Gazeta da Torre
A ação é uma iniciativa da ONG brasileira Respeito em
Cena e reúne artistas da América Latina
Um grupo de artistas de cinema, teatro, dança, música e
televisão lançou na última segunda-feira (1º), simultaneamente em 11 países da
América Latina, a primeira Campanha Latino-Americana contra a Violência
Psicológica no Meio Artístico.
A iniciativa teve início com a publicação de um manifesto
assinado por artistas, psicólogas, diretores de cena, coereógrafos, professores,
cineastas, produtores, críticos de arte, médicas, sociólogos e por
profissionais que atuam nos bastidores e na produção de espetáculos.
No mesmo dia, o primeiro vídeo da campanha foi ao ar. A
série “Não é ficção”, que trata do abuso emocional e o assédio moral vividos
por artistas latinas, está disponível na página da ONG Respeito em Cena.
A ação é uma iniciativa da Respeito em Cena, coordenada
pela documentarista, diretora artística e ativista Luciana Sérvulo da Cunha, de
São Paulo. Cunha é uma das embaixadoras da campanha, ao lado da atriz, cantora
e compositora baiana Mariene de Castro.
Os profissionais do Brasil, Argentina, Chile, Bolívia,
Colômbia, Uruguai, Bolívia, Venezuela, Costa Rica, Nicarágua e México integram
a iniciativa.
Conheça abaixo a íntegra do manifesto da campanha:
“Basta de violência psicológica”
O abuso emocional é considerado uma das maiores práticas
de violência contra artistas na América Latina. Essa é uma violência sutil,
velada e naturalizada e por isso torna-se difícil de ser reconhecida, provada e
punida. Mesmo que tenhamos diferenças demográficas, culturais e estruturais
entre nossos países, a realidade da violência de gênero se faz presente em
nosso Continente de forma contundente. Impulsionado pela ONG brasileira
“Respeito em Cena”, dezenas de artistas de toda a região põe a violência
psicológica sob holofotes a partir da criação de uma Rede Internacional para a
criação da primeira Campanha Latino-Americana de Combate à Violência
Psicológica no meio artístico.
NÃO É FICÇÃO: É REALIDADE A SER DENUNCIADA
Quando uma ou um artista entra em seu espaço de estudo,
ensaio e trabalho, seja na televisão, no teatro, em um picadeiro, no cinema ou
em sala de aula, ela ou ele deve se colocar disponível ao processo de criação
sem amarras e resistências. É dentro desse cotidiano profissional e de formação
que tem sido comum lideranças praticarem abusos contra artistas sejam elas
iniciantes ou já estabelecidas em suas carreiras. Uma ou um diretor, preparador
ou preparadora de elenco, produtor ou produtora ou qualquer outro chefe não
deve ultrapassar limites invadindo o corpo físico e emocional de artistas e de
sua intimidade, transformando o processo de criação em um espaço abusivo de
imposições e intimidações.
COMO SE COMETE ABUSO
O abuso emocional e o assédio moral têm origem a partir
de uma relação desigual e perversa de dominação e mau uso do poder onde muitas
vezes as (os) artistas são submetidas (os) a pressões, manipulações,
constrangimentos e humilhações, podendo causar confusão mental, medo,
insegurança, sentimento de impotência e incapacidade, baixo autoestima,
depressão e síndrome de pânico. Além da grande possibilidade de desenvolvimento
de sintomas psicossomáticos, como: insônia, pressão alta, alergias, hemorragias
e sangramentos.
PERFIL DO(A) AGRESSOR(A)
Um autor ou uma autora de abuso não tem cara de
“criminoso” ou “criminosa”, geralmente trabalha, tem família, tem boa reputação
e faz caridades. Normalmente é uma pessoa encantadora, inteligente, envolvente e
tem carisma. Possui obstinação por controle e age de acordo somente com seus
interesses próprios. Se coloca no papel de vítima para justificar seus atos.
Não leva em consideração e nem se conecta com o sentimento dos outros.
Considera a crítica como um ataque à sua imagem e identidade e é capaz de
esmagar emocionalmente os outros com sua franqueza e humor rápido e cortante.
Está sempre na defensiva, é pessoa desconfiada e se ofende com facilidade.
COMO SE FAZ O SILÊNCIO DA(O) SUBORDINADA(O)
Medo do descrédito e vergonha da exposição, perfil
público conhecido do autor e da autora, vínculo afetivo ou profissional,
machismo, misoginia e transfobia. Como consequência dessa cultura misógina,
machista, homofóbica e transfóbica, quando uma vítima denuncia um abuso terá
sua conduta contestada, seu relato será minimizado e desvalorizado e sua
palavra será questionada em todas as instâncias. A vítima então entra em um
estado de medo e paralisia, permanecendo sem conseguir falar ou procurar ajuda,
com uma devastadora sensação de impotência a consumir toda sua energia e
vitalidade, sem forças para reagir e lutar por reparação e justiça. Isso tem
que acabar!
COMO SE FAZ A INTERRUPÇÃO E PREVENÇÃO DESSE ABUSO
A violência não é inata do ser humano, portanto, podemos
desconstruí-la com informação e educação em todos os níveis sociais. Deste
modo, nós, ARTISTAS, trabalhadoras e trabalhadores da cultura damos um pontapé
inicial colaborando e nos engajando em uma campanha de prevenção para
influenciar as comunidades artísticas de toda a América Latina a combater a
violência psicológica e a debater esse tema, botando fim a um ciclo de
violências. Nunca mais queremos ver esse filme em nossas vidas no qual o
desrespeito e a impunidade são protagonistas. Que os holofotes iluminem novas
relações pessoais e de trabalho com mais respeito, amor e liberdade!
(*) Com informações da Campanha Latino-Americana contra a
Violência Psicológica no Meio Artístico
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
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