terça-feira, 4 de outubro de 2016

UM PEDACINHO DO SAIRÉ NA TORRE

Um exemplo da sabedoria de um matuto
Gazeta da Torre

Que me desculpem as universidades e entidades de capacitação/promoção do desenvolvimento, mas, sabedoria e inteligência maior do que a encontrada entre aqueles, denominados “matutos”, é de chamar atenção. Há um provérbio Persa que diz a máxima: “Conhece-se o coração do homem pelo que ele faz e sua sabedoria pelo que diz”. Faço uso da comparação do pedagogo e filosófico Ruben Alves, que afirmou em uma de suas belas crônicas, com sua sábia ironia que: “às vezes, o excesso de erudição e estudo só deseduca e pode deixar aquele, que é detentor de diplomas, muito mais ignorante do que o homem iletrado do povo.”

Aqui em nosso bairro da Torre temos o Sr. Juarez Laurentino, segundo nome Duda e terceiro Sairé, como nos informou em tom de brincadeira. O Duda, como é mais conhecido, nasceu no Município de Sairé, com distância até Recife de 120 km. Há mais de vinte anos possui um comércio na Rua Real da Torre, nº 560, vizinho ao Supermercado Extrabom, onde comercializa lanches, almoços, jantas e bebidas. “O guizadinho e a galinha à cabidela no almoço ou na janta com macaxeira ou cuscuz são os pratos mais pedidos com o precinho bem camarada. Aqui o espaço não é grande e nem tem luxo, mas é animado para quem não tem frescura”, informa Duda.

 Sr. Juarez Laurentino, segundo nome Duda e terceiro Sairé
Duda, para os bons observadores, é aquele matuto de sabedoria e inteligência apurada. Entre seus clientes estão comerciantes, operários da construção civil, empresários, domésticas...todos dividindo o mesmo espaço com um show à parte no atendimento e na conversação com ele.

No seu comércio, quando o cliente pergunta se a macaxeira está boa, Duda responde: “A macaxeira está tão molinha que até banguela come”. O cliente chega, solicita uma caixa de fósforo, recebe uma marca que não conhece e pergunta se a marca é boa. Ele responde: “O fósforo é bem novinho, cheira a caixa pra tu sentir o cheiro, ele risca que é uma beleza”. Certa vez chegou um operário, também do interior, e perguntou se ele conhecia algum veneno para matar ratos. Duda coçou a cabeça e respondeu: “Eu conheço um, mas não vendo aqui não”. O operário com os olhos arregalados para saber mais informações, perguntou: E é bom o veneno? Duda respondeu: “É nada. É a peste, se tu tomar o veneno tu morre na hora.” Duda tem saída para tudo. É preciso muita inteligência para ouvir e entender o sábio homem do povo.

Burrice seria duvidar da sabença popular desse povo. E disto não duvidaram Câmara Cascudo, Leonardo Mota, Mário Souto Maior e tantos outros que sabiamente beberam na fonte inteligente da cultura popular nordestina. O saudoso amigo padre e escritor cearense Antônio Vieira, que em vida ficou conhecido por sua inteligente defesa ecológica ao jumento, deixou registrado alguns causos com os sábios matutos em seu livro ‘Sertão Brabo’, como o do sertanejo que comparou o inverno fraco de 1966 ao Banco do Brasil: “Não fechava as suas portas, mas não emprestava dinheiro”.

Esses são os matutos que não frequentaram universidades e que nos dão verdadeiras lições, quando o encontramos cara a cara pelo nosso bairro ou pelo mundo a fora. Suas tiradas filosóficas, suas comparações geniais em meio a sua pura simplicidade no viver. É por esse motivo e por vários outros que nunca devemos subestimar a sabedoria e inteligência desse nosso povo. Um grande abraço ao nosso amigo Duda e a todos os matutos que também fazem parte da história de nosso bairro.



2 comentários:

  1. Texto muito engraçado. Muito divertido.

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  2. Vocês que já comeram a macaxeira do Sairé sabe que é de 1ª qualidade. Eu só faço tomar uma misturada com galinha. Mas digo uma coisa a vocês, quem entra no buteco do Juarez, volta sempre.

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