segunda-feira, 2 de maio de 2016

BUQUÊ DE RAINHA no Aeroporto Internacional dos Guararapes

Crônica de nosso colaborador Márcio Nilo

Aeroporto Internacional dos Guararapes.  Área de desembarque. Lá me encontro com a tarefa de esperar minha filha, que retorna de São Paulo num voo noturno. Tipo de tarefa que os pais, bobos por natureza, adoram fazer.

Gosto particularmente da área de desembarque dos Aeroportos, que é o espaço dos reencontros por excelência e lá, invariavelmente, conseguimos ver cenas afetuosas e de alegria. Procuro sempre ver os rostos dos passageiros que chegam, assim como daqueles que estão a esperar o seu amigo, o seu parente ou o seu amor. Alguns poucos com semblantes tristes, mas a grande maioria alegre, com os rostos iluminados. E o que dizer dos abraços que, como dizem por aí, são aqueles momentos em que dois corações se encontram?! Estas demonstrações de afeto são bonitas de se ver (vamos fazer de conta que inexiste a hipocrisia nas pessoas).

Cheguei com uma boa antecedência em relação ao horário do voo da minha filha e fiquei por ali observando aquela alegre movimentação. Eis que aparece no recinto jovem cidadão que logo chamou a atenção de todos, principalmente pelo o que vinha trazendo em mãos: lindo, exuberante e - por que não dizer? -  majestoso buquê de rosas. Majestoso sim, porque aquilo não era um buquê comum, era um buquê de rainha (parafraseando Nelson Rodrigues no hilário conto "A coroa de orquídeas" –(http://contobrasileiro.com.br/a-coroa-de-orquideas-conto-de-nelson-rodrigues/).

Ele portava aquele lindo exagero como quem toma conta de um troféu. O sorriso estava estampado não apenas onde deveria estar, mas também nos olhos, no rosto todo, na sua linguagem corporal. Enfim, o homem era todo sorriso. Estava ali, sem dúvidas, um homem tomado pelo amor. Pior. Tomado pelo amor romântico, aquele que “embobece”.

A maioria das pessoas olhou a figura com seu buquê por alguns segundos e foi tratar de receber os seus, mas eu me posicionei a uma discreta distância, para uma observação mais dissimulada, pois logo vislumbrei que teria uma cena bonita de se ver, bastava esperar. Nessas situações, ficamos estimulados a buscar no nosso imaginário particular os desdobramentos possíveis e logo imaginei uma daquelas cenas Hollywoodianas, quando os amantes se veem e correm um de encontro ao outro para o abraço tão esperado, de preferência, rodopiando. Nos filmes, inclusive, mostram estas cenas em câmera lenta, pra dar mais emoção. Neste nosso caso, a amada que estava sendo esperada (ou amado, afinal estamos na era da diversidade) deixaria para trás as malas enquanto que o nosso personagem principal correria com o majestoso buquê como se fosse um troféu, a ser entregue à dona do seu coração.

Mas o tempo foi passando e não foi exatamente isso o que aconteceu. Nosso apaixonado personagem começou a olhar insistentemente para a saída do desembarque e para o relógio, alternadamente. Notei que já não olhava mais o painel informando a situação dos voos, pois, imagino eu, o avião que traria a sua rainha já tinha aterrissado. Conforme os minutos foram passando já se notava nele um ar aflito e, em determinado momento, ele saca o seu telefone celular e tenta a ligação que tudo iria esclarecer. Torço para que se complete a ligação, pois a esta altura já me sinto cúmplice do cidadão e a carga emotiva da cena já tinha me atingido. Mas o semblante dele não mudou e novas tentativas foram feitas, sem sucesso.

Estava ali um homem perplexo. Ele olha para os lados como em busca de socorro e desvio o olhar rapidamente. Caminha impaciente para os lados. O majestoso buquê já não está mais em posição de troféu e agora era carregado como um fardo,  de cabeça pra baixo. O seu semblante nesse momento mostrava decepção e tristeza.

Em dado momento, deixo de observá-lo, pois vislumbrei minha filha (essa chegou na hora) na saída do desembarque. Após recepcioná-la, volto a procurar o nosso personagem e o vejo já ao longe, caminhando de forma lenta, com o buquê de cabeça pra baixo, posição incompatível com a majestade daquela obra prima. Daí pra frente nada mais vi e tudo agora fica por conta da nossa imaginação, pois esta história não pode acabar assim, de forma tão abrupta.

Podemos então imaginar o desfecho com  dois cenários, um pessimista e outro otimista.

No cenário pessimista, nosso romântico personagem, na saída do aeroporto, recebe ligação daquela que devia estar ali, ao lado dele, com o buquê nas mãos.  Ele então é informado que o "sentimento tinha ido embora" e ela tinha "encontrado alguém".  E aí relembro clássico aforismo de conhecido filosofo contemporâneo olindense (da corrente “filosofia de botequim”):  “o amor dói e faz sofrer”.

O buquê foi encontrado por José da Silva, auxiliar de serviços gerais do aeroporto, enterrado num latão de lixo, com pequenas avarias. José da Silva, rapidamente raciocinou e decidiu levar aquela maravilha para sua companheira, que há muitos anos não ganhava um mimo. Das Dores, quando recebeu o buquê, colocou todos os 32 dentes (alguns faltando, claro) num largo sorriso, que só veio acabar 1 semana depois. Só para valorizar, José da Silva não disse o valor do presente, mencionando apenas que tinha feito umas horas extras e que o importante é que ela tinha gostado e blá-blá-blá.  Como vimos, o cenário não foi tão pessimista assim, pois pelo menos alguém ficou feliz.

No cenário otimista, o nosso romântico personagem também recebe ligação de sua rainha, que explica tudo. Perdera o voo e correra para garantir a vaga no próximo, que sairia 40 minutos depois. Quando tentou ligar, avisando do contratempo, viu que a bateria do seu celular estava descarregada, não havendo tempo para mais nada, pois a chamada de embarque tinha iniciado. Acabara de chegar e fazia a ligação do aparelho de um passageiro. Estava ansiosa esperando por ele na área de desembarque.

O buquê foi visto num bonito jarro ao lado do ninho de amor, sendo testemunha ocular de cenas inenarráveis aqui neste espaço.



4 comentários:

  1. Realmente uma bela crônica. O romantismo nos homens de hoje está difícil de ser encontrado. Eles nem imaginam o que uma atitude como essa pode proporcionar.

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Bela crônica Nilo, parabéna pelo devaneio romântico!

    ResponderExcluir
  4. Ficamos imaginando se ela tivesse recebido no momento em que ele se encontrava aflito. Acho que eu cairia no choro de emoção. Nossa!

    ResponderExcluir