terça-feira, 22 de dezembro de 2020

CULTURA na Pandemia

 Gazeta da Torre

Quando milhões de pessoas, Brasil afora, pularam sete ondinhas na passagem de 2019 para 2020, estouraram garrafas de champanhe e separaram sementes de uva para garantir prosperidade e felicidade no novo ano, ninguém esperava por isso. Quando seguidores dos mais variados e relevantes credos fizeram suas orações por um 2020 cheio de paz, ninguém esperava por isso. Quando se escolheu a cor da roupa para o Reveillon entre o amarelo para ter dinheiro ou o vermelho para ter sorte no amor, também ninguém esperava por isso. Porque mais do que um novo ano cheio de expectativas e esperanças, um ano regido no horóscopo chinês pelo rato, o que ganhamos no primeiro trimestre de 2020 foi um ano inteiro regido por dois nomes, sinônimos entre si em sua performance maligna: coronavírus e covid-19. Não houve ondinha que desse jeito nesse bicho do mal. E também não houve cor de roupa que pudesse garantir um bom ano quando a doença se espalhou como rastilho de pólvora por todas as latitudes do planeta – qual é o tom certo para combater um vírus? Mas 2020 seguiu seu curso, aos trancos e barrancos, é verdade, com muitas e lamentáveis perdas, e todos, sem exceção – até aqueles que fingiam não ver o mal que se alastrava ou o minimizava -, tiveram que se reinventar e se adaptar nesse novo e estranho normal de distanciamento social, máscaras no rosto e vida vivida virtualmente.

Nesse novo quadro de reinvenção, a Cultura – com “C” maiúsculo mesmo – teve um papel essencial. Porque, se nossa saúde física depende, e muito, das descobertas da Ciência, das vacinas que estão chegando e dos profissionais de saúde que se esmeraram e continuam se esmerando em tratar milhares de doentes, a nossa saúde mental – e anímica – esteve nas mãos dos bens culturais que conseguimos consumir ao longo desses meses pandêmicos. Esteve e ainda está. E não importa se a sanidade da alma conseguiu ser mantida maratonando séries, lendo livros ou vendo lives atrás de lives no computador. O importante foi consumir cultura e, com ela, garantir a nossa relação com o mundo sensível e fugaz que passamos a admirar este ano, na maioria das vezes, apenas pelas janelas.

“Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva”, afirmou certa vez o escritor franco-argelino Albert Camus, coincidentemente autor de uma obra chamada A Peste. E para que a nossa sociedade não virasse uma jângal cuja salvação seria o ar condicionado de um shopping, consumiu-se cultura da forma que foi possível. Os teatros, cinemas, casas de espetáculo, livrarias, estão fechados? Caiamos, então, na virtualidade do ser e do estar, com as telas dos computadores, tablets e celulares – eivadas da assepsia do distanciamento social – se transformando nos novos cinemas, estantes e palcos da nova ordem.

“A música tem vocação civilizatória, porque nos ensina a ouvir. Se a gente ouvisse mais uns aos outros, em vez de estar ressaltando diferenças, estaríamos ressaltando semelhanças”, afirmou ao Jornal da USP o professor Gil Jardim, maestro titular da Orquestra de Câmara da Escola de Comunicações e Artes da USP, a Ocam. Foi pensando justamente nessa vocação que a orquestra levou ao ar o vídeo Espero que Nomes Consigam Tocar, uma homenagem às vítimas da covid-19 que contou com a participação do músico Chico César.

“É também uma forma de fortalecer o vínculo entre os cantores neste momento tão complicado, além de continuarmos cantando”, explicou Robert Gavidia Bovadilla, um dos idealizadores do projeto.

Fonte:Jornal da USP

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Madalena - Recife/PE

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