Um exemplo da sabedoria de um matuto
Gazeta da Torre
Que me desculpem as universidades e entidades de
capacitação/promoção do desenvolvimento, mas, sabedoria e inteligência maior do
que a encontrada entre aqueles, denominados “matutos”, é de chamar atenção. Há
um provérbio Persa que diz a máxima: “Conhece-se o coração do homem pelo que
ele faz e sua sabedoria pelo que diz”. Faço uso da comparação do pedagogo e
filosófico Ruben Alves, que afirmou em uma de suas belas crônicas, com sua
sábia ironia que: “às vezes, o excesso de erudição e estudo só deseduca e pode
deixar aquele, que é detentor de diplomas, muito mais ignorante do que o homem
iletrado do povo.”
Aqui em nosso bairro da Torre temos o Sr. Juarez
Laurentino, segundo nome Duda e terceiro Sairé, como nos informou em tom de
brincadeira. O Duda, como é mais conhecido, nasceu no Município de Sairé, com
distância até Recife de 120 km. Há mais de vinte anos possui um comércio na Rua Real da Torre, nº 560, vizinho ao Supermercado
Extrabom, onde comercializa lanches, almoços, jantas e bebidas. “O guizadinho e
a galinha à cabidela no almoço ou na janta com macaxeira ou cuscuz são os
pratos mais pedidos com o precinho bem camarada. Aqui o espaço não é grande e
nem tem luxo, mas é animado para quem não tem frescura”, informa Duda.
Duda, para os bons observadores, é aquele matuto de
sabedoria e inteligência apurada. Entre seus clientes estão comerciantes,
operários da construção civil, empresários, domésticas...todos dividindo o
mesmo espaço com um show à parte no atendimento e na conversação com ele.
Sr. Juarez Laurentino, segundo nome Duda e terceiro Sairé |
No seu comércio, quando o cliente pergunta se a macaxeira
está boa, Duda responde: “A macaxeira está tão molinha que até banguela come”.
O cliente chega, solicita uma caixa de fósforo, recebe uma marca que não
conhece e pergunta se a marca é boa. Ele responde: “O fósforo é bem novinho,
cheira a caixa pra tu sentir o cheiro, ele risca que é uma beleza”. Certa vez
chegou um operário, também do interior, e perguntou se ele conhecia algum
veneno para matar ratos. Duda coçou a cabeça e respondeu: “Eu conheço um, mas
não vendo aqui não”. O operário com os olhos arregalados para saber mais
informações, perguntou: E é bom o veneno? Duda respondeu: “É nada. É a peste,
se tu tomar o veneno tu morre na hora.” Duda tem saída para tudo. É preciso
muita inteligência para ouvir e entender o sábio homem do povo.
Burrice seria duvidar da sabença popular desse povo. E
disto não duvidaram Câmara Cascudo, Leonardo Mota, Mário Souto Maior e tantos
outros que sabiamente beberam na fonte inteligente da cultura popular
nordestina. O saudoso amigo padre e escritor cearense Antônio Vieira, que em
vida ficou conhecido por sua inteligente defesa ecológica ao jumento, deixou
registrado alguns causos com os sábios matutos em seu livro ‘Sertão Brabo’,
como o do sertanejo que comparou o inverno fraco de 1966 ao Banco do Brasil:
“Não fechava as suas portas, mas não emprestava dinheiro”.
Esses são os matutos que não frequentaram universidades e
que nos dão verdadeiras lições, quando o encontramos cara a cara pelo nosso
bairro ou pelo mundo a fora. Suas tiradas filosóficas, suas comparações geniais
em meio a sua pura simplicidade no viver. É por esse motivo e por vários outros
que nunca devemos subestimar a sabedoria e inteligência desse nosso povo. Um
grande abraço ao nosso amigo Duda e a todos os matutos que também fazem parte
da história de nosso bairro.
Texto muito engraçado. Muito divertido.
ResponderExcluirVocês que já comeram a macaxeira do Sairé sabe que é de 1ª qualidade. Eu só faço tomar uma misturada com galinha. Mas digo uma coisa a vocês, quem entra no buteco do Juarez, volta sempre.
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