domingo, 27 de dezembro de 2020

Importância da ciência ficou mais visível em 2020 com a pandemia, que também tem sido um curso intensivo de duras lições

 Gazeta da Torre

Chegamos ao fim de um ano com tantos acontecimentos e crises que nossa sensação temporal ficou ainda mais confusa. “É sério que acabou?” – talvez nos perguntemos no primeiro dia de 2021. É certo que uma convenção como data não promoverá, por si, grandes mudanças. Mas é uma distinção simbólica importante numa sociedade como a nossa – mais ainda no contexto das tragédias que vivemos em 2020.

Cientistas, como todos, vivenciaram os momentos sofridos da pandemia. Como as mortes que doeram mais pela certeza de que muitas poderiam ter sido evitadas, com uma melhor condução pelos líderes brasileiros, que não existiu. Pelo contrário, muitas vezes o ambiente foi tumultuado por quem foi colocado no poder pelo voto. E para quem o caos parece ser vantajoso, ainda que com o preço de vidas.

Outros atores, porém, ocuparam com louvor o protagonismo na diminuição do impacto – biológico e social – da doença. Para nosso orgulho, muitos deles estão nas universidades públicas. Na ciência e tecnologia de primeira qualidade nelas produzidas, nos campos mais diversos. Mesmo diante de ataques a esta mesma ciência, que representam, eles sabiam que o desânimo não era uma opção. Este texto reúne os depoimentos de alguns deles, vozes que sempre merecem ser ouvidas, mostrando um pouco do que 2020 nos ensinou (ou que deveria ter ensinado) e as expectativas para a ciência, em sentido amplo, para 2021. Junto a eles e a todos os cientistas que não estão neste texto, mas sempre buscaram estar ao lado da boa ciência – e no lado correto da história que construímos – nos despedimos dos nossos leitores neste ano.

O reitor da USP, Vahan Agopyan, sabe que 2020 foi muito difícil para a sociedade e o sistema universitário, mas não considera que tenha sido um ano perdido, pois “aprendemos muito enfrentando e superando desafios imprevistos”.

A comunidade de pesquisa respondeu de uma forma efetiva. “No caso da USP, mais de 250 grupos iniciaram ou adequaram os seus estudos para o conhecimento e combate do novo coronavírus. Desde o sequenciamento do seu genoma até o desenvolvimento de ventiladores e máscaras, passando pelos estudos de novos testes, medicamentos e vacinas”, relembra o reitor.

Para Agopyan, outro ponto fundamental foi a rapidez dos resultados, “fruto de um grande esforço multidisciplinar e da pressão de salvar vidas”. Ele ressalta ainda que a postura dos docentes e pesquisadores se modificou e a atitude de competição se transformou em colaboração.

O pró-reitor de Pesquisa, Sylvio Canuto, também destaca o trabalho em colaboração e o aumento de interação com a sociedade. “Até novembro, a USP era a 16ª instituição de pesquisa do mundo que mais havia publicado artigos científicos nesse tema. “Eu já disse antes e reitero: a ciência brasileira está madura e pronta para um grande salto. Mas falta uma política científica nacional e estabilidade de condições, especialmente, recursos financeiros continuados, sem percalços. O que nós vimos nesse ano foi um desafio bem definido colocado pelo coronavírus e a ciência brasileira respondendo com uma grande e criativa performance.”

De acordo com o pró-reitor, era de se esperar que o reconhecimento da importância da ciência levasse também a um consequente aumento de investimentos. Mas isso não parece ser o caso no País e o horizonte não parece muito promissor. “Pensar em novas formas de obter recursos para a pesquisa, tanto básica como aplicada, tanto tecnológica como social, é um dos desafios para o próximo ano”, diz.

Como um “belo exemplo de interação universidade-sociedade”, Canuto cita o projeto USP VIDA para doações de recursos, que alcançou quase 3.200 pessoas físicas, que se sensibilizaram e doaram para pesquisas.

Ele diz ainda que estamos aprendendo que projetos amplos e institucionais são capazes de causar impactos de maior alcance. “E desafios multidisciplinares são também vistos em temáticas como aquecimento global, desigualdades sociais, violência urbana, saúde planetária, saúde alimentar, energias limpas, economia azul, entre outras.”

Fonte:Jornal da USP

DIVULGAÇÃO

Nenhum comentário:

Postar um comentário