Gazeta da Torre
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A transição presidencial dos Estados Unidos, com Donald
Trump sendo sucedido por Joe Biden na Casa Branca, deve marcar uma mudança de
política externa, na qual o presidente eleito, em vez de conduzir o país de
forma apartada do mundo, buscará fortalecer as alianças e o multilateralismo, a
fim de reafirmar uma ideia de liderança norte-americana em todo o planeta. Esta
é a análise do sociólogo, internacionalista e diretor de estratégia da Arko
Advice, Thiago de Aragão.
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da
FecomercioSP, Aragão sintetiza que, no que diz respeito à política
internacional do próximo presidente norte-americano, “a palavra é
reconstrução”. Ele salienta, contudo, que Biden deve mudar a forma, mas não
necessariamente o conteúdo da política conduzida pelo atual governo.
“Trump via os Estados Unidos tão poderosos que pensava
que o país devesse agir sozinho. Já Biden vê que o poder dos Estados Unidos
está em trazer e angariar um corpo maior de aliados para tratar de determinados
temas”, diferencia. “Biden tem uma visão multilateral do mundo. Ele entende que
o mundo se forma com alianças com as quais os Estados Unidos devem estar na
liderança”, complementa.
Aragão, também pesquisador sênior do Center for Strategic
and International Studies (CSIS), sediado em Washington D.C. (Estados Unidos),
indica que Biden tem uma integração maior com a legenda pela qual foi eleito, o
Partido Democrata, do que Trump com o Republicano. Por isso, espera-se que as
decisões de política externa sejam tratadas de maneira mais cautelosa e menos
impulsiva.
“A noção de reality show em cima da política externa vai
diminuir, senão desaparecer”, projeta. “O fato de ficar mais submersa pode dar
a impressão no público geral de que é uma política menos robusta, mais frouxa
ou, talvez, não tão constante”, avalia.
Independentemente do estilo do presidente eleito, Aragão
destaca que a política de contenção tecnológica da China continuará. “Na
percepção de Biden, ele acredita que quanto maior for a rede de alianças
multilaterais pressionando a China sobre este tema, mais fácil será ter algum
resultado. (…) Biden tem plena noção de que, tecnologicamente, a China é uma
ameaça aos Estados Unidos e de que, comercialmente, deveria comprar mais dos
norte-americanos”, pontua.
Relação entre Brasil e Estados Unidos
Aragão explica que as relações bilaterais são divididas
entre os setores governamental e privado. Com isso, apesar da predileção do
presidente Jair Bolsonaro por Donald Trump em detrimento de Joe Biden, “no
setor privado, a relação dos dois países vai seguir muito sólida”.
“O nosso mercado financeiro é profundamente integrado ao
norte-americano. Temos indústrias norte-americanas há muitas décadas no Brasil
e empresas dos Estados Unidos que fazem parte do imaginário brasileiro, como
Apple, Microsoft, Amazon, Netflix, entre outras”, reforça.
No campo governamental, a despeito de o governo brasileiro
demorar a ter reconhecido a vitória de Joe Biden nas urnas, o sociólogo
acredita que as chances de atrito entre os chefes de Estado são mínimas. “Isso
pode incomodar muita gente, mas o Brasil não é uma das dez ou 15 prioridades de
Biden ou de qualquer outro presidente americano”, conclui.
Fonte:UM Brasil
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