terça-feira, 6 de outubro de 2020

Década da Biodiversidade termina sem nenhuma meta cumprida

 Gazeta da Torre

A chamada Década da Biodiversidade se encerra neste ano com um balanço desolador. Apesar de alguns avanços importantes obtidos em algumas áreas, nenhuma das 20 metas adotadas pela Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CDB) para o período 2011-2020 foi completamente atingida, e apenas seis foram parcialmente alcançadas, segundo um relatório divulgado na última terça-feira, 15 de setembro. Espécies continuam a ser ameaçadas de extinção em grande número e as áreas naturais das quais elas — e a própria espécie humana — dependem para sobreviver continuam a ser degradadas ou destruídas em grande escala ao redor do mundo.

“A humanidade está numa encruzilhada”, foi a expressão escolhida pela CDB para descrever o relatório. “Muitas coisas boas estão acontecendo ao redor do mundo e devem ser celebradas e incentivadas. No entanto, a taxa de perda de biodiversidade não tem precedentes na história da humanidade e as pressões estão se intensificando”, declarou a secretária-executiva da CDB, Elizabeth Maruma Mrema, da Tanzânia.

O relatório divulgado nesta semana é a quinta edição do Panorama Global da Biodiversidade (GBO 5, em inglês), que traz uma revisão completa dos avanços (e retrocessos) obtidos ao longo dos últimos dez anos na execução do Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020, que foi aprovado em 2010 pela CDB. Parte essencial desse plano são as 20 Metas de Aichi — assim chamadas em função do local onde elas foram acordadas, no Japão —, que contemplam 60 objetivos relacionados à conservação e ao uso sustentável da biodiversidade mundial. Desses 60 objetivos, segundo o relatório, apenas 7 foram atingidos; houve avanços em 38; nenhuma mudança em 9; retrocessos em 4; e não foi possível estabelecer uma avaliação em 2.

“O Panorama Global da Biodiversidade é um excelente instrumento de trabalho para aqueles — ainda poucos — que se preocupam com questões ambientais planetárias”, diz o pesquisador José Pedro de Oliveira Costa, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, que já foi secretário de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente e do governo estadual paulista. “Ele mostra que, apesar de algum progresso, as condições da Terra continuam se deteriorando. Por mais irracional que pareça, a humanidade é assim; preocupada com o dia a dia, o lucro imediato, sem se incomodar com o colapso futuro, por mais próximo que esse colapso esteja.”

As seis metas que foram classificadas como “parcialmente atingidas” no relatório são as que tratam do combate a espécies exóticas invasoras (Meta 9); da criação de áreas protegidas (Meta 11); da adoção do Protocolo de Nagoya sobre recursos genéticos da biodiversidade (Meta 16); da adoção de estratégias nacionais de biodiversidade (Meta 17); do aumento da conscientização pública e do conhecimento científico sobre a biodiversidade (Meta 19); e dos recursos financeiros destinados à conservação da biodiversidade (Meta 20) — que dobraram na última década, mas ainda são infinitamente menores do que os incentivos financeiros disponíveis para atividades nocivas ao meio ambiente.

Por: Herton Escobar, repórter de ciência e meio ambiente do Estadão

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