Os efeitos de fazer esporte usando máscara e qual é a
mais indicada para a prática
"Se a máscara não for confortável, é possível que a
pessoa perceba que respira pior e que isso afeta seu rendimento", diz um especialista
Cada vez são mais numerosas as cidades e países que
tornam obrigatório o uso de máscaras, tanto nos espaços fechados como na rua
(mesmo quando é possível manter os dois metros de distância social). Mas fazer
exercício continua sendo a exceção à regra, e aqui cada um pode tomar a decisão
que quiser. Alguns colocam um tipo de lenço, outros usam as máscaras
cirúrgicas, as higiênicas ou as FFP2. Há também quem prefira investir numa
versão criada especificamente para a prática esportiva, embora nem todas as
marcas relacionadas com os exercícios tenham essa característica. Como não
poderia deixar de ser, também existem as pessoas que deixam de usar máscaras
dizendo que ficam molhadas com o suor, são desconfortáveis ou dificultam a
respiração. Mas até que ponto esses argumentos são certos? Usar máscara afeta o
rendimento esportivo? E, se queremos usar alguma, qual é a mais adequada?
Antonio Montoya-Vieco, doutor em Ciências da Atividade
Física e do Esporte e treinador da Unidade de Saúde Esportiva do Vithas
Hospital 9 de Octubre, em Valência (Espanha), foi atrás da resposta. Para isso,
submeteu a uma prova de resistência três grupos de corredores e corredoras, com
diferentes níveis de aptidão, para analisar os efeitos do uso da máscara.
Especificamente, ele analisou a 42k 3D-SPORT, que, segundo os fornecedores, é
higiênica e reutilizável, além de ser projetada para favorecer a máxima
transpirabilidade, ergonomia e conforto durante a atividade física. Com a peça
colocada, Montoya-Vieco registrou os dados de frequência cardíaca, os níveis de
lactato no sangue (indicador de cansaço), a saturação parcial de oxigênio e o
esforço percebido (uma variável subjetiva), enquanto os participantes corriam
em diversos ritmos em faixas de dois e quatro minutos, com um minuto de
recuperação a cinco minutos o quilômetro.
As conclusões indicam que a experiência muda, mas pouco.
“Em todas as variáveis que analisamos, os valores aumentaram ligeiramente”,
explica. A frequência cardíaca subiu entre 3% e 9%, e a diferença de saturação
parcial de oxigênio, entre 0% e 2%. Algo que preparador físico não considera
significativo. Os níveis de esforço percebido aumentaram entre 13% e 50%.
“Quanto maior o valor numérico, interpreta-se que o esforço realizado pelo
atleta é maior. Se a máscara não for confortável, é possível que a pessoa
perceba que respira pior e que isso afeta seu rendimento”, esclarece. Os
valores do lactato no sangue também aumentaram entre 1% e 71%, mas
Montoya-Vieco diz que isso é normal quando passamos do repouso para o
exercício.
Se algumas pessoas demonizam o uso da máscara no
exercício, outras afirmam que ela poderia nos deixar mais fortes. Nas últimas
semanas, usuários de redes sociais disseram que o acessório, ao dificultar a
inspiração, poderia fortalecer os músculos respiratórios como o diafragma. Mas
o fato é que as máscaras não são nem tão ruins nem tão boas. “Não considero que
uma máscara esportiva — e menos ainda a empregada nesse estudo, após conhecer
seus resultados — sirva para fortalecer o treinamento da musculatura
respiratória. Se fosse assim, os atletas teriam começado a usá-las antes da
covid-19”, diz o preparador físico.
Ser de marca esportiva não torna a máscara apta para
exercício
Se você decidir utilizar máscara para fazer esportes, o
melhor é escolher a mais adequada. Diferentes marcas famosas de materiais
esportivos entraram na onda e colocaram à venda seus modelos têxteis entre os
objetos da moda de 2020. Mas muitas delas, como Reebok e Adidas, cujas remessas
esgotam toda vez que chegam ao mercado, advertem que o acessório “não é
indicado para uso médico nem como equipamento de proteção individual”, embora
possa ajudar a prevenir a propagação do vírus e dos germes pela transmissão de
gotículas respiratórias”. Outras empresas, como a da máscara testada por
Montoya-Vieco, desenvolveram alguns modelos aptos para a atividade física.
O importante é conseguir um equilíbrio entre a
autoproteção (por meio de filtros homologados), um bom ajuste, a
respirabilidade e a reutilização (após lavagem a 60 graus). A máscara da marca
espanhola Idawen, explica sua cofundadora, Lara Harranz, consegue isso graças a
um tecido técnico e elástico de Neoprene ultralight de dois milímetros de
espessura com rede 3D de poliéster e malha elástica. “Também desenvolvemos dois
filtros intercambiáveis para usar conforme seja ou não possível manter a
distância social. Se for grande, aconselhamos o filtro de proteção
antibacteriana confeccionado com Lyocell, com valores de filtragem bacteriana
de 98,91% BFE, uma respirabilidade de 28 pa/cm2, lavável e que siga a regulação
da Associação Espanhola de Normalização UNE0065: 2020. Para os casos de maior
proximidade social, aconselha-se o filtro F9 segundo a norma EN-779:2012. Esse
equipamento protege entre 75% e 85% contra os vírus, com valores compatíveis
com a norma UNE-EN 149:2001+A1, próximos aos das máscaras FFP2.”
Garantida a proteção, é hora de evitar a sensação de
asfixia. Ou seja, que o ar circule bem e que a umidade não se acumule,
transformando a máscara numa espécie de pano úmido. “Sabemos como essa sensação
pode ser desagradável. Por isso, incorporamos duas válvulas de exalação que são
colocadas sobre o filtro e permitem expulsar o CO2 e a umidade”, diz Harranz. E
acrescenta um detalhe: o fechamento é com velcro, não com borracha elástica. Um
alívio para quem reclama que as máscaras apertam nas orelhas. Mas também para
os carecas, esse coletivo no qual ninguém repara e cujos crânios desprotegidos
sofrem muito com as borrachas. “No âmbito esportivo, o conforto e a adesão das
peças é fundamental, já que você está em constante movimento. Fabricamos as
máscaras com material elástico, mas é preciso ajustá-lo. Daí a importância do velcro
e dos tamanhos”, explica.
A empresa 226ers fabrica sua Hydrazero mask em tafetá de
microfibra hidrófuga em poliéster repelente a líquidos, com uma filtragem de
96% segundo a norma UNE-EN 149:2001+A1-2010. O design das borrachas de ajuste
faz lembrar os óculos de nadar: são dois elásticos que cada usuário pode
colocar da maneira que for mais confortável. Acostumada a equipar os
ultramaratonistas (que disputam corridas mais longas que uma maratona), a
empresa Buff não teve dúvida: era preciso incorporar duas tiras muito largas e
ajustáveis para conseguir um “ajuste ergonômico e personalizado que não
incomodasse durante o exercício”, afirma Danae Malet, product manager da marca.
“Além disso, nossos filtros obtiveram uma eficácia de filtragem (BFE) de 98% e
uma respirabilidade <40 Pa/cm2, de modo que oferecemos a mesma qualidade que
as máscaras cirúrgicas (UNE EN 14683), muito superior à UNE EN 0065 das
máscaras higiênicas reutilizáveis convencionais. Os filtros podem ser usados
por até 24 horas e podem ser jogados nos pontos de coleta de plástico para
serem reciclados.” Se a sua intenção é treinar sob o Sol, essa máscara também
conta com uma proteção solar certificada UPF50+. E ainda é ecológica, fabricada
com garrafas de plástico recicladas. Por último, a gigante Decathlon também fez
sua própria máscara, que atende à especificação UNE065:2020, com uma
respirabilidade aceitável (pressão diferencial <60 Pa/cm2) e resistente a
até 500 lavagens.
*El País
Nenhum comentário:
Postar um comentário