Gazeta da Torre
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Charge do cartunista Jean Galvão |
De um lado, o receio de aprovar uma Reforma Tributária
que aumente a carga de impostos sobre os contribuintes; de outro, optar por não
se precipitar e, com isso, conviver com o risco de perder uma oportunidade de
remodelar o sistema. Apesar do aparente consenso político em relação à
necessidade de reformular o regime tributário, realizar uma reforma ampla, além
de historicamente difícil em contextos de crise econômica, deve esbarrar no
conflito federativo sobre a arrecadação de impostos.
A solução para esse impasse, de acordo com as
tributaristas Ana Carolina Monguilod e Melina Lukic, seria reformular o sistema
tributária por etapas. Nesse sentido, elas argumentam, em debate promovido pelo
UM BRASIL – uma realização da FecomercioSP –, que o País poderia se espelhar
nos modelos do Canadá e da Índia, duas nações federalistas que, assim como a
brasileira, também repartem a competência de tributar entre os governos federal
e os subnacionais. Em ambos os países, o embaraço tributário foi resolvido com
a adoção de dois Impostos sobre Valor Agregado (IVAs) – um de jurisdição nacional
e outro da autoridade local.
“Se você não consegue fazer uma reforma ampla neste
momento, o ideal é dar um passo de cada vez e, quem sabe, preparar o sistema tributário
para esta reforma abrangente mais à frente, pensando em um IVA dual, que é
extremamente interessante”, afirma Ana Carolina, coordenadora do Grupo de
Estudos de Políticas Tributárias (GEP) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Melina Lukic, diretora de cursos na Universidade Iorque
(Canadá), explica que, enquanto as Propostas de Emenda à Constituição (PECs)
45/2019, em trâmite na Câmara, e 110/2019, em andamento no Senado, são mais
vastas, o Projeto de Lei 3.887/2020, encaminhado pelo governo federal ao
Congresso Nacional, limita-se a substituir PIS/Cofins pela Contribuição Social
sobre Operações com Bens e Serviços (CBS), uma espécie de IVA dos tributos
federais.
“Seria muito positivo se, pelo menos, a CBS fosse
aprovada, porque não vejo a curto prazo a possibilidade de aprovação de um IVA
amplo”, avalia Melina. Segundo ela, o IVA dual “dissolve o conflito federativo
que barrou todas as reformas”, por separar a administração dos tributos entre
União e Estados. “Por isso que, na minha opinião, o IVA dual seria a solução
mais fácil para se implementar a Reforma Tributária no Brasil”, pontua.
Conjuntura reformista
Embora o momento político aparente ser favorável à
aprovação de pautas que modifiquem aspectos estruturais da economia brasileira,
Ana Carolina salienta que, “historicamente, as grandes reformas tributárias
provocaram aumento de carga”. Sendo assim, ela defende que a Reforma
Administrativa seja implementada simultaneamente à reformulação do regime de
impostos.
“Estamos nesta situação caótica, de pandemia, de crises
econômica e sanitária, discutindo uma Reforma Tributária, quando o Estado
precisa de recursos e temos um déficit [fiscal] histórico. Tenho muito medo de
fazermos uma reforma neste momento. O que confirma o meu medo são todos estes movimentos
que temos visto de diversos grupos de pressão pedindo aumentos de benefícios.
Estamos numa situação em que deveríamos ‘cortar na carne’, e não ter aumento de
gasto”, ressalta Ana Carolina.
Melina, por sua vez, argumenta que o Brasil somente discute
a possibilidade de reformar o sistema tributário a cada dez anos, e que crises
– como as decorrentes da moratória da Rússia, em 1998, e a do sistema
financeiro, em 2008 – costumam impedir a realização dessa pauta. Por isso,
defende que o País não perca mais a oportunidade.
“Se partir da premissa de que não vai haver [aumento de] carga tributária, eu sou super favorável que se faça, sim, a reforma. A meu ver, a Reforma Tributária vai ser, inclusive, uma maneira mais fácil de as empresas saírem dessa recessão, porque, quando você implementa um tributo como o IVA – que é eficiente, não causa distorção e redistribui a carga tributária entre os setores –, você torna a economia como um todo mais eficiente”, justifica.
Fonte:UM Brasil
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