Gazeta da Torre
Um dos principais desafios da execução das peças on-line
é a capacidade de o ator se envolver com o telespectador do outro lado da tela,
ressalta José Fernando Peixoto de Azevedo
A necessidade de distanciamento social impactou
diretamente o setor cultural. As peças de teatro, normalmente feitas em casas
de espetáculo, com plateias cheias e contato físico, foram impossibilitadas de
acontecer durante a pandemia. No entanto, algumas companhias de teatro
recorreram a uma solução: as peças on-line. E, para participar, basta encontrar
alguma de seu agrado, adquirir os ingressos, ter acesso à internet via celular
ou computador.
As peças de teatro on-line não são novidade, mas, no
contexto da pandemia, a transição para o virtual acontece pela necessidade de
sobrevivência da arte e dos artistas durante a crise, como explica o professor
José Fernando Peixoto de Azevedo, diretor da Escola de Arte Dramática,
orientador no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e docente do
Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da
USP: “Há uma dimensão dessa realidade on-line que tem a ver com uma necessidade
de sobrevivência e, portanto, revela seu caráter provisório inscrito nessa
situação que a gente imagina ou deseja que seja provisória e que é precária”.
Segundo o professor, um dos principais desafios da
execução das peças on-line é a capacidade de o ator se envolver com o
telespectador do outro lado da tela e, para isso, as plataformas virtuais
oferecem diversas possibilidades de invenção. “Há obras que você assiste
durante uma hora e se sustentam nessa plataforma e há obras que não se
sustentam por 15 minutos. Isso pode ter a ver com qualidade, mas pode ter a ver
com o tipo de pergunta que o artista está tentando elaborar no momento que ele
estabelece a conexão.”
Com a virtualização das peças teatrais, é possível
ampliar o acesso à arte, desde que se tenham as ferramentas básicas que
garantam a conexão, como internet e um aparelho celular ou computador. No
entanto, nem sempre o acesso às peças de teatro significa, de fato, se envolver
com o que os artistas propõem. Para Peixoto de Azevedo, além do acesso, é
preciso garantir a qualidade do vínculo entre os atores e o público. “Nós
devemos nos perguntar qual é a qualidade política e afetiva desse vínculo,
desse acesso, ou em que medida esse acesso produz efetivamente um vínculo, que
seja de imaginação no mínimo. Nem tudo se resume ao acesso. Você pode ter 100
mil visualizações e isso não significa que visualizar seja o mesmo que
participar, agir e transformar”, finaliza.
Fonte:Rádio USP
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