Gazeta da Torre
Chegamos ao fim de um ano com tantos acontecimentos e
crises que nossa sensação temporal ficou ainda mais confusa. “É sério que
acabou?” – talvez nos perguntemos no primeiro dia de 2021. É certo que uma
convenção como data não promoverá, por si, grandes mudanças. Mas é uma
distinção simbólica importante numa sociedade como a nossa – mais ainda no
contexto das tragédias que vivemos em 2020.
Cientistas, como todos, vivenciaram os momentos sofridos
da pandemia. Como as mortes que doeram mais pela certeza de que muitas poderiam
ter sido evitadas, com uma melhor condução pelos líderes brasileiros, que não
existiu. Pelo contrário, muitas vezes o ambiente foi tumultuado por quem foi
colocado no poder pelo voto. E para quem o caos parece ser vantajoso, ainda que
com o preço de vidas.
Outros atores, porém, ocuparam com louvor o protagonismo
na diminuição do impacto – biológico e social – da doença. Para nosso orgulho,
muitos deles estão nas universidades públicas. Na ciência e tecnologia de
primeira qualidade nelas produzidas, nos campos mais diversos. Mesmo diante de
ataques a esta mesma ciência, que representam, eles sabiam que o desânimo não
era uma opção. Este texto reúne os depoimentos de alguns deles, vozes que
sempre merecem ser ouvidas, mostrando um pouco do que 2020 nos ensinou (ou que
deveria ter ensinado) e as expectativas para a ciência, em sentido amplo, para
2021. Junto a eles e a todos os cientistas que não estão neste texto, mas sempre
buscaram estar ao lado da boa ciência – e no lado correto da história que
construímos – nos despedimos dos nossos leitores neste ano.
O reitor da USP, Vahan Agopyan, sabe que 2020 foi muito
difícil para a sociedade e o sistema universitário, mas não considera que tenha
sido um ano perdido, pois “aprendemos muito enfrentando e superando desafios
imprevistos”.
A comunidade de pesquisa respondeu de uma forma efetiva.
“No caso da USP, mais de 250 grupos iniciaram ou adequaram os seus estudos para
o conhecimento e combate do novo coronavírus. Desde o sequenciamento do seu
genoma até o desenvolvimento de ventiladores e máscaras, passando pelos estudos
de novos testes, medicamentos e vacinas”, relembra o reitor.
Para Agopyan, outro ponto fundamental foi a rapidez dos
resultados, “fruto de um grande esforço multidisciplinar e da pressão de salvar
vidas”. Ele ressalta ainda que a postura dos docentes e pesquisadores se
modificou e a atitude de competição se transformou em colaboração.
O pró-reitor de Pesquisa, Sylvio Canuto, também destaca o
trabalho em colaboração e o aumento de interação com a sociedade. “Até
novembro, a USP era a 16ª instituição de pesquisa do mundo que mais havia
publicado artigos científicos nesse tema. “Eu já disse antes e reitero: a ciência
brasileira está madura e pronta para um grande salto. Mas falta uma política
científica nacional e estabilidade de condições, especialmente, recursos
financeiros continuados, sem percalços. O que nós vimos nesse ano foi um
desafio bem definido colocado pelo coronavírus e a ciência brasileira
respondendo com uma grande e criativa performance.”
De acordo com o pró-reitor, era de se esperar que o
reconhecimento da importância da ciência levasse também a um consequente
aumento de investimentos. Mas isso não parece ser o caso no País e o horizonte
não parece muito promissor. “Pensar em novas formas de obter recursos para a
pesquisa, tanto básica como aplicada, tanto tecnológica como social, é um dos
desafios para o próximo ano”, diz.
Como um “belo exemplo de interação
universidade-sociedade”, Canuto cita o projeto USP VIDA para doações de
recursos, que alcançou quase 3.200 pessoas físicas, que se sensibilizaram e
doaram para pesquisas.
Ele diz ainda que estamos aprendendo que projetos amplos
e institucionais são capazes de causar impactos de maior alcance. “E desafios
multidisciplinares são também vistos em temáticas como aquecimento global,
desigualdades sociais, violência urbana, saúde planetária, saúde alimentar,
energias limpas, economia azul, entre outras.”
Fonte:Jornal da USP
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