Gazeta da Torre
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A atriz Natália Beukers em gravação de um dos episódios de "Cenas Invisíveis" - Foto: Cia. Filhos do Dr. Alfredo |
Como alternativa ao teatro na pandemia, Cia. Filhos do
Dr. Alfredo produz narrativas teatrais para a internet
Na quinta-feira, dia 22, estreou nas redes sociais o
quinto episódio – intitulado Parceria de Uma Vida 1 – da série teatral Cenas
Invisíveis, produzida pela Companhia Filhos do Dr. Alfredo. Com esse projeto,
dirigido por José Eduardo Vendramini, professor do Departamento de Artes
Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o grupo busca proporcionar a experiência do
teatro em meio às restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, mesmo
que, para isso, as cenas não sejam vistas. Em formato de áudio, a primeira
temporada da série terá seis episódios, lançados semanalmente desde o dia 24 de
setembro passado, quando foi ao ar a cena Delícias do Panóptico Açaí e Lanches.
A série está disponível no Youtube e no Instagram da companhia.
A atriz Ana Carolina Capozzi, uma das participantes do
projeto, conta que essa foi a possibilidade de prosseguir como companhia de
teatro, mesmo no contexto atual. Criada em 2001 por atores formados pela Escola
de Arte Dramática (EAD) da ECA, a Companhia Filhos do Dr. Alfredo – que tem
esse nome em homenagem ao fundador da EAD, Alfredo Mesquita (1907-1986) – foi
reativada em 2018 e desde então vem produzindo projetos que, como o Cenas
Invisíveis, buscam proporcionar cada vez mais desafios para os atores e
desenvolver espetáculos que dialogam diretamente com a realidade.
Os autores das peças, Luis Filipe Caivano e Marcelo
Braga, que nunca tinham produzido textos somente para o formato de áudio,
elaboraram narrativas que misturam cotidiano e fantasia com humor, descontração
e um toque de crítica. Isso em episódios com cinco a dez minutos de duração, de
modo que as cenas sejam de fácil acesso on-line, independentes entre si e não
tirem o ouvinte da sua rotina.
Caivano explica que, a princípio, a ideia era fazer algo
relacionado aos podcasts contemporâneos, mas, depois de ser apresentado a
Vendramini, o projeto foi aprimorado, retomando as radionovelas da década de
1950, no Brasil. “A pandemia trouxe desafios para todos. Em relação à classe
teatral, esse desafio foi quase intransponível. Fazer teatro em forma de áudio
para as redes sociais trouxe de volta uma das experiências mais populares do
Brasil: o radioteatro, a radionovela”, afirma Vendramini.
“De certa forma, o projeto dialoga com essas gerações
mais novas que conhecem e consomem podcasts, mas também se trata de um formato
que remete às radionovelas de antigamente e por isso pode interessar a um
público mais velho”, inteirou Caivano.
Os ensaios ocorreram virtualmente, também devido à
pandemia. Porém, tendo em vista a qualidade técnica da produção, a gravação foi
presencial, com aparelhos profissionais que garantiram o melhor som, num único
dia.
A direção de Vendramini foi a distância. “A arte de
dirigir um espetáculo sempre foi dependente de um contato pessoal direto entre
encenador e elenco. Mas o desafio de dirigir teatro a distância trouxe avanços
importantes para a área da prática teatral”, conta o diretor.
A atriz Ana Capozzi confessa que seu episódio favorito,
até agora, é Meu Podcast Favorito de Cinema, que brinca com a imaginação do
público ao levar o trivial ao absurdo, numa discussão cinematográfica cômica. O
próprio título da cena faz referência à série britânica de comédia Monty
Python’s Flying, ao coincidir com a primeira letra de cada palavra.
No mesmo episódio, a atriz Natália Beukers interpreta a
personagem Cris Tarantino. Ela diz que, embora atuar sem palco seja “ruim”, o
trabalho em áudio foi “maravilhoso”.
Para Natália, levar o teatro para as redes é um movimento
imprescindível no atual momento. Isso não substitui o espaço físico, mas
fortalece a cultura de ir a peças, acredita. “Esse movimento aproxima as pessoas do teatro e,
mais do que isso, pode despertar nelas o interesse em assistir a peças no
teatro depois da pandemia”, acrescenta. “Isso pode também fazer o teatro voltar
com mais público e força.”
Com a abertura gradual dos teatros, a companhia pensa em
adaptar as peças em áudio para os palcos e debate uma possível segunda
temporada. “Só teríamos que mudar o nome. Eu gosto de “Cenas (Quase)
Invisíveis”, brinca Caivano.
A série Cenas Invisíveis está disponível nas páginas da
Companhia Filhos do Dr. Alfredo nas plataformas Youtube e Instagram.
Fonte:Jornal da USP
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