quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

UM ALBINO EM NOSSO BAIRRO

Gazeta da Torre
Severino Silvestre, o Galego do Coco
"Quando nasci em Camtububa  (lugarejo de Gravatá), tinha tudo para que minha vida desse errado. Sou albino", comentou Severino Silvestre, o famoso Galego do Coco - como é conhecido no bairro. 

Ser albino já acarreta uma série de problemas, como não poder tomar sol ou ter visão prejudicada. Além dessas inconveniências físicas, havia também os problemas econômicos. Seus pais trabalhavam no roçado. Tinham poucos recursos ou quase nenhum. Em um bate-papo na Beira Rio com Mauricio do Gazeta da Torre, Severino falou das dificuldades que enfrentou e como conseguiu mudar a situação. 

(Gazeta da Torre) Quando nasceu, sua família já imaginava algumas dificuldades que iria enfrentar em sua vida?

(Severino) Passado o tempo, minha família sempre me aceitou e me deu apoio. Fora de casa, era diferente e ainda é. As pessoas me apontam na rua e dizem um bocado de coisa. Fui chamado de vovô, rato branco, filhote de urubu, brancoso e até mesmo de marciano - e olha que nem sou verde. (risos) 

(GT) Você tinha vergonha de sair na rua? 

(S) Nunca quis me esconder em casa. Fazia um bocado de estratégias. A medida que as pessoas me perturbavam, fui percebendo que elas me colocavam no centro das atenções.

(GT) Como foi a vida para você durante esses longos anos? 

(S) A vida nunca foi fácil para mim, ainda na adolescência, decidi enfrentar a vida sozinho. Com 15 anos vim para o Recife trabalhar em um bar e depois em uma escola. Hoje, com muita luta e algumas desilusões que a vida da cidade grande apronta, comecei a ter meu próprio negócio. Trabalho na venda de coco (Beira Rio - nas proximidades da Academia da Cidade). Aqui em Recife tive que aprender a ser mais esperto, mas, ainda muitas pessoas me enganam, cidade grande as pessoas são diferentes de onde eu nasci.       
                                                                               
(GT) Calcula-se que, na Europa, exista um albino para cada 17 mil pessoas. No Brasil, essa proporção pode ser maior, e aqui eles são mais presentes. Mesmo assim, as pessoas têm muitas dúvidas sobre o albinismo. Principalmente na visão. A noite o grau de visão é menor. Perguntamos para Severino se a noite era ruim para enxergar? 

(S) "Imagina! Eu já tenho pouca vista, imagine a noite.

(GT) Além de problemas na visão você é analfabeto. Como faz para se virar nas contas? 

(S) Foi uma das primeiras coisas que fui obrigado a aprender em minha vida, até no escuro passo troco, diz sorrindo.  

(GT) Sabemos que Severino é solteiro e resolvemos perguntar: Quanto às mulheres, não pensa em casar?  

(S) Deus me livre! As mulheres só chegam perto de mim para levar meu dinheiro, mas acho que ainda vou encontrar uma que pense diferente. Eu acho. (risos)
    
(GT) Uma coisa que lhe tira do sério? 

(S) Vender fiado, trabalho muito para ter o pouco que tenho hoje.

(GT) Cuida da saúde? 

(S) Faço o que posso.

Pessoas como Severino precisam usar protetor solar diversas vezes por dia e óculos de sol, muitas vezes com grau, tudo isso sai bastante caro, e muita gente com albinismo não tem recursos, porque o preconceito torna mais difícil conseguir bons empregos. 

Mas, com todas as dificuldades enfrentadas, Severino ainda consegue ter momentos felizes e mostrar para muita gente que ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Essa é uma de nossas mensagens. Valeu!




Nenhum comentário:

Postar um comentário