Gazeta da Torre
A obra de Maite Alberdi sobre um lar de idosos é indicada
na categoria de melhor documentário de longa-metragem
A Academia de Hollywood decidiu no dia 15 de março que
Agente duplo (El agente topo, no original), um documentário chileno rodado como
um filme de detetives sobre a solidão em um lar de idosos, será um dos cinco
indicados para melhor documentário de longa-metragem. Com o anúncio, Agente
duplo — que no Brasil o filme pode ser visto na Globoplay — será o único
longa-metragem latino-americano presente na premiação marcada para o dia 25 de
abril.
“É uma honra estar
entre os pré-selecionados, com uma gama tão incrível de documentários, e
estamos realmente agradecidos à Academia de Hollywood por nos escolher”, disse
a diretora Maite Alberdi ao El PAÍS, após saber da indicação. “Para uma equipe
latino-americana dirigida por mulheres, esse tipo de sonho parece impossível.”.
Agente duplo era um dos três filmes latino-americanos que
a Academia tinha incluído entre os pré-selecionados para os prêmios na
categoria de Melhor Filme Internacional, ao lado do mexicano Ya no estoy aquí -
sobre a cultura da cúmbia colombiana entre os jovens de Monterrey — e o
guatemalteco A maldição da mulher que chora (La llorona, no original) — uma
readaptação da lenda do terror à história violenta do país. No final, nenhum
dos três filmes latino-americanos ficou na categoria de Melhor Filme Internacional
(é o segundo ano consecutivo em que nenhum representante da região é indicado
para essa categoria). Agente duplo só vai concorrer na categoria de melhor
documentário, ao lado de outros favoritos de 2020, como o romeno Colectiv e
Professor polvo (My octopus Teacher), sobre a amizade entre um polvo e um ser
humano.
“Meu filme de detetives é na verdade uma desculpa para
ver um assunto que, sem essa desculpa, talvez ninguém visse”, disse a EL PAÍS
na semana passada Maite Alberdi, diretora de Agente duplo. Para fazer o filme,
Alberdi seguiu Sergio Chamy, um viúvo de 83 anos que é contratado por um
detetive particular para espionar uma casa de repouso, com a suspeita de que os
funcionários maltratavam os internos. Embora seja um documentário, Agente duplo
é rodado como um filme noir e com grandes doses de humor, o que o torna
excepcional por retratar um drama que normalmente não chama muita atenção: a
solidão e o abandono em que as pessoas vivem nos lares de idosos.
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Cena do documentário "Agente Duplo" |
“Esta indicação significa para cada idoso que o mundo
ainda os vê e os valoriza, e nos ajuda a lembrar que não só é importante
aumentar a expectativa de vida, mas também o desejo de viver”, disse Alberdi a
El PAÍS na manhã desta segunda-feira. “Este ano, depois de tantas perdas, demos
uma olhada em nossos idosos novamente e entendemos que estavam vivendo em uma
pandemia antes da covid-19 — ‘a pandemia da solidão’ —, e estamos muito
orgulhosos de ver como Agente duplo ajudou as famílias a se reconectarem com
seus idosos.”
Alberdi é uma diretora reconhecida no Chile por se
concentrar em grupos que normalmente não são o centro das atenções no cinema.
Entre seus outros filmes estão Los niños, sobre crianças com síndrome de Down,
ou Hora do Chá (La once, no original), sobre um grupo de mulheres idosas que
são amigas há décadas. Mas nenhum deles tinha alcançado o reconhecimento que
Agente Duplo obteve. Antes de ser indicado ao Oscar, Agente Duplo ganhou o
prêmio do Público no Festival de Cinema de San Sebastián e, mais recentemente,
foi finalista no Prêmio Goya.
“Este é um marco para um documentário chileno”, disse
Alberdi a El PAÍS antes de tomar conhecimento da decisão da academia. Agente
duplo é o primeiro filme chileno indicado para melhor documentário de
longa-metragem e um dos poucos do país selecionado pela Academia nos últimos
anos. O mais recente, Uma mulher fantástica (2017) sobre a violência contra uma
mulher transgênero, venceu na categoria de melhor filme em língua estrangeira.
“É um filme independente que não teve um grande estúdio
por trás, que não teve uma plataforma de streaming fazendo campanha”, explicou
a diretora chilena. “Somos um grupo de cinco produtores em diferentes partes do
mundo trabalhando. Acho que essa foi a graça, que é um filme com cinco países
em coprodução, que quando tivemos que editar eram cinco vozes diferentes, de
nacionalidades diferentes, contribuindo para o filme do seu ponto de vista para
que funcionasse em seu país. E acho que isso foi decisivo para fazer uma
história universal e mundial que funcionasse em todos os territórios.”
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Fonte:El País
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