A Prefeitura do Recife lançou em Agosto/2013, no Campo do
Bueirão, na Torre (campo de futebol em frente à Igreja da Torre), o Programa
Recife Bom de Bola, um campeonato de futebol de várzea. De acordo com a Prefeitura, a iniciativa, em
2013, utilizar o esporte como plataforma para um conjunto de ações, dentre
elas, afastar os jovens das drogas e levar cidadania aos bairros.
Foi exatamente nesse cenário, o Campo do Bueirão, que
resolvemos ter um rápido e expressivo bate-papo com um determinado morador que
há muitos anos é usuário de drogas. Aqui, iremos chamá-lo pelo nome fictício de
Antônio e, como ele diz, o papo vai ser reto e real. Não foi por acaso que
escolhemos Antônio, pois além de ser usuário há muito tempo, ele é nascido e
criado na Torre. A possibilidade dessa conversa se deu por ele conhecer e
confiar em nosso sério trabalho. Um alerta real aos jovens da nova geração que
estão surgindo em nosso bairro. O interesse é mútuo, pois a intenção de quando
o procuramos foi exatamente esta: fazer um alerta.
Na foto:
Antônio, da arquibancada do Campo do Bueirão, na Torre, isolado e sem amigos, observa jovens jogando futebol do outro lado do alambrado. Rumos distintos da vida separados por uma cerca. |
Hoje, Antônio, vítima de um resultado final dos cartéis
do narcotráfico lá de cima, se encontra com 42 anos. De família humilde e
trabalhadora, estudou em uma escola pública e tradicional do bairro.
Acompanhando seu pai nas visitas de trabalho, passou a conhecer pessoas de
poder aquisitivo alto. Mas foi na rua, aos 15 anos, fase mais vulnerável para
dependência química, que a droga disseminou seu veneno. O álcool e a maconha.
Era apenas o início.
Antônio relata que na época como adolescente não pensava
e nem entendia a palavra consequência. Já seu pai não tinha noção da situação.
No trabalho do seu pai, conheceu os filhos de seus
clientes onde, com eles, passou a frequentar bons restaurantes e bons hotéis.
“Só não viajei de avião”, completa Antônio. Mas, longe desses momentos
saudáveis, havia o efeito presente e crescente das drogas. Um deles: a exclusão
social. Era o fim das boas amizades.
Através de parentes, conseguiu vários trabalhos, mas
sempre durava pouco tempo. O vício produzia várias alterações mentais. “Era
impossível se concentrar”, diz Antônio.
Grande apreciador da leitura, Antônio, sem amigos,
mergulhava nas revistas e livros aos quais tinha acesso. Com um fraco sorriso,
diz: “ler faz você descobrir o mundo”. Uma grande pena e perda para quem tomou
um rumo errado.
Aos 20 anos, através de alguns “amigos” conhece um
usuário de classe social bastante alta, como faz questão de colocar. Era o
início do uso da cocaína. Como se tratavam de pessoas de padrão de vida e de
“posição social” alta, não podiam aparecer na compra da droga, nem em seu uso.
Então, consequentemente, quem se apresentava, na hora da compra, era o usuário
sem recursos, no caso, Antônio. Ele relata que na abstinência de cocaína as
crises de depressão eram altíssimas. A busca pela droga se tornava incansável
assim como o efeito devastador em seu cérebro.
Após 10 anos, Antônio em uma festa é apresentado ao que
ele chama de Anticristo: o crack. Nesse exato momento da conversa, o silêncio,
depois as lágrimas. Olhando para mim, ainda consegue arrumar forças para me dar
um conselho: NÃO PROVE. Após esse conselho, em segundos, pensei em todas as
pessoas que amo, que eu acredito e na essência da vida. Nesse momento,
continuar a conversa não é fácil nem para mim. Chega a ser muito triste.
Para finalizar, perguntei o que ele esperava do futuro.
Não tive respostas através de palavras e sim de seu olhar perdido no infinito.
Muito fraco e debilitado, é possível que, no natal desse ano, Antônio não
esteja mais entre nossas vidas ou consiga despertar.
Aqui, fica um alerta do Gazeta da Torre a todos os jovens
e seus pais, não só da Torre e Madalena, mas de todos os lugares e uma reflexão
para as palavras de Antônio: “Não despertei para deixar o vício, mas sei que
posso morrer antes”.
Parabéns! Magnífica essa postagem. Infelizmente é a realidade.
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