Gazeta da Torre
'Ganbatte' significa “se esforce ao máximo”. É o que os
japoneses desejam uns aos outros ante qualquer desafio – o que explica sua
personalidade resiliente. Saiba como aplicar esse princípio no atual ambiente
de dificuldades.
Héctor García, escritor e engenheiro radicado no Japão,
conta que a diferença entre a fragilidade da cultura ocidental e a resiliência
da japonesa está no espírito com o qual os orientais enfrentam as crises.
Na Espanha, por exemplo, quando uma pessoa realiza uma
prova, os amigos a incentivam com expressões do tipo “Boa sorte!”, o que situa
o poder fora dela. É como se os astros precisassem se alinhar para as coisas
darem certo.
Um japonês, por sua vez, diria Ganbatte kudasai, que é a
forma cortês de animar a outra pessoa a fazer o melhor possível. Aqui não há um
fator externo na equação. Para a mentalidade japonesa, se você se esforçou ao
máximo, já é um sucesso —mesmo que o resultado obtido não seja o ideal. Essa
atitude de máxima exigência no que depende da própria pessoa, aplicada de forma
contínua, é o que acaba realizando o milagre.
Talvez por isso, um dos mais célebres ditados japoneses
é: “Se quiser esquentar uma rocha, sente-se em cima dela por 100 anos.” Para
vencer grandes dificuldades, é preciso ter paciência, o que não significa ficar
parado e esperar que as circunstâncias mudem, e sim comprometer-se para criar
essas novas circunstâncias.
O ganbatte está presente tanto na atitude individual dos
japoneses como nas mensagens coletivas, sobretudo em tempos turbulentos como os
atuais. Em 1995, após um terremoto que causou grande destruição em Kobe, uma
palavra de ordem que circulou por todo o Japão foi Ganbarō Kobe. O sentido da
mensagem seria: “Muito incentivo para Kobe por parte de todos; juntos, e com
esforço, sairemos dessa.” Depois, em 2011, o devastador terremoto e tsunami e a
catástrofe nuclear de Fukushima geraram o slogan nacional Ganbaru Nippon! A
frase incentivava os japoneses a fazerem o melhor possível e a se unirem para
ajudar os afetados. Esse espírito se manifestou de maneira heroica quando
trabalhadores aposentados da usina nuclear se ofereceram para assumir o
controle da instalação. Eles disseram que era preferível que a radiação
afetasse pessoas que já tinham vivido a jovens com um futuro pela frente.
Uma bela lição para esta época, que exigirá que imitemos
o espírito japonês. E podemos aplicá-lo ao nosso dia a dia com cinco medidas
práticas.
Fazer
em vez de reclamar. Kamala Harris, que terá um papel primordial
na reconstrução dos Estados Unidos, conta que sua mãe lhe deu este conselho:
“Não fique de braços cruzados enquanto se queixa das coisas; faça algo.”
Valorizar
as pequenas ações. Como mostra a filosofia Kaizen —o processo
de melhoria contínua—, um avanço modesto, mas continuado, acaba alcançando uma
grande transformação.
Esperança
em vez de desespero. Uma atitude esperançosa, focada no dia a
dia, não no “Quando isso acabará?”, ajuda a manter o ânimo.
Não
desperdiçar energia. Em discussões que não levam a nenhum lugar,
em lamentos. Agora precisamos preservar a força mental para seguir em frente.
Buscar
a companhia de entusiastas. Acabamos nos parecendo com quem mais
nos encontramos. Aproximar-se de pessoas com espírito de ganbatte, que se
esforçam para melhorar ao invés de cair no espírito negativo, vai nos ajudar.
Fonte: Francesc Miralles, escritor e jornalista especializado em psicologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário