quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Ensino de qualidade precisa ser para todos ou será apenas privilégio social

 Gazeta da Torre

Educador Mario Sergio Cortella

O ensino escolar em uma sociedade que busca a prosperidade dos indivíduos precisa ser acessível a todos e nas melhores condições possíveis, pois, se apenas uma parte tiver acesso à educação de qualidade, essa democracia não estará oferecendo qualidade, apenas privilégios. “Em uma sociedade que almeja ser decente, quantidade total é sinônimo de qualidade social”, afirma o educador Mario Sergio Cortella, mestrado e doutorado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP.

A conversa é fruto de uma parceria do canal com a Brazilian  Student  Association  (BRASA) – associação formada por brasileiros que estudam no exterior. A BRASA se reúne com o UM BRASIL para analisar os problemas e os desafios do País em diversas frentes.

Na entrevista, Cortella coloca em perspectiva a desigualdade em torno do acesso ao ensino de qualidade em escolas públicas e analisa como a pandemia agrava ainda mais esse problema estrutural. Para ele, neste momento, deve se pensar com cautela sobre o retorno dos estudantes às aulas presenciais.

“Se eu fosse o secretário de Educação da cidade de São Paulo hoje, não retomaria as atividades no território da escola. Se há prejuízos para as famílias em termos alimentares ou de cuidados, pelo fato de as crianças não estarem indo à escola, é necessário que se encontre outro caminho para que não se perca esse apoio. Mas, hoje, sem que se tenha nitidez dos movimentos que o vírus faz, a concentração [de pessoas] em um momento em que se busca evitá-la seria algo muito perigoso”, pondera.

Ele ressalta que, neste momento, é importante que as secretarias estaduais e o governo federal preparem materiais escolares impressos a serem entregues às famílias como uma forma de dar mais suporte para o ensino remoto, tendo em vista que o acesso digital não é totalmente difundido. “É essencial se buscar um ordenamento melhor na forma de se executar o ensino remoto”, diz o educador.

Cortella também enfatiza outro problema estrutural marcado no Brasil: o analfabetismo entre adultos, que, agora, precisam ajudar os filhos com as atividades escolares. “Quando eu era secretário, nós constatamos que de nada adiantava pedir aos pais que ajudassem os filhos com as tarefas, pois boa parte não tinha o ensino fundamental I. Isso se chama realidade. Isso tem de ser levado em conta agora, é preciso um esforço nacional para lidar com este momento. Se não fosse o esforço imenso de milhares dos profissionais da educação no dia a dia, nossa ação desastrosa seria muito mais intensa”, pondera.

“Será difícil lidar com o pós-pandêmico sem que haja um tipo de consenso nacional para que a gente consiga cuidar daquilo que será desastroso: as condições de vida, de trabalho e de alimentação”, conclui.

Fonte: UM Brasil


Nenhum comentário:

Postar um comentário