sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Sem palco, artistas fazem cenas em áudio para as redes sociais

 Gazeta da Torre

A atriz Natália Beukers
em gravação de um dos episódios
de "Cenas Invisíveis"
- Foto: Cia. Filhos do Dr. Alfredo 

Como alternativa ao teatro na pandemia, Cia. Filhos do Dr. Alfredo produz narrativas teatrais para a internet

Na quinta-feira, dia 22, estreou nas redes sociais o quinto episódio – intitulado Parceria de Uma Vida 1 – da série teatral Cenas Invisíveis, produzida pela Companhia Filhos do Dr. Alfredo. Com esse projeto, dirigido por José Eduardo Vendramini, professor do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP,  o grupo busca proporcionar a experiência do teatro em meio às restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus, mesmo que, para isso, as cenas não sejam vistas. Em formato de áudio, a primeira temporada da série terá seis episódios, lançados semanalmente desde o dia 24 de setembro passado, quando foi ao ar a cena Delícias do Panóptico Açaí e Lanches. A série está disponível no Youtube e no Instagram da companhia.

A atriz Ana Carolina Capozzi, uma das participantes do projeto, conta que essa foi a possibilidade de prosseguir como companhia de teatro, mesmo no contexto atual. Criada em 2001 por atores formados pela Escola de Arte Dramática (EAD) da ECA, a Companhia Filhos do Dr. Alfredo – que tem esse nome em homenagem ao fundador da EAD, Alfredo Mesquita (1907-1986) – foi reativada em 2018 e desde então vem produzindo projetos que, como o Cenas Invisíveis, buscam proporcionar cada vez mais desafios para os atores e desenvolver espetáculos que dialogam diretamente com a realidade.

Os autores das peças, Luis Filipe Caivano e Marcelo Braga, que nunca tinham produzido textos somente para o formato de áudio, elaboraram narrativas que misturam cotidiano e fantasia com humor, descontração e um toque de crítica. Isso em episódios com cinco a dez minutos de duração, de modo que as cenas sejam de fácil acesso on-line, independentes entre si e não tirem o ouvinte da sua rotina.

Caivano explica que, a princípio, a ideia era fazer algo relacionado aos podcasts contemporâneos, mas, depois de ser apresentado a Vendramini, o projeto foi aprimorado, retomando as radionovelas da década de 1950, no Brasil. “A pandemia trouxe desafios para todos. Em relação à classe teatral, esse desafio foi quase intransponível. Fazer teatro em forma de áudio para as redes sociais trouxe de volta uma das experiências mais populares do Brasil: o radioteatro, a radionovela”, afirma Vendramini.

“De certa forma, o projeto dialoga com essas gerações mais novas que conhecem e consomem podcasts, mas também se trata de um formato que remete às radionovelas de antigamente e por isso pode interessar a um público mais velho”, inteirou Caivano.

Os ensaios ocorreram virtualmente, também devido à pandemia. Porém, tendo em vista a qualidade técnica da produção, a gravação foi presencial, com aparelhos profissionais que garantiram o melhor som, num único dia.

A direção de Vendramini foi a distância. “A arte de dirigir um espetáculo sempre foi dependente de um contato pessoal direto entre encenador e elenco. Mas o desafio de dirigir teatro a distância trouxe avanços importantes para a área da prática teatral”, conta o diretor.

A atriz Ana Capozzi confessa que seu episódio favorito, até agora, é Meu Podcast Favorito de Cinema, que brinca com a imaginação do público ao levar o trivial ao absurdo, numa discussão cinematográfica cômica. O próprio título da cena faz referência à série britânica de comédia Monty Python’s Flying, ao coincidir com a primeira letra de cada palavra.

No mesmo episódio, a atriz Natália Beukers interpreta a personagem Cris Tarantino. Ela diz que, embora atuar sem palco seja “ruim”, o trabalho em áudio foi  “maravilhoso”.

Para Natália, levar o teatro para as redes é um movimento imprescindível no atual momento. Isso não substitui o espaço físico, mas fortalece a cultura de ir a peças, acredita. “Esse  movimento aproxima as pessoas do teatro e, mais do que isso, pode despertar nelas o interesse em assistir a peças no teatro depois da pandemia”, acrescenta. “Isso pode também fazer o teatro voltar com mais público e força.”

Com a abertura gradual dos teatros, a companhia pensa em adaptar as peças em áudio para os palcos e debate uma possível segunda temporada. “Só teríamos que mudar o nome. Eu gosto de “Cenas (Quase) Invisíveis”, brinca Caivano.

A série Cenas Invisíveis está disponível nas páginas da Companhia Filhos do Dr. Alfredo nas plataformas Youtube e Instagram.

Fonte:Jornal da USP

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