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Por Clara Averbuck Gomes, escritora feminista brasileira |
O Dia da Mulher não é pra ser uma homenagem singela e
bonitinha para as lindas mulheres sorridentes e fofinhas, ah, essas mulheres,
tão lindas e tão geniosas, mas que os homens amam. É um dia pra botar todas as
questões que precisam ser debatidas em pauta, é pra falar sobre a luta dos
direitos da mulher, não sobre TPM e manicure. Não é pra ter um "tom
leve".
Tom leve não combina com assunto sério, daí tantas
manifestações negativas a campanhas paternalistas. Algumas pessoas vêm com
aqueles papos de que as reações são desproporcionais, que deixa disso, que não
é tanto assim, que é frescura, que é exagero, que devemos também falar das
mulheres "normais". Como se a única agressão que contasse fosse a
física. Como se a única opressão que valesse fosse a explícita. Como se, por
exemplo, um padrão de beleza massacrante também não fosse uma forma de
opressão.
Entendo que para as pessoas menos familiarizadas com o
feminismo algumas coisas possam parecer exagero. Já fui assim também. Achava
algumas reações exacerbadas, motivadas por "bobagem". Aí eu descobri
duas coisas: primeiro: não temos o direito de colocar para fora regras sobre como alguém se
sente a respeito de algo. Segundo: nenhuma reação é exacerbada quando se trata
de quebrar um paradigma milenar. Cada minicoisinha conta.
Cada reclamadinha que a gente dá pode gerar
questionamento em alguém - apesar de gerar chacota dos que nunca sentiram na
pele o que a mulher passa e, por serem incapazes de empatia, minimizam qualquer
manifestação com o papinho da feminista histérica. Querem uma feminista mansa,
que não fale alto, que não incomode e fique no seu lugarzinho. Não, né?
O dia 8 de Março é importante pelo simples motivo de que
a mulher ainda é oprimida. O dia em que formos realmente tratadas como iguais
poderemos transformar o dia em uma comemoração, mas, por enquanto, ainda é um
dia para abrir os olhos da galera que prefere não saber, por exemplo, que sete
de cada dez mulheres serão agredidas ao longo da vida - este é um dado da ONU -
e que essas mulheres não estão longe.
A violência acontece no seu prédio. Na sua rua. Pode ser
que aconteça na sua família, com a sua sobrinha, sua vizinha, sua colega de
trabalho, sua chefe, a chefe de sua chefe, uma juíza, enfim. Pode ser que
aconteça com você. Violência contra a mulher não escolhe classe social. E a
violência acontece porque ainda vivemos sob o patriarcado, onde a mulher está
abaixo do homem. Sim, conquistamos muitas coisas, mas ainda não chegamos nem
perto de realmente reestruturar o funcionamento da sociedade para que seja
igualitária e justa.
Temos um longo caminho pela frente.
Enorme.
Milhares de anos precisando de desconstrução e
reconstrução.
Milhares de paradigmas incrustados em nossas cabeças.
Milhares de estereótipos para quebrar.
Anos e anos e anos e anos de violência suportada em
silêncio pra gritar.
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