quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A história de seu José Sebastião, nascido na década de 1930

 Gazeta da Torre

- Contas mudam e, com o tempo, merecem revisão -

Nascido na década de 1930, seu José Sebastião é uma pessoa simples, pés no chão, mas que sabe viver a vida, percebo que procurou oferecer o que tem de melhor para os filhos, um cara que é mesmo do bem.

Acho a oportunidade do convívio com pessoas mais velhas bem interessante, muito bacana o quanto podemos aprender simplesmente ao escutar, e ainda melhor quando é possível bater um papo mesmo, imagina quando essa pessoa, tão mais experiente está aberta também a te escutar, e muito mais, a aprender com você, é fantástico!

Ao longo dessa jornada como Personal Financeiro, algo como consultor, mentor ou planejador financeiro, nunca me importei com o título, mas sim com aquilo que o meu trabalho tem o potencial de proporcionar, de transformar a vida das pessoas, me deparo com os mais diversos perfis de diferentes estados, classes sociais, desafios e claro idades também, por mais que exista uma predominância maior numa determinada faixa, o público é de fato bem diversificado, o que me permite aprender muito.

Mas voltando a seu José, ele é um sonhador, mas não quero dizer que ele apenas sonha, ele realiza, corre atrás, e mesmo com mais idade está bem longe de ter desistido da vida, dos seus planos e dos seus sonhos mesmo, afinal como bom "fazedor" que é, ele está procurando fazer acontecer mais daquilo que gosta e que lhe dá prazer, acho sensacional!

Para isso, seu José já fazia há tempo o seu controle financeiro, porém não estava analisando da melhor forma, de fato era válido ter uma orientação, a fim de trabalhar melhor o controle que fazia, analisando de forma mais crítica e eficaz, de maneira que a partir dali pudesse fazer um plano de ações, observar os pontos de melhoria, o que otimizar no orçamento, alpara reduzir algumas despesas que tinha boas possibilidades para isso, como a conta de celular, anuidade do cartão de crédito, internet, isso mesmo, começando pelo básico, entre as demais despesas fixas, variáveis e as que ele considerava extras e em alguns casos já nem eram, pois recorrentemente estavam no seu mês, e precisavam de um espaço no orçamento.

Mas a questão não era apenas técnica, e na verdade,raramente, a mudança vem só de olho nos números. Sim, eles são bem importantes, mas o lado comportamental é que deságua no resultado financeiro, e seu José se permitiu mergulhar bem nisso, entendendo melhor as decisões que tomava no dia a dia, e que refletiam nas suas despesas, assim como o uso do cartão de crédito, das compras parceladas.

E com esse mergulho foi possível perceber o quanto podia evoluir com pequenas mudanças que sim, tem o poder de trazer resultados bem interessantes.

E lembro bem do dia que refletimos sobre os grandes naufrágios que aconteceram pelo mundo, e que a maioria deles não foi causada por grandes impactos, mas por pequenos buracos.

Isso mesmo, pequenos buracos afundam grandes navios, e o orçamento de muitas famílias também.

A ideia é que seu José esteja fora dessa, a fim de que possa absorver os gastos com saúde, entre outros imprevistos que surgem no dia a dia.

E aqui estou para apresentar seu José, por mais pessoas como ele, por mais pessoas sonhadoras, e que tem o prazer de viver intensamente, sempre abertas ao aprendizado e de olho no amanhã.

Abraço e até a próxima!

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Dra. Mar Castellanos, neurologista: “O AVC afeta cada vez mais pessoas em idade ativa. As doenças cardiovasculares são uma epidemia”

 Gazeta da Torre

Dra. Mar Castellanos

A doença cerebrovascular é a primeira causa de mortalidade em mulheres em nosso país e a segunda em homens. "A primeira razão é o nosso estilo de vida: má alimentação, tabaco, excesso de álcool, sedentarismo", diz a médica

Quando a Dra. Mar Castellanos escolheu a especialidade de Neurologia, seus amigos da licenciatura levaram as mãos à cabeça. “Por que neurologista, se neurologista não cura nada”, me disseram. “Havia a ideia da neurologia de que fazia diagnósticos muito bons e nomeava doenças muito raras, mas o resto dos médicos dava pouca atenção a isso porque, é verdade, pouco se podia fazer com essas doenças.” Dra. Mar Castellanos Rodrigo, é diretora científica do Instituto de Investigação Biomédica da Corunha  (Inibic). Doutora em Medicina e chefe do Grupo de Pesquisa em Neurologia Clínica e Translacional do Inibic. Também faz parte da Rede Nacional de Investigação Cooperativa Orientada para Resultados em Saúde, autora de inúmeras publicações científicas e atual Coordenadora do Grupo de Estudos de Doenças Cerebrovasculares da Sociedade Espanhola de Neurologia  (SEN) .

“A evolução da neurologia nestes anos foi enorme. Ninguém pensou que isso seria tão rápido. Mas precisava ser assim: os pacientes que sofrem de doenças neurológicas precisam de muita pesquisa porque, infelizmente, sofrem de doenças muito incapacitantes, muito mortais e com muito sofrimento antes de chegar à morte”, diz ao telefone ao jornal EL PAÍS .

P. O AVC é a principal causa de morte em mulheres em nosso país, a segunda em homens. E a principal causa de incapacidade para ambos.

Castellanos. E outra coisa: sempre houve a percepção de que o AVC era uma doença tremendamente ligada à idade, o que acontecia principalmente com os mais velhos, e era uma percepção verdadeira. Não é mais. Mais de 60% dos pacientes que sofrem um AVC têm menos de 65 anos de idade. O AVC deixou de ser uma doença dos idosos e está a afetar mais pessoas em idade ativa. Isso também tem consequências econômicas muito importantes [ “O custo social do acidente vascular cerebral é estimado em 6.000 milhões de euros por ano, o equivalente a 5% dos gastos com saúde”, Carmen Aleix, presidente da Federação Espanhola de AVC, relatou em 2015]. Não só para o próprio paciente, mas também para o cuidador do paciente, que tem que acabar adaptando sua vida, suas necessidades e sua economia: estamos falando de cuidado intenso.

P. Por que mais jovem?

Castellanos. O estilo de vida. Má alimentação, tabaco, álcool, drogas em menor grau (são extremamente perigosas, mas obviamente as pessoas consomem menos do que o tabaco ou o álcool), sedentarismo. Dos muitos problemas trazidos pela pandemia, um deles é a obesidade infantil. Esta obesidade está ligada a uma dieta pobre e pouca atividade física. Mas, se prolongada, a obesidade está diretamente relacionada ao aparecimento de outros fatores de risco, como hipertensão e diabetes mellitus; alguns fatores se somam a outros, eles se potencializam.

P. E o corpo paga.

Aleix. Colesterol, por exemplo. Se comemos muitos produtos gordurosos e, principalmente, as gorduras ruins que muitas vezes nos recomendam reduzir, danificamos as artérias. E favorecemos as placas de calcificação e colesterol neles, que em determinado momento podem ser liberadas. São trombos que passam pela circulação e entopem certas artérias, por exemplo, no cérebro. De qualquer forma, o depósito de cálcio e colesterol nas artérias também obstrui a própria artéria, seja no coração, no cérebro ou nas pernas.

P. Contra isso, comentários.

Castellanos. Contra isso, vida saudável. Quando se trata de combater o AVC, sempre estivemos muito focados na fase aguda: que o paciente vá para o hospital o mais rápido possível e que possamos oferecer tratamento, porque muitos pacientes sairão bem desse tratamento. Mas primeiro, a prevenção adequada deve ser levada em consideração. E é aqui que todos contam. Antes de sermos pacientes, temos a obrigação de atender às recomendações e tentar minimizar o risco de sofrer de doença vascular, que é uma epidemia. Podemos comer melhor, não podemos abusar do álcool, fazer um pouco de exercício físico todos os dias, verificar os níveis de pressão arterial, fazer um exame de sangue de vez em quando para saber como estão nossos níveis de colesterol e açúcar. Isso é muito importante. E é tarefa do sistema de saúde, mas também da nossa vontade.

P. Todos conhecemos o caso da pessoa sã, atleta, sem maus hábitos, que de repente sofre um AVC.

Castellanos. Obviamente, e muitos. Também jovens que, pela idade, não desenvolveram fatores de risco. Por quê? Há uma série de razões, entre as quais a genética. Existem doenças com um gene muito caracteristicamente afetado, com localização definida e mutação genética. Mas, mais tarde, cada um de nós tem uma carga genética que atualmente não conseguimos explicar. Se existe uma combinação genética que pode aumentar a probabilidade de uma pessoa ter um AVC, não sabemos hoje. Mas há cada vez mais publicações que nos dão informações sobre certos genes que têm uma tendência especial, quando são alterados, para tornar esse paciente mais propenso a sofrer um derrame.

P. Medicina personalizada.

Castellanos. E é por isso que é muito importante conscientizar a população para que participem dos estudos quando forem propostos : isso nos permite obter um grande volume de dados que precisamos, por exemplo, desenvolver algoritmos que possam prever com maior probabilidade qual paciente está em maior risco de sofrer um AVC e preveni-lo.

P. É uma doença que, quando tocada nas proximidades, causa pânico. A coisa mais próxima de um desaparecimento repentino, sem mais.

Castellanos. Vem de repente. O que define um AVC é que uma pessoa está bem, aparentemente perfeita, e depois de dois segundos já não está mais. Os sintomas de outras doenças aparecem de forma mais progressiva; os de AVC são tão rápidos que o tempo de reação é essencial para sobreviver, ou não sofrer uma deficiência.

P. O clima.

Castellanos. Básico. Eu coloco muita ênfase na formação de pessoas. Porque reconhecer os sintomas permite articular os planos de AVC, que visam levar o paciente ao centro o mais rápido possível. A recuperação desse cérebro e o que podemos fazer por esse paciente depende do tempo decorrido desde o início dos sintomas. Na maioria dos casos, 85%, é um AVC isquêmico [os outros 15% é um AVC hemorrágico, a ruptura da veia]: ocorre porque uma artéria ficou entupida por um trombo, e nesse momento ela deixa de receber o sangue para aquela área do cérebro que está ligada a essa artéria. Os sintomas aparecem de repente, mas a lesão definitiva no cérebro não aparece de repente e o dano ocorre progressivamente. Quanto mais tempo essa área ficar sem fluxo sanguíneo, maior a probabilidade de que esses neurônios acabem morrendo permanentemente.

P. Qual é o tratamento quando você chega ao hospital?

Castellanos. Restaurar o fluxo sanguíneo para a área do cérebro onde o sangue não está circulando. Os tratamentos visam eliminar o trombo que entope a artéria o mais rápido possível.

P. Como é feito?

Castellanos. Existem duas estratégias terapêuticas principais. Uma delas é tentar romper o trombo administrando uma droga conhecida como droga fibrinolítica. É administrado através de uma veia e tenta romper o coágulo. É a primeira opção. Não pode ser feito com todos os pacientes porque tem algumas contraindicações. Pode ser administrado nas primeiras quatro horas e meia de evolução dos sintomas. Então vamos para a segunda opção: os trombos podem ser removidos através de um procedimento endovascular. Introduzimos um cateter pela virilha e, seguindo a própria circulação, chegamos ao trombo, que fica ao nível de uma artéria no cérebro, e com uma série de aparelhos extraímos o trombo e restabelecemos a circulação.

P. Uma polêmica recorrente: médicos que reclamam que qualquer pessoa com dor mínima ou com suspeita de AVC vai ao Pronto Socorro quando não é nada. Mas, mesmo entendendo o desespero de alguns médicos, um paciente não precisa saber exatamente o que acontece com ele.

Castellanos. Nossa posição é clara: vá ao hospital o mais rápido possível quando alguém suspeitar, por qualquer motivo, que tenha sofrido um AVC. Porque pode ter sido um derrame transitório, por exemplo: as coisas voltaram ao normal depois de um tempo, e a gente acredita que nada aconteceu.

P. Como é isso?

Aleix. Às vezes, os pacientes perdem força em um braço, perna ou ambos, incluindo perda de visão em um olho.E depois de dez minutos, ou menos, ele se recupera. É um ataque isquêmico transitório. E essa pessoa tem que interpretar isso como um aviso. Mesmo que o paciente tenha se recuperado, ele deve ir a um pronto-socorro para que o neurologista possa estudar esse paciente e determinar se ele tem ou não alta probabilidade de recorrência. Há uma série de exames que podemos fazer, mesmo no próprio pronto-socorro, para determinar se o paciente tem que ficar no hospital, por exemplo, ou ir para casa. O que temos que evitar é que, se o paciente teve os sintomas e teve a sorte de se recuperar, tenha novamente um AVC do qual não pode se recuperar. Um pode ser transitório, outro não.

P. O que o corpo faz durante um acidente vascular cerebral transitório?

Castellanos. Quando um trombo se forma, o corpo lança uma série de mecanismos para se livrar dele. Através da hemostasia e coagulação. Temos uma série de substâncias que atuam favorecendo a formação de trombos, e outras que atuam favorecendo sua desintegração. Se um dia cortarmos a mão com uma faca e começarmos a sangrar, produzimos uma hemorragia. Sem fazer nada, se o paciente está bem e não tem problemas de coagulação, esse sangue para de fluir. Por quê? Porque o corpo lança uma série de mecanismos que visam gerar mais coagulação nessa área e parar o sangramento. Bem, com acidente vascular cerebral transitório acontece o oposto. Quando o corpo detecta que há um trombo em um determinado local, diminui os mecanismos que normalmente fazem com que os coágulos sejam gerados e o acúmulo funcione em um determinado nível; esses mecanismos diminuem e fazem com que esse trombo se dissolva, ou pelo menos tentam.

Fonte: El País

#REPOST Gazeta da Torre

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O CARLITOS BURGUER DA TORRE

Redação Gazeta da Torre


Como afirmam muitos pesquisadores do assunto, as origens do hambúrguer são incertas e permeadas de mitos e histórias, porém é bem provável que ele tenha sido preparado pela primeira vez da maneira como o conhecemos hoje em fins do século XIX ou começo do século XX. O hambúrguer moderno é derivado das necessidades culinárias de uma sociedade que mudava rapidamente devido à industrialização e, portanto, usufruía de menos tempo para o preparo de alimentos e consumo das refeições.

Grande parte do motivo pelo qual sua história é controversa deve-se ao fato de que os americanos disputam o título de terem sido os primeiros a combinar duas fatias de pão com um bife de carne moída, formando um "sanduíche de hambúrguer".

Já, aqui na Torre, o título de melhor hambúrguer da nossa região, é disputado de maneira acirrada e saudável pelas lanchonetes Carlitos Burguer e Vila Torre Original Burguer. Ambos produzem os hambúrgueres de forma artesanal, um dos pontos fortes que fazem bastante diferença perante os apreciadores do comentado sanduíche.

Aqui, em nossa matéria, iremos falar, aos nossos leitores do Gazeta da Torre, sobre a Lanchonete Carlitos Burguer, do nosso amigo Carlos Costa Cavalcanti, o famoso Carlitos.
 Carlitos em sua área de trabalho
Sua história de trabalho, no segmento que lhe tornou famoso, iniciou por volta de 1986 na cantina do conhecido Colégio Decisão. Lá, a luta já era grande. Atender crianças e adolescentes agitados não era tarefa fácil. Mas, no famoso horário de pico, a hora do recreio, Carlitos tinha uma carta na mão, a dedicada ajudante de nome Joseane Iara de Paula, sua companheira. Participação bastante agradável diante de tanta agitação gerada pelos alunos.

Joseane na época era bancária, e, após seu horário de trabalho, corria para a cantina onde prestava sua ajuda. Daí, já se formava uma dupla que anos depois iria fazer bastante sucesso.

Em 1994, Carlitos, com seus pequenos recursos adquiridos na cantina, instala sua primeira lanchonete na Ilha do Retiro. Um Trailer convertido em lanchonete, na Rua Senador Fábio Barros, Madalena. Espaço que passou a ser muito significativo para seu trabalho e sua história.

As coisas começaram a ficar mais puxadas. Carlitos trabalhava na cantina pela manhã e tarde, sendo que a noite trabalhava em sua lanchonete na Ilha do Retiro.

Meses de muito trabalho se passaram e, em 1996, Carlitos vende a cantina e adquire um pequeno espaço na Rua Vermelha, no bairro da Torre, que se tornaria sua central. “O espaço era tão pequeno que eu ficava apavorada para trabalhar no local”, conta Joseane, sua esposa.

Hambúrguer preparado, hambúrguer vendido, começou virar rotina. Em 1997, Carlitos inaugura a Lanchonete da Torre, outro Trailer convertido em lanchonete, agora na Rua Professor Trajano de Mendonça, 340, Torre. Era muito trabalho para pouco tempo. Tanto que em 1998, Joseane sai do banco e instala o delivery na Rua Vermelha. Vale lembrar que, na época, Joseane contava com ajuda de Dona Severina França para desfiar os peitos de frango. Hoje, sua filha Valdelane França, a Ninha, é funcionária do Carlitos e pessoa de confiança de Joseane. Coisas do destino.

Em 2002, com frutos de seu intenso trabalho, Carlitos compra um imóvel na Rua Dona Isabel de Barros, 103, Torre, onde passa a ser sua nova central.

Mas, as investidas não iriam parar por aí. Em dezembro de 2013, com muita determinação, Carlitos e sua esposa Joseane conseguem superar as burocracias que, por incrível que pareça, um trabalhador e pequeno investidor que tem seus impostos em dia ainda enfrenta (*O tempo para o projeto ser aprovado foi de 2 anos). E inaugura uma estonteante lanchonete na Avenida José Gonçalves de Medeiros, 84, Madalena. A nova unidade fica ao lado da saída secundária do estacionamento do antigo supermercado Extra, perto do Clube do Sport.

 A lanchonete na Avenida José Gonçalves de Medeiros, 84, Madalena;
Já, no dia 13 de Maio, com frutos de seu intenso trabalho, Carlitos inaugura mais uma unidade. Outra estonteante lanchonete na Rua José Bonifácio, próxima a  Delicatessen Nova Armada. Um novo e grande presente para os apreciadores de hambúrgueres de nosso bairro.

 A mais nova lanchonete na Rua José Bonifácio - Torre;
Hoje, a Lanchonete Carlitos Burguer conta com mais de 30 funcionários, sua central com câmara fria, seus projetos de investimentos são realizados por arquitetos, nos serviços de Delivery o transporte é realizado por uma empresa especializada em entregas, as lanchonetes, como a central, seguem rigorosamente os padrões de higiene entre outras citações. 

Quando perguntamos a Joseane o que mais falta, ela respondeu: “Eu e Carlitos já estamos amadurecendo a ideia de abrirmos uma franquia”, diz sorridente. E para finalizar, a pergunta: o que é Carlitos Burguer, hoje, para vocês, diante de tantas privações passadas e batalhas incontáveis? “Quase um filho”, responde ela.

#REPOST  Gazeta da Torre

Boa gestão depende de um propósito importante, confiança nas pessoas e responsabilidade sobre o sucesso do negócio

 Gazeta da Torre

Chieko Aoki

Para a presidente da Blue Tree Hotels, Chieko Aoki, alguns valores fundamentais para o sucesso do empreendimento podem guiar quem busca adentrar a jornada do empreendedorismo, como a responsabilidade pelo sucesso do negócio, a confianças nas pessoas, o reconhecimento das oportunidades certas, a criação de um círculo de laços – isto é, de conexões – e a identificação de um propósito.

 “A palavra ‘propósito’ é muito simples, mas se trata de saber para onde se está indo, se aquilo que estamos fazendo tem importância. Eu, por exemplo, criei um método de hospitalidade. Isso faz parte do meu plano de melhorar a qualidade de serviços no Brasil, agregando as qualidades do País às técnicas, aos procedimentos e ao aprendizado”, afirma, na segunda entrevista da série especial do Mês da Mulher, comandada pela jornalista Raquel Landim, do  Canal UM BRASIL, uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Uma das estratégias implementadas por ela, inclusive, foi a adoção de elementos culturais de algumas regiões do mundo em seus negócios: a rigidez estadunidense com normas e processos; o espírito de “servir a reis e rainhas” e a elegância no atendimento dos europeus; e os elementos mais místicos e formais dos asiáticos, em particular os japoneses, como considerar o cliente um “presente divino”. “São coisas diferentes, mas que formam uma hotelaria melhor e dão mais capacidade para entender os clientes. A flexibilidade cultural me ajudou muito a compreender o nosso papel, o que tínhamos de fazer com determinadas culturas, bem como o que os clientes gostariam que fizéssemos. Esta mistura tem sido útil na busca de uma solução de hospitalidade que fosse brasileira. Um dos meus objetivos é criar a hospitalidade brasileira com as características universais que todos os clientes gostam.”

Outra das iniciativas dela, por exemplo, voltada às mulheres, foi a criação de um cargo que cuidasse das relações com as hóspedes, a fim de ajudar sobretudo as clientes a se sentirem mais à vontade dentro de um hotel. “Antigamente, não havia esta liberdade. As mulheres comiam no quarto, pois se sentiam constrangidas de entrar no bar”, lembra.

No bate-papo, a presidente da rede hoteleira ainda avalia a falta de espaços para mulheres liderarem negócios e empreendimentos. “Há barreiras transparentes, mas que existem, as quais as mulheres precisam romper. Uma coisa que hoje já não soa tão natural é uma fotografia [em um ambiente corporativo] composta somente por homens. Os líderes homens geralmente só indicam outros homens. O salto precisa ser grande, de forma que mais mulheres na liderança possam ‘puxar’ outras”, enfatiza a presidente da Blue Tree.

Turismo como política de Estado

Especificamente a respeito do setor de turismo em uma visão macro, a CEO comenta que os planos para o sucesso ainda envolvem estratégias mais duradouras, tendo em vista que a concorrência é internacional. “Quando o país não tem nenhum recurso, recorre ao turismo, pois sempre há algo diferente para mostrar. Como valorizar isso? Criando infraestrutura e um investimento de longo prazo consistente. É necessário um plano de Estado para o turismo.”

Além disso, ela pondera ser relevante fundamentar todo um processo de educação da sociedade sobre como receber turistas. “Eu vi este exemplo quando, nas Olimpíadas do Japão, as escolas primárias ensinavam as crianças. Todos estavam preparados para explicar o que tem em sua cidade, mostrar caminhos. É um trabalho de conscientização nas escolas, nos negócios e na sociedade”, conclui.

Fonte: UM Brasil

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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Grazing: o que o hábito de beliscar comida pode revelar sobre a nossa saúde mental?

 Gazeta da Torre


A prática de beliscar comida de modo contínuo, ao longo do dia, mesmo sem fome, é conhecido como grazing. Identificar esse comportamento pode ajudar a prevenir transtornos associados a problemas psicológicos e alimentares.

Essa é a conclusão do estudo de doutorado "Comportamentos alimentares nos contextos comunitário e de sobrepeso e obesidade: compreensão e avaliação do Grazing", defendido na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, em março, pela psicóloga Marília Consolini Teodoro, sob orientação da professora Carmem Beatriz Neufeld.

A pesquisa mostra a importância do trabalho preventivo de regulação emocional para prevenir a manifestação desse tipo de comportamento.

Marília explica que o grazing, tema pouco estudado no Brasil, é o nome dado a comer quantidades pequenas ou modestas de alimentos de maneira repetitiva e não planejada, sem ser em resposta à sensação de fome ou saciedade, com algum nível de sensação de perda de controle. Segundo a professora Carmem, “em um primeiro momento, não é necessariamente um comportamento problemático ou associado a uma psicopatologia”. Mas explica que pode gerar desdobramentos associados a “uma maior probabilidade de desenvolvimento de uma psicopatologia, de uma patologia do comportamento alimentar”.

Por isso, a identificação desse comportamento, aponta a pesquisadora, poderá proporcionar “novas investigações para intervenções mais direcionadas, principalmente na área dos problemas alimentares”.

Assim como abordagens multifatoriais para tratar essas condições, que, “muitas vezes, não são consideradas um transtorno mental, mas estão extremamente relacionadas com condições psicológicas”, para que os pacientes sejam cuidados de forma integrativa e os resultados sejam mais efetivos.

O estudo colocou como hipótese o entendimento de que o grazing funciona como um mecanismo de regulação emocional para o alívio de ansiedade, por exemplo. Outros estudos já associaram o comportamento, principalmente, com a obesidade, a dificuldade de perder peso e outros tipos de transtornos alimentares e sintomas depressivos e ansiosos. “O peso está extremamente relacionado com condições psicológicas, assim como condições comportamentais, como é o caso desse comportamento em específico”, afirma Marília.

A pesquisadora investigou e avaliou a manifestação desse comportamento na população brasileira, com uma amostra comunitária de 542 pessoas, em que a maioria estava em nível de peso considerado normal, e uma amostra clínica de 281 pessoas, com participantes que apresentavam algum nível de obesidade.

Marília conta que as amostras foram comparadas para “entender também se havia alguma diferença na manifestação desse comportamento”. Na amostra clínica, o grazing foi mais prejudicial, mas também se manifestou de forma significativa na amostra comunitária, o que indica “a relevância desse comportamento no Brasil”.

As pesquisadoras dividiram a manifestação desse comportamento em dois grupos: o grazing repetitivo, que ocorre de forma contínua, porém mais leve, menos prejudicial e menos associado à perda de controle; e o grazing compulsivo, mais associado à perda de controle e a sintomas psicológicos.

Outro resultado que chamou a atenção das pesquisadoras foi que o estresse apresentou uma variação do grazing compulsivo, mais associado à perda de controle. “Então a gente entende que o estresse parece ser uma variável que colabora, que está relacionada com a manifestação desse comportamento.”

Adaptação e validação de questionário

Para a pesquisa foi utilizado o Repeat Questionary (Rep(eat)-Q), ferramenta que investiga a relação do grazing com o Índice de Massa Corporal (IMC) e a psicopatologia. O IMC é um índice usado mundialmente para saber se uma pessoa está em seu peso ideal, dividindo o peso pela sua altura ao quadrado. O questionário foi adaptado e validado pelas pesquisadoras para a população brasileira, mediante etapas de avaliação e estudo piloto, até chegar à versão final adaptada como Questionário de Belisco Contínuo. Foi aplicado também um questionário sociodemográfico e um questionário de avaliação de sintomas ansiosos, depressivos e de estresse.

Ao todo, a pesquisa contou com quatro etapas. Na primeira, as pesquisadoras traçaram um panorama sobre a avaliação psicológica de transtornos alimentares e problemas alimentares associados, apresentando o conceito de grazing e os instrumentos disponíveis para a avaliação. A segunda foi uma revisão da literatura sobre o tema e as definições usadas, população estudada, prevalência e associações já encontradas sobre o comportamento, além das lacunas que ainda existem sobre a questão. Já a terceira foi a adaptação e validação do questionário para a população brasileira e, para finalizar,  a aplicação nas amostras comunitária e clínica, além de análises de comparação entre elas.

Fonte: Jornal da USP

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O famoso cabeleireiro Edelson no bairro da Torre - Desbravador de preconceitos e corajoso por vida

Manuella Gomes – Gazeta da Torre
Edelson Barbosa
A definição acima retrata o começo da história de um dos grandes empresários pernambucanos, Edelson Barbosa de Souza. Antes de ser um homem de negócios, Edelson é originalmente um cabeleireiro, encaminhado para esta profissão por necessidades financeiras. Vindo de São Lourenço da Mata para morar com a avó, no Recife, aos dois anos, presenciou logo cedo as dificuldades que a falta de dinheiro gera.

“Minha avó era uma pessoa humilde e muito lutadora”, lembrou saudoso. Já com 10 anos arrumou o primeiro emprego e no ramo, na Rua da Imperatriz, com Alexandre e Aércio Filipine. “Foi realmente onde tudo começou e fui apresentado ao mundo da beleza”, comentou Edelson que não imaginava que aquela profissão seria a da sua vida. Quatro anos depois foi trabalhar no bairro da Torre, no salão da cabeleireira Nair Meireles, prestando uma consultoria.

Não passou muito tempo e tornou-se sócio do salão, aos 15 anos. Com 16, o marco na sua história profissional, ele montou o seu próprio negócio. “Apesar da idade, eu tinha muita vontade”.

Corajoso, desde o início e até hoje, está na linha de frente do salão. “Sempre fui o primeiro a chegar e o último a sair. Se preciso me ausentar, alguém da família assume”, garante.
Desde que chegou no bairro da Torre, ainda garoto, nunca mais saiu. Nas horas de brincar, o lugar escolhido por Edelson e seus amigos era o campinho de futebol, em frente à tradicional igreja da Torre. “Lá era a minha segunda casa; me diverti demais brincando com os meus amigos”, comentou o cabeleireiro que logo lembrou de outros lugares que frequentava bastante. “ A gafieira do Sesi, o Bar do Rui, o Mercado da Madalena”, citou dentre outros.

A lembrança da tranquilidade daquela época e das transformações que o bairro sofreu é viva também em sua memória. “Sinto saudade do mangue que existia, quando a Beira Rio ainda nem sonhava em ser construída. Recordo de como fez sucesso a ponte da Torre quando foi concluída”, comentou relembrando também amigos como Memede e o pessoal da família Krause. Com as mudanças, surgiram as novidades. “Para a nossa felicidade, até um jornal sobre o bairro apareceu. Um jornal respeitado que sacudiu um pouco o que estava parado; nos informa de coisas que nem a gente mesmo sabia. Maurício é um benfeitor”, ressaltou Edelson referindo-se ao Fundador do Jornal Gazeta da Torre, Maurício Dias.

No meio dessa juventude bem vivida, Edelson sempre era chamado pela responsabilidade. Ainda na década de 60, na busca constante da qualificação profissional, morou um ano em São Paulo e um ano no Rio de Janeiro. Já passou meses na Europa se especializando, ganhou prêmios, e não para de se atualizar. “Eu lido com uma das coisas mais importantes que existem: a beleza. Exijo estar sempre antenado”, explicou.

Sério e bastante comprometido com a profissão escolhida, desde o começo defendeu e defende a classe. “Nosso trabalho é tão importante quanto qualquer outro. Não é só cortar o cabelo, lidamos com a felicidade das pessoas”, disse o cabeleireiro que lembrou o quanto o meio evoluiu. “É uma grande profissão e, como em todas, tem os que fazem de qualquer jeito e os que prezam pela credibilidade, que é o meu caso”, falou Edelson pertencente ao mercado há mais de 50 anos.

Generoso, ensina e forma escola entre os que trabalham com ele. “Muitos já voaram. E hoje são grandes vencedores”, alegra-se. Outra grande ajuda para o meio foi sempre a boa postura em relação à sua sexualidade. “Hoje ainda existe preconceito, imagine naquela época. Já fiz muitos gestos impróprios para tentar calar a boca de alguns engraçadinhos”, assumiu sorrindo das travessuras.

Pai de quatro filhos e casado com Judite Barbosa, Edelson expandiu na família o cuidado e o carinho por seus estabelecimentos. “Meus filhos são formados em outras áreas, mas estão sempre pelas lojas”, incentiva Edelson. “Não só a empresa é familiar, mas a clientela também”, lembra. Quem já passou pelas mãos do cabeleireiro sempre volta. “É ótimo porque quem vem a primeira vez depois traz outra pessoa. Fica uma relação com as gerações”, falou Edelson que atendeu e atende até hoje de famílias como a Barreto Campelo, a Montenegro, entre outras do Recife.

Isso é um dos grandes prazeres da profissão. Apesar de cortar menos cabelos hoje em dia, corta mais quando solicitado, Edelson não pensa em parar. “Só pararia se sentisse alguma rejeição da minha clientela”, confessa.
“É ótimo contemplar nosso crescimento e é bom saber que temos uma história que se vende por si só”, concluiu satisfeito.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

O antissemitismo reciclado: preconceitos seculares alimentam o germe da intolerância

 Gazeta da Torre

Por Maria Luiza Tucci Carneiro, Historiadora e professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP

Em situações de crise – como esta em que o Brasil vive, abalado pelas fragilidades da nossa democracia –, constatamos que a polarização radical compromete a vida e negligencia a morte. É neste contexto que avalio o discurso antissemita e as acusações de genocídio feitas pelo presidente Lula da Silva ao Estado de Israel e ao povo judeu. Suas declarações emergem como uma terrível combinação de ingredientes clássicos que compõem o discurso antissemita de raiz, (re)alimentando versões deturpadas da História. Não foi por acaso que o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, afirmou que Lula é persona non grata em Israel até que se desculpe em relação à sua fala comparando a atuação atual de Israel ao Holocausto.

Após o ataque empreendido pelo grupo terrorista Hamas contra a população civil de Israel em 7 de outubro de 2023, a banalização do Holocausto ressurgiu em meio aos discursos do presidente Lula reciclados como arma política contra o Estado de Israel e à comunidade judaica como um todo. É fato que, desde outubro de 2023, o antissemitismo maquiado de antissionismo ganhou status de verdade, sendo disseminado por uma legião de racistas que sustentam discursos acusatórios sem a real dimensão das consequências.

Neste contexto, o antissionismo que mascara o “antissemitismo de raiz” assimilado por Lula deve ser interpretado como uma recaída da postura do governo brasileiro simbolizando um retrocesso na nossa luta contra o racismo, o negacionismo e a xenofobia. Recupera-se, assim, a histórica tensão entre antissemitismo/antissionismo e os ideais democráticos. As frases aleatórias e descontextualizadas que Lula tem empregado contra o Estado de Israel têm despertado sentimentos antijudaicos por parte dos seus correligionários e, ao mesmo tempo, têm gerado uma certa decepção naqueles que votaram no PT. Daí a importância de investirmos contra o negacionismo de natureza ideológica e contra o antissemitismo que, enquanto uma forma de racismo, tem servido aos grupos, tanto de direita como de esquerda, que atuam no cenário político nacional e internacional.

Independente de qualquer sigla partidária, negacionistas e antissemitas sempre tentam impor suas “visões de mundo” deturpadas pela ignorância dos fatos. Dessa forma, instigam a violência e o ódio, negando e/ou ignorando a verdade dos fatos históricos, dentre os quais o Holocausto, genocídio singular na história da humanidade. Os grupos signatários dos “tratados negacionistas” devem ser qualificados como uma espécie de “perpetradores da memória”, que por ignorância ou interesses políticos tentam sustentar falsas versões. Interessa a essas lideranças gerar uma multidão de desmemoriados, alienados e despossuídos de espírito crítico.

É evidente que a ignorância favorece o avanço de movimentos “antis” que, valendo-se das crises sociais, vêm a público no formato de discursos de ódio. Assim, sob este viés, poderemos avaliar a proliferação de novas cepas de perpetradores das mais distintas linhagens: racistas, revisionistas, negacionistas, populistas, neonazistas, fascistas, dentre outros “istas” e “ismos”. O debate sobre este tema passa, necessariamente, pela compreensão dos direitos humanos, levando-nos a refletir acerca da responsabilidade do Estado sobre a vida do cidadão.

Aqui retomamos o tema da banalização do Holocausto: o fato do Holocausto ser uma categoria única dentre tantos outros genocídios, tem servido aos negacionistas, neonazistas e antissemitas para desmoralizar os testemunhos das vítimas, dentre as quais temos seis milhões de judeus assassinados pelos nacional-socialistas e colaboracionistas. Aliás, esta é mais uma das razões para o Estado brasileiro estimular (e não negar) a memória pública de um dos episódios mais abomináveis da história: o Holocausto, além de estimular o processo de implementação de dois Estados: o Estado de Israel e o Estado Palestino.

Neste Brasil multirracial – que desde o seu descobrimento convive com o racismo (histórico e estrutural) e a discriminação contra negros, judeus, indígenas, ciganos, doentes mentais e dissidentes políticos – fica difícil falarmos em uma política de intolerância zero, pois esse ódio, assim como a ignorância, tem raízes seculares neste país. Se por um lado as lideranças políticas têm dificuldades em assumir a verdade histórica e promover a justiça social, por outro, os negacionistas aproveitam-se das redes sociais para instigar o linchamento virtual daqueles que clamam pelos seus direitos, incluindo o direito à vida e o direito de existir enquanto nação.

Essa equidistância pragmática herdada do governo Vargas foi retomada em 1975, quando o governo brasileiro, atingido pela crise mundial do petróleo, optou por uma postura radical: votou na Assembleia Geral da ONU a favor da Resolução n. 3379, que qualificava o “Sionismo como forma de racismo e discriminação racial”. Com o fim da Guerra Fria alguns países árabes e muçulmanos, junto com Cuba, Coreia do Norte e Vietnã, não mudaram suas posições apesar da Resolução n. 4686, de 1991, ter anulado a decisão da Resolução n. 3379.

A grande guinada do Estado brasileiro no reconhecimento da centralidade do racismo na estruturação das desigualdades sociais foi dada em 2001, por ocasião da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, promovida pela ONU em Durban, na África do Sul. Em meio ao debate, os países árabes tentaram desviar o foco da reunião ao comparar, novamente, o sionismo ao racismo. Felizmente, no documento final, os países participantes, incluindo o Brasil, proclamaram que o Holocausto não deve ser nunca esquecido, além de condenarem a persistência e o reaparecimento do neonazismo, do neofascismo e das ideologias violentas baseadas em preconceitos raciais ou nacionais. Declararam, por consenso, que esses fenômenos “não se podem justificar em qualquer caso, nem em qualquer circunstância”.

Atualmente – analisando as recentes falas do presidente Lula da Silva classificando as ações de Israel como genocídio, comparando-as ao Holocausto [sic] – constatamos que o eixo de argumentação emerge desfocado, destituído de saber e do sentimento de humanidade que privilegia o direito à vida. O Holocausto não deve ser visto como um “item ocasional da conduta do Terceiro Reich na Segunda Guerra Mundial”, e sim como uma política meticulosamente planejada pelas lideranças do Estado nacional-socialista alemão e executado por meio de aparatos repressivos do poder, como a polícia e a censura. Calculismo, burocracia, antissemitismo e fanatismo foram ingredientes que garantiram sucesso à fórmula acionada por Adolf Hitler, que, a partir de 1933, encontrou um ambiente de crise propício à proliferação de suas ideias antissemitas.

Daí a importância de distinguirmos o que realmente foi o Holocausto, que, pela força de suas singularidades, é hoje considerado como um genocídio sem precedentes na história da humanidade: exatamente por ultrapassar a ideia de “tragédia judaica”, por envolver outras minorias em diferentes escalas e, ao mesmo tempo, por trazer para o debate a questão humana, ainda que irrepresentável em sua absoluta excepcionalidade, como querem alguns.

Enfim: não podemos dar chance à proliferação da mentira que fundamenta a “teoria da cegueira”. Antes de empregar de forma irresponsável as palavras Genocídio e Holocausto, todo cidadão deve estar atento às persistências e ambiguidades dos discursos racistas. Tais “enganos” corroem a democracia alimentando visões distorcidas com o propósito de acuar, perseguir, isolar e, até mesmo, exterminar aqueles que não se encaixam no modelo idealizado como “normal”. Revisitando o nosso passado e avaliando a atual crise humanitária vivenciada por israelenses e palestinos na Faixa de Gaza durante o conflito Israel versus grupo terrorista Hamas, questiono: a quem serve a cultura da ignorância que privilegia o terror e a mediocridade?

Uma coisa é certa: a ignorância mata, sendo hoje uma espécie de “vírus” que abre fissuras para a proliferação de novas cepas racistas das mais distintas linhagens. Enquanto resíduos criptografados no inconsciente coletivo, os arquétipos antissemitas sugerem (e instigam) os seres humanos a endossar ações para a violência e o ódio sem limites. Assim, considero que, atualmente, os mitos sobre os judeus emergem reciclados, simultaneamente e em várias partes do mundo, corroídos por preconceitos seculares que carregam nas suas entranhas o germe da intolerância. Para a escala do ódio basta um passo.

Fonte: Jornal da USP