Gazeta da Torre
Quase 90% de quem acompanha o reality show já sentiu
raiva e preconceito, mas apenas 7% pensa em parar de assistir; psicanalista
fala em identificação e quebra de uma expectativa positiva do entretenimento
O BBB 21 estreou há três semanas e já levantou discussões
sérias sobre temas como violência psicológica e cultura do cancelamento. A
atenção do telespectador está voltada aos desdobramentos de cada 'treta' que
ocorre na casa, mas esse interesse tem gerado sentimentos negativos que estão
atrelados à saúde mental e emocional de quem assiste.
Uma pesquisa realizada pela Hibou, empresa de
monitoramento de mercado e consumo, mostra que os temas no reality show incomodam
e despertam gatilhos.
Entre os brasileiros que estão acompanhando o programa
(52% de 2.467 entrevistados), 86% afirmam que já sentiram emoções negativas
fortes, sendo que raiva, tristeza, preconceito e humilhação têm maior
expressividade.
Com mais de 20 anos no ar, o Big Brother Brasil já faz
parte da rotina de entretenimento sazonal da população. Nos três meses em que
fica no ar, o programa pauta a imprensa, as conversas de bar e até mesmo quem
não assiste tem opinião sobre a atração. O telespectador está ali para uma
espécie de diversão, mas a quebra de uma expectativa positiva acaba provocando
sensações contrárias.
"O público tem uma noção de que entretenimento é
positividade e não mexe com questões que são negativas, como tragédias,
discussões, desencontros e brigas. Mas, de alguma forma, [o programa] faz tanto
sucesso justamente porque a ideia é desvelar, abrir para o grande público a
espontaneidade e a vida privada das pessoas e isso lida também com coisas
negativas, porque não tem como ter controle", comenta o psicanalista
Leonardo Goldberg, doutor em psicologia pela Universidade de São Paulo.
Segundo o especialista, a diferença da edição atual do
BBB para as anteriores é que, agora, as pessoas estão nomeando e descrevendo os
próprios sentimentos quando veem uma situação que causa identificação, seja de
alegria ou repulsa. E diferente de uma novela, em que, na maior parte, os
vilões, os mocinhos e as zonas de tragédias são bem definidas, o reality show
traz reviravoltas. Ao perceber que alguém, antes visto como 'bonzinho', se
revela completamente diferente, o público sente o impacto de modo mais íntimo.
"É a quebra de que o entretenimento traria um
apaziguamento das paixões, sem brigas nem discussões. Esse BBB está sendo um
balde de água fria, uma quebra de ilusões. Tem um colapso nessas definições e o
espectador fica bagunçado", diz Goldberg. E como produto cultural de
consumo, a atração da TV Globo atrai interesse e desperta prazeres e repulsas,
alegrias e tristezas, da mesma forma como quando nosso personagem favorito é
assassinado de modo cruel na história de um livro ou o vilão tem vitórias
sucessivas em uma série ou filme.
Mas o curioso do ser humano é seguir consumindo
justamente aquilo que lhe causa desprazer. A pesquisa da Hibou mostra que
apenas 6,7% dos entrevistados estão pensando em parar de assistir ao Big
Brother Brasil 21. Entre os motivos estão: ausência de um clima feliz (51,3%),
conteúdo pesado (50,6%), muita discussão boba e pouca diversão (43,8%) e
cansaço do assunto de cancelamento (36,9%). Por que, então, seguimos vidrados?
"O espectador está um pouco mais amadurecido em
relação a conteúdo que é muito estático, em que ele já sabe o que vai acontecer
no final. Muito do que a gente aclama é aquela velha máxima de: 'tudo o que
achei que ia acontecer não aconteceu'. A graça do reality show são esses
movimentos de reviravoltas", responde o psicanalista.
Para 51,4% dos entrevistados na pesquisa da Hibou, o que
chama atenção no programa, de forma geral, é a possibilidade de bisbilhotar o
comportamento das pessoas. Outros 49,4% disseram que gostam mesmo é dos
conflitos por opiniões e atitudes distintas. Apenas um quarto deles afirma
relaxar assistindo à atração e 19,9% dizem que acompanham o reality para ter
assunto com os amigos.
Uma vez que, em grande parte, o BBB mostra a vida privada
e cotidiana das pessoas como ela é, a sensação de pertencimento e identificação
faz com que, mesmo sofrendo, o telespectador continue vigiando a casa. Afinal,
ele sabe que também existem problemas e intrigas na vida real.
Fonte:Estadão.
DIVULGAÇÃO
Nenhum comentário:
Postar um comentário