Gazeta da Torre
A ingestão dos resíduos provenientes desse descarte pelos
animais marinhos provoca sensação de saciedade, levando-os a um processo de
inanição e à morte
A utilização de máscaras e luvas tem sido um dos
principais meios de proteção contra o novo coronavírus, mas o descarte
incorreto dos itens caracteriza um novo tipo de poluição. Os EPIs têm sido
encontrados em oceanos ao redor do mundo, como em Hong Kong, na França, na
Inglaterra e no Brasil. Segundo especialista, o descarte incorreto das máscaras
e luvas pode levar a contaminações pela covid-19, além de impactar diretamente
a vida marinha, podendo causar a morte de animais que porventura ingiram os
itens.
O professor Alexander Turra, docente do Departamento de
Oceanografia Biológica do Instituto Oceanográfico da USP e coordenador da
cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano, alerta que há graves riscos
quanto ao impacto do descarte incorreto dos EPIs nos oceanos, uma vez que os
organismos marinhos têm o potencial de ingerir esses materiais. A longo prazo,
a degradação desses itens gera fragmentos chamados de microplásticos e, por
serem menores, são facilmente ingeridos pelos variados animais marinhos: “A
ingestão desses resíduos leva, normalmente, a uma falsa sensação de que o
organismo está saciado em termos de alimentação e isso leva os animais a um
processo de inanição que acaba, muitas vezes, levando à morte”.
As máscaras e luvas devem ser descartadas em lixeiras,
preferencialmente as que possuem tampa, de modo a evitar contato humano
posterior e que esses materiais vão parar nas ruas e, consequentemente,
oceanos, como informa o professor Turra: “É fundamental que as pessoas utilizem
o material apropriadamente e descartem de forma correta. O descarte é simples:
basicamente colocar o produto numa lixeira fechada”, e alerta: “Temos que
lembrar que o vírus tem uma duração que pode variar em função da superfície na
qual ele está, então é importantíssimo que essa máscara, ao ser jogada no lixo,
não volte a ter contato com nenhum pessoa. Com isso, a gente tem uma medida
simples e que leva a uma proteção, não só das pessoas, mas também do ambiente,
considerando que esse material vai para um aterro”.
Para o especialista, a chegada de lixo no mar é fruto de
problemas estruturais da sociedade, como a pobreza, a má distribuição de renda
e a dificuldade de acesso aos serviços públicos: “A gente tem uma série de outros
elementos que tem o esgoto como via de chegada no mar, como a poluição difusa,
o lixo jogado nas ruas ou mesmo o descarte inadequado de resíduos sólidos nos
corpos d’água, enfim, é uma série de processos que tem suas raízes na pobreza,
na má distribuição de renda, falta de acesso aos serviços públicos, no consumo
não consciente e no descarte inadequado. É uma série de processos sistêmicos
que acabam, dada a complexidade do problema e as mais variadas falhas nesse
sistema, levando ao fenômeno do lixo no mar”.
Turra acredita que as máscaras de pano são uma solução
para garantir o reúso e evitar o descarte incorreto: “As máscaras de pano
correspondem a uma boa estratégia para se proteger do vírus e proteger a
sociedade da contaminação, reduzindo essa contaminação. Obviamente, elas sendo
laváveis, podem ser utilizadas várias vezes, então elas não vão acabar parando
no ambiente”, finaliza.
Fonte: Jornal da USP
Nenhum comentário:
Postar um comentário