Gazeta da Torre
As amarras no ambiente de negócios nacional travam os
processos de empreendedorismo no País não apenas quanto à abertura de empresas,
mas também no desenvolvimento de projetos em vários campos da vida e da
economia, afirma Ricardo Sennes, economista, cientista político, e sócio-diretor
da Prospectiva Consultoria.
“O ambiente é muito inseguro, instável e
antiempreendedor, inviabilizando obras de infraestrutura complexas no Brasil e
os centros de inovação em pesquisa. A dificuldade regulatória para projetos de
inovação radical nos campos da ciência e do empreendedorismo empresarial é
imensa. Dá-se um primeiro passo aqui e, depois, se leva o projeto para fora,
pois não dá para ter cinco órgãos de controle em cima do [projeto] inovador que
precisa de regulação aberta.”
Em entrevista a plataforma UM BRASIL, ele pontua que as
reformas macroeconômicas discutidas desde o governo de Fernando Henrique
Cardoso tangenciam os problemas do País e são “remendos que surgem depois que o
problema está colocado: a Reforma da Previdência veio depois que a Previdência
explodiu; a do trabalho, depois de 60 anos sem mexer no modelo trabalhista”,
enfatiza. “Isso vem muito mais para remendar do que para nos preparar. A gente
só toma decisão quando a situação já está no limite, não antecipamos decisões
estratégicas para colocar o Brasil [em outro patamar].” Segundo o economista, a
“bala de prata” das reformas seria a agenda da competitividade.
Ele pondera que o Brasil já passou da fase do boom
econômico de industrialização e urbanização de décadas atrás, de tal forma que
o patamar almejado exige políticas e arranjos regulatórios mais sofisticados,
encarando nações mais bem desenvolvidas. “Nós não somos mais o país com a mão
de obra mais barata do mundo, nem a China é assim. O Brasil não pode concorrer
por mão de obra, deve concorrer próximo aos países de desenvolvimento médio
para cima. É [focar na] capacidade de empreendimento inovador e eficaz em
nichos específicos da economia. É menos escala e mais qualidade, produtividade
e inovação. Contudo, estamos presos a agendas negativas de grupos que não topam
este jogo e que se prendem a agendas antigas, buscando repetir ganhos do
passado.”
“Nas áreas de Tecnologia da Informação (TI), e-banking,
pagamentos e e-commerce, o Brasil está muito bem, é um exportador de
tecnologia. Nós temos de onde tirar bases para o próximo passo, só não podemos
ter um ambiente que atrapalhe, mas que fomente a geração de valor.”
Problemas brasileiros evidenciados na pandemia
Ele também ressalta três pontos cujas deficiências e
vulnerabilidades emergiram durante a pandemia: a saúde, como um tema coletivo e
parte de uma estratégia para uma nação que queira se desenvolver de forma
sustentável; a educação, tendo em vista que está “claro que o Brasil está pouco
preparado e desestruturado” para manter este eixo como um pilar fundamental do
desenvolvimento econômico e da organização social; e o choque da desigualdade
social.
“Estes três temas ‘bateram fundo’ na sociedade
brasileira, que percebe que são obrigatórios em uma agenda por um futuro mais
civilizado. Vai ser muito difícil, daqui para a frente, pensar no que será a
agenda política do Brasil sem lideranças que não tratem de maneira direta essas
três questões”, conclui.
Fonte:UM Brasil
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