O diretor da
FE, Marcos Garcia Neira, na cerimônia de posse em junho de 2018 Foto: Cecília Bastos/USP Imagens |
Mesmo com a pandemia do novo coronavírus agravada após
mais de quatro meses de suspensão das aulas escolares, com uma média móvel de
mais de 40 mil casos e mil óbitos diários nos últimos sete dias, redes de
ensino como a do Estado de São Paulo querem retornar às aulas presenciais em
setembro. Diante dessa possibilidade, a Congregação da Faculdade de Educação
(FE) da USP, reunida em 30 de julho, manifestou repúdio para a possibilidade de
volta às aulas nas escolas.
“Não há qualquer condição para a retomada das aulas
presenciais ainda este ano. Assim como a USP optou por manter as atividades
remotas até o fim do ano letivo, sugerimos que o mesmo procedimento seja
seguido da educação infantil ao ensino superior, tanto público como privado”,
recomenda o professor Marcos Neira, diretor da FE-USP, em entrevista ao Jornal
da USP no Ar. Ele ressalta que qualquer educador tem consciência de que “será
impossível assegurar que crianças, adolescentes, jovens e adultos guardem as
medidas de biossegurança que impeçam a circulação e propagação do vírus”.
Outro ponto abordado foi a quantidade de profissionais
que fazem parte do grupo de risco e que deveriam permanecer afastados de suas
atividades presenciais, pois estes, juntamente com demais membros da comunidade
escolar, estariam mais vulneráveis. Em nome da Congregação, Neira diz
reconhecer a insuficiência do ensino remoto para aprendizado de todos os
estudantes, bem como as dificuldades de acesso e domínio de ferramentas virtuais
pelos professores, pais e alunos. Contudo, há uma compreensão de que, nas
atuais circunstâncias de índices de contaminação e mortes apresentados pelas
Secretarias Estaduais de Saúde e o Ministério da Saúde, a prioridade deve ser
dada às questões de saúde pública.
Para as aulas remotas, diversas redes de ensino
municipais tiveram que buscar outros meios de envio de atividades aos alunos
sem internet ou com acesso limitado. “[Mas] não podemos reduzir a atividade
remota emergencial ao acesso à internet. A gente precisaria ter tido no começo
a democratização desse acesso e isso faltou”, lamenta Neira. Para ele, seria
necessário convênios com empresas de telecomunicações distribuidoras de
internet, Secretarias apoiando professores na produção de materiais didáticos e
uma reelaboração do currículo escolar com atividades mais dinâmicas, já que
“trabalhar neste momento não significa reproduzir as aulas que se faziam em
sala de aula, significa repensar as formas de fazer isso”.
Passado tudo isso, com um retorno seguro lá na frente, os
desafios serão enormes para a reorganização de projetos pedagógicos das escolas
e faculdades. Também será preciso levar em consideração o que as crianças,
jovens e professores da educação básica sentiram nesse período. “Quem sabe possamos
definir temáticas que ajudem as crianças a compreenderem o momento do retorno”,
projeta Marcos Neira. Isso se daria ao levar o entendimento do porquê a
sociedade precisa mudar, já que nossa triste realidade fez com que muitas
pessoas fossem atingidas pela pandemia em função de condições sanitárias e de
saúde insuficientes.
“Nós vamos continuar com essa sociedade? Fingiremos que
nada disso aconteceu? Não tiraremos nenhuma lição dessa situação triste?
Precisamos aprender [com a pandemia] e também nos preparar, porque outras
virão. Se não agora, daqui a dez, 15, 20 anos”, alerta o professor.
Jornal da USP
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