segunda-feira, 29 de abril de 2024

Especialista avalia como os problemas estruturais do País comprometem as capacidades de criação, inovação e geração de riqueza

 Gazeta da Torre

Eduardo Giannetti em palestra

O mundo está encerrando o atual ciclo de hiperglobalização. Essa é uma das tendências apontadas pelo economista e filósofo Eduardo Giannetti. Além disso, ele destaca outros dois movimentos globais, cujos atuais ciclos de fechamento afetam direta ou indiretamente o Brasil: a era de inflação e juros baixos e o milagre chinês.

Giannetti, durante palestra no evento de comemoração dos dez anos do Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, abordou que, desde meados dos anos 1980, o mundo vive o processo de globalização. Em algumas décadas, centenas de milhões de trabalhadores asiáticos foram integrados ao mercado global, gerando implicações econômicas e políticas. Setores industriais inteiros deslocaram as linhas de produção para onde o trabalho seja mais barato e a produtividade, maior. “No entanto, o que se revelou com a pandemia, as guerras e o aumento da tensão geopolítica é que essa hiperglobalização tem um ‘calcanhar de Aquiles’: restringe o número de fornecedores e aumenta a vulnerabilidade dos negócios a poucos fornecedores”, ressaltou Giannetti.

De acordo com os dados da consultoria McKinsey, para 180 produtos vitais da economia mundial, existem menos de três fornecedores no mundo. “Ao analisarmos ingredientes farmacêuticos ativos, observaremos que 80% da produção estão concentrados em dois países: China e Índia”, exemplificou. Toda essa vulnerabilidade é revista por empresas e governos com um movimento de reorientação dos grandes investimentos em busca de mais segurança e diversificação. “Essa concentração de investimentos nas áreas econômicas que oferecem menor custo de produção acabou, e esta pode ser bom para o País, que esteve fora desse processo de hiperglobalização, com exceção do agronegócio. Podemos ter uma participação bem maior se soubermos aproveitar o novo momento de reorientação de investimentos e a presença nas cadeias internacionais de produção”, afirmou.

Perspectivas da macroeconomia

O segundo grande ciclo que termina é a anomalia, em termos de macroeconomia internacional, de juros e inflação extremamente baixos. Os números mais recentes da inflação norte-americana apontam que a expectativa de que os juros poderiam começar a cair de forma mais intensa, neste ano, não vai se concretizar. Apenas 20% dos analistas acham que os juros vão recuar a partir de junho. “Devemos voltar para o juro real em territórios positivos, o que não é boa notícia para nenhum mercado emergente, inclusive o Brasil, que está em um ciclo de redução de juros”, comentou. Esse desequilíbrio, avaliou Giannetti, também tem relação com a hiperglobalização, que reduziu os custos de produção e barateou os produtos no comércio internacional.

O milagre chinês, frente ao crescimento de dois dígitos, é, segundo o imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), o terceiro ciclo perto do fim. “Hoje, fala-se em alta de 5% — e mesmo esse patamar suscita dúvidas. A população que estava nas áreas rurais já foi incorporada, e o crescimento passa a acontecer mais por meio de ganhos de produtividade, que não são tão fáceis”, explicou. O declínio da China abre oportunidades para outros países, como o nosso. “O fim da era de juros e inflação baixas não é uma boa notícia, mas não é um desastre; já o declínio da China libera para outros países emergentes possibilidades de atração de capitais”, enfatizou.

Desigualdade limitante

Ao avaliar como os problemas estruturais do País comprometem as capacidades de criação, inovação e geração de riqueza, Giannetti ressaltou que é uma ilusão pensar que a desigualdade será resolvida com políticas de distribuição e transferência de renda, capazes somente de atenuar situações emergenciais. O futuro do Brasil, opinou, não será decidido em uma reunião do Copom [o Comitê de Política Monetária do Banco Central, que decide a taxa básica de juros], nas profundezas do pré-sal, na Bolsa de Valores ou em gabinetes de ministérios, mas nas milhares de salas de aula espalhadas pelo território nacional. “Os talentos econômicos, culturais, artísticos e tecnológicos, por uma falta de condição elementar na partida, se veem privados do seu potencial e da sua realização plena.”

Mais produtividade 

Diante do envelhecimento da população, outro desafio será o de aumentar a produtividade. O Brasil está vivendo o fim do bônus demográfico, com mudanças na estrutura etária. De 12% da população acima de 60 anos, em 2015, o País terá 30%, em 2050. “A pirâmide etária virou um barril, e em 2050 vai virar um cogumelo. Se não melhorarmos a produtividade do trabalho dos brasileiros, como vamos sustentar o topo desse cogumelo?”, questionou.

Na opinião do economista, é a produtividade — e não a Reforma da Previdência — que precisa estar em pauta. A solução seria aumentar o resultado econômico gerado pelo trabalho de cada brasileiro, o que precisaria ser feito investindo em três frentes: por meio do capital físico, do capital humano e das instituições, investindo nos incentivos adequados e direcionando os fatores produtivos do País para onde sejam mais relevantes. “Nos últimos 70 anos, apenas 12 países conseguiram vencer essa batalha, e todos fizeram isso aumentando a exportabilidade do PIB [Produto Interno Bruto]”. São três os caminhos: vender manufaturados, vender serviços ou aumentar as vendas externas de commodities, argumentou.

*Eduardo Giannetti - Atualmente, é professor no Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Possui graduação em Ciências Econômicas e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Tem doutorado em Economia pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, onde chegou a lecionar. Também foi professor na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da USP.

Fonte: UM Brasil

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sábado, 27 de abril de 2024

Possibilidade de expulsão de morador de condomínio é polêmica, mas constitucional

 Gazeta da Torre

Bairro da Torre, Recife/PE

A proposta de atualização do texto do Código Civil, apresentada no início de abril, por um grupo de trabalho formado por magistrados e juristas, tem entre seus pontos mais controversos uma sugestão no campo do Direito Imobiliário: o reconhecimento da figura do condômino antissocial, com a regulamentação de sua expulsão, ainda que ele seja proprietário do imóvel.

A polêmica da ideia mora na possibilidade de expulsão do condomínio de uma pessoa que é dona do lugar em que vive. O texto apresentado pelo grupo de trabalho diz o seguinte sobre o tema: “Verificando-se que a sanção pecuniária se mostrou ineficaz, a assembleia poderá deliberar, por ⅔ dos condôminos presentes, pela exclusão do condômino antissocial, a ser efetivada mediante decisão judicial, que proíba o seu acesso à unidade autônoma e às dependências do condomínio”.

Advogados especialistas em Direito Imobiliário consultados pela revista eletrônica Consultor Jurídico afirmam que, apesar de controversa, a proposta de criação da figura do condômino antissocial não agride a Constituição Federal. Isso porque, conforme eles fazem questão de lembrar, o direito à propriedade não é absoluto, o que abre as portas para a possibilidade de expulsão do dono de uma unidade que cause problemas para os demais moradores.

“O direito à propriedade não é absoluto, tanto é assim que existem inúmeras possibilidades de redução ou perda desse direito, como a penhora do imóvel, a desapropriação e a usucapião, que são alguns dos instrumentos jurídicos que relativizam o direito à propriedade e dão voz à função social do imóvel”, afirma Aleksander Szpunar Netto, membro do Instituto Brasileiro de Direito Imobiliário (Ibradim). Ele destaca, porém, que a expulsão é uma medida extrema, que só deve ser tomada se outras ações menos radicais não apresentarem bons resultados.

O advogado ainda recorda que o artigo 1.228 do Código Civil atualmente em vigor, em seu §2º, em consonância com as garantias constitucionais, proíbe atos do proprietário que não tragam a ele “qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem”, o que, segundo Szpunar Netto, evidencia a intenção do legislador de relativizar o direito à propriedade.

Regra mais dura

O texto produzido pelo grupo de trabalho, que deverá ser votado no Senado Federal no próximo mês, altera o artigo 1.337 do CC, que em seu caput diz o seguinte: “O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres perante o condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser constrangido a pagar multa correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a reiteração, independentemente das perdas e danos que se apurem”.

A proposta dos magistrados e juristas que compõem o grupo é endurecer essa regra, introduzindo no Código a possibilidade de expulsão do condômino antissocial.

Segundo Maria Victória Santos Costa, sócia do escritório MV Costa Advogados, a alteração, caso entre em vigor, dará segurança jurídica a um procedimento que já existe na prática.

“A exclusão do condômino antissocial já ocorre atualmente, em hipóteses excepcionais. O anteprojeto inova ao prever procedimento específico, com deliberação em assembleia e decisão judicial. O direito à propriedade pode ser limitado em prol do interesse social”, disse ela. “O exercício abusivo da propriedade do condômino pode interferir na esfera de direitos de seus vizinhos, relativos à propriedade, ao sossego, à intimidade e à saúde. O procedimento previsto no anteprojeto oportuniza a manifestação do condômino em assembleia e em processo judicial, antes que a exclusão aconteça.”

Luís Rodrigo Almeida, sócio do Dib, Almeida, Laguna e Manssur Advogados, afirma que, nos casos em que não há como resolver o conflito amigavelmente, não existe outra saída que não seja resolver a questão na Justiça.

“Eu já vi casos em que o condômino brigava todos os dias com os vizinhos. Teve um caso em que ele até chegou a agredir uma criança. Enfim, condutas que realmente não há como tolerar. Existe uma incompatibilidade de convivência nesses casos, e é preciso haver um remédio judicial. Nesse caso, o acusado também terá amplo direito de defesa, e isso não interfere no direito à propriedade.”

Direito garantido

Evidentemente, não será qualquer desavença que culminará na expulsão do morador do condomínio, pois continuarão existindo meios de solução do problema fora do Poder Judiciário, que só deverá ser acionado em último caso.

Conforme diz Aleksander Szpunar Netto, embora não seja absoluto, o direito à propriedade deverá ser levado em conta se for aberta uma ação judicial contra o condômino que não se comporta bem, entre outros direitos fundamentais.

“Destaco ainda que, seja o condômino um inquilino ou o proprietário, sua defesa será pautada, em especial, no direito fundamental à moradia, e, caso seja proprietário, também no direito fundamental à propriedade e sua função social.”

Fonte: Victória Cócolo, repórter da revista Consultor Jurídico

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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Phubbing: o que é e como ele pode atrapalhar seu relacionamento

 Gazeta da Torre

Pessoas correm o risco de comprometer relacionamento ao dar atenção demais para o celular.

Junto de todas as inovações tecnológicas, surgem preocupações com os efeitos colaterais das novidades sobre a vida das pessoas. Um desses reflexos é o phubbing — junção dos termos snubbing (esnobar) e phone (telefone) do inglês —, isto é, o ato de ignorar pessoas por dar atenção demais ao celular.

Dentro da dinâmica dos relacionamentos amorosos, o uso excessivo do celular pode ser um empecilho. Segundo a psicóloga Ana Maria Coelho, o phubbing pode desencadear uma série de diferentes problemas em uma relação, desde falhas na comunicação até a diminuição da conexão emocional entre os parceiros.

“Além disso, o phubbing pode gerar sentimentos de desprezo e desvalorização por parte do parceiro, levando a conflitos e insatisfação no relacionamento”, afirmou a psicóloga em entrevista à CNN.

A especialista alerta para problemas que podem vir na esteira do phubbing, como questões de privacidade, ciúmes e inseguranças, além de cobranças por rapidez nas respostas e disponibilidade — que podem ser geradas pela alta exposição na internet.

Como fazer para evitar o phubbing?

Para amenizar os efeitos e garantir que seu parceiro está recebendo a atenção merecida, Ana Maria Coelho indicou algumas estratégias:

1 – Pratique a escuta ativa

Ouça seu companheiro com atenção e foco. Isso fortalece a comunicação e a conexão emocional.

2 – Estabeleça momentos de qualidade

Aposte em momentos especiais, como jantares sem celulares ou atividades compartilhadas que permitam um tempo de qualidade juntos.

3 – Reconheça e elogie

Saiba apontar e parabenizar seu parceiro pelas contribuições no relacionamento. Isso aumenta a probabilidade de que essas posturas se repitam.

4 – Intervale o tempo de resposta

Em vez de responder a todas as mensagens ou notificações imediatamente, aumente o tempo que você demora para responder aos estímulos do celular. Isso pode evitar a dependência excessiva do aparelho.

5 – Estabeleça limites

Imponha barreiras e não use celulares em momentos específicos, como durante as refeições ou antes de dormir.

6 – Mantenha contato físico

Estreite as interações físicas para fortalecer a intimidade e a proximidade emocional.

Celular como aliado nas relações

O phubbing não é a única consequência do uso de celulares em relacionamentos. O aparelho pode — e deve — ser utilizado para potencializar as relações.

Para Ana Maria Coelho, a velocidade da comunicação via celular pode ajudar os casais a manterem contato constante.

“Através de mensagens, fotos e vídeo, os parceiros podem compartilhar suas experiências diárias, criando uma sensação de conexão e intimidade, mesmo quando estão separados”, defendeu.

A psicóloga disse que aparelho pode ajudar os parceiros a não esquecer de coisas importantes — como datas especiais, compromissos e eventos — e potencializar as atividades compartilhadas dentro da relação.

Ela defende a ponderação e o “equilíbrio saudável no uso do celular”, para que a tecnologia não ocupe o lugar das interações físicas e do tempo de qualidade dedicada ao parceiro.

“Utilizar a tecnologia de forma consciente e respeitosa é fundamental para que o celular seja um aliado positivo nas dinâmicas dos relacionamentos.”

Fonte:CNN Brasil

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Mercado da Madalena - Bar Arrumadinho do Abílio

 

Mais uma delícia do bar Arrumadinho do Abílio!

O caldinho!

https://www.instagram.com/arrumadinhodoabilioofc/

Pratos regionais, bebidas nacionais e importadas.

*Aceita cartão

Bar Arrumadinho do Abílio - Mercado da Madalena, 

Box 165 - Praça da Alimentação.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Você tem interesse em plataformas digitais, comunicação e direitos humanos?

 Gazeta da Torre

São Paulo sedia evento global sobre INTEGRIDADE DA INFORMAÇÃO e COMBATE À DESINFORMAÇÃO

Acompanhe o evento global sobre #IntegridadeDaInformação que será realizado na próxima semana pelo Grupo de Trabalho do #G20 sobre Economia Digital.

O seminário contará com a participação da chefe de Comunicação Global da ONU, @melissarfleming, do diretor de Comunicação e Informação da UNESCO, Tawfik Jelassi, e da jornalista filipina vencedora do Prêmio Nobel da Paz.

https://www.instagram.com/melissarfleming/

 https://www.instagram.com/maria_ressa/.

O quê? Seminário "Integridade da informação: combate à desinformação, ao discurso de ódio e às ameaças à democracia"

Onde? São Paulo - SP

Quando? 30 de abril (terça) e 1º de maio (quarta)

Saiba mais: Siga 

 https://www.instagram.com/g20org/ 

e visite a página: 

 https://www.g20.org/pt-br

O que é Integridade da informação? Confira algumas mensagens-chave do Informe do secretário-geral da ONU, António Guterres:

A integridade de informação refere-se à precisão, consistência e confiabilidade da informação que precisamos para tomar decisões que afetam o dia a dia e o futuro.

O acesso à informação é um direito humano fundamental que possibilita a construção do conhecimento sobre a realidade social. É um alicerce para a liberdade, o convívio social e o desenvolvimento.

A integridade da informação vem sendo cada vez mais comprometida pela desinformação, pelas informações falsas e pelo discurso de ódio, que encontraram um terreno fértil nas plataformas digitais.

“Plataformas digitais geraram esperança às pessoas em tempos de crise e luta, amplificaram vozes que antes não eram ouvidas, e deram vida a movimentos globais. No entanto, essas mesmas plataformas também expuseram um lado mais sombrio do ecossistema digital. Elas permitiram a rápida disseminação de mentiras e do discurso de ódio, causando danos reais em escala global.” - @antonioguterres.

https://www.instagram.com/antonioguterres/

Fonte: ONU Brasil

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Mercado da Madalena - Seridó Carne e Queijo

 

SERIDÓ Carne e Queijo - Mercado da Madalena, Recife.

Produtos de qualidade vindos do sertão nordestino. Cortes de carne de primeira. Carne de sol, queijo manteiga e coalho, castanha, doces em calda e muito mais!



São mais de trinta anos de tradição!.

O espaço Seridó Carne e Queijo está localizado no 
Mercado da Madalena - Recife / PE. Contato: 
(81) 3074-8823; 
(81) 999135958. 
(*Possui serviço de entrega).

#tbt - Gazeta da Torre – junho/2008 – O antigo restaurante Dobradinha do Gordo no bairro da Torre

 Gazeta da Torre

Foi o restaurante mais tradicional da Torre. Inaugurado em 1979, pelo caruaruense Francisco Pinheiro. A história de empreendedorismo de Francisco, criador da marca, começou quando, em meados da década de 1970, ele migrou ao Recife para trabalhar no restaurante do irmão no centro da cidade. Pouco tempo depois, abrindo um fiteiro nas proximidades, onde conseguiu uma base boa de clientes, o que o levou a pensar em empreender algo maior. Foi quando inaugurou o restaurante na Rua José Bonifácio, bairro da Torre.

A dobradinha foi aprimorada por Francisco, que cozinhava, lavava, servia e atendia quando o restaurante começava a funcionar. “Criamos a receita de dobradinha com charque. Isso foi a nossa cara, é algo que acrescentou valor à nossa marca”, revelou Francieud, filho de Francisco.

... Aos poucos, ajeitou as paredes, colocou esteiras, levou algumas mesas para a calçada, aprimorou as receitas e com isso, cada vez mais, moradores do bairro começaram aparecer. A dobradinha era o destaque, carro-chefe, sempre preparada com um jeito cuidadoso.

Com o tempo, Francisco começou a conquistar clientes fiéis, adquirindo na época, o apelido de “gordo” no próprio bar. Foi quando o nome Dobradinha do Gordo surgiu. Dobradinha, por ser o prato principal e “gordo” pelo seu porte físico. “Não tinha um nome melhor. Foi criado pelos clientes e no dia a dia”, lembra o comerciante.

“Fui persistente e sou grato principalmente porque foi do restaurante que tirei o sustento da minha família e dei formação para os meus três filhos. Nunca imaginamos completar tantos anos (mais de trinta). Nem temos fotos do começo porque não achávamos que poderia durar tanto. Mas temos história para contar. Não é pelo dinheiro e nenhuma riqueza, mas sim pelo nosso nome e pela satisfação. Foi gratificante”, finaliza Francisco.

Garçons antigos


A parte física do restaurante Dobradinha do Gordo foi desativada alguns anos depois de completar trinta anos. Boas lembranças!

MD, @gazetadatorreoficial

quarta-feira, 24 de abril de 2024

A força, a leveza e a versatilidade dos contos da sertaneja Débora Ferraz

 Gazeta da Torre

Escritora Débora Ferraz

É doutora em escrita criativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e mestre em narrativas audiovisuais pela Universidade Federal da Paraíba. Nasceu em Serra Talhada (PE), mas mora atualmente em João Pessoa (PB), onde é cofundadora da escola de escrita Edícula Literária.

Débora Ferraz estreou na prosa aos 16 anos com ‘Os Anjos’ (2003). “Não é toda hora, mas de vez em, quando acontece. Quando achamos que tudo está perdido, um milagre surge e renova a certeza de que o novo sempre vem. Parece mesmo que é coisa de anjo. Pena que é rara. É assim, a nova geração diz que sabe, a gente diz que ainda não. Eles dizem que vão, a gente diz espera um pouco. Mas eles são cabeças duras, nem ligam e seguem em frente. Ainda bem que são assim, pois assim nasce o novo. Grata surpresa esta, de ver um talento florescer e frutificar. Bom mesmo é sentir a coragem e ousadia que servem de lição e modelo. Em um mundo estigmatizado pelas guerras, pelas drogas e pelo poder, vence a palavra, o verbo e o sonho. 

Estou certo de que aquele que quiser ler a jovem escritora Débora Ferraz, sentirá a excitação própria da literatura e sua magia, que nos absorve e nos remete ao universo do pensar. Exercício tão pouco praticado em nossos dias, por nossa sociedade hermética. Com uma linguagem fluente e madura, Débora revela-se uma escritora rica em recursos e de uma criatividade invejável, cuja carreira é um fato inexorável. Não posso me furtar a gratidão de poder participar deste projeto, recomendo o trabalho que muito me impressiona e comove, já que transcende o texto em si mesmo, para servir de alento aos que acreditam não haver qualidade nos jovens e para estimular a capacidade de fazer e realizar. Bem sei que é raro, mas acontece. Acho mesmo que é coisa de anjo. Quem ler, acreditará”, apresenta Lupércio Filho, Artista e Educador.

Publicou em várias coletâneas, entre elas ‘Geração 2010, o sertão é o mundo’. Sua obra foi traduzida para o alemão e para o inglês. Uma antologia “fora do eixo” é a proposta de Geração 2010, o sertão é o mundo, que reúne 25 autores, a grande maioria deles nascida no nordeste brasileiro. Publicado pela Reformatório, conta com nomes como Ailton Krenak, Itamar Vieira Junior, Maria Valéria Rezende, Jarid Arraes, Micheliny Verunschk, Mailson Furtado, Franklin Carvalho, Débora Ferraz, Natalia Borges Polesso e Nara Vidal, cronista do Rascunho. A organização é do escritor Fred Di Giacomo.

O livro traz texto de orelha assinado por Marçal Aquino, que enfatiza a “sintonia com os novos códigos sociais e culturais” da coletânea. “Alguns dos autores são iniciantes, outros já possuem trajetórias reconhecidas. Além do sertão, a diversidade os une.”

Para o editor Marcelo Nocelli, os nomes reunidos são em Geração 2010, o sertão é o mundo “são a ponta de iceberg de um movimento literário maior que eclodiu na década de 2010”, de autores que “tinham o fato de virem de fora dos centros de poder do Brasil, serem parte de grupos discriminados, produzirem uma literatura épica e poética e não terem começado suas carreiras apadrinhados por grandes editoras”.

Em 2014, Débora Ferraz surpreendeu com a força narrativa do romance ‘Enquanto Deus Não Está Olhando’, ganhador do Prêmio Sesc e São Paulo de Literatura. Sua chegada ao conto, com a obra ‘Ogivas’, mantém o requisito de uma prosa densa e surpreendente. “O conto é uma forma literária extremamente arquitetônica. Ele tem um peso muito denso, mas é leve, porque se equilibra de maneira geométrica”, afirma Ferraz, que destaca que ‘Ogivas’ é o seu livro mais bélico, e que as narrativas vão ao encontro da ideia de que “a arte não foi feita para ser inofensiva”.

Seus personagens são reais, vivos e tocam pela carga de verdade que carregam. Sua narrativa leva o leitor a um ambiente que se equilibra entre a delicadeza e o abismo. Essas características fazem da escritora uma das melhores vozes da nova literatura.

Fonte: Literatura BR

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terça-feira, 23 de abril de 2024

Nádia Maia e Assisão - Os homenageados do Recife Junino 2024

 Gazeta da Torre

Nádia Maia e Assisão são os homenageados do Recife Junino 2024. Ícones da nossa cultura, os dois levam o forró em suas veias! Viva o São João!

A carreira de Nádia Maia teve inicio em 1975, como vocalista da banda de baile Alcano, que por quinze anos encantou todo o Nordeste com a sua versatilidade de estilos musicais.

Em 1995 ganhou o primeiro lugar do festival Canta Nordeste, da Rede Globo/NE, com a canção Meninos do Sertão de Petrúcio Amorim e Maciel Melo.

Em 1996 gravou dois CDs dedicados aos ritmos pernambucanos, o que lhe projetou para o mercado europeu, com turnê pela França, Espanha e Portugal.

De voz vigorosa, marcante e brejeira, Nádia Maia teve um destaque especial ao longo deste ano no cenário da cultura popular nordestina, pois comemorou 15 anos de forró com muito trabalho, parcerias e amizades.

Ao longo do caminho, Nádia Maia agregou em suas obras a participação de grandes artistas como: Dominguinhos, Petrúcio Amorim, Maciel Melo, Santanna O Cantador, Flávio Leandro, Xico Bizerra, entre outros.

Militante ativa do movimento em prol da Nação Forrozeira, Nádia Maia integra a respeitada Sociedade dos Forrozeiros Pé-de-serra e ai, e há 2 anos participa da condução do programa cultural da Rádio Folha de Pernambuco todas às segundasfeiras, das 17 às 18h.

Nádia Maia é a representação autêntica da cultura forrozeira em forma de mulher!

Nascido na Fazenda São Miguel, zona rural de Serra Talhada no dia 5 de maio de 1942, Assisão, cujo nome de batismo é Francisco de Assis Nogueira, desde criança já mostrava talento para cantar e compor.

Gravou seu primeiro compacto em 1962 pela extinta  gravadora Rozenblit, quando ainda fazia parte do grupo “Azes do Baião”. Estima-se que Assisão tenha vendido em sua carreira aproximadamente 3 milhões de discos.           

Assisão é considerado um artista inovador. Ele foi um dos primeiros forrozeiros a introduzir, ainda nos início dos ano 80, os sons produzidos pela guitarra, baixo, teclado e bateria nas suas músicas. Mesmo com essa nova roupagem ele não deixou de produzir o autêntico forró.

O cantor faz parte de uma geração de forrozeiros, entre eles, Jorge de Altinho, Alcymar Monteiro, Flávio José, Novinho da Paraíba, que são os baluartes do verdadeiro forró, o original, aquele de Luiz Gonzaga, de Jackson do Pandeiro, do Trio Nordestino e de Dominguinhos.  Assisão contínua, sendo umas das grandes atrações nas maiores e melhores festas juninas do país, como em Caruaru e Campina Grande.  

Fontes: Ser Digital; Forrozeiros PE;

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domingo, 21 de abril de 2024

Mercado da Madalena - Bar Arrumadinho do Abílio

 

A deliciosa Macaxeira com Carne de Sol do Bar Arrumadinho do Abílio.

https://www.instagram.com/arrumadinhodoabilioofc/

Pratos REGIONAIS, bebidas nacionais e importadas.  *Aceita CARTÕES

Bar Arrumadinho do Abílio, Mercado da Madalena, Box 165, Praça da Alimentação.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

As falhas frequentes no fornecimento de energia elétrica em Pernambuco: serviço caro e ruim

 Gazeta da Torre

“A situação está ficando insustentável”, reclama Gerino Xavier, presidente do Seprope, o Sindicato das Empresas de Processamento de Dados do Estado de Pernambuco. Recentemente os representantes das associações Softex, Assespro e Seprope se reuniram para decidir como agir diante das falhas da Neoenergia. Isso porque os danos não envolvem apenas equipamentos, eles atingem o faturamento das empresas, que estão se vendo obrigadas a pagar multas pela suspensão no fornecimento dos serviços que prestam aos clientes.

Além do altíssimo custo cobrado na conta, a percepção do consumidor pernambucano que está faltando mais energia está alinhada com o que está acontecendo no País inteiro, segundo o conselheiro da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, Fernando Teixeirense. Ele afirma que a entidade está pedindo uma revisão dos índices que indicam a qualidade do serviço elétrico elaborados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Os principais índices que indicam a qualidade do serviço prestado pelas distribuidoras são o DEC – que mede a duração da interrupção – e o FEC, que mostra a frequência em que ocorreu a interrupção do serviço. “Há um consenso que o DEC e o FEC precisam ser revistos. Eles não contam quando a queda de energia é menor do que três minutos”, comenta Fernando, acrescentando que três minutos sem o serviço pode não impactar o funcionamento de uma casa, mas traz muitos prejuízos às indústrias e aos prestadores de serviços de TI, por exemplo.

Fernando lembra também que o governo federal e as agências devem cobrar investimentos do setor para que o serviço melhore. “A energia é um serviço complexo e tomamos conhecimento de que a Aneel tem um déficit de 40% de funcionários, o que nos surpreendeu”, conta. A agência é quem fiscaliza todos os investimentos de todas as distribuidoras que atuam no País.

Desde 2000, ao menos 884 serviços foram reestatizados no mundo. A conta é do TNI (Transnational Institute), centro de estudos em democracia e sustentabilidade sediado na Holanda. As reestatizações aconteceram com destaque em países centrais do capitalismo, como EUA e Alemanha.

Isso ocorreu porque as empresas privadas priorizavam o lucro e os serviços estavam caros e ruins, segundo o TNI. O TNI levantou dados entre 2000 e 2017. Foram registrados casos de serviços públicos essenciais que vão desde fornecimento de água e energia e coleta de lixo até programas habitacionais e funerárias.

"A nossa base de dados mostra que as reestatizações são uma tendência e estão crescendo", disse a geógrafa Lavinia Steinfort, coordenadora de projetos do TNI, em entrevista ao UOL. De acordo com ela, 83% dos casos mapeados aconteceram de 2009 em diante.

Término de contratos de concessão que não são renovados é a forma mais clássica de "desprivatização" que aparece entre os mais de 800 casos levantados.

Rompimento antecipado de contrato, como aconteceu com a PPP (Parceria Público-Privada) do metrô de Londres em 2010, e mesmo recompras milionárias de infraestruturas que haviam sido vendidas, como vêm fazendo diversas cidades alemãs com suas distribuidoras de energia, são outros tipos de reestatizações que também estão acontecendo. 

O levantamento do TNI encontrou processos do gênero em 55 países em todo o globo. Alemanha, França, EUA, Canadá, Colômbia, Argentina, Turquia, Mauritânia e Índia são alguns deles. 

Fontes: Movimento Econômico; UOL Economia;

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quarta-feira, 17 de abril de 2024

BBB, a gladiatura pós-moderna

 Gazeta da Torre

Muita gente fica intrigada com o sucesso do chamado reality show Big Brother Brasil (BBB). Os comentários, ao menos por parte de certo segmento sociocultural, são de que o programa é a própria celebração da mediocridade. As pessoas caem matando a expressão é importante tanto no programa, quanto no nível dos participantes. Mas, se faz sucesso, é porque responde a alguma demanda dos telespectadores. De algum modo, o sucesso sempre tem sentido. Mas qual? Desconfi o de interpretações fáceis como a platéia também é medíocre ou somos todos voyeurs. Neste pequeno artigo, tentei ir além do senso comum, ensaiando uma interpretação psicanalítica desse fenômeno contemporâneo.

O BBB dispensa maiores apresentações: mesmo quem nunca assistiu, tem uma idéia do que se trata. O programa se estrutura em torno de um suspense e da participação do público, que vota semanalmente em quem será excluído, ou melhor, em quem irá para o paredão. Para que o público possa votar, a atuação dos participantes no dia-a-dia do programa é decisiva. Aparentemente, estão apenas conversando, namorando, fazendo ginástica, indo a festas. Mas nós (e eles) sabemos que estão se digladiando para eliminar os outros e vencer. Fazem alianças, traem, simulam, dissimulam, enfim, tentam agradar os eleitores. É tudo ou nada: ou a celebridade instantânea, ou a volta ao anonimato que, na sociedade do espetáculo, é, simbolicamente, o mesmo que morrer. É, pois, uma luta de vida ou morte. Vence o melhor, segundo critérios não muito claros. Simpatia? Amizade? Sedução? Esforço pessoal? A fraqueza ou a desvantagem de um dos competidores? Pode ser que não haja critério algum operando em nível consciente, mas simplesmente o “jeito” da pessoa, que agrada ou não à maioria.

O fato é que “paredão”, para nós, brasileiros, é uma clara referência à morte. Disse acima que “as pessoas caem matando” sobre o programa e o nível dos participantes. E, quando escrevi que eles se digladiam pela sobrevivência, fiz nova referência à morte, dessa vez, evocando a gladiatura romana. O psicanalista trabalha com a linguagem, em seu sentido mais amplo. Toma o discurso do paciente (ou o texto, ou o fenômeno social) ao pé da letra, valoriza cada palavra dita, e também a que não foi dita. Segue o fi o da meada das palavras, para ver onde vai dar. Vejamos.

Como os participantes do BBB, os gladiadores também lutavam entre si até o fim. Quando o gladiador vitorioso encurralava o oponente, convocava o voto popular, que podia ser referendado pelo imperador: polegar para cima, vida; polegar para baixo, morte. A vida do perdedor podia ser poupada, se o público o considerasse um lutador valoroso e digno. Em caso contrário, paredão.

A luta entre os gladiadores, ou entre feras e gladiadores, era totalmente realista, e isso empolgava as platéias de Roma. Tratava-se, de certa forma, de um reality show. Era parte da estratégia de despolitização do povo - a conhecida política do pão e circo. Os participantes eram escolhidos em função de seu porte, de sua força e de seu físico. Eram treinados para proporcionar um bom espetáculo, combatendo com bravura e morrendo com dignidade. Podiam ser escravos, prisioneiros de guerra ou cristãos, mas até mesmo homens livres se candidatavam, pois era um caminho possível e rápido para a ascensão social. A entrada no Coliseu era gratuita, e as pessoas da platéia podiam apostar no seu favorito. A gladiatura era tema das conversas no dia-a-dia. O leitor pode encontrar facilmente os pontos de aproximação com o BBB.

O programa escolhe os jovens participantes de modo a oferecer suportes identificatórios para os vários perfis de telespectadores. Além disso, como o voto para a exclusão sistemática envolve toda a população, esta se identifica também com o lugar do poderoso, que ergue ou abaixa o polegar. E, evidentemente, com o sobrevivente, pois, durante o processo, fazemos a catarse da angústia que nos assombra no cotidiano: a angústia da exclusão social, digital, do mercado de trabalho etc. Até a semana que vem, se tudo correr bem, continuamos no páreo.

Há outro elemento que entra na análise do BBB e que, a meu ver, é o decisivo para caracterizá-lo como espetáculo pós-moderno e para compreender seu sucesso. Como na gladiatura, o reality show oferece carne humana para nosso repasto. Somos também o leão na arena, como veremos.

Em outro artigo (Minerbo, no prelo), faço uma análise do filme Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (1971). Ali, mostro que a distância entre a coisa e o símbolo vem diminuindo progressivamente, a ponto de o símbolo já não se sustentar na ausência da coisa, precisando da presença de verdade do simbolizado. No filme, a gangue de Alex brinca de atacar pessoas que simbolizam uma civilização em seu ocaso, mas os ataques são de verdade, donde o nome reality game. O 11 de setembro, por exemplo, foi um ataque a um símbolo do capitalismo, as Torres Gêmeas, mas foi um ataque de verdade, pois as torres realmente ruíram, matando milhares de pessoas. Em vários fenômenos contemporâneos (body art, certos crimes em que pais matam filhos e vice-versa), observamos uma mesma lógica subjacente: a fratura do símbolo e a desnaturação da linguagem.

No reality show, faz-se do defeito, virtude. A graça toda consiste em não sabermos ao certo quanto de representação e quanto de realidade há naquilo tudo. O reality show é um espetáculo e, ao mesmo tempo, é de verdade. Os participantes do BBB são pessoas comuns lutando por ascensão social e, nesse sentido, são de verdade. Mas há uma dimensão de representação, já que se trata de um jogo em que eles representam pessoas comuns lutando por ascensão social.

Mas quanto realismo é admitido? Nesse BBB7, não há mais os participantes sorteados, que eram “de verdade demais feios, gordos, velhos, pobres, ignorantes, sem sex appeal – e que, pasmem, acabaram vencendo o último BBB! Provavelmente estragava o suspense, pois o critério para a votação tornou-se muito evidente: favorecer o desfavorecido.

Mas também não pode haver realismo de menos. O organizador do programa tem que aparecer o mínimo possível, ocultando seu caráter de espetáculo. O BBB nos é apresentado como realidade, e assim deve parecer, embora haja, obviamente, alguém que edita, ainda que minimamente, as filmagens. O sucesso do BBB depende de um equilíbrio perfeito entre realismo demais e realismo de menos.

Pois bem, sem desconhecer o lado de representação do reality show – sabemos que é um show – vou enfatizar o reality, isto é, sua dimensão realista, “de verdade”, pois é essa que nos coloca na posição de leões, isto é, de devoradores de carne humana. Quando assistimos a um espetáculo nos moldes clássicos – teatro, circo, e mesmo a novela, já que estamos falando de televisão –, há, entre nós e o corpo dos atores, mediações simbólicas importantes. Seu corpo é o suporte do roteiro, de personagens laboriosamente construídos, há o talento, a iluminação, o palco, enfim, uma série de recursos que se interpõem entre nós e eles. Graças a essas mediações, o corpo do ator transcende seu estatuto de mera exibição de carne humana e passa a ter valor simbólico, tornando-se ator no sentido forte da palavra. Ele passa a ser o suporte necessário para a expressão do talento (ou mesmo para a falta dele – aqui, o que vale é a intenção). No espetáculo clássico, o corpo é representação. No BBB, o corpo é obsceno, não porque esteja quase nu, mas porque é um corpo-carne, sem valor simbólico, pura realidade, excessivamente de verdade” quando comparado com o corpo do teatro, do circo ou da novela. Obsceno: fora da cena - da cena simbólica.

No circo, há uma condição em que essa distância entre o corpo-carne e o corpo-representação diminui até quase desaparecer: é quando se apresentam o anão e a mulher barbada. Ainda assim, eles têm um lugar simbólico legítimo na estrutura circense: eles estão no picadeiro. Tampouco no strip-tease estamos diante de um corpo-carne, pois há o talento da dançarina em desnudar-se. Eles não se exibem como se estivessem em suas casas, exibem-se para nós. Nenhum desses casos é um reality show.

No reality show, o corpo apresentado é o real. Os jovens estão naquela casa preparando um suco de laranja, nadando na piscina, namorando, dormindo e se digladiando por um lugar ao sol no futuro, e tudo isso é “de verdade”. A casa em que eles vivem nos meses de duração do show não tem o mesmo estatuto simbólico de um palco, de um picadeiro ou de uma arena, como na gladiatura. Eles não vão para suas casas para dormir, voltando no dia seguinte. É realmente uma casa, com quartos, cozinha, banheiro, piscina. É claro que é uma casa especialmente preparada para esse fim - é uma casa literalmente cinematográfica: há câmeras em todos os aposentos. Nos bastidores, sabemos, está o apresentador, e precisamos ignorar isso para entrar no espírito da coisa.

Mas os diálogos certamente não provêm de um roteiro; os jovens não estão representando personagens. Os participantes são apenas o que são: participantes. Contudo, diferentemente de um jogo, em que há as regras do jogo, ou da novela, em que há um roteiro, na casa do BBB eles farão mais ou menos o que fariam na vida real; dirão mais ou menos o que diriam na vida real. E, sem roteiro, ninguém foge ao que é - ninguém pode ser muito diferente do que determina seu inconsciente.

Lançados num palco, sem roteiro, bons atores improvisam bem, maus atores improvisam mal. Mas no reality show as pessoas são obrigadas a ser o que são “de verdade”. Nesse sentido, estão realmente expostas, e em três sentidos: ao nosso massacre – “como são medíocres!” -, ao paredão e, principalmente, expostos em toda sua nudez psíquica. E aqui começa a violência do espetáculo - violência que a plebe consome com prazer. Sem o saber, os participantes estão expostos ao público como carne humana. Assim como o gladiador enfrenta o leão praticamente desarmado, apenas com um escudo, eles se expõem e enfrentam o público desarmados, diretamente, sem a proteção das mediações simbólicas – ou com mediações simbólicas mínimas, quando se lembram de que “é apenas um jogo”. Aliás, há os que fazem questão de ter isso sempre em mente - proteção necessária - e os que detestam se lembrar disso. De qualquer forma, entre nós e eles não há nada. Se eles são ridículos, ou medíocres, não é porque o personagem que representam seja ridículo ou medíocre, mas porque eles o são. Tanto quanto na gladiatura, há violência nessa relação não mediada com o corpo do outro. Há violência no consumo do corpo-carne do outro.

O público desses shows aprecia não propriamente o ridículo da participação de um ou a simpatia do outro, mas a obscenidade e a violência que marcam a ausência de mediações simbólicas na relação com o outro. É a gladiatura pós-moderna. Nesse sentido, o espetáculo é feito sob medida para a nossa época e merece o sucesso que tem.

Artigo de Marion Minerbo, doutora em Medicina (Psicanálise) pela UNIFESP

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segunda-feira, 15 de abril de 2024

A Praça da Infância na MADALENA (Eça de Queiroz)

 Gazeta da Torre

Foi entregue no final de semana (13), a 7ª Praça da Infância. Fica na esquina da Avenida Visconde de Albuquerque com a Rua Desembargador Luís Salazar, no bairro da Madalena.

Tem brinquedos feitos em madeira, casa silo, balanço, gira gira inclusiva, pula pula embutida, escorrego e muro de escalada, tudo dividido em círculos temáticos.

Inclusão

As Praças da Infância estão redefinindo a paisagem urbana e promovendo a inclusão social no Recife, representando um compromisso com a revitalização de espaços públicos, proporcionando um ambiente seguro e acolhedor para pessoas de todas as idades - em especial, para as crianças.

Iniciativa

As Praças da Infância estão sendo criadas a partir de uma metodologia que está sendo replicada em toda a cidade, com soluções específicas e em sintonia com o seu entorno. Esse método garante que toda criança recifense tenha acesso às mesmas qualidades proporcionadas por estes espaços.

O projeto é elaborado a partir do “Guia de Princípios para Remodelação das Praças para Infância”, organizado pela Prefeitura do Recife, visando a requalificação paisagística que assegure a motivação de ações voltadas à inclusão, segurança, liberdade, orgulho e visibilidade das crianças.

Fonte:PCR

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