâmicas do Território já apontava, em 2005, que metade da população não tem esgoto, atualmente 20% não têm acesso à água e cerca de 1/3 não tem coleta de esgoto. Esses dados precários do saneamento no Brasil levam a inúmeros problemas sanitários, como doenças oriundas de dejetos de lixo e esgoto que correm a céu aberto em córregos, rios, lagos e no mar do País, apresenta e analisa a professora Neli Aparecida de Mello-Théry, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo e coordenadora do grupo de pesquisa Políticas Públicas, Territorialidades e Sociedade do IEA analisa que a fiscalização será o grande desafio para o êxito do projeto.

Rádio USP

quinta-feira, 23 de julho de 2020

LIVE com o tema "Metas e resultados você está preparado"

No quadro “Especialista & Você” dessa sextaa-feira 24/07, abordaremos o tema " Metas e resultados você está preparado " com os especialistas Idalina Assunção que é Psicóloga e Diretora do Método SUPERA Recife mediado por Eliabe Serafim que é Consultor Empresarial e Presidente da Abraginforh.

A live ocorrerá no nosso perfil do Instagram @abraginforh das 13h às 14h.

ONU propõe renda básica temporária para frear pandemia de coronavírus

Gazeta da Torre

Com um valor mínimo garantido, três bilhões de pessoas na pobreza no mundo não seriam obrigadas a sair de casa todo dia para ganhar o pão, e assim o vírus deixaria de se espalhar.

Centenas de milhões de pessoas enfrentam diariamente o dilema de se confinar para não contrair o novo coronavírus, freando assim o avanço da pandemia, ou sair para trabalhar e continuar comendo. A maioria —pobres em países pobres, trabalhadores informais que vivem um dia de cada vez e não têm uma rede de apoio se sua renda sumir— opta pelo segundo. Assim, é impossível dobrar a curva de contágios, como se conseguiu nas economias avançadas confinando a população, e o SARS-CoV2 continua sua expansão incontrolável. Essa é a conclusão de um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que propõe que os Governos das nações em desenvolvimento garantam uma renda básica temporária, enquanto a pandemia durar, às pessoas em situação de pobreza ou em sério risco de cair nela. E acabar assim com o dilema entre ter covid-19 e passar fome.

Concretamente, o relatório Renda Básica Temporária: Proteção de Pessoas Pobres e Vulneráveis em Países em Desenvolvimento, publicado nesta quinta-feira, propõe que 132 países de renda baixa e média garantam um pagamento básico por um tempo limitado para quase três bilhões de pessoas, 44% da população global. “Isto não é um apelo por doações, não é uma ajuda do Fundo de Emergência da ONU para as nações mais pobres, e sim uma proposta para que os Governos desses países examinem suas opções para confrontar a pandemia”, esclarece Achim Steiner, administrador do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em uma entrevista por teleconferência.

A expansão do SARS-CoV2 se acelerou nas últimas semanas, sobretudo nos países em desenvolvimento e nas economias emergentes, onde as taxas de trabalho informal, sem subsídios de desemprego ou outras ajudas públicas, são elevadas. “Necessitamos de soluções incomuns, temos que pensar de forma diferente, porque o maior desafio que enfrentamos neste momento é que, na ausência de tratamento e de vacinas, esta pandemia continuará se propagando”, comenta Steiner. “O problema é que, ao tratar de contê-la, provocamos um impacto no sustento econômico e social das pessoas. E claramente, e de forma particular nos países em desenvolvimento, onde não há uma rede de segurança social, onde entre 70% e 80% das pessoas ganham a vida através do setor informal, um confinamento significa não ter renda. Um apoio básico temporário é uma opção legítima a considerar nas estratégias nacionais”, detalha.

“As previsões feitas há dois ou três meses sobre a pobreza e a perda de empregos e renda estão começando a se cumprir agora”, advertiu o economista George Gray Molina, chefe de política estratégica do PNUD, durante um encontro virtual com jornalistas. Segundo seus cálculos, entre 70 e 100 milhões de pessoas poderiam cair na miséria extrema (viver com menos de 1,90 dólar por dia —cerca de 10 reais) devido à crise econômica desencadeada pela covid-19. Essa previsão já é um problema real. Por isso, Gray urge que sua proposta seja ouvida e adotada o quanto antes. Não há tempo a perder. “Chegamos a mais de 14,5 milhões de casos nesta semana. Foram três meses até alcançar o primeiro milhão, depois aumentou à razão de um milhão por semana, e ultimamente, um milhão a cada quatro ou cinco dias”, alerta.

Perante a dúvida de como economias menos adiantadas poderiam se permitir uma medida como esta, os pesquisadores do PNUD calcularam seu custo e de onde poderia provir. “É factível”, afirma Steiner. “Os países têm diferentes limites de pobreza”, observa Gray. A proposta do PNUD é que se garanta que todos os cidadãos estejam acima desses limites, seja completando seus exíguos ganhos ou transferindo uma quantia fixa, que calcularam em 5,50 dólares (28,16 reais) por dia, que é a linha de pobreza mais comumente adotada.

No primeiro caso —adaptar a ajuda ao limite nacional de pobreza—, se a linha de pobreza estiver em 1,90 dólar por dia, seria preciso garantir uma renda de 3,20 dólares a cada cidadão. Se o limiar for de 3,20 dólares, cada pessoa deveria obter um mínimo de 5,50. E onde se vive na pobreza mesmo ganhando mais de 5,50 dólares por dia, como na maior parte da América Latina e Europa, então seria preciso garantir até 13 dólares por dia. Promover esta medida custaria aproximadamente 200 bilhões de dólares (pouco mais de um trilhão de reais) por mês. A opção de uma ajuda uniforme de 5,50 dólares por dia para 2,78 bilhões de pessoas representaria um investimento de 465 bilhões mensais.

Esses recursos poderiam provir, segundo Gray, de três fontes. “Não propomos impostos adicionais, porque esta é uma medida temporária, que durará seis, nove ou 12 meses, até que se encontre uma vacina ou uma cura. Mas falamos de reutilizar os recursos existentes”, explica. Um deles é a dívida que os países em desenvolvimento pagam a seus credores. O G20 já concordou com uma moratória no pagamento da dívida dos 77 países mais pobres do mundo, mas o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que essa suspensão seja estendida a todos os países em desenvolvimento, incluídos os de renda média, assim como os pequenos Estados insulares.

Se cumprida, essa suspensão da dívida estendida chegaria a 3,1 trilhões de dólares neste ano, que é o que desembolsariam os países em desenvolvimento a seus credores em 2020, calcula o PNUD. Uma quantidade que cobriria total ou parcialmente —dependendo da opção— até o final do ano a renda básica temporária que o organismo propõe. Outra fonte poderia ser, segundo o organismo, entregar às pessoas os subsídios hoje destinados aos combustíveis fósseis. E, finalmente, sugere uma espécie de sistema de autofinanciamento das ajudas. “A maioria das transferências de dinheiro aos pobres ou vulneráveis vai para o consumo e têm um efeito multiplicador muito forte em nível local. E parte do investimento será recuperada mediante impostos diretos ou indiretos que poderiam por sua vez financiar parte das próprias ajudas”, aponta Gray.

Além do financiamento da medida, há outros desafios, como o administrativo. Como encontrar e fazer os pagamentos a tantas pessoas, muitas delas não registradas e fora do sistema? “Vimos muita inovação com ferramentas digitais nos últimos meses”, diz o especialista. E há a experiência dos países que já implementaram pacotes de ajudas aos mais necessitados. A maioria é de países ricos, mas também há nações em desenvolvimento que iniciaram programas de proteção dos mais vulneráveis, como o Togo. Muitos, entretanto, terão que inventar suas próprias respostas.

“Claramente, estamos em um território desconhecido. Mas podemos tirar partido das melhores práticas de muitos países e tratar de aplicá-las em uma situação excepcional para estabelecer um conjunto extraordinário de medidas para abordar o que de outra maneira derivaria em uma situação intratável em muitos países”, adiciona Steiner. “Estamos em uma situação sem precedentes. Necessitamos respostas sem precedentes. O número de infecções e mortes continua aumentando exponencialmente. O que fizemos até agora não é suficiente.”

*Alejandra Agudo/El País

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Não siga o efeito manada para a renda variável

Gazeta da Torre

É importante entender o que é a taxa Selic, de que forma ela pode impactar nos investimentos e refletir sobre esse efeito manada que tem para a renda variável. Vamos analisar se é benéfico, coerente, para que tipo de pessoas se adequa.

A taxa Selic vem numa fase de queda e, naturalmente, isso tem um impacto para as pessoas que investem em renda fixa. Para quem quer ganhos mais atrativos, precisa partir para a renda variável e se expor mais ao risco. Assim, no médio e longo prazo, tem grande possibilidade de ter retorno maior do que a Selic pode proporcionar hoje.

Para reforçar, deixa eu falar do que se trata a Selic e o CDI. Selic é a taxa básica de juros do Brasil. Já o CDI, que normalmente e historicamente é 0,1% abaixo da Selic, é o principal indexador para a maior parte dos investimentos de renda fixa.

O que mais escutamos nos últimos meses é que a renda fixa morreu, que não se tira rentabilidade alguma. Realmente, a renda fixa caiu muito em relação a 2015 e 2016. Naqueles anos, chegamos a ter uma Selic de pouco mais de 14%, sendo muito simples tirar mais de 1% ao mês. Hoje, a realidade é absurdamente inferior a isso. Mas, venho de uma corrente para defender que todos precisam entender melhor dos produtos de renda fixa para que saiba o que pode extrair de melhor de cada um deles. Trazendo um dado importante, 85% dos brasileiros que poupam, mantém essa reserva na poupança. Como tirar essas pessoas da poupança e já migrar para produtos mais arrojados da renda variável? É mais inteligente e coerente que essas pessoas adquiram mais conhecimento e, aos poucos, percebam que essa levada de renda variável talvez não seja o momento mais propício para elas aproveitarem.

É importante refletir sobre o seu perfil de investidor, se é uma pessoa conservadora, moderada ou arrojada. Normalmente, quando não se tem muito conhecimento, não tem também segurança. E isso é o que faz com que o perfil seja conservador e se sinta confortável na poupança. O que os 85% dos brasileiros que se encontram nessa situação não sabem é que existem produtos que podem render relativamente mais do que a poupança, com grande ou até mais segurança do que ela. São os CDB’s, CDI’s, LCI’s, LCA’s, títulos do Tesouro Direto e também Fundos de Renda Fixa. Então, conhecimento é a chave de abertura para tudo isso, e com essa chave você pode acessar uma rentabilidade melhor, sem agredir o seu perfil de investidor.

Invista em conhecimento para que, pouco a pouco, você invista de forma mais arrojada, fazendo o balanceamento da carteira com investimentos aderentes ao perfil, e não seguir um efeito manada de direcionamento para a renda variável. Para quem segue esse efeito manada, numa primeira possível queda da renda variável, pode não saber como se comportar e sair de forma antecipada, vender produtos, ações, fundos de ações ou ETF’s e perder boas possibilidades de ganho que, quem tiver a paciência, tranquilidade e assertividade, muito provavelmente, vai ter no médio e longo prazo. Adquira conhecimento, se fortaleça e siga crescendo degrau por degrau. Isso te dá mais consistência e oportunidades em diversos ciclos econômicos. Não estou dizendo para puxar o freio de mão e deixar de lado a renda varável. Mas entre com um percentual que você admite perder, que não vai fazer falta no orçamento de curto e médio prazo.

  Se faça duas perguntas básicas: a primeira é se você já tem a sua reserva de emergência, ou seja, o valor que corresponde de seis a doze meses das suas despesas mensais. A outra é em relação ao seu perfil. Como você se sentiria investindo cem mil, por exemplo, num determinado produto e, depois seis ou dez meses, perder de 20 a 40% disso? Você perceberia que era um bom momento de comprar mais ou será que venderia com medo de perder mais? Qual a linha de análise?

Pondere todos esses pontos, entenda o seu posicionamento diante do momento econômico do Brasil, do seu momento financeiro e das oportunidades que tem no país. Avance para seguir essa escala de crescimento de acordo com o seu perfil.

Acompanhe mais do meu trabalho também no youtube, com uma linguagem prática, simples e direta, e também no meu Instagram  https://www.instagram.com/personalfinanceiro/?hl=en.

Abraço e até a próxima!

terça-feira, 21 de julho de 2020

Enem 2020 sofre mudanças por causa da pandemia

Gazeta da Torre

Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP, diz que “prazo para os alunos se prepararem para as provas é insuficiente”.

O Ministério da Educação (MEC) e o Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira definiram novas datas para as provas, que serão aplicadas em janeiro e fevereiro de 2021. O exame deste ano terá um gasto adicional de R$ 70 milhões por causa da pandemia do coronavírus. Pelo novo cronograma as provas impressas serão realizadas nos dias 17 e 24 de janeiro, para 5,7 milhões de inscritos. A prova digital acontece no dia 31 de janeiro e em 7 de fevereiro, para 96 mil inscritos. A reaplicação da prova ocorre nos dias 24 e 25 de fevereiro, para quem for afetado por eventuais problemas de estrutura. O resultado sai a partir do dia 29 de fevereiro.

Para Ocimar Alavarse, professor de graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação da USP e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional, o Gepave, o problema está nessas novas datas. “Elas não resolvem o grande problema que é o tempo para os alunos se prepararem para as provas. Sendo otimista e começando em setembro, esses alunos teriam pouco tempo para a preparação das provas, especialmente aqueles de escolas públicas que acabam não tendo as melhores condições, mesmo em uma situação normal”, ressalta.

Outra novidade é a prova digital, que será realizada pela primeira vez. O MEC pretende que até 2026 a prova seja somente desse jeito. Se por um lado ela é atrativa, a prova em papel já é tradicional e os estudantes estão acostumados a fazê-la. O professor lembra que são necessários cuidados para garantir a segurança do exame. “Nesse sistema, embora tenha algumas vantagens quanto ao processamento, a prova eletrônica não elimina os cuidados para manter o sigilo, a lisura do processo com relação às fraudes e, sobretudo, na transmissão dos dados. É preciso cautela para não nos iludirmos que essa alternativa contorne os problemas já existentes na prova em papel.”

Buscando garantir a segurança, em virtude do coronavírus, serão alugadas mais salas para dar distância maior entre os alunos; os aplicadores irão usar máscaras e materiais de segurança, haverá álcool em gel disponível a todos e serão utilizados novos protocolos de segurança e identificação para os participantes.

*Jornal da USP

segunda-feira, 20 de julho de 2020

120 anos de Anísio Teixeira: as ideias do criador da escola pública no Brasil

Gazeta da Torre

O debate a respeito da universalização de uma escola pública, laica, gratuita e obrigatória teve um de seus grandes momentos há mais de 80 anos no Brasil.

Na década de 1930, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova vislumbrava um audacioso projeto de renovação educacional no país.

Consolidando a visão de 26 educadores, de distintas posições ideológicas, o documento "A reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao governo" tratava de assuntos ainda atuais e amplamente discutidos na cena da educação brasileira: da autonomia moral do estudante à equiparação de mestres e professores em remuneração e trabalho. Visão bastante diferente dos tempos atuais em nosso país, onde a educação está maltratada.

Um de seus mais notórios signatários, Anísio Teixeira, faria 120 anos neste mes de julho.

Como personagem central na história da educação no país na primeira metade do século 20, os pensamentos do jurista e escritor sobreviveram às transformações sociais e à passagem do tempo.

No entanto, embora empreste seu nome ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão ligado ao Ministério da Educação que aplica exames como o Enem e realiza levantamentos estatísticos sobre o ensino, o intelectual ainda é pouco conhecido e comentado fora do âmbito educacional, a despeito da perenidade de suas ideias.

Em uma época em que a educação era formulada e concebida para poucos, uma de suas maiores contribuições está no entendimento da necessidade de se democratizar o acesso ao ensino.

Para Andrea Harada, professora e mestre em Educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o educador via nesse processo um instrumento de "superação das contradições sociais que marcavam o Brasil no período".

"A democratização poderia, pela ampliação da formação escolar, indicar um futuro marcado pelo desenvolvimento do Brasil e a consolidação do país como nação. Porém, um limite não fora considerado: as determinações políticas e econômicas", explica ela.

Revolta com a desigualdade

Anísio Teixeira criou a Universidade do Distrito Federal (1935), quando o Rio de Janeiro ainda era capital do país; fundou o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, ou "Escola Parque", em 1950, em Salvador, durante sua passagem pela Secretaria de Educação da Bahia, e foi um dos mentores da UnB (Universidade de Brasília), da qual era reitor no ano de 1964, quando ocorreu o golpe militar no Brasil.

"A construção da ideia, no Brasil, de uma escola pública, gratuita, laica e de qualidade passa, necessariamente, pelas contribuições dele. Outro aspecto importante a considerar é a formação docente e o reconhecimento do trabalho de professores, a necessidade de conhecimento científico para o desenvolvimento da educação, com ênfase para as séries iniciais, restringindo os espaços para amadorismo e enfatizando as particularidades de nossa cultura e história como meio de superação da mentalidade colonial que se reproduzia também nas escolas", diz Harada.

Em um documento distribuído à imprensa em abril de 1958, o professor disse: "Sou contra a educação como processo exclusivo de formação de uma elite, mantendo a grande maioria da população em estado de analfabetismo e ignorância. Revolta-me saber que metade da população brasileira não sabe ler e que, neste momento, mais de 7 milhões de crianças entre 7 e 14 anos não têm escola".

Na visão de Ivan Russeff, doutor em educação e professor de Biblioteconomia da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), essas duas colocações de Anísio, em resposta a grupos que viam suas ideias "como inconvenientes e suspeitas", atestam a atualidade do pensamento do educador em um contexto que talvez tenha avançado pouco.

"O foco é o ensino básico e o seu caráter excludente que continua atual e se constituindo em verdadeira barreira, com altos índices de repetência e abandono, principalmente no ensino médio. Para Anísio, essa elitização do ensino básico mantinha as classes populares em estado de ignorância, impedindo-as de ingressarem no ensino superior, grande instrumento, para ele, de civilizar e humanizar o povo brasileiro", explica o professor.

Ainda que os índices levantados pelo educador não sejam mais tão catastróficos, o analfabetismo, principalmente o funcional, ainda é uma realidade da população brasileira.

Para Russeff, o problema é fruto da desqualificação progressiva do ensino básico e do desprestígio em que se encontra, na nossa sociedade, a cultura letrada. "Esse cenário trágico da educação nacional é reiterado (...) na crítica ao poder público e a ausência de uma política de inclusão das massas."

Diz Anísio: "Contrista-me verificar a falta de consciência pública para situação tão fundamente grave na formação nacional e o desembaraço com que os poderes públicos menosprezam a instituição básica de educação do povo, que é a escola primária".

Como lembra Russeff, no tempo desse texto, Anísio já estava de volta de seu autoexílio no interior da Bahia, onde ficou de 1935 a 1945 após sua demissão da chefia do Departamento de Educação do Distrito Federal. Já havia sido também consultor geral da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 1946, diretor da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), em 1951, e do Inep, no ano seguinte.

À época, vinha travando grandes debates públicos a favor de uma Lei de Diretrizes e Bases - a de 1961 - que consagrasse o princípio de uma escola pública gratuita, para todos e comum aos dois gêneros.

"Meninos e meninas em classes mistas, o que já lhe havia provocado ásperas discussões com os setores conservadores, com destaque para a Igreja Católica. Uma lei que facultasse um ensino de qualidade, com professores das séries iniciais que tivessem formação superior em Educação", pontua Russeff.

Novos ventos

Liberal e opositor a todos os tipos de violência, nas palavras do historiador e político Luiz Vianna Filho, Anísio foi taxado de comunista por seu projeto progressista de ação no ensino, quando de sua demissão da diretoria do Distrito Federal no fim de 1935.

"Sua iniciativa, de defender na implementação da sua reforma do ensino as classes mistas (masculina e feminina), rendeu-lhe a pecha de comunista e de atentar contra a moralidade pública. A Igreja Católica (...) taxou-o de antinacionalista, contra os princípios consagrados da família brasileira, contra a índole da educação nacional", afirma o professor.

Na visão de Emerson Mathias, mestre em Educação e professor da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) do CEU Paraisópolis, o intelectual também pode ser visto, extraoficialmente, como um segundo patrono de nosso ensino, ao lado de Paulo Freire.

"Ele foi um defensor de uma educação construtivista, que pensava os alunos como agentes transformadores da sociedade. Ou seja, uma educação libertária. Naquele contexto da década de 1930, praticamente todos esses articuladores se inseriram na cena política e instituíram, pode-se dizer, embriões do que temos hoje. Isso transformou uma educação que até então era religiosa, tradicional e sem nenhum olhar para as minorias, os excluídos e os invisíveis", diz Mathias.

Arte-educador desde 2015, com o projeto autoral "Nzinga Contos Ritmados D'África" sendo trabalhado em escolas públicas e particulares do estado de São Paulo, Mathias convive com a realidade da rede pública há seis anos. Antes de ser concursado, o educador fazia parte da categoria O, docentes que, apesar de realizarem as mesmas funções que outros colegas, não gozam dos mesmos direitos e nem possuem um vínculo empregatício duradouro.

"Tenho quase sete anos no ensino público. E a verdade é que estamos engatinhando ainda hoje no que diz respeito às ideias de Anísio Teixeira, dessa forma ampla de olhar para o currículo como algo universal e inclusivo."

Com problemas "acumulativos", como define Mathias, a escola em que trabalha vive uma tentativa de reinvenção, com a busca por novas formas didáticas e ferramentas estruturais durante a pandemia. Em março, por exemplo, já faltavam professores de matemática e de português, além de profissionais auxiliares essenciais para o dia a dia na instituição. "Esse caos se amplia quando temos de encarar a educação a distância. Com essas faltas, a comunidade e os alunos não se sentem acolhidos pela escola, não estabelecem uma identidade", afirma.

Segundo estimativa do final de maio da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, metade dos alunos da rede estadual não conseguia acessar as aulas online no contexto da pandemia, evidenciando, por exemplo, as dificuldades de acesso a equipamentos e internet.

Em uma escola "engessada, antiga e arcaica", a despeito de qualquer reforma, o professor Mathias diz encontrar esperança em cada retorno de aluno. "Os problemas são grandes, mas todos os dias estamos aqui, trabalhando com o que nós temos. Com garra, vontade e disposição, tentando criar novas metodologias e novas formas de trazer mais alunos. É desgastante e frustrante. Mas temos alguns momentos de esperança, com alunos retratando suas descobertas e tirando dúvidas. A escola é mais do que conteúdo: é vida e traz um sentido para as coisas."

Ou como dito por Anísio em discurso feito na inauguração da Escola Parque há exatos 70 anos: "a escola tem de ganhar uma inevitável ênfase, pois se transforma na instituição primária e fundamental da sociedade em transformação".

Fonte:BBC

Livro de receitas reúne renomados chefs do mundo para incentivar a criançada na cozinha

Gazeta da Torre

'Childfood - Receitas para Jovens Coolinary Explorers' promete aproximar pais e filhos através da gastronomia.

O isolamento social imposto pelo novo coronavírus fez muita gente repensar as relações familiares, sobretudo entre pais e filhos. E o livro Childfood - Receitas para Jovens Coolinary Explorers reúne chefs renomados de todo o mundo, que elaboraram 23 receitas para incentivar as crianças a compartilharem momentos inesquecíveis na cozinha com os adultos.

"Todo mundo, mas principalmente as crianças, cresce quando tenta fazer algo diferente. Preparar pratos ajuda a aumentar a atenção aos detalhes, a melhorar a autoestima e a ter momentos de diversão com os pais, irmãos mais velhos ou responsáveis. É muito importante que os pais/responsáveis passem um tempo de qualidade com os filhos, porque os filhos nunca esquecerão esses momentos, nem os pais. Criar na cozinha é uma atividade incrível, então o que é melhor do que cozinhar e compartilhar uma refeição juntos?", afirma o jornalista italiano Luca Scarcella, autor da obra, em entrevista ao Estadão.

Antes de se tornar jornalista, Lucas Scarcella, de 31 anos, se formou em piano no Conservatório de Turim, na Itália. "Então, aos 22, durante a universidade, comecei a trabalhar como jornalista, usando minhas habilidades e conhecimentos musicais também nesta área. Todo projeto, investigação ou documentário que eu crio é baseado em teoria musical, com melodia, harmonia e ritmo. Por exemplo, você pode encontrar a melodia no Childfood nas receitas. A harmonia é a combinação de histórias e ilustrações. E o ritmo é a parte dos desenhos e das páginas em que as crianças podem liberar sua criatividade", declara. Ele se mudou para Los Angeles, nos Estados Unidos, no ano passado. "Um dos meus objetivos de vida é abrir um restaurante em Lisboa quando eu for um avô simpático", brinca. Scarcella sempre teve uma relação de afeto com a gastronomia: "Como italiano, adoro comida. Principalmente adoro compartilhar uma refeição com amigos, cozinhar para eles. Boa comida e boa companhia fazem todos nós felizes", diz.

 O jornalista italiano Lucas Scarcella, autor de 'Childfood
 Receitas para Jovens Coolinary Explorers'
 Foto: Divulgação/Childfood / Estadão

Scarcella conseguiu reunir 23 chefs, os chamados 'Coolinary Explorers', para estimular as crianças na cozinha. A lista conta com três brasileiro: Bel Coelho, Jefferson Rueda e Guga Rocha. Chefs retratados pela série Chef's Table, da Netflix, também estão no livro, como o italiano Massimo Bottura, o argentino Francis Mallmann, o peruano Virgilio Martinez, o indiano Gaggan Anand, o russo Vladimir Mukhin, além do colombiano Juan Manuel Barrientos e do espanhol, Andoni Luis Aduriz. As crianças podem conhecer a longa jornada que os ingredientes fizeram ao longo da história, como os astecas, além de apreciar desenhos feitos por 23 ilustradores diferentes, um para cada receita.

Uma das propostas de Childfood - Receitas para Jovens Coolinary Explorers é promover a diversidade. "Pensando em atingir uma grande quantidade de pessoas, decidi incluir os melhores chefs do mundo, transmitindo a mensagem de que a comida pode ser uma boa chance de construir pontes e derrubar muros, contra o racismo, a ignorância e a intolerância", relata o autor.

Além disso, a venda do livro, disponível exclusivamente na plataforma Kickstarter, apoiará os projetos internacionais Charity: Water e Share The Meal, do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas. "Desde o início, eu queria envolver uma grande organização sem fins lucrativos - e o primeiro nome da minha lista foi a Charity: Water porque, sem o acesso à água potável, tudo se torna impossível, literalmente tudo, inclusive viver. Todos os anos, mais de um milhão de crianças morrem por causa da falta de água, mais do que por causa de todas as guerras e doenças combinadas. Com o livro, tentaremos levar água limpa para comunidades carentes. A cada cinco livros vendidos, a Charity: Water trará água limpa para uma criança necessitada. Além disso, podemos contar com o apoio do Share The Meal, do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas: dentro do livro, será possível encontrar um QR Code para se juntar ao nosso time no aplicativo Share The Meal. Por meio dele, será possível doar US$ 0,50, exatamente o que é necessário para alimentar uma criança faminta por um dia inteiro", afirma o autor Lucas Scarcella.

O livro Childfood - Receitas para Jovens Coolinary Explorers é composto por quatro partes. A primeira é dedicada a conhecer os chefs e os ingredientes de cada receita - e traz uma foto do resultado final do prato. A segunda conta a história da receita. As crianças aprenderão sobre a origem dos ingredientes. Na terceira parte, algumas páginas estão disponíveis para colorir ou incrementar desenhos. Por fim, o leitor pode contar as próprias histórias e criar (ou desenhar) a versão das receitas.

Fonte:Estadão

sábado, 18 de julho de 2020

O ensaio fotográfico “Do Outro Lado da Vitrine” de Vidal de Sousa

Gazeta da Torre
Trabalho do artista Vidal de Souza
Trabalho do artista Vidal de Souza

Com incentivo do Funcultura, a proposta das fotografias é inverter a perspectiva do olhar sobre as vitrines.

O fotógrafo Vidal de Sousa lançou na quinzena de julho o ensaio fotográfico “Do Outro Lado da Vitrine”. O projeto – que conta com incentivo do Governo do Estado de Pernambuco, por meio dos recursos do Funcultura – reúne 77 imagens produzidas entre 2019 e 2020, em oito cidades pernambucanas, do litoral ao sertão. A proposta do artista visual é inverter a perspectiva do olhar sobre vitrines – são nelas que os manequins performam constantemente uma realidade dos desejos, dos sonhos e da publicidade, com a intenção de impactar o mundo que se passa do lado fora, o mundo da realidade, do cotidiano. As imagens estão dispostas individualmente ou em polípticos e podem ser conferidas no site: https://dooutroladodavitrine.com.br/ .

Nesta relação, nossa perspectiva sempre esteve do lado de fora das vitrines, no “mundo real”. Mas o que veremos ao inverter essa perspectiva? Como é esse mundo real, ao qual, supostamente, pertencemos? Assim, as cidades de Abreu e Lima, Goiana, Recife, Caruaru, Toritama, Petrolina, Salgueiro e Ipojuca figuram no cenário de narrativas do artista. “No que tange às imagens, não houve diferença. O alvo foram os centros urbanos dessas cidades, e eles se parecem muito entre si, inclusive os modelos de manequins. Esse fator acaba costurando imagens realizadas em regiões geográficas diferentes”, conta o artista.

Todo o processo de pesquisa e captação das imagens foi realizado antes da chegada da pandemia da Covid-19, ao longo do ano de 2019 e janeiro de 2020. Nesse sentido, o conjunto de imagens apresentadas no ensaio “Do Outro Lado da Vitrine” captura um olhar para o humano pré-pandêmico, sobretudo diante das relações que se estabelecem na atmosfera dos centros urbanos aglomerados, efervescentes, de várias regiões de Pernambuco.

SOBRE VIDAL DE SOUSA

Artista visual, especialista em Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual (UNICAP). Cursou Qualificação Profissional em Fotografia (SENAC) e o Curso de Produção em Audiovisual Engenho de Imagens.

Serviço

Do Outro Lado da Vitrine, de Vidal de Sousa

Acesse: dooutroladodavitrine.com.br

quinta-feira, 16 de julho de 2020

O cérebro multitarefas na quarentena

Gazeta da Torre

A pandemia trouxe mudanças significativas; ter um cérebro treinado é essencial para tomar novas decisões e iniciar novos projetos

Os impactos decorrentes da crise do coronavírus permanecem até hoje; houve mudanças significativas na economia, nas relações pessoais, no trabalho... E muitos brasileiros tiveram que se readaptar e começar a tirar planos do papel, como investir em um novo negócio, por exemplo.

De acordo com dados do Portal do Empreendedor, foram registrados cerca de 10 milhões de microempreendedores individuais no Brasil, desde o início da pandemia.

Sabemos que tomar decisões que mudam a vida completamente não é fácil: conciliar a família, a nova realidade de trabalho, traçar estratégias, estudar e se especializar em uma nova área, lidar com a insegurança emocional... Tudo é desafiador. Para isso, é preciso ter um cérebro preparado a fim de lidar com os desafios do dia a dia.

Engana-se quem pensa que apenas os idosos precisam cuidar do cérebro. De acordo com Solange Jacob, diretora acadêmica do Método SUPERA – rede de escolas de ginástica para o cérebro – são inúmeras as vantagens de exercitar a mente: “ Otimizar a funcionalidade do cérebro é importante em qualquer idade, pois gera impactos no funcionamento executivo da mente, ampliando a capacidade de gerir situações estressantes, ter foco e boa atenção sustentada para evitar distrações, ter persistência na execução de planos de ação, flexibilidade mental, boa organização e planejamento, alta capacidade de resolver problemas, habilidade na regulação emocional e de ter sucesso em cada momento da vida, pessoalmente e profissionalmente, no século 21”.

Sabemos que essa otimização do cérebro é possível graças ao conceito de neuroplasticidade cerebral.

Segundo a neurociência, o cérebro tem a capacidade de se modificar e desenvolver sua rede neural a partir de estímulos externos. Basicamente, quando saímos da nossa zona de conforto, treinamos habilidades como memória, atenção, foco, concentração, criatividade, capacidade de tomar decisões e elaborar estratégias e etc.

Este foi o caso de Denis Cassaroto, de 32 anos. Desde que passou a frequentar as aulas de ginástica para o cérebro do SUPERA, tem conseguido se destacar profissionalmente:  "A ginástica cerebral me ajudou muito, tanto na vida profissional quanto pessoal. Sou analista de sistemas e isso requer muita atenção, concentração e raciocínio rápido. Sinto que desenvolvi essas habilidades e estou colhendo bons resultados no trabalho. Além de me ajudar a lidar com questões pessoais”, diz ele.

As aulas de ginástica para o cérebro trabalham com os princípios de novidade, variedade e desafio crescente. “O que fazemos, a variedade e a complexidade crescente do que fazemos em cada etapa da vida tem um impacto sobre a funcionamento do cérebro mais tarde. A forma como você trata seu cérebro hoje pode afetar seus anos de saúde mental e capacidade para o agora”, diz Solange Jacob.

No Método SUPERA, primeira rede de escolas de ginástica para o cérebro do Brasil, a metodologia é divertida e inovadora; alunos de todas as idades treinam o cérebro com ferramentas cognitivas, como o ábaco, jogos de tabuleiro, jogos online, livros com exercícios cognitivos, dinâmicas e neuróbicas. As crianças melhoram as notas na escola, adultos garantem maior performance profissional e idosos conquistam saúde mental e qualidade de vida.

Para aqueles que querem treinar o cérebro e garantir resultados na rotina multitarefa, trazemos algumas dicas de neuróbicas. São atividades do cotidiano, praticadas de um jeito diferente, de forma a tirar o cérebro da zona de conforto. Confira:

•Ande pela casa de trás para frente

•Vista-se de olhos fechados;

•Tome banho no escuro ou inverta a ordem;

•Veja as horas num espelho

•Use o relógio de pulso no braço direito (ou no braço esquerdo, se for canhoto)

•Monte um quebra-cabeça e tente encaixar as peças corretas o mais rapidamente que conseguir, cronometrando o tempo.

•Experimente memorizar aquilo que precisa comprar no supermercado ao invés de elaborar uma lista quando precisar fazer compras.

•Ouça as notícias na rádio ou na televisão quando acordar. Durante o dia, escreva os pontos principais de que se lembrar.

•Ao ler uma palavra, pense em outras cinco que comecem com a mesma letra.

Escove os dentes ou escreva em uma folha de papel com a mão contrária da de costume

Você sabia:

O cérebro em repouso produz energia suficiente para acender uma lâmpada de 25 watts.  

Desafio de Julho:

Será que você consegue?

ESTE CÉREBRO, É CÉREBRO, O CÉREBRO, MELHOR CÉREBRO, MEIO CÉREBRO, DE CÉREBRO, ESCONDER CÉREBRO, UM CÉREBRO, TEXTO DE CÉREBRO, UM CÉREBRO LEITOR, CÉREBRO DISTRAÍDO, SEM CÉREBRO, ELE CÉREBRO, PERCEBER CÉREBRO.

(Releia o texto sem ler a palavra cérebro)

Resposta do desafio de Junho:

Num avião há 4 romanos e 1 inglês. Qual o nome da aeromoça?

a) MARIA    b) JUDITE    c) LETÍCIA    d) IVONE     e) LUÍZA

Resposta: Letra D (IVONE), ou seja: o número 4 em algarismo romano é IV e o número 1 em inglês é ONE

Serviço:

Método Supera - Ginástica para o Cérebro

Responsável Técnica: Idalina Assunção (Psicóloga, CRP 02-4270)

Unidade Madalena

Rua Real da Torre, 1036. Madalena, Recife.

Telefone: (81) 3236-2907

Unidade Boa Viagem

Telefone: (81) 30331695

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade adere a campanha mundial Julho Sem Plástico com desafio virtual

Gazeta da Torre

Desafio foi lançado por meio do Instagram Recife Sustentável com dicas e práticas para redução do uso de plástico em prol do meio ambiente

Considerado o mês da campanha Julho Sem Plástico, que começou na Austrália em 2011 e se espalhou mundialmente através da hashtag #plasticfreejuly, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, adere a uma das campanhas ambientais mais influentes do mundo e lançou um desafio virtual na quinta-feira (9). Até o final do mês, o perfil da SMAS no Instagram (https://www.instagram.com/recifesustentavel/) vai divulgar práticas sustentáveis com o intuito de provar que é possível a mudança nos pequenos hábitos.

Conhecido como um vilão do meio ambiente, o plástico demora a se decompor e ao longo dos anos torna-se uma ameaça à vida marinha. A iniciativa virtual visa aumentar a conscientização sobre os impactos ao meio ambiente e a reduzir o desperdício de plástico de uso único na rotina diária, ajudando a encontrar alternativas que podem se tornar novos hábitos. As embalagens, quando consumidas de maneira exagerada e descartadas de forma irregular – em lugar de serem encaminhadas para reciclagem – dificultam a degradação de outros resíduos, podem ser ingeridas por animais e poluem o meio ambiente. O desafio virtual da SMAS também cumpre o papel de engajar a sociedade em prol de mudanças coletivas. A cada semana, dicas, conhecimentos e práticas serão postadas até a última quinta-feira (30) do mês. Os participantes poderão compartilhar vídeos, fotos, registrar sua evolução através das redes sociais por meio da hashtag #julhosemplasticorec.

Repensar os itens do dia a dia é o primeiro passo para começar o desafio ao prestar atenção se os utensílios são recicláveis e podem ser substituídos por outros materiais menos poluentes. Para a gerente de educação ambiental da SMAS, Danielle Sampaio, toda hora é hora de fazer a diferença, basta começar. “Quanto menos consumo, menor a pegada ambiental. Já existem opções sustentáveis para produtos que temos hábito de consumir no dia a dia, como escova de dente de bambu, fraldas de pano, coletor menstrual, produtos a granel e até embalagens de produtos recicláveis baseadas em economia circular. Neste período em que o mundo vive uma pandemia, as máscaras caseiras confeccionadas em tecidos também contribuem para o significado de um dos 5Rs da Sustentabilidade, a Reutilização”, explica a gestora.

Contribuir para o movimento também alinha a cidade do Recife aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) 11, 12, 14 e 15 (cidades e comunidades sustentáveis, produção e consumo responsáveis, vida abaixo da água e vida na terra). Somente em julho de 2019, cerca de 250 milhões de pessoas em todo o mundo participaram do desafio Julho Sem Plástico (#plasticfreejuly) em 177 países.

Sobre a Campanha Julho Sem Plástico

Plastic Free July (Julho sem Plástico) é uma iniciativa da Plastic Free Foundation em direção a uma visão de ver um mundo livre de resíduos plásticos. Foi iniciada em 2011 por Rebecca Prince-Ruiz (fundadora da Plastic Free Foundation) e uma pequena equipe do governo local no oeste da Austrália, e agora é uma das campanhas ambientais mais influentes do mundo. Milhões de pessoas em todo o mundo participam anualmente, muitas se comprometendo a reduzir a poluição por plásticos muito além do mês de julho. Somente em julho de 2019, cerca de 250 milhões de pessoas em todo o mundo participaram do desafio de 177 países. Uma pesquisa revelou que 29% das pessoas pesquisadas em todo o mundo estavam cientes do desafio do Plastic Free July e quase metade delas optou por participar em 2018.

*Prefeitura da Cidade do Recife

domingo, 12 de julho de 2020

Pesquisadora da UFPB cria inseticida que mata o mosquito da dengue

Gazeta da Torre
A professora Fabíola Cruz, do Departamento de
Biologia Celular e Molecular da UFPB

Produto químico elimina o Aedes aegypti em qualquer uma de suas fases

Uma colaboração técnica entre a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Algodão) tem como objetivo a produção e comercialização de inseticida feito do extrato de agave híbrida, uma variante melhorada geneticamente em laboratório, com o intuito de obter uma planta mais resistente a pragas.

O inseticida de agave (sisal), planta cultivada em regiões semiáridas, mata o mosquito Aedes aegypti em qualquer uma de suas fases de vida (ovo, larva, pupa ou adulto).

A pesquisadora responsável pelo invento, a professora Fabíola Cruz, do Departamento de Biologia Celular e Molecular da federal paraibana, destaca que a parceria tem vários benefícios.

“A mais importante delas é que a gente está criando algo para combater um mosquito que causa muitas doenças, não só a dengue, mas a Zika e a Chikungunya”, ressalta a professora.

Neste ano, até a 24ª Semana Epidemiológica, foram registrados 3.393 casos prováveis de dengue na Paraíba, segundo o Boletim Epidemiológico Nº 05, de 22 de junho, da Secretaria de Estado da Saúde, referente a arboviroses. Quanto à Chikungunya, foram notificados 402 casos prováveis e 81 para a doença aguda causada pelo vírus Zika.

A eficácia do inseticida na eliminação do Aedes aegypti já é comprovada e, entre outros benefícios, estão o baixo custo, ação rápida e o fato de não ser tóxico para outros animais.

O objetivo da parceria com a Embrapa é conseguir empresas que possam produzir esse inseticida em escala comercial.

“Nem a UFPB e nem a Embrapa têm condições de produzir, de tornar o inseticida comercializável. Então, para isso, precisamos de um agente externo, que seria uma indústria”, explica a pesquisadora, destacando ainda o papel da Agência de Inovação Tecnológica (Inova) nessa articulação com o setor privado.

Por meio da produção e da comercialização, a pretensão, com este convênio, é também gerar renda para os produtores de sisal na Paraíba, a exemplo do município de Pocinhos, onde a Embrapa tem parcerias e oferece apoio aos trabalhadores rurais.

“Hoje, os produtores que vivem da cultura do sisal têm a sua renda muito diminuída porque a planta vem perdendo importância. Já teve muita relevância no passado, porque a fibra do sinal era muito utilizada na indústria, e hoje está sendo substituída por fibra sintética. Quando a gente faz uma descoberta como essa, isso volta a tornar o sisal importante”, defende a professora Fabíola.

De acordo com Everaldo Paulo de Medeiros, pesquisador da Embrapa Algodão e que também é um dos inventores do inseticida, cerca de 95% do sisal é descartado no lixo, pois 80% é o suco ou extrato da planta, justamente a parte utilizada para produzir o inseticida; 15% é a mucilagem, que é a parte gelatinosa do sisal; e apenas 5% é a fibra.

Segundo ele, a cultura do sisal envolve um contingente com aproximadamente 500 mil postos de trabalho no Brasil, desde o cultivo no campo ao beneficiamento na indústria. No Nordeste, os estados da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará são os principais produtores.

A criação do inseticida, patenteado pela Inova UFPB, também teve a colaboração dos pesquisadores Valdir Braga, Louise Oliveira, Patrícia Sousa e Gabriel Nascimento. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail fabiola_cnunes@hotmail.com.

Reportagem: Aline Lins | Edição: Pedro Paz

Ascom/UFPB