Gazeta da Torre
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O pequeno empresário |
“A nossa incapacidade de integrar soluções ambientais em
meio à pandemia de covid-19 só reforça a nossa incapacidade de integrar estas
soluções de modo geral, não é algo novo. Já tivemos várias oportunidades de
realizar esse avanço em casos trágicos recentes da história do País, como nos
das barragens em Minas Gerais – que deveriam ter fornecido um momento de
reflexão sobre a necessidade de incluirmos metas ambientais de forma mais clara
na nossa agenda –, mas não fizemos isso”, afirma a economista e cientista
política Julia Sekula, em entrevista a plataforma UM Brasil (Canal UM BRASIL -
YouTube), uma realização da FecomercioSP. Ela é coautora do livro Brasil:
paraíso restaurável, lançado em setembro de 2020.
“O Brasil não vê essas soluções ambientais como
oportunidades em níveis municipal, estadual ou federal. Poucos prefeitos têm
uma visão melhor disso, mas não existe um consenso sobre a importância das
medidas ambientais”, esclarece a economista.
Julia pontua que, apesar de a pandemia de covid-19 estar
trazendo diversos prejuízos para a economia e para a sociedade, esta não é a
primeira calamidade que estamos enfrentando, pois mais da metade dos municípios
brasileiros, entre 2013 e 2017, declararam Estado de Calamidade Pública de
alguma forma, e por razões ambientais. “Muito mais do que qualquer outra coisa,
o covid-19 é uma crise ambiental”, ela reforça. “O meio ambiente precisa estar
inserido no fundamento de todas as políticas, não há como fugir disso. Para mim,
um candidato à eleição que não fala de meio ambiente, não entende qual é o
caminho do Brasil”.
Na entrevista à cientista política Monica Sodré, Julia
também fala sobre as práticas de ESG [Environmental, Social and Governance],
que englobam fatores como governança corporativa e questões ambientais e
sociais nas empresas – e que servem de parâmetro aos investidores a respeito
das ações sustentáveis de um negócio. Ela avalia que as atuais métricas em
relação a isso não são boas.
“ESG é um ‘guarda-chuva’ com muita coisa. Faltam clareza
e consenso do que realmente é ESG, faltam métricas objetivas. Não adianta se
ter uma linguagem bonita sobre meio ambiente e direitos humanos se não há
formas objetivas de se medir isso. Não adianta a empresa falar que mantém uma
política contra discriminação racial, mas não contratar pessoas negras. Apesar
de ser um movimento das empresas e dos consumidores, não temos ferramentas para
saber se as companhias realmente fazem o que estão falando”, afirma a
economista.
Julia também examina a dificuldade de se integrar
pequenas empresas na agenda em defesa do meio ambiente e de combate à
emergência climática. “Durante a pandemia, eu criei uma ONG para ajudar
pequenos negócios com assessoria financeira. O que temos visto, desde então, é
uma profunda falta de entendimento dos governantes do que é o pequeno
empresário, que representa 27% do PIB [Produto Interno Bruto] e que gera dois
terços dos empregos. Todas as medidas tomadas para ajudar esses empreendedores
nos últimos meses, em termos econômicos, não ajudaram. Se não conhecemos
suficientemente a nossa própria economia, como poderemos começar a implementar
metas ambientais para estes empresários?”, questiona.
Fonte:UM Brasil
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