Gazeta da Torre
A chamada Década da Biodiversidade se encerra neste ano
com um balanço desolador. Apesar de alguns avanços importantes obtidos em
algumas áreas, nenhuma das 20 metas adotadas pela Convenção das Nações Unidas
sobre a Diversidade Biológica (CDB) para o período 2011-2020 foi completamente
atingida, e apenas seis foram parcialmente alcançadas, segundo um relatório
divulgado na última terça-feira, 15 de setembro. Espécies continuam a ser
ameaçadas de extinção em grande número e as áreas naturais das quais elas — e a
própria espécie humana — dependem para sobreviver continuam a ser degradadas ou
destruídas em grande escala ao redor do mundo.
“A humanidade está numa encruzilhada”, foi a expressão
escolhida pela CDB para descrever o relatório. “Muitas coisas boas estão
acontecendo ao redor do mundo e devem ser celebradas e incentivadas. No
entanto, a taxa de perda de biodiversidade não tem precedentes na história da
humanidade e as pressões estão se intensificando”, declarou a
secretária-executiva da CDB, Elizabeth Maruma Mrema, da Tanzânia.
O relatório divulgado nesta semana é a quinta edição do
Panorama Global da Biodiversidade (GBO 5, em inglês), que traz uma revisão
completa dos avanços (e retrocessos) obtidos ao longo dos últimos dez anos na
execução do Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020, que foi aprovado
em 2010 pela CDB. Parte essencial desse plano são as 20 Metas de Aichi — assim
chamadas em função do local onde elas foram acordadas, no Japão —, que
contemplam 60 objetivos relacionados à conservação e ao uso sustentável da
biodiversidade mundial. Desses 60 objetivos, segundo o relatório, apenas 7
foram atingidos; houve avanços em 38; nenhuma mudança em 9; retrocessos em 4; e
não foi possível estabelecer uma avaliação em 2.
“O Panorama Global da Biodiversidade é um excelente
instrumento de trabalho para aqueles — ainda poucos — que se preocupam com
questões ambientais planetárias”, diz o pesquisador José Pedro de Oliveira
Costa, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, que já foi secretário de
biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente e do governo estadual paulista.
“Ele mostra que, apesar de algum progresso, as condições da Terra continuam se
deteriorando. Por mais irracional que pareça, a humanidade é assim; preocupada
com o dia a dia, o lucro imediato, sem se incomodar com o colapso futuro, por
mais próximo que esse colapso esteja.”
As seis metas que foram classificadas como “parcialmente
atingidas” no relatório são as que tratam do combate a espécies exóticas
invasoras (Meta 9); da criação de áreas protegidas (Meta 11); da adoção do
Protocolo de Nagoya sobre recursos genéticos da biodiversidade (Meta 16); da adoção
de estratégias nacionais de biodiversidade (Meta 17); do aumento da
conscientização pública e do conhecimento científico sobre a biodiversidade
(Meta 19); e dos recursos financeiros destinados à conservação da
biodiversidade (Meta 20) — que dobraram na última década, mas ainda são
infinitamente menores do que os incentivos financeiros disponíveis para
atividades nocivas ao meio ambiente.
Por: Herton Escobar, repórter de ciência e meio ambiente do Estadão
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