terça-feira, 12 de janeiro de 2016

DAVID BOWIE: OUSADIA, HEDONISMO E ROCK'N'ROLL - AS MUITAS FACES DO 'CAMALEÃO'


Ele morreu aos 69 anos. Segundo informações de um porta-voz, que não informaram a data e local do óbito, Bowie lutava longe dos holofotes havia mais de um ano contra um câncer.

"David Bowie morreu em paz hoje cercado por sua família depois de uma corajosa batalha de 18 meses contra o câncer", afirmou um comunicado publicado nas redes sociais.
"Enquanto muitos de vocês compartilharão essa perda, pedimos respeito à privacidade da família nesse momento de luto", acrescentou a nota.

Camaleão

Bowie havia acabado de lançar seu mais novo álbum, Blackstar, na última sexta-feira, pelo qual recebeu críticas positivas. Ele completou 69 anos no mesmo dia.

A última vez que o cantor se apresentou ao vivo foi durante um show beneficente em 2006, em Nova York. Ele vivia praticamente recluso desde a década passada, após sofrer um infarto.

Boatos sobre a saúde sempre permearam a vida do Bowie, que alcançou o estrelato com o álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars, o seminal álbum de 1972, eleito um dos 50 melhores de todos os tempos pela revista Rolling Stone. Ele lançaria muitos outros, sempre em permanente revolução. Rótulos, moda, sexualidade, nada permanecia intocado pelo desejo de Bowie de ser camaleão.

 Vampiro, rei dos duendes, Andy Warhol e Pôncio Pilatos.
Assim como na música, David Bowie usou seu poder de camaleão no cinema.
Filho de uma garçonete e do administrador de uma instituição de caridade, David Jones nasceu em janeiro de 1947, em Brixton, bairro do sul de Londres e teve uma infância relativamente normal. Mudou o sobrenome para Bowie em 1966, para evitar ser confundido com o vocalista dos Monkees, Davy Jones.

Bowie estudou budismo e mímica antes de lançar seu primeiro álbum The World of David Bowie, em 1967.

Mas foi a faixa-título de seu segundo álbum, Space Oddity, que finalmente chamou a atenção do grande público. A aventura espacial de Major Tom, um astronauta abandonado em órbita da Terra, foi um dos maiores hits de 1969, o ano em que o homem chegou à Lua pela primeira vez.

Em seguida, Bowie lançou The Man Who Sold the World, um complexo álbum cuja faixa-título recebeu o tratamento cover de artistas tão diversos como Lulu e Nirvana - que "resgatou" a canção nos anos 90 ao gravá-la para o álbum Acoustic in New York City.

Uma curiosidade que ilustra o apelo internacional do artista é o fato de ele também ser sido gravado por artistas brasileiros - mais precisamente o grupo gaúcho Nenhum de Nós, que no final da década de 80 lançou uma versão de Starman com o nome Astronauta de Mármore. Já Seu Jorge gravou versões em português de um punhado de hits de Bowie, como parte de seu personagem no filme A Vida Marinha com Steve Zissou (2004).

Em 1971, apenas um ano após a separação dos Beatles, Bowie tomou as rédeas criativas do rock and roll com Hunky Dory, álbum que críticos já consideraram o melhor de sua carreira. E um verso da letra da última faixa do álbum, The Bewlay Brothers, parecia perfeitamente resumir o artista: "Camaleão, comediante e caricatura..."
Teatro, cinema

Mas foi 1972 que jogou Bowie na estratosfera: o álbum conceitual The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars ficou marcado tanto pelo som quanto por Ziggy, o personagem de sexualidade ambígua e roupas futuristas criado pelo artista. Com a fama veio também o hedonismo em escala industrial - bebida, drogas e um bissexualidade vigorosa - uma biografia não-autorizada lançada em 2014 alegou que uma das conquistas de Bowie foi ninguém menos que o Rolling Stone Mick Jagger.

  Keith Richards +Tina Turner + David Bowie + muita Bebida
Nessa mesma década, Bowie produziu dois clássicos do rock, os álbuns Transformer, de Lou Reed, e Raw Power de Iggy & The Stooges, e escreveu o hit Fame com John Lennon. Tudo isso antes de se isolar em Berlim para produzir um trilogia de álbuns experimentais (Low, Heroes e Lodger), marcado por letras de vanguarda e flertes com a música eletrônica. A década também marcou suas primeiras experiências como ator: ele estrelou o filme O Homem que Caiu na Terra (1976) e trabalhou ao lado da diva Marlene Dietrich em Gigolô. Suas aventuras cinematográficas continuaram ao longo de sua vida, de longa-metragens como Furyo: Em Nome da Honra(1983) ou em "pontas" como fazer a voz de um dos personagens da série de desenho animados Bob Esponja.

Ele também brilhou no teatro, interpretando o papel-título de O Homem-Elefante na Broadway.

Os anos 90 foram marcados pelo pioneirismo em outros campos e pouco sucesso musical: Bowie se tornou um dos primeiros artistas do mundo a lançar um website e lançou ações na Bolsa de Nova York, faturando US$ 55 milhões. A década seguinte começou com o lançamento de Heathen, álbum que voltou a entusiasmar público e crítica. Mas, em 2004, o britânico sofreu um ataque cardíaco em pleno palco durante um show na Alemanha. A partir daí, com raras exceções, Bowie desapareceu da vida pública. Daí a surpresa geral quando The Next Day foi lançado em 2013. O álbum se tornou seu primeiro número 1 no Reino Unido em mais de 20 anos.

Uma posição que seu último trabalho, Blackstar, lançado na última sexta-feira, parece fadado a alcançar.


A morte de Bowie teve ampla repercussão nas mídias sociais e diversas celebridades fizeram tributos. A cantora Madonna escreveu no Twitter "que o espírito de Bowie viverá para sempre". Até o primeiro-ministro britânico, David Cameron, deu sua contribuição, também no Twitter. "Cresci ouvindo e assistindo o gênio David Bowie. Ele era um mestre da reinvenção. É uma imensa perda".

Bowie casou-se duas vezes: viveu 10 anos com Angela Barnett, com quem teve um filho, Zowie - que mudou de nome e hoje é conhecido como o diretor de cinema Duncan Jones. Em 1992, ele casou-se com a modelo somali Iman, com quem teve uma filha, Alexandria.


Fonte: BBC Brasil



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