Gazeta da Torre
Os impactos econômicos da pandemia da covid-19 já são
sentidos na oferta de empregos com carteira assinada. Segundo dados do Novo
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Novo Caged, os meses de março –
quando a pandemia chegou ao Brasil – abril e maio apresentaram uma redução de 1
milhão e 487 mil empregos formais. Wilson Amorim, professor associado do
Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade (FEA) da USP, explica que, nesse quadro, aumenta-se a informalidade
na ocupação e, consequentemente, a precarização das relações de trabalho.
A precarização do trabalho hoje, segundo Amorim,
apresenta efeitos imediatos, mas também trará consequências a longo prazo.
“Haverá um volume imenso de pessoas com dificuldades em encontrar um trabalho
de relação contratual mais estável, isso a longo prazo. De médio a longo prazo,
observa-se que, quanto mais pessoas trabalhando na informalidade menos
contribuem para a Previdência e para o pagamento das aposentadorias no momento
e, consequentemente, no futuro”, explica ele.
O professor aponta que o mercado de trabalho brasileiro é
tradicional e historicamente heterogêneo, diferenciado e desigual. Segundo ele,
essas condições desfavorecem quem quer trabalhar e favorece as empresas. Além
disso, há uma orientação do governo, desde a aprovação da reforma trabalhista,
de que o mercado seja bastante flexibilizado. “É um quadro bastante
preocupante”, afirma Amorim, “e eu não acredito que vá ser revertido nos
próximos anos, a não ser que tenhamos uma mudança na legislação”.
No quadro da pandemia da covid-19, com o fechamento de
estabelecimentos comerciais, houve o crescimento de pessoas trabalhando com
aplicativos de entrega. Isso ocorre, segundo o professor, por pelo menos três
razões: a crise econômica, a transição tecnológica e a reforma trabalhista.
A crise econômica eliminou a possibilidade de novos
empregos assalariados, o que forçou muitas pessoas a buscarem trabalhos
informais, como os aplicativos de delivery e outras plataformas que oferecem
esse tipo de serviço.
A transição tecnológica, bastante acelerada neste
momento, elimina as barreiras à prestação de serviço por meio dessas
plataformas. Essas tecnologias de telecomunicação “aproximam os atores
econômicos e colocam pessoas em contato com o mercado de trabalho a fim de viabilizar
entregas e transportes”, explica Wilson Amorim.
A última questão apontada pelo professor é a reforma
trabalhista de 2017, que flexibilizou o ambiente laboral do País. “A
contratação se flexibilizou, inclusive sem vínculo empregatício, na forma do
por conta própria, que é o autônomo”, completa o professor.
O professor ainda afirma que, além dos impactos
econômicos, o crescimento nos serviços de delivery impacta também na saúde dos
trabalhadores. Como normalmente ganham pouco e de forma insuficiente para suas
despesas, a alternativa é estender a jornada ao longo do dia e trabalhar
durante toda a semana. A consequência natural é o cansaço físico, esgotamento
mental e estresse como parte do dia a dia desses trabalhadores.
Fonte:Jornal da USP
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