terça-feira, 23 de julho de 2024

“Slow Reading”: o que pode mudar em sua vida lendo devagar - Por José Roberto Cardoso, professor da Escola Politécnica da USP

 Gazeta da Torre

O título me chamou a atenção, pois sugere um comportamento que não pratico. Sempre que me deparo com um livro novo, fico ansioso para ler seu final, o que me dá prazer indescritível, mas, no entanto, este anseio faz-me lê-lo muito rápido e perder detalhes que algumas vezes percebo ao conversar com quem o leu.

O livro Slow Reading, de John Miedema, não é um livro novo, seu lançamento vem de 2009 e tem pouco menos de 100 páginas. Livros como este costumava ler no aeroporto, enquanto esperava pelo embarque, mas seu conteúdo fez-me refletir justamente sobre o porquê ler rápido.

A fluência do texto é leve, mas o conceito apresentado é profundo. Suas lições incentivaram-me a reler vários livros que passaram pelas minhas mãos, uma vez que, na ânsia de vê-los terminados — não pelo fato de não gostar do relato e sim pelo prazer de ler um texto bem elaborado e com um encadeamento fascinante que nos prende em suas páginas — devo ter perdido passagens ricas que exigiriam uma maior reflexão, que com certeza me levariam a um prazer maior na leitura.

Miedema destaca que a leitura lenta não é simplesmente ler mais devagar, ao contrário, é exercício adequado para você encontrar a sua velocidade de leitura. O leitor lento aprecia seu livro como aprecia uma boa comida, reforçando a ideia mestra do movimento Slow, que começou com o Slow Food criado por Carlo Petrini na Itália dos anos de 1980. Ressalta ainda que devemos apreciar a leitura e não sermos viciado nela, pois ambos, livros e comida, são elementos essenciais para uma vida saudável.

Critica a leitura no formato digital, sobretudo aquelas realizadas através de notebooks e iPads, não pela tecnologia em si, mas pelo fato de deixá-lo permanentemente conectado e interromper sua concentração a todo instante com a chegada de novas mensagens.

Toca também na questão ecológica, que joga a favor da leitura digital, mas não deixa de apontar que a tecnologia digital não minimizou o uso do papel, pois todo computador está conectado a uma impressora que é utilizada sempre que um texto mais longo nos é enviado.

A leitura exige total dedicação, não ter por perto celulares é mandatório. Isto não é nada novo, pois a leitura do primeiro veículo de leitura, a Bíblia, exige dedicação plena para absorver seus ensinamentos.

O autor afirma que o hábito da leitura lenta é uma herança que deve ser passada aos jovens, pois a concentração que deve ser a ela dedicada facilitará muito a compreensão de textos, indo ao encontro de melhor desempenho escolar. Destaca ainda o papel da bibliotecária no bem-estar psicológico da comunidade. Sua orientação ao leitor em como e o que ler é a nova habilidade exigida da profissão de bibliotecário para valorizar o prazer da leitura.

A criança pratica a “leitura lenta” e, por esta razão, sua imaginação é levada ao ambiente da narrativa. Ela se imagina personagem ativa dos acontecimentos. Por que na idade adulta perdemos esta capacidade? É uma pergunta que devemos fazer sempre que nos defrontamos com uma obra atraente.

Por fim, o autor afirma que o “ser” leitor consegue ler algo em torno de 500 livros em sua vida, o que é pouco, de modo que devemos selecionar muito bem o que ler, absorver completamente seu conteúdo como se fosse uma pérola e entender que esta biblioteca será uma representação única do nosso caráter.

Meu nome é José Roberto Cardoso, minha vida inteira passei na academia, e o livro é parte integrante de minha atividade profissional e do meu lazer. Pena não ter lido este livro antes.

A ideia de Slow Reading (Leitura Lenta) apresentada por John Miedema é fascinante e contrapõe o ritmo frenético com que muitos de nós lemos hoje em dia. Esse comportamento de leitura acelerada, frequentemente motivado pela ansiedade em descobrir o desfecho da narrativa, pode levar à perda de detalhes importantes e ao comprometimento da experiência literária completa.

Ao refletir sobre suas próprias práticas de leitura, você destacou várias ideias essenciais do livro, que, ao serem consideradas, podem transformar nossa relação com a leitura.

Pontos principais do Slow Reading

Apreciação da leitura:

Leitura como prazer: Miedema argumenta que a leitura lenta não se trata apenas de ler devagar, mas de encontrar a velocidade adequada para apreciar o texto, semelhante ao movimento Slow Food. Apreciar cada palavra e reflexão, como se fosse uma refeição gourmet, pode aumentar significativamente o prazer de ler.

Prazer vs. pressa: Apressar-se para terminar um livro pode privar o leitor de uma experiência rica e reflexiva. Relendo livros com essa nova perspectiva, pode-se descobrir passagens e detalhes anteriormente negligenciados.

Impacto da tecnologia:

Distrações digitais: A leitura em dispositivos digitais, como notebooks e iPads, pode ser prejudicada pelas constantes interrupções de mensagens e notificações, diminuindo a capacidade de concentração profunda necessária para a leitura lenta.

Aspecto ecológico: Embora a leitura digital seja ecologicamente vantajosa, a tecnologia não eliminou o uso de papel, já que a impressão de textos longos ainda é comum.

Educação e herança cultural:

Formação de jovens leitores: Miedema enfatiza a importância de passar o hábito da leitura lenta para os jovens, argumentando que isso pode melhorar a compreensão de textos e o desempenho escolar.

Papel dos bibliotecários: A nova habilidade dos bibliotecários deve incluir orientar os leitores sobre como e o que ler para maximizar o prazer e os benefícios da leitura.

Conexão imaginativa:

Imersão infantil: As crianças naturalmente praticam a leitura lenta, imaginando-se ativamente nas narrativas. Recuperar essa capacidade na idade adulta pode enriquecer a experiência de leitura.

Seleção de livros:

Leitura seletiva: Com uma média de 500 livros lidos ao longo da vida, escolher cuidadosamente o que ler e absorver profundamente cada obra é crucial. Cada livro lido contribui para a formação do caráter e do conhecimento do leitor.

Reflexão pessoal:

Você, José Roberto Cardoso, destaca a importância do livro em sua vida acadêmica e pessoal, lamentando não ter lido Slow Reading antes. Esse reconhecimento sugere que adotar uma abordagem mais lenta e reflexiva pode trazer benefícios significativos, não apenas no consumo de textos, mas na forma como absorvemos e aplicamos o conhecimento adquirido.

Adotar a leitura lenta pode não ser uma mudança fácil, especialmente em uma cultura que valoriza a rapidez e a produtividade. No entanto, os benefícios apresentados por Miedema fazem dessa prática uma consideração valiosa para qualquer leitor que deseja aprofundar sua compreensão e apreciação literária.

Fonte: Jornal da USP

- divulgação -

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