Gazeta da Torre
Segundo Gabriela Zanim, a economia solidária, constituída
como um empreendimento coletivo, é capaz de gerar empregos, incluindo pessoas
marginalizadas
Passar pelo processo de reabilitação psicossocial e
reinserção social não é tarefa fácil. Os ex-dependentes de álcool e drogas são
marginalizados pela família, amigos e sociedade e seu histórico de abuso de
álcool e drogas dificulta a busca por emprego. Os empregadores receiam até
mesmo serem roubados. Entretanto, pesquisadores da Escola de Enfermagem de
Ribeirão Preto (EERP) da USP acreditam no investimento na economia solidária
como resposta para a reinserção social dos ex-dependentes químicos.
Constituída como um empreendimento coletivo em que as
atividades econômicas, de produção, distribuição e consumo, entre outras, são
organizadas no formato de autogestão, a economia solidária, segundo a
pesquisadora da EERP, Gabriela Zanim, é capaz de gerar empregos, incluindo
pessoas marginalizadas. Nesse tipo de estrutura, afirma Gabriela, esses
indivíduos podem exercer diferentes tipos de atividades econômicas – de
produção de bens, prestação de serviços, trocas, finanças solidárias, comércio
justo e consumo solidário, obtendo lucros gerados que, então, são divididos
igualmente entre os indivíduos participantes.
E a pesquisadora faz essas afirmações baseada nos
resultados positivos obtidos pelo grupo que acompanhou durante seu último
projeto de pesquisa. As novas oportunidades de trabalho surgidas a partir das
iniciativas da economia solidária, garante Gabriela, mudaram a vida desses
ex-dependentes químicos de forma “muito forte e persistente. Fiquei emocionada
quando ouvi um dos participantes dizer que estava trabalhando com artesanato.
Era possível sentir orgulho na voz dele quando falou”.
O estudo de Gabriela foi realizado com o acompanhamento de
grupo de pessoas atendidas no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS),
instituição de saúde comunitária do SUS que trata de indivíduos que sofrem com
transtornos mentais. A instituição conta com funcionários treinados para
auxiliar ex-dependentes tanto no processo de reabilitação psicossocial quanto
no desenvolvimento da economia solidária.
Para que serve a economia solidária
O projeto Álcool, drogas e inclusão social pelo trabalho:
Potencialidades e dificuldades de uma prática baseada na economia solidária integra
o trabalho de mestrado de Gabriela Zanim, apresentado em janeiro de 2020 à
EERP. O objetivo de sua pesquisa foi provar que, mesmo pouco conhecida e
difícil de colocar em prática, a economia solidária pode ser alternativa
eficiente para inclusão de população excluída do País.
Antes de ingressar em sua pós-graduação na USP, Gabriela
já trabalhava com indivíduos que sofriam com transtornos mentais e, conta a
pesquisadora, tinha interesse em estudar mais sobre o assunto. Assim, orientada
pela professora Regina Celia Fiorati, da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto (FMRP) da USP, Gabriela diz ter se envolvido com a economia solidária e
enxergado as potencialidades desse tipo de economia.
A pesquisadora enxerga o futuro da sociedade, envolvendo
a economia, como algo que vai além do acúmulo de lucros, o que a economia
solidária é capaz de viabilizar. Garante que o entrave para o desenvolvimento
dessa prática econômica deve-se ao seu pouco conhecimento público. Diz que,
mesmo com o objetivo de valorizar o ser humano e seu trabalho, as Prefeituras
da região de Ribeirão Preto, por exemplo, “falham em promover feiras de
economia solidária, onde as pessoas em reabilitação podem mostrar o trabalho e
produtos que têm feito”. Segundo ela, a divulgação desses trabalhos devia ser
maior, mostrando a recuperação dos indivíduos sociais e sua força de produção
econômica e não apenas “buscar o acúmulo de lucros”.
Fonte:Rádio USP
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