terça-feira, 28 de novembro de 2023

Campanha de solidariedade: PAPAI NOEL DOS CORREIOS

 Gazeta da Torre

Realize muitos sonhos e seja um Super Padrinho (pessoa física) ou um Padrinho Corporativo (pessoa jurídica)!

Muitas cartinhas do Papai Noel dos Correios estão disponíveis para adoção em Pernambuco.

Há mais de 30 anos, os empregados dos Correios, comovidos com as cartinhas em letrinhas recém-aprendidas ou transformadas em desenhos coloridos que chegavam até a empresa, decidiram tirar esses sonhos do papel. Nascia aí uma das campanhas de solidariedade mais queridas do país: o Papai Noel dos Correios.

A ação ganhou força, se espalhou e hoje une a empresa e a população em uma grande corrente de amor e generosidade. Além das cartinhas das crianças da sociedade, desde 2010, os alunos de escolas públicas são convidados a também expressarem seus desejos ao Papai Noel.

A campanha tem como objetivo incentivar o interesse pelo aprendizado da escrita de cartas pelas crianças e estimular o desenvolvimento de habilidades cognitivas e emocionais, um dos maiores presentes que uma criança pode receber, não é verdade?

Para que tudo possa se tornar realidade, os Correios contam com a ajuda de milhares de padrinhos e madrinhas dispostos a fazer a magia do Natal acontecer. Qualquer pessoa pode participar da campanha e fazer a alegria de uma criança.

O CIDADÃO QUE DESEJA PRESENTEAR UMA CRIANÇA, 

PODE LER AS CARTINHAS NO SITE BLOG DO NOEL 

(https://blognoel.correios.com.br/blognoel/) 

E ESCOLHER UMA OU MAIS PARA ADOTAR

Adote uma cartinha e, neste Natal, seja Você Noel!!!

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Por que seu cérebro precisa questionar?

 

Provavelmente você não lembra do seu primeiro “Por que?”, mas, no seu cérebro, ele foi o início de uma jornada cognitiva que passou pela infância, adolescência e chegou a fase adulta.

Com inúmeros estímulos tecnológicos e menos tempo, muitas vezes também temos menos tempo para questionar e aprender subestimamos a importância do questionamento para o nosso cérebro e como isso nos ajuda a nos desenvolver, enquanto indivíduos e espécie.

Os porquês do cérebro

Mais do que entender os porquês do mundo, é preciso criar relações entre informações e fatos para compreender um mundo que muda a cada instante. Segundo Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA – Ginástica para o cérebro, toda bagagem construída pelas experiências ao longo da vida vai se tornando repertório aprendido que são as lentes pelas quais julgamos os novos acontecimentos.

“Mas toda memória e aprendizado que já faz parte do nosso repertório pode ser modulado – nós temos mecanismos fisiológicos que permitem que o cérebro fortaleça, enfraqueça ou troque os conteúdos antigos por outros. Questionar é exatamente usar o foco do pensamento para verificar se algum conteúdo da bagagem pode ser melhorado ou atualizado. É usar a atenção e o pensamento flexível para olhar para a mesma coisa, porém com olhos de principiante”, detalhou a especialista.

Por que questionar?

Você já parou para pensar que tudo que temos a nossa volta nasceu de uma dúvida? Construímos todo conhecimento científico da humanidade porque ousamos questionar. Estamos sempre querendo saber como será o próximo carro, o próximo smartphone, a próxima promoção do trabalho, a próxima tecnologia. Hoje temos uma realidade de vida em sociedade que cria diferentes tecnologias o tempo todo e muda muito rápido – exigindo que cada vez mais tenhamos um comportamento questionador.

“É importante questionar porque é assim que incrementamos o aprendizado em todas as suas esferas, é assim que evoluímos individualmente e em grupo!”, lembrou Livia Ciacci.

Questionar para aprender – um cérebro principiante

No Japão há o termo “Shoshin” que significa “mente de principiante”. Este conceito diz respeito a mente aberta e curiosa da infância que explora as ideias sem a pretensão de “já conhecer sobre”. Este conceito mostra a importância de nos abrimos a ouvir, questionar e aprender.

Ao mesmo tempo que é importante manter um repertório de conhecimento rico e variado, acumular muita bagagem pode influenciar na maneira como você julga novas informações. Os psicólogos citam esse fenômeno como a “fixação funcional” – quando a familiaridade com assuntos ou usos das coisas atrapalha o ato de questionar e visualizar outros pontos de vista ou outras aplicações.

“A fase da vida em que aprendemos mais coisas e mais rápido é na infância, quando ainda estamos livres de hábitos e associações prévias. Assimilar novas informações pressupõe disposição para avaliá-las da forma mais imparcial possível”, detalhou Livia Ciacci – neurocientista do SUPERA Ginastica para o cérebro.

Questionar para ter mais reserva cognitiva

Ainda segundo Livia Ciacci, questionar significa estar buscando mais (ou outras) respostas, e é isso que modula e modifica as conexões entre os neurônios a favor do aprendizado.

Neste sentido, o treino cognitivo ou ginástica para o cérebro oferece uma maior consciência dos próprios processos de aprendizado e aumenta a capacidade de focar a atenção. “Começamos a perceber e controlar a resposta automática e impulsiva, que a ínsula – uma área do lobo temporal – naturalmente nos instiga a dar. E então questionamos, e refletimos sobre atitude que provoca modificações estruturais nos aprendizados, levando a mudanças nas características de quem somos e em como nos posicionamos no mundo. Os desafios de raciocínio flexível e enigmas são super aliados para treinar a mente de principiante, porque precisamos olhar as mesmas coisas de outro jeito para conseguir resolver”, concluiu a especialista.

 

Para reflexão:

Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida. ‘SÓCRATES’.

 

Você sabia:

Cerca de 75% da massa total do cérebro é composta por água.

 

Resposta do desafio de Outubro:

Quais as capitais brasileiras mais faladas em Dezembro?

Resposta: Natal e Belém.


Desafio de Novembro:

Dois patos botam ovos todos os dias. Quantos ovos somam no mês?

a)60          b) 62           c) Zero          d) 2

Resposta na próxima edição:

 

Serviço:

Método Supera - Ginástica para o Cérebro

Responsável Técnica: Idalina Assunção (Psicóloga, CRP 02-4270)

Unidade Madalena

Rua Real da Torre, 1036. Madalena, Recife.

Telefone: (81) 30487906

Unidade Boa Viagem

Telefone: (81) 30331695

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

A psicologia por trás de modificações da aparência

 Gazeta da Torre

Por Maria Luiza Viacava Sigoli e Flávia Alexandroni Dias, estudantes de Psicologia, e Jaroslava Varella Valentova, professora do Instituto de Psicologia da USP

Ao pensar em processos de modificação da aparência, imagino que o que venha primeiro à mente sejam os procedimentos de cirurgia plástica ou o uso de maquiagem, isto é, comportamentos focados na estética que fazem uso de tecnologias relativamente recentes. No entanto, a prática de mudar a aparência em humanos não só engloba diversos outros comportamentos, como é utilizada há mais de 100 mil anos.

Qualquer hábito que gere mudanças no corpo entram nesse nicho, ou seja, a variação de roupas, os comportamentos de higiene, os cortes de cabelo, o uso de perfumes, de acessórios, de cosméticos, de maquiagem, os procedimentos cirúrgicos, o bronzeamento, as tatuagens, os piercings, a barba, exercício físico e muitos outros. Neste sentido, a maioria de nós está frequentemente modificando nossa aparência de diferentes maneiras. E como esta tendência de modificar a aparência existe na maioria das populações conhecidas, uma grande parte dos nossos ancestrais provavelmente já possuía esses costumes. Algumas destas mudanças de aparência são reversíveis (como o uso de cosméticos) enquanto outras são irreversíveis (como tatuagens ou procedimentos cirúrgicos).

Existem diversos fatores que explicam a persistência da modificação de aparência em seres vivos, como no caso de larvas de insetos que utilizam materiais variados como pedras ou lama para proteger os corpos moles. Semelhantemente, roupas e vestimentas humanas servem para proteção contra a temperatura, a incidência do sol, a salinidade, a umidade e contra possíveis danos causados pela perturbação da pele. Em parte por causa de fatores ecológicos, as populações humanas mudam as aparências de formas distintas em diferentes lugares do planeta. Estas modificações também dependem do conhecimento tecnológico e do acesso aos materiais locais. Por exemplo, o creme dental com flúor, que estamos acostumados a utilizar em nossa sociedade, serve para proteger, desinfetar e branquear os dentes, sendo este tipo de dentes um sinal de saúde e atratividade em nossa cultura. Porém, em várias culturas antigas, como no antigo Japão com o costume famoso Ohaguro, havia uma mistura para sanitizar os dentes que deixava os dentes pretos. Esta mudança de aparência era julgada como atraente e também como um marcador humano em contraste aos demônios com dentes brancos.

As mesmas modificações de aparência podem ao mesmo tempo servir para diferentes fins. Por exemplo, humanos modificam a aparência para exibirem a qual grupo social pertencem e ao mesmo tempo a quais grupos sociais não pertencem, como no caso de roupas distintas de jogadores e fãs de diferentes times de futebol. Em alguns casos, a mudança da aparência pode sinalizar status social, especificamente com o uso de materiais raros e valiosos, como joias de metais caros, penas de aves dificilmente encontradas ou até dentes e garras de predadores perigosos. Atingir uma aparência rara é, em geral, algo visto positivamente, como, por exemplo, atingir um corpo magro em sociedades com abundância de recursos. Estas mudanças, assim, sinalizam o esforço que a pessoa fez para alcançar o material ou forma corporal custosa. As alterações pelas cirurgias plásticas podem parecer como um meio de encurtar o caminho duro para atingir essas modificações, o que – estudos mostraram – faz com que as pessoas que se utilizam dessas cirurgias ou até de edições de fotografias sejam percebidas como menos confiáveis por terceiros.

Outras modificações de aparência acontecem só em alguns momentos ou períodos limitados, como forma de marcar um período especial que geralmente muda o status social da pessoa. Por exemplo, casamentos ou formaturas e, em outras culturas, puberdade ou circuncisão são rituais que marcam uma mudança social e/ou biológica, e durante o processo se usam táticas de mudança de aparência diferenciadas, às vezes reversíveis (ex. vestido de noiva), às vezes duradouras (ex. aliança).

Como exibido, os fatores socioculturais são cruciais nas mudanças de aparência. Um simples corte de cabelo, por exemplo, pode nos comunicar sinais de status social, etnia, religião, orientação política, gênero, status de relacionamento, entre outros. Essas mudanças não só refletem a individualidade de cada um, por exibirem preferências específicas em relação à aparência, como refletem as características culturais daquela sociedade. Por exemplo, nas sociedades em que lábios volumosos são muito valorizados, será mais frequente a realização de procedimentos de preenchimento labial ou uso de técnicas de maquiagem que passem a impressão de lábios maiores.

Subjacente a toda variedade individual, cultural e ecológica, com distintas técnicas locais para mudanças de aparência, temos os fatores biológicos e evolutivos. Isso significa que o comportamento de alterar a aparência ajudou nossos ancestrais, seja aumentando a sobrevivência (como o que ocorre na camuflagem), seja estimulando a reprodução (indicação de status e exibição sexual, por exemplo). Nesse caso, modificar a aparência é um mecanismo adaptativo e evolutivamente antigo que existe em diversas espécies, aumentando a sobrevivência e reprodução dos indivíduos, sendo, ao mesmo tempo, uma tática que serve para fins sociais, como marcação do próprio grupo social.

Para exemplificar, podemos nos apoiar em um comportamento muito frequente: a maquiagem. A maquiagem afeta a atratividade feminina ao simular indicadores biológicos, como a idade, simetria ou contraste manipulando a própria percepção e a do outro – estudos psicológicos demonstraram que mulheres com maquiagem são avaliadas por terceiros como mais atraentes do que mulheres sem maquiagem. Além disso, elas se autoavaliam como mais confiantes, com uma maior autoestima e até mais saudáveis quando estão usando cosméticos. Isso mostra aquilo que foi exibido anteriormente, que ao mesmo tempo que vontades individuais e fatores socioculturais permeiam essas mudanças estéticas, elas contribuem para a sobrevivência e/ou o sucesso reprodutivo do indivíduo, o que faz com que esse comportamento tenha sido mantido ao longo da evolução.

Portanto, com tudo que foi exposto acima, percebe-se a influência das mudanças de aparência nas nossas sociedades atuais e na história da humanidade e de outras espécies. Elas estão presentes há muitos e muitos anos e isso se dá tanto pelo seu envolvimento com o sucesso social e reprodutivo dos indivíduos, como por ser tão notável em expressar preferências individuais e sinalizadores sociais de populações com culturas específicas. Assim, conclui-se que os instrumentos de modificação da aparência possuem um significativo papel individual, social e evolutivo e, exatamente, devido a sua importância e frequência nas mais diversas populações e espécies, tal área deve ser muito pesquisada, visto que estudos sobre esses comportamentos ainda são bem escassos.

Fonte: Jornal da USP

--- divulgação ---

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Montar a decoração de Natal mais cedo deixa as pessoas mais felizes, segundo estudo

 Gazeta da Torre

O Natal é a época mais feliz do ano, seja pelas lembranças na infância ou porque ficamos mais sociáveis. Você já fez a sua decoração de natal?

Se você queria um motivo para começar a decoração de Natal mais cedo, aqui está: estudos comprovam que esta é realmente a época mais feliz do ano. Segundo o psicanalista Steve McKeown, os enfeites de Natal nos remetem à lembranças da infância, o que, consequentemente, torna os nossos dias mais alegres. "Os enfeites natalinos são como uma âncora que nos levam àquelas emoções mágicas de entusiasmo da infância. Então, quanto mais cedo começarmos as decorações, mais durará este sentimento!", explicou o especialista ao site inglês Unilad.

--- Dica Gazeta da Torre ---

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E, se você ainda não se convenceu, saiba que o clima natalino pode te ajudar a fazer amigos! Segundo pesquisa realizada pelo Journal of Environmental Psychology, os pisca-piscas nas janelas, guirlandas e decoração nas casas, mostram aos vizinhos que você é acessível e amigável. Então, se você é novo no bairro ou se ainda não teve a oportunidade de se apresentar para o morador da casa ao lado, talvez esse seja o momento de pendurar a seu enfeite na porta.

E mesmo para quem perdeu um ente querido recentemente, o Natal ainda é considerado uma data feliz. Isto porque, segundo a psicoterapeuta Amy Morin, o feriado pode ajudar a lembrar momentos de alegria com a pessoa. "Decorar cedo pode ajudar a se sentir mais conectado com este indivíduo", finaliza.

Portanto, nada de desculpas para montar sua árvore de Natal este ano – e faça o quanto antes! Escolha uma das teorias acima e coloque em prática.

Por Marina Paschoal, Casa & Jardim

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

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sábado, 11 de novembro de 2023

Por que Coca-Cola e Nestlé foram acusadas de mentir sobre reciclagem de garrafas de plástico

 Gazeta da Torre

Um organismo de defesa dos consumidores e dois grupos ambientalistas enviaram uma queixa legal à Comissão Europeia acusando as empresas de fazer greenwashing - fazer campanhas e marketing promovendo a imagem de empresa com preocupações ecológicas mas sem de fato agir como tal.

O greenwashing é considerado uma prática enganosa dirigida a consumidores que querem ajudar o planeta escolhendo produtos que não danificam o meio ambiente.

Os órgãos argumentam que as garrafas dessas empresas nunca são produzidas inteiramente de materiais reciclados.

Em nota, a Coca-Cola disse poder fundamentar as informações contidas em suas embalagens, enquanto a Danone disse estar continuando a investir em sua infraestrutura de reciclagem.

A queixa à Comissão Europeia se concentra nas alegações das empresas de que as garrafas de água de plástico descartáveis são 100% recicladas ou 100% recicláveis.

A Organização Europeia do Consumidor, apoiada pelos grupos ambientalistas Client Earth e ECOS, disse que essas informações são enganosas, especialmente quando acompanhadas por imagens ou símbolos ecológicos.

As entidades insistem que as garrafas nunca são feitas inteiramente de materiais reciclados e que a capacidade de reciclá-las depende de uma série de fatores, incluindo a infraestrutura disponível no local onde são comercializadas.

“A evidência é clara: as garrafas plásticas de água simplesmente não são recicladas repetidamente para se tornarem novas garrafas na Europa”, disse Rosa Pritchard, advogada da ClientEarth.

"Uma taxa de reciclagem de '100%' para garrafas não é tecnicamente possível e, só porque as garrafas são feitas com plástico reciclado, não significa que não prejudiquem as pessoas e o planeta."

“É importante que as empresas não representem a reciclagem como uma solução mágica para a crise do plástico. Em vez disso, precisam concentrar esforços na redução do plástico na fonte.” [...]

Fonte: BBC

--- divulgação ---

O Instituto Pro Anima está precisando de ajuda com urgência

 Gazeta da Torre

O Instituto Pro Anima é uma organizada independente que atua, desde 2014, na proteção e recuperação desses animais em situação de rua, vítimas de maus tratos e abandono. Com apoio de doações, além de salvar vidas e promover adoções responsáveis, monitorada, esse trabalho da proteção dos animais também contribuir para saúde pública dos municípios.

Tudo começou quando a presidente da instituição, Rose Cavalcanti, ofereceu lar temporário para uma cadela e seus seis bebês, que estavam abandonados no pátio do Detran.

Hoje a sede que fica em Aldeia, abriga mais de 200 cães. Infelizmente o local é alugado e precisamos entregar o espaço em Dezembro de 2023. Nossa urgência, além da ração (consumidas em média de 50kg por dia), medicamentos, produtos de limpeza e higiene dos cães, que são as necessidades básicas, o Instituto Pro Anima precisa de material de construção para finalizar a obra no local próprio em São Loureço da mata.

@institutoproanima

AJUDA: PIX 04484775484

Contato: 81 9861-1195  (WhatsApp)

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

O Brasil em bolhas: indícios para compreender o País na era das redes

 Gazeta da Torre

Professora da USP, Janice Theodoro

Coisas esquisitas andam acontecendo. Dizem, à boca pequena, ser a culpada a Inteligência Artificial (IA). A IA pôs fim à antiga lógica dos partidos políticos e fidelizou as pessoas em bolhas. O tempo dos sindicatos ficou para trás. O resultado da entrada na vida política deste novo parceiro, a tecnologia, foi um desastre político com consequências para a floresta, para os índios e para a vida humana. A covid, os ianomamis e o Inpe provam.

Quem é e o que pode fazer a IA?

Decidi desafiá-la. Sem fuzil, entrei no combate munida de percepções sobre os grupos humanos. Na mistura, acrescentei delicadezas teóricas, teológicas e banais.

Descrever é o primeiro passo para conhecer o Outro. Comparar, o segundo. Compreender o sentido das coisas e propor questões, o terceiro passo.

Bula para leitura de um Brasil em bolhas

Por hábito dividi o Brasil em três Grandes Bolhas. O motivo dessa divisão é simples: o apreço pelo número três. Chamei cada parte de Grande Bolha. Elas se subdividem em outras milhares de sub-bolhas, consoantes e dissonantes entre si, na aparência. Na raiz, as microbolhas têm parentesco com a Grande Bolha.

Para economizar palavras e não cansar o leitor, descrevi apenas as Grandes Bolhas. Lembrem-se: na origem, a IA usa as estatísticas e os sentimentos estetizados para sistematizar dados, manipular emocionalmente as pessoas e ganhar dinheiro. Um dia, espero, servirá para o bem-estar do cidadão.

Hipótese:

As Grandes Bolhas se organizam em torno da renda, objetos de consumo, modelos de escolaridade, níveis de arrogância, padrões estéticos, graus de vaidade, formas de conceber o trabalho, a paz, tipos de comida, maneira de apresentá-las, graus de apreço à liberdade, índice de alegria, apego à ciência, respeito ao contrato social, ao livre-arbítrio, à natureza da ira, do amor ou do ódio, apreço por fantasmas, por cachorros, entre outras tantas variáveis. As Grandes Bolhas se subdividem em microbolhas, nas quais outros ingredientes são acrescidos, como gênero, cor, afinidades culturais (músicas, filmes, times de futebol, entre outras) e tipos de contratos de trabalho (legítimos e ilegítimos, típicos e atípicos). Não há espaço para incluir todas as variáveis. Só a IA consegue.

As Grandes Bolhas, mais que os partidos, oferecem indícios para compreender o Brasil. O objetivo deste “jogo” é descrever e buscar o sentido das variáveis agrupadas e manipuladas pela IA.

Apesar de fragmentárias, existe sentido dentro das bolhas. Aqui vai um rabisco do desenho.

A Grande Bolha 1

Características: os recém-nascidos da Grande Bolha 1, antes de falar, apreciam com o olhar, na prateleira do quarto, o livro O Pequeno Príncipe, de Saint Exupéry. Vestem indiferentemente a cor azul, a cor-de-rosa, o branco, o amarelo, o verde. Os adultos apreciam o linho, com algumas referências indígenas. Toques nacionais. As opções de gênero e religiosa são de escolha do rebento, por meio do exercício da razão, na idade apropriada. Defendem o transporte público, mas usam carro, sem que o carro seja objeto de desejo. Nos finais de semana, exercitam as pernas, usam bicicletas. Os livros têm destaque como objeto de consumo. São adquiridos e lidos. Mantêm a capacidade crítica em relação às redes sociais e, ao mesmo tempo, são conscientes dos avanços e importância da tecnologia. Olham o Brasil de cima, do avião. Evitam roteiros turísticos e a multidão. Nas conversas, demonstram ser cidadãos do mundo. Na decoração, apreciam um estilo clean. São discretos.

Acompanham a política nacional e, principalmente, a internacional. Sem ilusões e com distanciamento, compreendem os limites da soberania dos Estados Nacionais e a precariedade, inevitável, dos organismos internacionais.

Tem apego à razão, à liberdade e à democracia. Inserem na vida cotidiana o hábito da prudência, convivem com o contraditório, reconhecem as diferenças entre o público e o privado e consideram animadoras as conjugações entre eles.

Com relação à concepção de tempo, passado e presente têm importância. Quanto ao futuro, prevalece a consciência bruta de que seremos pó. Sem ilusões.

Mantém apreço pelo humanismo, pela literatura russa, pelo teatro inglês e pelo livro recém-lançado na pauta dos debates atuais. Apreciam e frequentam concertos. Fazem uso apropriado da língua portuguesa e com ela exercem a superioridade na cadência e no tom. Mesmo descontraídos, evitam as palavras grosseiras. Controlam os gestos e a distância entre as pessoas. Fazem uso político do silêncio. Negociações, só na sobremesa ou até mesmo no café. Elegância acima de tudo.

A Grande Bolha 1 é mais apegada à cultura e à ciência do que ao dinheiro, embora reconheçam as utilidades do vil metal. Cultura é objeto de silenciosa e arrogante discriminação social, semelhante à nobreza de sangue (diferentemente do dinheiro, a cultura é quase intransponível quando se pretende igualar as pessoas). Igualdade é estilo, não realidade; bondade, romantismo açucarado, liberdade para quem pode. São atentos à questão ambiental, às desigualdades sociais e respeitam a vida humana, animal e vegetal. O Estado é defendido de forma parcimoniosa. A marca do grupo não é dada pela renda, mas por um genuíno apreço inconteste pela democracia nos quadros das tradições do Ocidente: separação de poderes.

Ateísmo e a razão estão no cerne do “Eu” da Grande Bolha 1.

Existem defeitos nesta bolha, como em todas as outras. Uma arrogância escondida no despojamento estético, maior capacidade em competir do que em fazer junto, colaborar. A grife desta bolha é uma ironia finíssima. O prazer incontido em vencer o Outro na discussão, seja mãe, amigo ou colega (de preferência). A arrogância da razão, do conhecimento, envolve provas estatísticas, defesa da ciência e uso primoroso da retórica argumentativa. Desprezam a vastidão da tragédia contida numa modesta margem de erro. Vencer na discussão é o melhor dos manjares.

Entre os privilégios normalizados pela Bolha 1 destacam-se os hospitais, os médicos e os remédios, os pequenos prazeres com custo inalcançável para a maioria da população. Os planos de saúde, em suas subdivisões, nos permitem conhecer as microbolhas da Grande Bolha 1. Desigualdades expressas em um imenso catálogo de instituições, médicos, fisioterapeutas credenciados ou não credenciados. Quem está fora desta bolha, sofre na fila do SUS. Nem sempre o abandono da razão por parte da humanidade, em favor do obscurantismo, se dá por burrice. Às vezes, a raiva começa pelos planos de saúde ou nas filas, do SUS, do INSS, pelo preço de uma bolsa, de um vinho, de um restaurante inacessível…

Embora arrogantes, os habitantes da Bolha 1 sustentam acesa a chama do livre-arbítrio. Assumem responsabilidade pelos atos praticados. Mantêm na cabeceira da cama o livro de Hannah Arendt, em língua estrangeira. Apesar das dificuldades, da vaidade, às vezes reconhecem as burrices praticadas ao longo da vida, tão próprias do ser humano. Sabem separar coisa de gente. Teoricamente atribuem maior valor às gentes, defendendo políticas sociais, de vacinação, alimentação e habitação.

Nesta bolha, merecem destaque os físicos. São os que veem melhor e se vestem pior. Podem recusar o banho em nome da reflexão. Representam um ponto fora da curva em matéria de gosto. Mas ninguém da Bolha é capaz de propor um princípio como eles, de nome Incerteza.

Quanta beleza na incerteza. Eles pontificam e abrem caminho para a dúvida.

O obscurantismo atual foi plantado com a razão. Um desejo colossal de prescrever realismos para todos e em todos os momentos (mesmo os inúteis). A frase que mais repetem é: “Sendo realista…”.

Não se deve desumanizar os obscurantistas organizados. Se a planta brotou, tinha terra embaixo, a mesma terra onde brotou a razão.

Afinal, citando Francisco Goya, “O sono da razão (também) produz monstros”.

A Grande Bolha 2

Características: amam a fartura, seja de comida, carros ou objetos. Gostam de churrasco. São gulosos. Procuram presentear os filhos com o que faltou, e desejaram muito. Prevalece na memória dos pais, avós e bisavós, tataravós experiências de falta. Falta de dinheiro, vida dura e peregrinações pelos estados brasileiros. Identificam com precisão as virtudes do dinheiro, na vida cotidiana, na política e na aposentadoria.

Com relação ao tempo, os habitantes da Bolha 2 percebem o tempo na longa e curta duração. Presente prazeroso para si. Futuro certo (financeiramente) para os filhos. Têm dificuldade com a língua inglesa e procuram oferecer aos filhos instrumentos para superar o desafio. Respeitam a estabilidade dos empregos públicos e valorizam o trabalho dos professores primários, secundários e universitários, responsáveis por abrir as portas para o futuro dos filhos. Convivem com a preguiça, sem irritação.

São religiosos à moda brasileira. Respeitam diferentes cultos. Gostam das festas, principalmente de São João. Devotos, acendem velas para diversos santos. Não esquecem de agradecer as graças obtidas por pedidos difusos. Conversadores, riem de si mesmos, brincam de desestabilizar as autoridades por meio do riso lúdico. Manipulam com humor bem proporcionado as relações, evitando a animosidade ou a inveja. A política está no sangue, e o palavrão, entre os homens, também.

Incorporam mudanças com facilidade. A combinação entre computador, terra e produção é desafio vencido sem receio. Gente calada, autoritária na raiz, sabe da importância em ter amigos no poder, garantia para o futuro. Desconfiados, mantêm reservas financeiras. Um pouco no colchão, um pouco no banco. Reconhecem os perigos da vida e sabem que os erros fazem parte dela.

Perdoam.

Corajosos, enfrentam, no dia a dia, metamorfoses trocando o cotidiano do campo pelo da cidade e o da cidade pelo campo. Gostam de terra, do cheiro de boi e de plantação. A Bíblia é para o padre ler na missa. São cismados. Só de olhar, confiam ou desconfiam de uma determinada pessoa. A sensibilidade fala alto. Deixam rastros de riqueza. Saboreiam o luxo e a luxuria. Afinal, tanto trabalho merece prêmio, admiração. São pé na estrada. Gostam de carro com vocação rural, mesmo na cidade. Comparecem a lançamentos de livros acompanhados de suas senhoras, mas não têm tempo para a leitura. Transitam com habilidade do negócio para a política e da política para o negócio. Os homens, na maioria, são mulher-dependentes.

O Estado é incorporado no imaginário de forma mais positiva do que negativa, embora prefiram evitar os impostos, do ponto de vista pessoal. Negociam. Aceitam o contraditório como uma estética necessária à vida política. Mas são cabeça-dura, difíceis de mudar as ideias. Quando o tema é ajudar em casa, discutir questões de gênero, avançar na pauta de costumes, tendem para o machismo. Paternalismo, hierarquia e autoritarismo preponderam em detrimento da liberdade. Liberdade “pra” que e “pra” quem? A liberalização dos costumes é aceita para o filho e para a mulher do Outro. Lealdade ocupa a maior parte do espaço mental. Liberdade fica no fim da fila.

Acostumados ao tempo lento, resquícios coloniais, sabem esperar, ouvir, fazer política, tanto no pequeno município como na capital do Brasil. A lealdade com os amigos é marca. Dão valor à palavra, aos compromissos assumidos, ao fio do bigode. Convivem e participam de governos democráticos, autoritários e, se necessário, de ditaduras. Mudam de posição, sem dor.

Na Grande Bolha 2, prevalecem os afetos e vestígios de religiosidade católica. A razão vem depois. Sobrevivem marcas de origem, da filosofia moral baseada em vícios e virtudes, à moda brasileira, implantada desde o período colonial pelos missionários. Os limites entre vício e virtude são confusos, circunstanciados, assim como entre o público e o privado. Tudo muda de lugar dependendo da personagem, do poder, do dinheiro e do momento histórico.

Sabem separar o que é coisa e o que é gente. Entendem a fome e reconhecem a vida como um valor maior. Aprovam auxílios como Bolsa Família, Saúde para Todos e um Estado focado em políticas sociais com cores municipalistas.

O Brasil profundo reteve pedaços de uma percepção de mundo de raiz humanista. Santo Tomás de Aquino ilumina uma razão circunstanciada. Há justificativa para quase tudo, garantindo para muita gente um bom lugar na eternidade. A culpa é repleta de atenuantes. A Graça permite a todos, rico ou pobres, ser objeto dela, independentemente de sucesso financeiro ou qualquer outro. A educação é valorizada mais nos papos do que nas verbas. Na Bolha 2, o voto é pessoal, de pessoa para pessoa. São mutantes na política. A acomodação, não o conflito, é meta. Estimulados, podem favorecer a temperança. A fraternidade existe, com variações conjunturais.

A Grande Bolha 3

Características: defendem a família, o trabalho e as armas. Sentem arrepios diante de desocupados, marginais e encostados. Consideram o Estado como inimigo número um. Os participantes da Bolha 3 defendem a narrativa do self made man. Estes ideais têm história. Nas imigrações e nas guerras, Primeira e Segunda.

Defendem a iniciativa privada como sentimento ancestral. Nas origens, carregam vivências de abandono e perseguição linguística e de apropriação pelo Estado de suas propriedades (Segunda Guerra). Permanece no inconsciente, por gerações, uma sensação de desamparo, de falta de liderança, de uma outra cultura, menos preta, menos índia e mais europeia, com corais e orquestras.

São arredios às relações humanas, fora da família. Sentem um profundo bem-estar ao imaginar total independência: “Fiz tudo sozinho. Não devo nada a ninguém. Construí meu patrimônio sozinho, eduquei meus filhos em escolas particulares, com muito esforço, criei o meu negócio enfrentando o fisco e as leis trabalhistas. O Estado só serve para atrapalhar”.

Apreciam a substituição da palavra empresário pela palavra empreendedor. O sonho é ser patrão de si mesmo. Sentem-se protegidos por uma autoridade, um líder político-religioso. Desconfiam de toda a humanidade. Tem dificuldade em tecer vínculos fora da família. Gostam de viver na sua própria bolha.

Em termos de valor, as coisas precedem às gentes.

Expressam coragem para investir/arriscar a poupança. São criativos nos negócios e na incorporação de novas tecnologias. Os habitantes da Bolha 3 caminham sem boia para a velhice, criticando a previdência social, pública, em favor dos planos de previdência privados. Evitam pensar na doença, no desemprego e nas dificuldades das famílias para cuidar dos idosos. Supõem generosidade obrigatória dos filhos e netos. São incansáveis na manipulação da culpa.

Exímios trapezistas, trabalham sem rede de proteção. Depreciam o papel do Estado como árbitro das relações de trabalho, seu maior inimigo. Preferem os autônomos: cada um por si e Deus por todos. Em matéria de religião, são marcados pela Reforma Protestante. Existe materialização da Graça por meio do trabalho, da disciplina e do sucesso financeiro. A acumulação surge com chancela de Deus. Gostam de carros possantes e caros. Apreciam livros encadernados em bibliotecas e a distribuição de Bíblias na rede escolar. Irritam-se com o ócio, com a preguiça e com os programas sociais.

Os habitantes da Bolha 3 valorizam as fronteiras. Evitam contatos, misturas, trocas químicas ou de ideias. Ao abrir a janela, ao ver o vizinho, percebem o perigo, da rua e do transeunte desconhecido. A medida certa, para os contatos humanos fora da família, é: bom dia, boa tarde ou boa noite. Fórmula certa para evitar problemas. Os “amigos” são vistos com aspas. Concebem a humanidade toda como um grupo formado por interesseiros. Não se pode relaxar na Bolha 3. Não se deve esquecer o fato de o colega de trabalho ser um competidor nato. Do ponto de vista arquitetônico, adoram muros, portas e portões consecutivos. Enquanto um fecha, o outro não abre. Pensam: alguns portões deveriam abrir apenas para uns e não para todos.

O habitante da Bolha 3 tem grandes chances de vencer na vida.

Considerando sempre estar cercado de inimigos, a arma é necessária para a defesa. No momento de descanso, é indispensável ser sócio de um clube de tiro para descarregar a tensão. A ansiedade é inevitável, assim como os ansiolíticos.

Com relação ao riso, ao uso de palavras grosseiras e metáforas do baixo corporal, a Bolha 3 é preparada para, por meio da tecnologia, atuar nas redes, avivando a animosidade, a ira e a inveja.

Receita certa para agregar as dores contidas no viver em uma sociedade profundamente desigual. Desmontam a arrogância, desafiam a ciência e brincam com a razão, colorindo a política com motosserras, cachorros e fantasmas. Aprimoram a fórmula do riso lúdico para desestabilizar o inimigo, o estrangeiro, o Outro. Aproveitam a velha fórmula do obsceno, da pornografia e do maldizer para inferiorizar o “inimigo”, desmontar lideranças inimigas. O riso de escárnio aglutina seguidores facilitado a comunicação das redes.

São os melhores comunicadores, na cenografia, na linguagem e na produção de fake news.

Bolha ou partido?

Qual o problema de se organizar em bolhas, e não em partidos políticos?

Partido é uma parte de um todo. Cada parte tem consciência da existência de outras partes. Cada fração tem um líder treinado para conversar com as outras partes. O diálogo pode ser fácil ou difícil. Mas há com quem falar, negociar. Já as bolhas vivem da tensão interna. São feitas de fragmentos.

Bolhas não possuem líder, mas sim comunicadores. Eles produzem e reproduzem uma determinada identidade em um círculo fechado. Diferentes identidades se separam umas das outras. Para evitar interferências entre si, elas compram mísseis, se armam. As formas de relação e comunicação utilizadas entre as bolhas são as milícias, as guerras ou privação, na bolha dos inimigos, do essencial para a sobrevivência humana.

No vazio da linguagem política, envelhecida, comunicadores proliferam reafirmando identidades (gatos, cachorros, música, beleza, viagens, filósofos). Sem agentes para negociar, prevalece o conflito, onde o único negociador, o mais poderoso, é o potencial bélico.

Falar com quem?

Uma bolha não escuta, nem vê a outra.

Bolhas explodem.

Por Janice Theodoro da Silva, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

Jornal da USP

--- divulgação ---

terça-feira, 7 de novembro de 2023

PONTO PARA A NATUREZA - Árvore considerada extinta é redescoberta após 185 anos em Pernambuco

 Gazeta da Torre

O azevinho pernambucano foi encontrado
em Igarassu. Foto:Fred Jordão

Quatro exemplares do azevinho pernambucano foram descobertos por cientistas em uma área de plantação de cana-de-açúcar no estado de Pernambuco. O Ilex sapiiformis, como é denominado cientificamente, foi documentado pela primeira vez pelo botânico escocês George Gardner, em 1838, e reencontrado em março deste ano em Igarassu, na região de Recife.

Era uma das espécies mais buscadas por organizações de conservação ambiental, conta a engenheira agrônoma e especialista em botânica Juliana Alencar, que, ao lado do professor Milton Groppo Júnior, botânico da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, fez parte da equipe liderada pelo pesquisador Gustavo Martinelli, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

“O que nós tínhamos, até então, era que essa espécie estava considerada extinta ou em vias de extinção”, afirma Juliana, antecipando que as expedições realizadas em Pernambuco integram um projeto idealizado pela organização conservacionista Re:wild, reconhecida pela participação do ator americano Leonardo DiCaprio. A iniciativa é global, busca por espécies não vistas há tempos pelos cientistas na natureza e atualmente lista 25 espécies “perdidas” mais procuradas.

Recrutada para integrar a pesquisa, Juliana Alencar conta que Martinelli a apresentou ao diário de viagem de Gardner, que desembarcou no Brasil em 1836.

“Claro que eu respondi a ele que eu estava dentro. Porque ele tinha realmente me encantado com aquelas possibilidades de sair para campo; é uma coisa que os botânicos amam, estar em campo procurando as plantas.”

A equipe, então, utilizou os relatos do diário de Gardner “como uma caça ao tesouro, um imenso quebra-cabeça em busca da espécie”, continua a pesquisadora, informando que a descrição feita no século 19 foi essencial para a redescoberta da planta. A busca histórica esbarrava, eventualmente, em nomes de lugares diferentes dos atuais, dificultando a localização. “Conversamos com diversos historiadores em Recife para poder associar os nomes antigos àqueles que as pessoas conhecem atualmente ou que são verdadeiros nomes de municípios ou localidades”, complementa.

Espécie mal conhecida e sem nome popular

Os estudos chegaram à fase de aprofundamento nos acervos herbários brasileiros e mundiais para comparação e análises de características da planta com os registros digitais. Porém, os bancos digitais não continham dados cruciais de localização e imagens. “No caso do azevinho pernambucano, a espécie era tão mal conhecida que não havia nem um nome popular registrado em literatura que facilitasse as buscas”, diz o professor Groppo.

Os pesquisadores verificaram ainda uma classificação incorreta da família botânica à qual a planta pertencia. Duas coletas, armazenadas em herbários distintos, despertaram o interesse da equipe com papel fundamental nas buscas. A primeira delas data de 1962 e foi encontrada nos arquivos do Herbário do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). A outra, de 2007, pertence ao acervo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Segundo Juliana, os dois registros apresentavam semelhanças com a planta que procuravam.

O passo seguinte foi verificar as amostras do herbário mantido pelo laboratório do professor Groppo no campus da USP em Ribeirão Preto. Groppo é especialista na família botânica Aquifoliaceae, da qual o Ilex sapiiformis faz parte, e as comparações indicaram a possibilidade de ser mesmo a espécie procurada. Com as análises, concluíram que, ao contrário da amostra dos anos 1960, a coleta da UFPE era bem descritiva, citando a localização e as coordenadas do achado dos botânicos à época. Assim, a expedição foi direcionada e a equipe toda foi ao campo em busca de novos exemplares.

Preservar os vestígios de Mata Atlântica

Parceiro da pesquisa, o Jardim Botânico de Pernambuco tem missão importante na próxima fase dos estudos: a preservação e multiplicação dos exemplares encontrados. Juliana reconhece, porém, que ainda faltam dados sobre a espécie. Atualmente, a equipe vai ao local onde encontraram a planta e tenta coletar sementes das árvores. A pesquisadora analisa a dificuldade desse processo, enfatizando que ainda não há muitas informações sobre a fenologia da espécie, ou seja, o período em que elas têm flores e o período em que têm frutos.

Apesar das circunstâncias desafiadoras, a redescoberta do azevinho pernambucano assume uma relevância extraordinária e ganha ainda mais peso por ocorrer em uma região já profundamente urbanizada. “A paisagem da região conta com poucos fragmentos de mata, muitos já degradados, em uma região cuja ocupação remonta ao século 16, no começo da colonização do Brasil pelos europeus na Região Nordeste”, contextualiza Groppo.

O desfecho da expedição, destaca o professor, ressalta a necessidade de preservar os vestígios da Mata Atlântica, mesmo em áreas contíguas às zonas urbanas. Esta ação se justifica porque espécies com uma distribuição geográfica restrita, como o azevinho pernambucano, enfrentam um grau maior de vulnerabilidade e risco.

No retorno da equipe ao local, durante o mês de agosto, foi constatada a morte de uma das árvores encontradas anteriormente. “Algumas ações precisam acontecer para que essa área consiga conservar ao menos esses indivíduos e dar a eles as condições favoráveis de reprodução”, destaca. A atual preocupação da pesquisa, portanto, é manter a espécie viva, “preservá-la para que ela continue e em maior número”, conclui Juliana Alencar.

Fonte: Jornal da USP

--- divulgação ---

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Risco de compulsão alimentar é maior em quem faz dieta sem supervisão profissional

 Gazeta da Torre

Uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina (FMUSP) com estudantes de graduação e pós-graduação da Universidade buscou entender o comportamento alimentar e a presença de desejos intensos por comida e distúrbios alimentares nos adeptos de dietas sem supervisão profissional.

A partir de um questionário on-line respondido anonimamente por mais de 800 universitários, compreendendo o período anterior à pandemia e também o atual, foi possível encontrar dados alarmantes sobre a relação entre a prática não supervisionada de dietas e a maior ocorrência de comportamentos de risco para transtornos alimentares. O estudo foi realizado pelos pesquisadores Jônatas de Oliveira, Leandro Figueiredo e Táki Athanássios Cordás.

Jônatas de Oliveira, nutricionista e pesquisador colaborador do Programa de Transtornos Alimentares (Ambulim) do Instituto de Psiquiatria (IPq), explica ao Jornal da USP que 25% dos universitários responderam que haviam aderido à dieta low carb, com baixa proporção de carboidratos, nos últimos três meses e 7,5% disseram apresentar práticas compensatórias a essa alimentação, como o uso de laxantes e o vômito induzido. Nenhum deles era acompanhado por um profissional.

Além disso, mais da metade dos praticantes da dieta low carb manifestou que sentia culpa após comer carboidratos e que se preocupava com peso e forma corporal, sendo que esse grupo de pessoas demonstrou maior consumo de alimentos como chocolate e menor ingestão de arroz e pão francês, em comparação com o grupo que não aderia à dieta.

O pesquisador conta que foram encontrados grandes níveis de desejo intenso por comida nos adeptos da low carb e também do chamado jejum intermitente. “Esse desejo pode ser definido como um evento cognitivo no qual existe um alvo apetitoso, recrutando uma série de componentes neurais”, diz Oliveira.

Porém, como se trata de um contexto de restrição do consumo de certos alimentos, surgem pensamentos de autocontrole no indivíduo, gerando a chamada restrição cognitiva. E essa restrição mobiliza processos atencionais voltados a um alimento que não pode ser ingerido.

“Conseguimos mostrar nesta pesquisa que o conflito entre o desejo por comida e a restrição cognitiva estava amparando a ocorrência de compulsões alimentares, pelo simples fato de as pessoas estarem fazendo a dieta low carb sem supervisão de um profissional”, comenta o pesquisador.

Segundo ele, pesquisas anteriores feitas no Brasil já apontavam para a alta prevalência de transtornos alimentares nos universitários, o que foi confirmado pelo novo estudo.

A pandemia de covid-19 se tornou um fator agravante desse cenário, favorecendo a ocorrência dos transtornos. Em um desdobramento mais recente da pesquisa, os indivíduos que estavam em isolamento social foram avaliados e aqueles que praticavam dieta durante a quarentena mostraram alta prevalência de risco para transtornos alimentares e desejos intensos por comida.

“Em sua maioria, eram pessoas que tinham planos de emagrecimento; veio a pandemia, e elas continuaram nessa prática em um contexto de restrição pela própria crise sanitária, o que colaborou para a ocorrência de comportamentos transtornados”, explica Oliveira.

Possibilidades de ação

Como o pesquisador ressalta, embora o estudo tenha sido baseado em um questionário com autopreenchimento pelos participantes, o que não permite um diagnóstico definitivo, para ele, é necessário repensar a abordagem institucional frente a essa questão.

Jônatas de Oliveira aponta algumas possibilidades de ação da Universidade para amenizar a situação: “Formar grupos de atendimento para esses pacientes, priorizar a saúde dos universitários e reconhecer que tais práticas transtornadas e o sofrimento decorrente podem piorar a atuação acadêmica e profissional deles, além de trazer essa temática para o debate cotidiano.”

Os dados sobre a presença de sofrimento psíquico e depressão na comunidade universitária são mais conhecidos, mas há urgência em dar atenção aos casos de comportamento alimentar inadequado dos estudantes, pois muitos desconhecem que necessitam de ajuda, segundo o especialista.

“A prescrição profissional da dieta low carb, por sua vez, deve ser avaliada com cautela pelos nutricionistas, de acordo com as condições do paciente”, diz Oliveira. “A prática popular e não supervisionada existe e com a pesquisa foi possível perceber o quanto ela é prejudicial para a saúde mental e física dos estudantes.”

Fonte: ASBRAN – Associação Brasileira de Nutrição