Gazeta da Torre
![]() |
Sede da ONU - New York |
A afirmação é do Prof. Dr. Paulo Borba Casella,
Departamento de Direito Internacional - Professor Titular, Doutor em Direito
(USP), Livre-Docente em Direito Internacional (USP), ao se referir ao discurso
de Jair Bolsonaro sobre meio ambiente, em seu pronunciamento na Assembleia
Geral das Nações Unidas
Pressionado por organizações internacionais, em relação
às queimadas recordes na Amazônia e no Pantanal, o presidente Jair Bolsonaro discursou ontem (22) na abertura dos debates da 75ª Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU). Para analisar e comentar os possíveis impactos desse
discurso, o Jornal da USP no Ar recebeu Paulo Borba Casella, professor titular
do Departamento de Direito Internacional e Comparado da Faculdade de Direito
(FD) da USP e coordenador-geral do Grupo de Estudo sobre o Brics (Gebrics/USP)
.
Casella explica que, desde a criação da ONU, foi dada ao
Brasil a deferência de fazer o primeiro discurso na abertura da Assembleia
Geral, realizada na terceira semana de setembro, a cada ano. “Esse espaço vem
sendo usado desde então”, afirma, “porém, neste ano, o fato de o discurso do
presidente brasileiro, se colocando na posição de defesa, dar explicações à
comunidade internacional mostra problemas na governança do País”.
O Brasil tem uma tradição de política externa pautada em
três grandes eixos: alinhamento pelo direito internacional e pela solução
pacífica de controvérsias; credibilidade na proteção dos direitos humanos,
consolidada após o fim da ditadura militar; e a proteção internacional do meio
ambiente e o desenvolvimento dessa matéria. Justamente por isso, segundo o
professor, o Brasil precisaria ter um posicionamento sensato, de maneira a
considerar esse histórico. “O País tem jogado fora, em relação a esses três campos,
um legado que levou décadas para ser construído e que levará décadas para ser
resgatado. Não ganhamos outras frente sacrificando essas. Estamos jogando fora
um ativo intangível.”
Esse quadro se torna ainda mais preocupante por não se
tratar de um trabalho de “oposição da mídia internacional globalista dominada
pela esquerda”. “São dados de instituições como o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), que possui respeitabilidade internacional
consolidada”, afirma Casella, segundo o qual essas informações mostram o
tamanho do estrago e do descontrole público e administrativo.
Há ainda o discurso nacionalista xenófobo em relação à
Amazônia, ao Pantanal e ao meio ambiente. “É estúpido e já nos custa perda de
credibilidade, de mercado e, em um futuro próximo, pode nos custar ainda mais
caro.” O professor finaliza comentando ainda sobre a condução da pandemia do
coronavírus pelo governo. “Nós temos a negação da gravidade dessa pandemia por
parte de governantes. É uma conduta irresponsável, que só fez aumentar o número
de casos e mortes”, completa.
Fonte:Jornal da USP
Nenhum comentário:
Postar um comentário