segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Peças de teatro on-line são estratégia de sobrevivência do setor cultural

 Gazeta da Torre

Um dos principais desafios da execução das peças on-line é a capacidade de o ator se envolver com o telespectador do outro lado da tela, ressalta José Fernando Peixoto de Azevedo

A necessidade de distanciamento social impactou diretamente o setor cultural. As peças de teatro, normalmente feitas em casas de espetáculo, com plateias cheias e contato físico, foram impossibilitadas de acontecer durante a pandemia. No entanto, algumas companhias de teatro recorreram a uma solução: as peças on-line. E, para participar, basta encontrar alguma de seu agrado, adquirir os ingressos, ter acesso à internet via celular ou computador.

As peças de teatro on-line não são novidade, mas, no contexto da pandemia, a transição para o virtual acontece pela necessidade de sobrevivência da arte e dos artistas durante a crise, como explica o professor José Fernando Peixoto de Azevedo, diretor da Escola de Arte Dramática, orientador no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e docente do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da USP: “Há uma dimensão dessa realidade on-line que tem a ver com uma necessidade de sobrevivência e, portanto, revela seu caráter provisório inscrito nessa situação que a gente imagina ou deseja que seja provisória e que é precária”.

Segundo o professor, um dos principais desafios da execução das peças on-line é a capacidade de o ator se envolver com o telespectador do outro lado da tela e, para isso, as plataformas virtuais oferecem diversas possibilidades de invenção. “Há obras que você assiste durante uma hora e se sustentam nessa plataforma e há obras que não se sustentam por 15 minutos. Isso pode ter a ver com qualidade, mas pode ter a ver com o tipo de pergunta que o artista está tentando elaborar no momento que ele estabelece a conexão.”

Com a virtualização das peças teatrais, é possível ampliar o acesso à arte, desde que se tenham as ferramentas básicas que garantam a conexão, como internet e um aparelho celular ou computador. No entanto, nem sempre o acesso às peças de teatro significa, de fato, se envolver com o que os artistas propõem. Para Peixoto de Azevedo, além do acesso, é preciso garantir a qualidade do vínculo entre os atores e o público. “Nós devemos nos perguntar qual é a qualidade política e afetiva desse vínculo, desse acesso, ou em que medida esse acesso produz efetivamente um vínculo, que seja de imaginação no mínimo. Nem tudo se resume ao acesso. Você pode ter 100 mil visualizações e isso não significa que visualizar seja o mesmo que participar, agir e transformar”, finaliza.

Fonte:Rádio USP

DIVULGAÇÃO

‘Não vamos voltar à era da TV por assinatura’, diz diretor do YouTube

 Gazeta da Torre

Robert Kyncl, diretor de negócios
do YouTube

Veterano do mercado de vídeo, Robert Kyncl já viu muita coisa no setor – do auge da TV a cabo ao surgimento de plataformas online. Nascido na Tchecoslováquia comunista e morador dos EUA desde os anos 1990, ele passou por diversas pontas do mercado, incluindo HBO e Netflix. Hoje, é o diretor de negócios do YouTube – um cargo que faz o executivo não só cuidar de um site usado por bilhões de pessoas diariamente, mas também pensar o futuro do consumo de conteúdo.

Na visão dele, o que vivemos hoje é uma reta sem volta – a despeito de quem acredite que a proliferação do vídeo na rede recrie o universo da TV paga, com muita oferta de conteúdo e pouca coisa útil de fato. “Hoje, ninguém vai pagar por conteúdo que não quer ver. Há muito mais opção”, diz ele, em entrevista exclusiva ao Estadão.

Além de falar sobre o futuro do vídeo – um cenário cada vez mais competitivo, afirma o executivo –, Kyncl também reflete sobre o impacto da pandemia no YouTube e se posiciona sobre questões como desinformação, liberdade de expressão e moderação de conteúdo. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Muita gente não consegue imaginar como seria sua quarentena sem o YouTube. Como foi viver os últimos meses do lado de dentro da plataforma?

Foi um ano bem diferente para todos nós. O YouTube é uma plataforma aberta e sempre percebemos o impacto que causamos no mundo, mas a pandemia ressaltou várias coisas para nós. Uma delas foi o acesso à informação. Viramos uma plataforma onde as pessoas buscam informações, ajudando empresas, emissoras e sistemas nacionais de saúde para distribuir as principais informações sobre as mudanças na saúde e na vida cotidiana. Na quarentena, muita gente também virou professor, porque tinha de ajudar os filhos a estudar online. Ajudamos instituições de ensino a se digitalizar e fizemos a curadoria dos melhores vídeos de educação. E claro, em meio às notícias ruins e ao isolamento, muita gente usou o YouTube para entretenimento. Vimos artistas e apresentadores de TV aderindo ao site pela primeira vez. De repente, todo mundo virou youtuber. E o Brasil foi um fenômeno nisso: toda semana chegava um email dizendo que o Brasil tinha quebrado um novo recorde de audiência numa live. Vocês foram um farol do que era possível fazer em transmissões ao vivo. Sinto que a empresa trabalhou duas vezes mais para fazer isso funcionar, mas valeu a pena.

Antes da pandemia, já havia a noção de que estava cada vez mais difícil fazer sucesso na internet. Com ícones consagrados da TV e do cinema, a competição online fica ainda pior. Como manter o YouTube como vitrine para novos talentos? E como evitar a competição com outras plataformas, como Facebook e TikTok?

Ouço reclamações nesse sentido há pelo menos seis anos. Elas vão continuar, porque é uma questão exponencial. Quando há uma plataforma aberta para todos, sempre haverá maior competição. A TV era limitada: você tinha uma barreira para entrar, mas uma vez lá dentro, a competição era menor. Nós somos abertos, é diferente. Sabemos que está cada vez mais difícil de fazer sucesso, mas o que estamos de olho é se as pessoas conseguem faturar. Um indicador que usamos é se a receita média de um criador consegue passar o salário médio em seu país. Com isso, ele consegue virar um youtuber em tempo integral – e aí seu sucesso pode crescer exponencialmente. Estamos de olho se conseguimos atrair criadores e se eles se afiliam ao nosso programa de parceiros. São métricas importantes e é assim que sabemos que o ecossistema é saudável. Para nós, não faria sentido limitar o espaço. Precisamos é trazer mais dinheiro para dentro da plataforma, seja com publicidade, assinatura ou venda de bens digitais e merchandising nos canais. E é o que nos faz diferentes do TikTok e do Facebook: nós temos um programa de parcerias e pagamos em bases regulares. É algo em que os criadores podem confiar e é sustentável.

A publicidade é o ganha pão do YouTube, mas a empresa tem um serviço pago, o YouTube Premium. Como ele se diferencia de outras plataformas de vídeo?

Ninguém precisa pagar pelo YouTube Premium para acessar conteúdo. O conteúdo dele é o mesmo do YouTube. O que vendemos são funcionalidades: você deve pagar se não quiser ver anúncios e se quiser baixar vídeos para assistir quando estiver sem conexão. Já tivemos conteúdo exclusivo, mas não funcionava bem. As pessoas não entendiam e os criadores que faziam o conteúdo exclusivo queriam liberá-lo para todos. Agora, quando fazemos conteúdo original, ele é gratuito.

Como o sr. vê a proliferação de serviços de streaming, com estúdios criando seus próprios apps? Há quem diga que estamos voltando ao mundo da TV por assinatura, em que se paga por conteúdo não visto. O sr. concorda?

Com a TV a cabo, o que havia é um monte de combos. Uma empresa tinha um ou dois canais que você queria ver, mas você pagava por muitos canais para poder tê-los. Não vamos voltar a isso. Vamos pagar por conteúdo, seja na Netflix, na Disney+, na Apple TV+ ou em outros serviços, mas ninguém vai pagar por conteúdo que não quer ver. Ainda temos a TV paga, ok, mas acredito que não vamos voltar à era da TV por assinatura, a esse padrão anterior, porque as pessoas estão pagando pelo que querem ver.

Hoje se discute nos EUA uma reforma de leis que poderiam tornar o YouTube responsável pelo conteúdo publicado na rede. Aqui no Brasil também houve essa discussão ao longo do ano. Por que é importante que a empresa não seja responsabilizada pelo conteúdo que vai ao ar?

Se uma plataforma se torna responsável pelo conteúdo que vai ao ar, será preciso verificar todo o conteúdo antes de publicá-lo. E aí não seremos mais uma plataforma aberta. Isso impediria a criatividade e a expressividade dos criadores, bem como a liberdade de expressão. Teríamos de vigiar todos os vídeos que fossem publicados. É preciso entender se, como sociedade, valorizamos ou não plataformas abertas. Hoje, nós moderamos o conteúdo, com ajudas de máquinas para ganhar escala e de pessoas para ter contexto correto. É o que fazemos. As máquinas têm dificuldade de entender discurso de ódio, porque cada país entende isso de forma diferente. Temos 10 mil moderadores e as máquinas fazem o trabalho de 200 mil pessoas. Com a responsabilização, esse trabalho fatalmente seria limitado. Creio que o debate em torno disso é importante, mas as pessoas precisam entender as consequências de suas decisões. Sinto que somos como jardineiros, tentando tirar as ervas daninhas e deixar as flores aparecerem.

Hoje, nos EUA, há também discussões sobre antitruste. O Google foi recentemente processado pelo Departamento de Justiça. Há mais casos vindo aí e fala-se até em divisão das empresas, como no caso da Standard Oil. O que aconteceria se o YouTube tivesse de se separar do Google?

É difícil imaginar como seria esse futuro. Fomos criados sobre as bases do Google, com software da companhia, a partir dos avanços incríveis que eles fizeram em busca. Somos empresas superconectadas, também na área de vendas e de anúncios, os vendedores que vendem anúncios no YouTube. Tanto do ponto de vista de tecnologia como do ponto de vista corporativo, somos uma empresa bem próxima. Para nós, é algo inimaginável.

Fonte: Estadão.

Cada povo tem o governo que merece, disse um francês no século XIX

 Gazeta da Torre

Joseph-Marie Maistre

Ferrenho defensor do regime monárquico e crítico fervoroso da Revolução Francesa, o filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821) escreveu seu nome na história ao lançar a expressão “cada povo tem o governo que merece”. Datada de 1811, a frase registrada em carta, publicada 40 anos mais tarde, faz referência a ignorância popular, na visão do autor a responsável pela escolha dos maus representantes. Contrário a participação do povo nos processos políticos, Maistre acreditava que os desmandos de um governo cabiam como uma punição àqueles que tinham direito ao voto, mas não sabiam usá-lo. Passaram-se mais de duzentos anos e a expressão do francês permanece atemporal por estas bandas.

No Brasil de democracia imatura e educação capenga, o voto ainda é definido pelo poder econômico e promessas bajuladoras totalmente descabidas feitas por candidatos visivelmente despreparados e desinformados nas questões econômicas e sociais dos locais que pretendem governar.

Precisamos do novo verdadeiro, do diferente, de quem nos devolva a esperança de que realmente podemos ter uma vida digna naquele que já foi anunciado como o futuro melhor país do mundo. Que façamos esse futuro agora, enquanto ainda temos tempo.

Terminada as eleições, é hora de abrirmos os olhos e participarmos efetivamente do governo de quem nós colocamos para dirigir os destinos de nossa cidade. Tudo começa nela, daí a importância dos gestores técnicos, devidamente qualificados e bem intencionados. Precisamos sim da verdadeira política, porque esta é da essência da vida em comunidade, mas no momento, devemos abrir mão desses políticos, que só tem a política no nome e trocarmos o nome pela realidade de um compromisso real, plasmado em um planejamento estratégico de quem sabe fazer as coisas de modo organizado, porque gerir é mais do que uma qualidade nos dias atuais, é uma necessidade indispensável de quem precisa, urgentemente, de resultados concretos.

Por Ivonete Gomes; José Herval;

domingo, 29 de novembro de 2020

‘O livro dos prazeres’ leva o existencialismo de Clarice Lispector de volta ao cinema

 Gazeta da Torre

Projeto de uma década da diretora Marcela Lordy, longa tem como protagonista Simone Spoladore, cujo ar melancólico e distante casa perfeitamente com a atmosfera onírica da obra

“A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser humano.” Essa é a premissa que guia o romance Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, de Clarice Lispector, publicado em 1969, em que a autora, mais uma vez, lança-se a desvendar as profundezas da alma. Ela escreve Lóri, uma professora de primária do Rio de Janeiro, na casa dos 30 anos, que vive sozinha em um grande apartamento à beira-mar que ganhou do pai e que não sabe se relacionar com os outros nem com o mundo. O mal-estar da existência é tudo o que lhe consome. E é essa crise existencialista que chega ao cinema pela mão e direção de Marcela Lordy, diretora de O livro dos prazeres, um dos destaques da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Clarice Lispector (10/12/1920 - 09/12/1977)

Lordy, de 46 anos, que também dirigiu A musa impassível (2011), cumpriu a missão quase impossível de adaptar um livro quase inadaptável, uma vez que a obra literária transcorre quase que exclusivamente nos pensamentos de Lóri —por medo da dor, a personagem não se permite sentir nada—. “O maior desafio foi justamente criar dramaturgia, construir ações e sensações. Quis fugir da voz em off para explicar o filme”, diz ao EL PAÍS a diretora, que trabalhou o projeto durante dez anos. A obra tem sua estreia nos festivais precisamente no ano do centenário de Clarice Lispector.

Tanto o livro quanto o longa —que entrará em cartaz no segundo semestre de 2021— mostram a transformação de Lóri em uma mulher inteira (no sentido existencial e metafísico da coisa), que se abre aos sentimentos, às sensações, alegrias e desgostos da vida. Um dos catalisadores dessa transformação é o professor de filosofia Ulisses (no filme, o argentino Javier Drolas, de Medianeras), que é o único homem com quem ela começa a construir uma relação para além de encontros de uma noite só e que a faz questionar os rumos de sua solidão.

“É uma história de construção individual e, ao mesmo tempo, de desconstrução do amor romântico”, diz a diretora. Ela própria deparou-se com o livro pela primeira vez quando também tinha cerca de 30 anos e acabava de sair de um casamento de uma década. Foi também dessa experiência que nasceu a vontade de contar a vida e os processos sentimentais de uma mulher que, pouco a pouco, vai tomando as rédeas de sua própria vida. No filme, o preenchimento do vazio no qual Lóri vive imersa acontece também de forma física, à medida em que ela vai mobiliando e decorando o grande apartamento que abriga seu corpo e mente.

A Diretora Marcela Lordy
Outra coisa que atraiu Marcela Lordy a realizar O livro dos prazeres foi ouvir do cineasta Walter Salles, ela não se lembra quando, que Fernanda Montenegro diz que Lóri era a única personagem que ela gostaria de ter interpretado e não o fez. No longa, quem vive a protagonista é Simone Spoladore, cujo ar melancólico e distante casa perfeitamente com a atmosfera onírica da obra. “Acho que Simone até tem alguma coisa que lembra a Clarice, esses olhos profundos, uns olhos de onça”, comenta Lordy. E embora a câmera não se afaste de Lóri sequer por um minuto, são abundantes os planos que a mostram de perfil, sem que o espectador possa encará-la de frente e se veja resignado ante a impossibilidade de acessar o mundo dessa mulher.

A própria Clarice, uma autora que busca transcender o cotidiano e construir personagens sempre na iminência de um milagre, uma explosão ou uma descoberta, por mais singela que seja, parece ter tido dificuldade em acessar o subjetivo dessa mulher inalcançável. “Este livro se pediu uma liberdade maior que tive medo de dar. Ele está muito acima de mim. Humildemente tentei escrevê-lo. Eu sou mais forte que eu”, escreve a autora na nota que abre o livro.

Uma mulher livre

Lóri vem de uma tradicional e abastada família de Campos de Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro, mas se muda para a capital carioca após a morte da mãe, o que, para ela, também representou uma espécie de libertação do pai e dos quatro irmãos, todos homens. No filme, que prima pela feminilidade —inclusive com uma equipe de mulheres—, a figura da mãe ausente é outro instrumento pelo qual a protagonista começa seu processo de humanização e autoconhecimento. Ausente no livro, o quarto antigo da mãe, onde Lóri encontra um velho diário dela, se transmuta em um espaço de conexão consigo mesma. Mas parece que quanto mais se entende e mais livre se descobre, mais medo ela sente de permitir-se o encontro com o mundo e com outro. Teme que isso possa podar sua liberdade.

Outro mérito do filme de Marcela Lordy é inverter o fio condutor do romance: se Ulisses desempenha esse papel no livro, no longa, é Lóri quem tece e destece —literal e metaforicamente, como ela faz com uma velha manta de tricô no apartamento— sua jornada. Em ambas obras, no entanto, Ulisses mantém seu tom professoral, de sábio no alto de um pedestal, cujo didatismo resulta, por vezes, irritante. Mas ele reconhece as próprias falhas. Em um dos encontros com a protagonista, se autodenomina como “um pouco machista, preconceituoso e egocêntrico”. Seria Ulisses um esquerdomacho dos tempos modernos? A diretora ri: “Tem um pouco disso, sim”.

Essa inversão no fio narrativo permite desdobramentos que são apenas pincelados no original de Clarice, como a relação de Lóri com seus alunos: ela leva seus dilemas existencialistas para a sala de aula, na esperança de preparar os pequenos para a vida de uma forma que ela mesma nunca foi preparada. “Vocês também sentem silêncio dentro?”, pergunta ante os olhinhos brilhantes e atônitos da turma. “Ela se permite abrir-se para a relação com essas crianças, experimentando uma forma de amor incondicional, quase maternal”, explica Lordy.

Mas a grande epifania da protagonista não surge do amor ao outro, mas do encontro com si mesma em sua inteireza e em comunhão com o mar, em uma das mais belas cenas do filme. E, ali, Lóri está sozinha, mas presente e pulsante, fruindo o mundo pela primeira vez. Enquanto ela mergulha e brinca na água, com o sal invadindo sua boca, narinas e olhos, sua humanidade se completa. Clarice Lispector dizia que escreveu O livro dos prazeres apesar de si mesma. Anos depois da publicação, também afirmou em uma entrevista: “Esse livro me humanizou”. Com o filme, isso se repete: é impossível não sair mais humana dessa experiência estética e existencial.

Fonte:El País

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sábado, 28 de novembro de 2020

João Campos e Marília Arraes chegam empatados à eleição em disputa épica e emocionante no Recife

 Gazeta da Torre

Primos estão emparelhados na pesquisa de segundo turno, com 35,1% para o candidato do PSB e 35% para a petista, mostra Atlas Político, num racha da esquerda e da família herdeira de Miguel Arraes

Há uma fratura na esquerda brasileira, que deve repercutir em 2022. Os protagonistas desse embate são dois jovens que disputam o segundo turno da eleição no Recife. De um lado, João Campos (PSB), defensor de uma hegemonia que dura 14 anos no cenário pernambucano e oito na capital do Estado. De outro, Marília Arraes (PT), a desafiante, que rompeu com parte da família, tenta se tornar uma liderança e a primeira prefeita da cidade. Ambos são jovens ―ele tem 27 e ela, 36―, estão no primeiro mandato como deputados federais e são herdeiros do ex-governador Miguel Arraes (PSB), considerado um ícone entre os democratas pernambucanos. Marília é neta e João é bisneto. A petista é filha de Marcos, um dos filhos de Miguel Arraes. O pai de João, o ex-governador e ex-presidenciável Eduardo Campos (PSB), é filho de Ana Arraes, outra filha de Miguel, ou seja, irmã de Marcos.

A disputa por si só já seria épica pelo parentesco. Mas Recife chega às vésperas do segundo turno sem saber qual dos dois tem mais chance de levar a prefeitura da capital pernambucana. Pesquisa do Atlas Político mostra Campos com 35,1% das intenções de voto, contra 35% da prima Marília Arraes. A pesquisa projeta 27% de votos brancos e nulos, e 2,9% de eleitores que ainda não sabem em quem votar. Em votos válidos, excluídos brancos e nulos, Campos tem 50,1% e Marília, 49,9%. A pesquisa, que ouviu 750 pessoas entre 20 e 25 de novembro, tem margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos, e 95% de confiança, o que deixa claro que os recifenses só saberão quem será seu próximo prefeito quando a contagem de votos acabar.

Esta é uma eleição de mágoa e ressentimento familiar em que Ana Arraes, a avó paterna de João ―e ao mesmo tempo, tia de Marília― e também conselheira do Tribunal de Contas da União, já teve de pedir para que as memórias dos mortos (Miguel e Eduardo) fossem respeitadas. A fala acabou sendo explorada na campanha de Marília na sexta-feira. Depois da repercussão negativa, Ana disse que a declaração dada em uma entrevista em 2019 foi tirada de contexto. É uma disputa com tons shakespearianos, mas que coloca acima de tudo o confronto de dois grupos políticos que uma hora estão juntos, na outra, separados. Agora, esta separação é reforçada por uma série de duros ataques pessoais. O pai de João, Eduardo Campos, morreu num acidente trágico em plena eleição presidencial de 2014, durante a queda de um avião no litoral de São Paulo.

Como efeito prático, o embate PT x PSB no Recife deve selar mais uma separação das duas siglas para as disputas do Governo do Pernambuco e da Presidência, daqui a dois anos. Neste cenário, haverá uma avenida a ser preenchida pela direita, que, mesmo se dispersando em cinco candidaturas que se autoflagelavam, conseguiu reunir 43,11% dos votos no primeiro turno. Os principais representantes deste grupo foram Mendonça Filho (DEM) e Delegada Patrícia (Podemos). Chamada por alguns de “a capital do Nordeste”, Recife é a nona maior cidade brasileira, terceira nordestina, com 1,6 milhão de habitantes.

Outra pesquisa, do instituto Datafolha, divulgada nesta quinta-feira, mostra que os dois candidatos estão tecnicamente empatados na disputa pela preferência do eleitorado, com uma leve vantagem para Marília. Ela tem 52% das intenções de votos válidos. João, 48%. Na terça-feira, outro instituto, o Ibope, apontava que a vantagem numérica era de João: 51% a 49%. As vantagens estão dentro margem de erro dos dois levantamentos, que é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Como as pesquisas são feitas por empresas distintas com metodologias diferentes, não podem ser comparados.

O tom da campanha eleitoral, que começou cordial entre os primos, degringolou ao fim do primeiro turno, assim que Marília passou a evoluir nas pesquisas de intenções de voto. Naquela etapa, João ganhou 60 pedidos de direito de resposta ou de retirada de peças publicitárias de seus adversários. “Fui agredido desde o início por todos os meus opositores, inclusive pela atual adversária no segundo turno, de maneira muito forte”, disse o concorrente. Na segunda etapa, foi ela quem ganhou 15 dessas ações. O crescimento de Marília ao longo da disputa só ocorreu após ela assumir o vermelho de seu partido, o PT, e trazer para a propaganda eleitoral as figuras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seu avô Miguel Arraes (que não era da legenda). Passou também a usar um coração, para dizer que ela pregava o amor, não o ódio. “A militância petista parece que acordou depois de muito tempo”, diz a cientista política Priscila Lapa.

O PT governou o Recife entre 2001 e 2012. Desde então, perdeu duas eleições seguidas para o PSB, mas se aliou a ele oficialmente na eleição estadual de 2018 e extraoficialmente na presidencial, quando se absteve de apoiar a candidatura de Ciro Gomes (PDT). Dois anos atrás, a direção nacional petista interveio para impedir que Marília lançasse seu nome para a sucessão pernambucana em troca do apoio do governador Paulo Câmara (PSB) à reeleição de Humberto Costa (PT) ao Senado.

A candidata Marília (PT) em campanha
no Mercado da Madalena, Recife

Nesta eleição, Marília tentou esconder a sigla para evitar uma onda antipetista, vista em diversas cidades desde 2016, e também para poder mostrar que tem um currículo próprio. Fez sua carreira no PSB enquanto Eduardo Campos ainda era seu principal líder. Elegeu-se vereadora em 2008 e 2012 pela legenda. Em 2014, rompeu com seu tio, Eduardo, porque ele lhe tomou a direção da juventude socialista e a entregou para o filho João Campos, que tinha 19 anos na época. Foi quando ela ingressou no PT, por onde se elegeu vereadora em 2016 e deputada dois anos depois. Na atual eleição, sua estratégia foi a de tentar colar em seu adversário a fama de imaturo, inexperiente e que pode ser manipulado pela mãe, Renata Campos, e pelo atual prefeito Geraldo Júlio (PSB), um dos órfãos políticos de Eduardo. Ainda o chamou de frouxo, o que para alguns parece ser uma afronta monumental.

Renata nunca se lançou candidata. Atua intensamente nos bastidores. No Recife a figura dela é vista por alguns como uma espécie de Catarina de Médici, a rainha consorte da França que manipulou três de seus filhos que foram reis no século XVI. Nos tempos atuais, nas redes sociais, ela é apelidada de Cersei Lannister, em referência à rainha que teve influência sobre dois filhos reis de Westeros no seriado ficcional Game Of Thrones.

Entre os que criticam a ação de Renata nos bastidores estão o cunhado dela, o advogado Antônio Campos, e o ex-deputado estadual Carlos Lapa, que foi líder do Governo de Miguel Arraes. O ex-parlamentar enviou uma carta a Marília em que diz que a mãe de João Campos é “ambiciosa” e “capaz de tudo” para destruir a carreira da petista. Já o advogado, um neobolsonarista que está há quatro anos rompido com esse núcleo familiar, diz que Renata é a responsável pela cisão da família. “O núcleo político pós-Eduardo Campos fez uma aliança com Renata Andrade Lima, e qualquer pessoa que possa despontar como outras lideranças são combatidas e perseguidas, como é o caso de Marília Arraes, independentemente de sua filiação partidária”, afirma à reportagem.

Ao trazer a figura da mãe de João para o centro da disputa, Marília mexeu com os brios do adversário. Em resposta, ele revidou o ataque. Orientado pelo marqueteiro argentino Diego Brandy, que trabalhou em campanhas de Eduardo e Geraldo Júlio, o peessebista tentou vinculá-la aos escândalos de corrupção do PT. Não atacava Lula, porque o ex-presidente ainda é bem avaliado no Estado, mas dizia que o Recife não merecia ser a única capital brasileira a ser governada pelo partido e mostrou imagens de petistas que foram investigados em alguns escândalos, como o ex-ministro José Dirceu ou a deputada federal Gleisi Hoffmann. Também veiculou peças publicitárias em que acusava a prima de ser contra a Bíblia e a favor do incesto.

João Campos passou a ser acusado por opositores de sexismo. Perdeu 15 ações judiciais por divulgações de fake news. E, nesta quinta-feira, usou boa parte de seu horário eleitoral para defender a inclusão social das mulheres na política. Sua candidata a vice, a ex-vereadora e advogada Isabella de Roldão (PDT), foi a estrela principal da noite, em que defendia a parceria dos dois. Ainda colheu depoimentos de deputadas federais filiadas a alguns dos 12 partidos que são de sua coligação. Ao ser questionado pelo EL PAÍS sobre os ataques à adversária, disse que não é machista nem faz críticas pessoais. “Desafio as pessoas a encontrarem qualquer agressão minha de ordem machista ou preconceituosa contra qualquer pessoa.”

O candidato João Campos (PSB)
Fotos com apoiadores.

Para o cientista político Antônio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), os ataques são típicos de disputas que chegam ao segundo turno. “É uma eleição em que se busca alavancar a rejeição do adversário”, afirma.

Na propaganda de João Campos também foi possível notar uma mudança em sua postura. Ele estudou os gestuais de seu pai e passou a reproduzi-los. Um deles, foi o de levantar o braço direito com o punho cerrado como quem comemora um gol olhando para a arquibancada com um leve sorriso na face. O outro, é dar um abraço acolhedor, com uma mão nas costas e outra aconchegando o rosto da pessoa no seu peito. A cena é reproduzida à exaustão, mesmo em tempos em que a pandemia de coronavírus exige o distanciamento social. Essa proximidade com o eleitor e o descumprimento das regras sanitárias também acabou aparecendo na campanha de Marília, que tenta passar a imagem de que gosta de ter esse contato com a população.

Reflexo paterno e cabos eleitorais pagos

A reprodução da figura de Eduardo em João tem dado certo, em alguns momentos. Para os partidos políticos, significou um amplo leque de aliança, com 12 legendas apoiando-o no segundo turno, e ao menos 15, no segundo ―Marília tem quatro siglas de apoio. Para a população, foi como ver um simulacro de um político que foi bem avaliado no passado. “Vou votar no João por causa do pai dele. Nem sei o que ele próprio já fez. Mas vou dar esse voto de confiança”, disse a catadora de materiais recicláveis Leidiane Silva, de 25 anos, enquanto segurava sua filha Alana, de dois meses de idade, no colo. Moradora da favela do Pina, onde há mais de 60 casas em palafitas sem o fornecimento de água ou energia, ela diz que só espera que água potável chegue até seu barraco.

O clima acirrado da campanha repercute nas ruas. Em dois dias, a reportagem se deparou com provocações entre cabos eleitorais dos dois lados em Boa Viagem e no centro da cidade. Em outros pontos, como na praça do Derby, o clima era mais amistoso. Talvez porque nem todos os cabos eleitorais que portavam camisetas da cor de seus candidatos e empunhavam suas bandeiras no semáforo fossem, de fato, militantes. Estavam ali pelo dinheiro.

“Não sei nem se vou votar na Marília. Vim aqui para fazer um corre nesta última semana”, diz o estudante Rudah Nascimento, de 20 anos. Ele é um dos contratados pela equipe de Marília para um trabalho de oito horas balançando bandeiras. Recebe 80 reais por dia. Próximo ao grupo que ele compõe, estão os funcionários da campanha de João Campos, que recebem a metade do valor pelo dia de trabalho. Nos barcos ancorados no entorno da favela do Pina também havia dezenas de bandeiras amarelas, de João, e vermelhas, de Marília. A campanha dele, conforme os pescadores locais, paga 70 reais ao dia para deixar suas bandeiras tremulando nas embarcações. Enquanto a campanha dela paga 50 reais.

Na mesma praça do Derby em que a reportagem encontrou Nascimento estava o estudante Caio Oliveira, de 18 anos. Ele representa o perfil de eleitor mais disputado pelos concorrentes: o que votou em um candidato derrotado e, agora, está em dúvida. No primeiro turno, votou em Mendonça Filho. “Se pudesse, não votaria. Mas terei de fazer uma escolha até domingo”, afirma. Outro eleitor que é disputado intensamente é o que se absteve de votar. Neste ano, 230.157 pessoas, ou 19,89% do total do eleitorado, não foram às urnas. É quase a mesma quantidade de votos que João Campos teve na primeira etapa: 233.028. E um pouco mais do que a votação de Marília, 223.248. Em 2016, a abstenção recifense foi de 126.532.

Com as pesquisas dando um empate técnico, os dois cientistas políticos ouvidos pela reportagem se dividiram sobre o vitorioso no próximo domingo. Antônio Lavareda acredita que o eleitor irá às urnas no domingo sem saber quem é o favorito para se eleger. Enquanto que Priscila Lapa aposta na vitória da petista. “No primeiro turno, menos de um terço do eleitorado votou no João, que é a continuidade da atual prefeitura. A maioria votou pela mudança. Por isso, acredito que Marília deve vencer, ainda que com margem apertada.” Se João Campos vencer, ele terá de antemão maioria na Câmara: 24 dos 39 vereadores eleitos eram de sua coligação. Já Marília, encontrará maior dificuldade com o Legislativo. Sua coligação conseguiu eleger apenas cinco vereadores.

Fonte:Afonso Bentes

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Projeto da USP usa o futebol para recuperar memórias perdidas pelo Alzheimer

 Gazeta da Torre

Em Revivendo Memórias, imagens e narrações antigas de jogos de futebol viram gatilho para o disparo de memórias emocionais nos idosos

O futebol tem o poder de mexer com as emoções das pessoas; ainda mais no Brasil, considerado o País do futebol. Pelé, Garrincha, Ademir da Guia e tantos outros craques que desfilaram pelos gramados, hoje, assumiram nova posição fora das quatro linhas. Mas o projeto Revivendo Memórias, do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFM) da USP em São Paulo, em parceria com o Museu do Futebol, está convocando novamente todos os grandes craques e suas conquistas no futebol para juntos marcarem novos “golaços”, ajudando idosos a relembrar momentos importantes de suas vidas.

Pioneiro no Brasil, o projeto tem ações para estimular pacientes com Alzheimer a lembrarem momentos vividos na infância e juventude, usando o futebol como gatilho. Para entender a dimensão da iniciativa, basta conferir os dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), mostrando que mais de 33% dos idosos no Brasil têm algum tipo de demência e, desse total, entre 40% e 60% dos casos, o diagnóstico é de Alzheimer.

“O projeto utiliza memórias ligadas a paixões que as pessoas tiveram durante a vida como forma de estimular aqueles que têm algum comprometimento cognitivo e também uma forma de evitar o isolamento dessas pessoas”, destaca Leonel Takada, neurologista do HC-SP e um dos responsáveis pelo projeto. Segundo Takada, o futebol foi escolhido como gatilho para despertar as lembranças dos idosos por ser uma paixão nacional que pode despertar o interesse das pessoas que “têm memórias ligadas a jogadores, campeonatos e até das copas”.

Cofundador e coordenador do projeto, Carlos Chechetti conta que os estímulos são feitos através de imagens e narrações antigas de jogos de futebol. Dessa forma, segundo ele, além de lembrar dos jogadores ou do time do coração os idosos acabam lembrando de outros momentos importantes de suas vidas. E é isso mesmo que o projeto busca. Os fatos do futebol são usados como gatilho para que sejam encontradas as memórias emocionais de cada idoso. As atividades que usamos fazem “com que eles lembrem desses jogos, dessas paixões, de jogadores e, com isso, lembrem de mais coisas também, por exemplo, com quem ele foi ao jogo, quando foi o jogo, muitas vezes, lembram até dos gols”.

Conta Chechetti que a ideia do projeto nasceu após uma visita ao Football Memories, evento realizado na Escócia que, da mesma forma, usa o futebol como forma de fazer os idosos reviverem suas memórias. Depois de conhecer o programa, Chechetti entrou em contato com o Museu do Futebol, em São Paulo, que logo aceitou a parceria. Para Iale Cardoso, coordenadora do Núcleo Educativo do museu e responsável por fazer as interações com os pacientes, “a gente se encantou pelo projeto e abraçamos de cara e com muito ânimo essa parceria”, relembra.

Revivendo Memórias, presencial ou #em casa, quer alcançar todo o País

Os encontros acontecem desde 2019, mas, neste ano, por conta da pandemia, também precisou se reinventar. Os organizadores decidiram criar o Revivendo Memórias #EmCasa, em que as reuniões acontecem por videoconferência. Iale destaca que, além da importância dos estímulos cognitivos, o programa também ajuda na inclusão social e cultural e, agora, durante a pandemia, na inclusão digital do idoso, já que, neste caso, os participantes também aprendem a mexer no computador e em aplicativos de videochamadas.

O projeto é feito por voluntários, não tem custos e também não recebe recursos. Chechetti destaca que já está procurando parceiros para patrocinar o projeto, “para que possa se expandir e atender mais pessoas no Brasil todo”. Segundo ele, a ideia é difundir tanto o Revivendo Memórias presencial, após o fim da pandemia, e também continuar o Revivendo Memórias #EmCasa. “Nosso principal objetivo é conseguir levar esse projeto para pessoas de baixa renda, em qualquer lugar, porque, infelizmente, não tem muitas coisas para pessoas de baixa renda no Brasil, principalmente na área de demência”, destaca Chechetti.

Fonte:Jornal da USP

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Concentração no mercado de pagamentos atravanca pequenos negócios

 Gazeta da Torre

“O mercado de pagamentos e a indústria financeira, no Brasil, são muito concentrados. O resultado disso, ao pequeno e ao médio empreendedor, sempre foi uma realidade muito dura, com pouca opção e um serviço prestado de baixa qualidade, caro e no qual não se via muita transparência ou inovação”, afirma Augusto Lins, presidente da Stone Pagamentos, uma das principais fintechs do País – companhia que abriu capital nos Estados Unidos há cerca de dois anos.

Em entrevista ao canal UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, ele avalia como foi para a Stone crescer em um ambiente concentrado e verticalizado – e como a busca por um mercado mais centrado em soluções aos clientes foi uma oportunidade para que a fintech se expandisse. “Nestes últimos anos, tivemos um crescimento com rentabilidade e mais participação, mais share. Muitas empresas crescem e muitas são rentáveis, mas uma combinação desses dois fatores é muito mais difícil”, frisa Lins.

Para que a fintech atingisse este resultado, a abertura de capital no exterior foi fundamental. Entretanto, Lins comenta que esse não deve ser apenas um objetivo, mas uma etapa no crescimento de uma companhia, já que há uma dependência de recursos de investidores. “Nós escolhemos abrir o capital na Bolsa americana. Foi um desafio, pois tivemos de evoluir quanto à governança, controles e processos e gestão de risco, além de nos adaptarmos a padrões extremamente elevados. O resultado foi que a companhia amadureceu, e isso dá mais confiança aos gestores e aos investidores”, pontua ele.

Quanto ao ambiente de negócios em meio à pandemia, Lins avalia que, embora muitas empresas tenham ficado pelo caminho, as que já tinham maturidade digital conseguiram contornar a crise e sair na frente. “Nós vamos sair disso como um país que está se digitalizando e mais atento às questões da nossa localidade, ao [apoio] aos negócios locais”, complementa.

Segundo o presidente da Stone, é fundamental que o governo leve adiante uma mudança profunda nas condições do ambiente de negócios. “Para o ano que vem, precisamos tirar da frente o nosso gargalo tributário. Temos de acelerar as reformas Tributária e Administrativa. De um lado, pagamos muitos impostos; do outro, a questão administrativa do Brasil [nos] onera muito”, reforça.

Fonte:UM Brasil

TRE-PE reforça a necessidade de candidatos preservarem a vida da população

 Gazeta da Torre

TRE-PE

Tribunal Regional Eleitoral alerta para segunda onda de contaminação pelo coronavírus e reafirma importância de se evitar aglomerações

- Diante da aproximação da eleição em segundo turno, o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) reitera a importância dos candidatos cumprirem a Resolução 372, que proíbe atos presenciais de campanha que possam gerar aglomeração.

- No último final de semana, o Tribunal tomou conhecimento de eventos políticos que claramente desrespeitam a Resolução e, consequentemente, colocam a vida da população em risco.

- É importante frisar que se vive hoje a chamada segunda onda de contaminação pelo coronavírus, prenunciadora de muitas vítimas fatais. Pernambuco totaliza mais de 175 mil casos de infecção e cerca de 9 mil mortes desde 12 de março passado. Só no último domingo (22/11) foram confirmados 472 novos casos e três óbitos pela covid-19 no Estado.

- Em que pesem os avanços científicos na produção de uma vacina contra a doença, não existe ainda nenhuma medicação capaz de evitar o contágio. Sabe-se que a única forma de evitar a contaminação é manter os cuidados sanitários, como lavar as mãos constantemente, usar máscara e, principalmente, evitar aglomerações.

- Exatamente com o objetivo de evitar as aglomerações e, desta maneira, preservar a vida dos eleitores num momento extremamente crítico da pandemia, o Pleno do TRE-PE aprovou a Resolução 372 em 29 de outubro passado.

- Além disso, um dia após a votação do primeiro turno, o presidente do TRE-PE, desembargador Frederico Neves, convidou os advogados das duas coligações que disputam a Prefeitura da Cidade do Recife, Walber Agra e Leucio Lemos. Ambos se comprometeram a levar às suas respectivas equipes a necessidade de se evitar aglomerações na reta final da campanha.

- Com a clara certeza de que o acirramento de uma campanha eleitoral não é justificativa para se colocar a vida de pessoas em risco, o TRE-PE entende que a responsabilidade com a saúde da população do Recife deve estar entre as prioridades dos candidatos, sobretudo considerando a importância do cargo que almejam.

- Para finalizar, ciente de que está fazendo todo o possível em nome da vida, o TRE-PE volta a informar que está pronto para cumprir a lei e dar a resposta no momento certo àqueles que vierem a desprezar o bem maior de qualquer ser humano.

Fonte:TER-PE.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Segundo pesquisa, a região brasileira que mais lê é o Nordeste

 Gazeta da Torre

De acordo com levantamento, entre as dez capitais brasileiras que mais leram em 2019, cinco delas estão localizadas no Nordeste. O ranking compõe um novo dado divulgado pela 5º edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro, publicado em primeira mão pela revista Veja. Na campeã João Pessoa, capital da Paraíba, 64% da população é apontada como leitora, seguida por Curitiba, que figura 63%, Manaus, com 62%, Belém, 61%, e São Paulo, em que 60% dos indivíduos são considerados leitores. O restante dos dez primeiros postos do ranking ficaram com Teresina (59%), São Luís (59%), Aracaju (58%), Salvador (57%), e Florianópolis (56%), respectivamente.

Para obter o resultado da pesquisa, o órgão entrevistou mais de 8.000 pessoas em todos os estados brasileiros, entre outubro do ano passado e janeiro de 2020, considerando como leitor os que leram ao menos um livro nos três meses que antecederam a consulta. Em João Pessoa, a média no trimestre foi de 4,09 livros, número que sobe para 8 se analisarmos os doze meses antecessores, mais da metade dos livros foram consumidos por vontade própria.  Os dados ainda apontam que entre os pessoenses, 75% dos leitores ocupam as classes B ou C, enquanto a classe A representa apenas 8%, situação que se repete no cenário geral.

Confira o percentual de leitores por capital: João Pessoa (64%);  Curitiba (63%); Manaus (62%); Belém (61%); São Paulo (60%); Teresina (59%); São Luís (59%); Aracaju (58%); Salvador (57%); Florianópolis (56%); Vitória (55%); Fortaleza (54%); Belo Horizonte (53%); Porto Alegre (52%); RECIFE (52% - Mais da metade da população de Recife possui a leitura como hábito); Cuiabá (52%); Palmas (52%); Macapá (51%); Porto Velho (51%); Rio Branco (49%); Natal (48%); Rio de Janeiro (47%); Goiânia (42%); Maceió (37%); Campo Grande (26%); Boa Vista (em apuração).

Fonte: Instituto Pró-Livro

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Conscientização sobre o HPV cresceu, mas ainda está aquém do ideal

 Gazeta da Torre

É o que diz a professora Heloisa de Andrade Carvalho, que, juntamente com o também professor Jesus de Paula Carvalho, participa da estratégia global da OMS para a erradicação do câncer de colo de útero

O Jornal da USP no Ar recebeu segunda-feira (23) os professores da Faculdade de Medicina (FM) da USP, Jesus de Paula Carvalho, também médico chefe da equipe de Ginecologia Oncológica do Instituto do Câncer (Icesp), e Heloisa de Andrade Carvalho, coordenadora médica do Serviço de Radioterapia do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas (HC) e médica do Icesp, para tratar da estratégia global da Organização Mundial da Saúde (OMS) para erradicação do câncer de colo de útero, projeto do qual participam e para o qual colaboraram.

O professor explica que a importância da estratégia global, que trata o câncer do colo de útero como problema de saúde pública, está no fato de que, por muito tempo, foi o câncer que mais matou mulheres no mundo; hoje, é o terceiro. “Ainda assim, no Brasil, mata uma mulher a cada 90 minutos”, aponta ele. Em 2018, então, a OMS convocou países a fim de compor uma estratégia global para torná-lo uma doença rara, ou seja, com menos de quatro casos a cada 100 mil mulheres.

Para a professora Heloisa, ainda que a conscientização sobre o HPV tenha crescido, ainda está aquém do ideal. “Ter informações sobre a vacina, os cuidados a serem tomados, inclusive em relação ao relacionamento sexual, ainda é necessário”, afirma. Eles reforçam que existe conhecimento científico para erradicar a doença – sabe-se o agente causador, o papilomavírus humano, consegue-se fazer diagnóstico e tratamento em sua forma precoce, além da prevenção com a vacina. “Não se justifica mais de 75% dos casos que atendemos no Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) serem da doença em um estágio avançado”, diz Carvalho.

A estratégia de erradicação proposta pela OMS baseia-se em três pilares: garantir que 90% das meninas recebam a vacina contra o HPV até os 15 anos; fazer com que pelo menos 79% das mulheres possam realizar dois testes de rastreamento do vírus; garantir que 90% das mulheres que possuam lesões precursoras recebam tratamento adequado. 

A professora explica que, uma vez proposta a prevenção com o diagnóstico precoce, as instituições têm a obrigação de oferecer tratamento aos casos diagnosticados. “Quando convocamos a população a se conscientizar, não podemos apenas detectar o problema. Além disso, a conscientização ainda é fundamental. Devemos insistir periodicamente nesse assunto, com educação, informação e comunicação”, conclui.

Fonte:Rádio USP

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Fadiga de decidir: por isso você é prudente de manhã e faz péssimas escolhas à noite

 Gazeta da Torre

Não há como escapar da responsabilidade de escolher entre milhares de alternativas todos os dias, mas é possível otimizar o processo

Já é tarde e você não sabe se vai poder fazer uma pausa para o almoço, não há tempo. Você olha para o telefone e vê uma longa fila de tarefas por resolver antes do fim do dia. Muita coisa. Todos esperam que você contribua com ideias para o novo projeto, mas você já está zonzo, está morto, só tem vontade de dormir. Sua capacidade mental está esgotada ... e ainda resta muito trabalho pela frente. O pior é que você acha que não trabalhou a ponto de ficar exausto. Como é possível?

Pode ser que você tenha tomado decisões demais durante o dia, das mais irrelevantes às mais cruciais. Se for esse o caso, então, certamente prefere que outra pessoa tome aquela importante decisão por você, seja no âmbito familiar, de trabalho ou de lazer. Pode ser que depois se arrependa, mas isso não importa, você não tem vontade de decidir mais nada, tudo o que deseja é ir para a cama enquanto o mundo está em chamas ao seu redor. Acontece que você está com fadiga de decisão, um termo atribuído ao psicólogo norte-americano Roy Baumeister. É o que ocorre “após um período prolongado de tomada de um grande número de decisões, e afeta a qualidade e a própria força de vontade para executá-las”, explica Lidia Asensi, psicóloga da área de saúde do Centro Psicológico Cepsim Madrid.

Essa circunstância explicaria por que pessoas normalmente prudentes e responsáveis se irritam com amigos ou familiares sem um motivo aparente. Ou por que compram grande quantidade de junk food no supermercado, apesar de terem hábitos alimentares saudáveis, por que entram em relacionamentos amorosos tóxicos e furtivos, por que terminam em altas horas da noite gastando metade do orçamento mensal em compras online compulsivas. “As decisões que tomamos são influenciadas por diferentes variáveis, como nossa capacidade de atenção e nosso estado emocional, e isto pode nos levar a tomar decisões muito ruins”, diz Asensi. Em outras palavras, não importa o quão racional e formal você seja, você simplesmente não pode tomar uma decisão após a outra sem que isso cause estragos mentais.

Por outro lado, e deixando de lado as múltiplas tarefas do dia a dia, nossa personalidade também desempenha um papel muito importante na fadiga causada pelo acúmulo de decisões. “Embora o cérebro esteja predisposto a realizar multitarefas, pessoas impulsivas são mais suscetíveis a estímulos como redes sociais, hiperconectividade. Isso acelera o nosso cérebro e, portanto, tomamos um número muito maior de decisões sem nos dar conta disso”, afirma Blanca Villa, psicóloga do Centro de Saúde Delicias, em Valladolid.

O perigo surge quando a escolha errada afeta significativamente os outros. É aí que temos que prestar mais atenção: não há razão para arruinar a vida de ninguém. Por exemplo, em um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, psicólogos examinaram os fatores que influem se um juiz aprova ou não uma petição de liberdade condicional. O que eles observaram foi que as decisões que tomavam não eram tão afetadas pelo tipo de crime que as pessoas cometeram como pela hora do dia em que estavam julgando. No início da manhã, o juiz concedia liberdade em 65% das vezes. No final do dia, quando chega a fadiga da decisão, as sentenças favoráveis se reduziam a zero.

Otimizar, planejar e desconectar

Não podemos parar de tomar decisões em um mundo onde somos julgados por nossa capacidade e rapidez mental, mas podemos otimizar essas decisões. Tanto Asensi como Villa recomendam evitar tomar as importantes em momentos de cansaço ou mal-estar emocional. Também parece aconselhável estruturar as nossas tarefas diárias e abandonar as que não são prioritárias, bem como as que não nos pertencem, pois às vezes costumamos decidir e agir pelos outros.

Criar uma rotina bem pensada é primordial. Barack Obama e o criador do Facebook, Mark Zuckenberg, por exemplo, confessaram que todos os dias usam o mesmo tipo de roupa porque assim têm uma decisão a menos a tomar (não é necessário chegar a esse extremo). E é preciso ter em mente que o dia a dia nos leva a um modo de piloto automático em que só reagimos aos estímulos externos, sem parar para pensar e refletir, por isso o mais importante é desconectar o cérebro e descansar: assim evitaremos complicar nossas vidas com coisas que têm solução. Ou não. Você decide.

Fonte:El País

domingo, 22 de novembro de 2020

Você faz uso inteligente do cartão de crédito?

 Gazeta da Torre

Um instrumento de acesso ao crédito, simples, prático e rápido, para o bem e para o mal eu poderia dizer, é polêmico: um grande parceiro e amigo para algumas pessoas, uma dor de cabeça daquelas a cada mês, vilão e um meio evidente para o endividamento de tantas outras, isso mesmo, muitos brasileiros que estão enrolados ou endividados, tem ele mal utilizado no meio dessa história. Estamos falando do cartão de crédito! E para você, ele é parceiro ou motivo para dor de cabeça? Faço essa pergunta de vez em quando e vejo uma diversidade de opiniões e formas de encarar o cartão.

Quando te perguntam: “senhor (a) quer pagar no crédito ou débito?”  bate uma dúvida? Com base em que você toma essa decisão? E se você tiver a possibilidade de parcelar em dez vezes sem juros? Se sente tentado? Afinal, para muitos pode aliviar e cair bem o valor mês a mês para quitar aquela compra, porém seriam meses pagando aquilo hein?

O cartão de crédito pode trazer controle ou descontrole, pode ajudar a ter maior domínio das contas ou se perder completamente. Ou seja, tem a parceria e a dor de cabeça, o lado amigo e o lado vilão. O cartão de crédito pode servir para aliviar o fluxo financeiro mensal ou para empurrar as contas para o mês seguinte de forma descontrolada e inconsequente, apenas adiando e podendo aumentar ainda mais a tal dor de cabeça. Nesse último caso, pode até parecer um amigo, dando a oportunidade de jogar as despesas para frente, mas será que é isso mesmo? Será que quando o seu dinheiro acaba e você usa o cartão de crédito para supérfluos, está fazendo um bom uso do cartão? Lembre-se que no mês seguinte vem o acúmulo dessas pequenas compras, despesas, e quem sabe pode te obrigar a “jogar” para frente de novo e isso se tornar o começo da bola de neve, uma grande avalanche, que dá sinais fortes quando não se tem o dinheiro para pagar o total da fatura do cartão, ou seja, mais que hora de puxar o freio de mão e mudar muito, quase tudo, ou a situação entra na via expressa do endividamento, e para tantos outros, do superendividamento.

Tem o caso de quem se vale do cartão para acumular milhas, mas não faz uma boa gestão e acaba ficando “milhonário” (com muitas milhas), mas sem o dinheiro para viabilizar a hospedagem, passeios e outras despesas de uma viagem. E aí, as milhas acabam por expirar, e dependendo da sua situação e das prioridades, não faz sentido pagar anuidade por esse benefício.

Para ter acesso a essência deste instrumento, ou seja, ao crédito, tem muitas alternativas de cartões sem anuidade. Costumo dizer que, para comprar passagens, é possível com dinheiro ou milhas. Logo, milhas é igual a dinheiro. Se você deixa as suas milhas vencer, está jogando dinheiro fora. E não deixe isso acontecer, venda suas milhas e faça uma renda extra, troque por eletrônicos, eletrodomésticos, combustível, itens para a casa, roupas e mais, mesmo que essa troca não seja lá tão vantajosa, é melhor do que perder as milhas, melhor do que vimos aí, literalmente jogar dinheiro fora.

Retomo um ponto em relação ao pagamento da fatura, quando ela chega, você honra com tranquilidade ou é aquela “guerra” e acaba não conseguindo pagar o valor total? Fuja de pagar o mínimo, o cartão de crédito tem um dos juros mais altos do mercado. É um crédito pré-aprovado, assim como o do cheque especial, e dinheiro que vem fácil, não é só que vai fácil, mas custa caro, muito caro. Se chegar nessa situação, vale mais a pena tomar um empréstimo pessoal, pois os juros apesar de geralmente altos, são bem melhores se comparados ao cartão. O que traz a possibilidade de trocar uma dívida mais cara por uma dívida mais barata, pense nisso, e mesmo que não seja o seu caso, vale o aprendizado e certamente você iluminará a vida de alguém querido com essas dicas ao longo de sua vida.

Se usado de forma inteligente, o cartão traz segurança, pois é um “dinheiro de plástico”. Cada vez mais utilizado mundo a fora e a tendência é o aumento substancial disso a cada ano.  Se você perde, basta bloquear e solicitar outro. Já o dinheiro em espécie, se você perde, não é fácil recuperar, pode até voltar para sua mão um dia e você nem o “reconhecerá”. Se você tem o hábito de checar as parciais da fatura, isso te ajuda a ter as rédeas mais curtas e a dosar, puxar o freio de mão, se for necessário. Porém, o mais comum, é as pessoas não fazerem esse acompanhamento e, quando chega a fatura, esta já leva uma grande parte do salário e sobra pouco para as outras despesas do mês, de forma que nos primeiros quinze dias do mês o cartão já tem um papel fundamental na manutenção das despesas destas pessoas.

Destaco aqui mais alguns pontos de atenção, em relação as compras parceladas, que sim podem ser feitas, porém, se feitas em excesso, são um atalho para problemas financeiros. Fique de olho na anuidade, para a maioria das pessoas, não faz sentido algum ter um cartão de crédito com anuidade, de acordo com o seu perfil e necessidade, opte pelos gratuitos. As pequenas taxas de seguro de cartão de crédito, são para muitos uma despesa fixa, mas também desnecessária, uma vez que a segurança é um dever da operadora e deve estar na natureza do cartão, por isso, não é o seguro vai aumentar essa segurança na prática, mas naturalmente as muitas operadoras, a fim de aumentar sua receita afirmam que sim é importante ter um seguro. No meio do ciclo de sua fatura, cheque a parcial, ou se possível faça isso a cada semana ou dez dias, isso ajuda a ter mais controle e tomar decisões mais acertadas.

Para muita gente vale ter dois gatilhos na forma de usar o cartão, isto é, só fazer compras no rotativo a partir de um valor X (R$ 100 por exemplo) e parcelar apenas se o valor for acima de Y (R$ 200 por exemplo). E aí você pode estar pensando, mas se o valor for menor que esses, não compraria? Sim, pode ser isso mesmo, não compra por que não está com o valor ou você compraria no débito, espécie ou junta o dinheiro para comprar no próximo mês, se mais à frente você esquecer, é porque não era importante. Naturalmente, se for algo de urgência, saúde, use como exceção a regra.

Quem determina se o cartão de crédito vai ser um amigo ou vilão na sua vida é você! Portanto, faça escolhas inteligentes, use o cartão a seu favor. Não hesite, se a situação é extrema, tome atitudes extremas, podendo chegar ao cancelamento do cartão, passando a usar apenas débito e espécie no dia a dia por exemplo. E aí vai um detalhe que muitas pessoas não sabem: você pode cancelar o cartão mesmo se ainda tiver compras parceladas a pagar nele, uma vez cancelado, o mesmo não estará disponível para novas compras e a fatura das compras já realizadas continuará chegando. Se você está com a vida financeira enrolada, não desconsidere se desfazer do cartão por um tempo, e ver como as coisas acontecem. Definitivamente não continue agindo da mesma forma se você está buscando mudanças, é hora de agir!

Aqui deixo o meio abraço!

https://www.instagram.com/personalfinanceiro/?hl=en

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

SPFW caminha para a equidade racial ao garantir diversidade nas passarelas

 Gazeta da Torre

Em decisão histórica impulsionada pelo coletivo Pretos na Moda, a SPFW determinou que 50% dos modelos devem ser negros, indígenas ou asiáticos

No mês dedicado à consciência negra, os organizadores da São Paulo Fashion Week tomaram uma decisão nunca antes vista nos 25 anos do evento: estabeleceram que 50% dos modelos devem ser negros, indígenas ou asiáticos, visando à equidade étnico-racial na maior semana de moda do País. A ação é resultado da reivindicação do coletivo Pretos na Moda, que assinou um tratado moral com os organizadores do evento. Em caso de descumprimento do acordo, a marca poderá ser suspensa dos desfiles. O anúncio aconteceu nos perfis do Instagram da São Paulo Fashion Week e do coletivo Pretos na Moda. A determinação começa a valer já neste ano e deverá se estender para as próximas edições.

Além da pandemia de covid-19, o ano de 2020 foi marcado por protestos antirracistas que tomaram conta de todo o mundo, culminados no assassinato de George Floyd e Breonna Taylor, vítimas da brutalidade policial contra pessoas negras nos Estados Unidos. Na Semana de Moda de Milão, o movimento Vidas Negras Importam na Moda Italiana focou nos estilistas negros para conscientizar sobre a importância da diversidade. Já na Semana de Moda de Paris, Naomi Campbell discursou sobre racismo e cobrou representatividade. No Brasil, o perfil no Instagram Moda Racista, que foi retirado do ar, denunciou as discriminações cometidas por grandes nomes da moda contra profissionais do setor.

A diversidade representa o Brasil real

O estabelecimento de ações afirmativas no setor da moda permite que as passarelas retratem com maior acuracidade a diversidade étnico-racial da população brasileira. É essencial que o debate não fique restrito aos desfiles e seja estabelecido também em todos os níveis hierárquicos das indústrias, compartilha a designer de moda Maria do Carmo Paulino dos Santos, doutoranda em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestra em Têxtil e Moda pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP: “Precisamos adentrar a indústria e fazer esse debate. Precisamos falar dessa diversidade e de sua valorização em todos os espaços, cargos e funções dessa cadeia produtiva, para que se possa avançar nessa discussão”.

Até que ponto vai a inclusão?

A modelista Maria do Carmo não acredita que a atitude da São Paulo Fashion Week represente uma ruptura nos padrões da indústria da moda, porque a assinatura do tratado moral pode estar também conectada a questões econômicas, como atingir um novo público consumidor, o que torna a absorção da diversidade uma ferramenta de estratégia. “A indústria da moda vem dentro desse ranço escravocrata que sempre operou fazendo vistas grossas para as questões étnico-raciais. Não acredito que ela vá mudar por conta desses movimentos antirracistas da atual conjuntura. O que vai forçar uma fissura nesse setor é a questão econômica, ou seja, o poder de compra da população negra.” Para ela, a indústria da moda foca na lucratividade antes da humanidade e, por essa razão, ainda está distante das pautas sociais: “Entrar nessa pauta hoje é mais um modismo do que de fato uma ação social”.

Ao questionar se a indústria da moda utiliza as pautas raciais como forma de oportunismo, Maria do Carmo avalia que dar visibilidade às minorias sociais pode significar uma maneira de impulsionar os negócios: “Por conta desse interesse capitalista de grandes marcas de estampar o rosto de uma pessoa negra no seu produto, para vender mais ou para gerar mais engajamento, eu penso que essa indústria não está atenta a essas questões políticas e sociais que envolvem a população negra. Se a gente não ficar atenta, amanhã vem uma outra onda e o negro acaba ficando de lado de novo”.

A descolonização da SPFW

Os negros e pardos constituem cerca de 56% da população, segundo levantamento de 2019 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A reivindicação do coletivo Pretos na Moda marca um passo importante no combate ao racismo e na conquista do lugar social dos negros e indígenas, como explica a professora Eunice Aparecida de Jesus Prudente, do Departamento de Direito do Estado da Faculdade de Direito (FD) da USP: “O movimento Pretos na Moda está contribuindo para a cidadania dos profissionais, sobretudo dos modelos. Já há muito observamos que a cidadania dos negros brasileiros tem dependido muito da sociedade civil organizada e de seus movimentos. A assinatura de um tratado moral expressa um momento novo, ou seja, de caminhos legais e pacíficos para enfrentar o racismo estrutural presente no Brasil”.

Na visão da professora Eunice, antes da determinação que garante 50% de negros, indígenas ou asiáticos nas passarelas, a São Paulo Fashion Week apresentava um Brasil branco inexistente: “A SPFW estava descaracterizada porque estava colonizada. Ela apresentava um Brasil europeu quando, na verdade, o Brasil é diverso, formado por vários povos, e entre eles estão os negros, tão presentes na sociedade”.

O racismo estrutural impede a equidade racial

O principal fator que impede a maior representatividade de negros e indígenas, seja nas passarelas ou em outros lugares, é o racismo estrutural. Apesar de o Brasil ter ratificado a Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial em 1968, ainda pouco foi feito para combater efetivamente o racismo e para conquistar a equidade social. Eunice afirma que o racismo na sociedade brasileira naturalizou e banalizou o maltrato ao outro e o desrespeito à diversidade étnica do País. “O racismo é estrutural porque não há placas com proibições a negros ou indígenas, mas malevolamente, racionalmente, são colocados obstáculos por instituições públicas e privadas. Isso é racismo estrutural. E não causa espanto à sociedade porque o racismo está naturalizado entre nós.”

A professora Eunice acredita que a educação e a informação são as diretrizes para garantir que as minorias sociais conquistem a equidade: “O nosso caminho é informação e educação. A SPFW está colaborando com a informação e com a educação porque o que é produzido ali é arte e a arte instrui e encanta”. A ação do coletivo Pretos na Moda é um marco histórico no setor, mas o combate ao racismo e a luta pela ampliação da diversidade deve ser de todos, como informa Maria do Carmo: “Temos que dar os méritos para essa juventude, esses jovens negros, que estão fazendo esse enfrentamento. E esse enfrentamento também precisa ser feito por costureiras, por nós, modelistas, pelos estilistas, que também se sentem prejudicados e que não conseguem espaço. Esse enfrentamento é de todos nós”, finaliza.

Ouça a entrevista de Maria do Carmo Paulino dos Santos, doutoranda em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestra em Têxtil e Moda pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, e de Eunice Aparecida de Jesus Prudente, do Departamento de Direito do Estado da Faculdade de Direito (FD) da USP, ao repórter Kaynã de Oliveira sobre o tratado moral entre o coletivo Pretos na Moda e os organizadores da São Paulo Fashion Week, o qual exige equidade étnico-racial nos desfiles.

Fonte:Jornal da USP