Gazeta da Torre
O título me chamou a atenção, pois sugere um
comportamento que não pratico. Sempre que me deparo com um livro novo, fico
ansioso para ler seu final, o que me dá prazer indescritível, mas, no entanto,
este anseio faz-me lê-lo muito rápido e perder detalhes que algumas vezes
percebo ao conversar com quem o leu.
O livro Slow Reading, de John Miedema, não é um livro
novo, seu lançamento vem de 2009 e tem pouco menos de 100 páginas. Livros como
este costumava ler no aeroporto, enquanto esperava pelo embarque, mas seu
conteúdo fez-me refletir justamente sobre o porquê ler rápido.
A fluência do texto é leve, mas o conceito apresentado é
profundo. Suas lições incentivaram-me a reler vários livros que passaram pelas
minhas mãos, uma vez que, na ânsia de vê-los terminados — não pelo fato de não
gostar do relato e sim pelo prazer de ler um texto bem elaborado e com um
encadeamento fascinante que nos prende em suas páginas — devo ter perdido
passagens ricas que exigiriam uma maior reflexão, que com certeza me levariam a
um prazer maior na leitura.
Miedema destaca que a leitura lenta não é simplesmente
ler mais devagar, ao contrário, é exercício adequado para você encontrar a sua
velocidade de leitura. O leitor lento aprecia seu livro como aprecia uma boa
comida, reforçando a ideia mestra do movimento Slow, que começou com o Slow
Food criado por Carlo Petrini na Itália dos anos de 1980. Ressalta ainda que
devemos apreciar a leitura e não sermos viciado nela, pois ambos, livros e
comida, são elementos essenciais para uma vida saudável.
Critica a leitura no formato digital, sobretudo aquelas
realizadas através de notebooks e iPads, não pela tecnologia em si, mas pelo
fato de deixá-lo permanentemente conectado e interromper sua concentração a
todo instante com a chegada de novas mensagens.
Toca também na questão ecológica, que joga a favor da
leitura digital, mas não deixa de apontar que a tecnologia digital não
minimizou o uso do papel, pois todo computador está conectado a uma impressora
que é utilizada sempre que um texto mais longo nos é enviado.
A leitura exige total dedicação, não ter por perto
celulares é mandatório. Isto não é nada novo, pois a leitura do primeiro
veículo de leitura, a Bíblia, exige dedicação plena para absorver seus
ensinamentos.
O autor afirma que o hábito da leitura lenta é uma
herança que deve ser passada aos jovens, pois a concentração que deve ser a ela
dedicada facilitará muito a compreensão de textos, indo ao encontro de melhor
desempenho escolar. Destaca ainda o papel da bibliotecária no bem-estar
psicológico da comunidade. Sua orientação ao leitor em como e o que ler é a
nova habilidade exigida da profissão de bibliotecário para valorizar o prazer
da leitura.
A criança pratica a “leitura lenta” e, por esta razão,
sua imaginação é levada ao ambiente da narrativa. Ela se imagina personagem
ativa dos acontecimentos. Por que na idade adulta perdemos esta capacidade? É
uma pergunta que devemos fazer sempre que nos defrontamos com uma obra
atraente.
Por fim, o autor afirma que o “ser” leitor consegue ler
algo em torno de 500 livros em sua vida, o que é pouco, de modo que devemos
selecionar muito bem o que ler, absorver completamente seu conteúdo como se
fosse uma pérola e entender que esta biblioteca será uma representação única do
nosso caráter.
Meu nome é José Roberto Cardoso, minha vida inteira
passei na academia, e o livro é parte integrante de minha atividade
profissional e do meu lazer. Pena não ter lido este livro antes.
A ideia de Slow Reading (Leitura Lenta) apresentada por
John Miedema é fascinante e contrapõe o ritmo frenético com que muitos de nós
lemos hoje em dia. Esse comportamento de leitura acelerada, frequentemente
motivado pela ansiedade em descobrir o desfecho da narrativa, pode levar à
perda de detalhes importantes e ao comprometimento da experiência literária
completa.
Ao refletir sobre suas próprias práticas de leitura, você
destacou várias ideias essenciais do livro, que, ao serem consideradas, podem
transformar nossa relação com a leitura.
Pontos principais do Slow Reading
Apreciação da leitura:
Leitura como prazer: Miedema argumenta que a leitura
lenta não se trata apenas de ler devagar, mas de encontrar a velocidade
adequada para apreciar o texto, semelhante ao movimento Slow Food. Apreciar
cada palavra e reflexão, como se fosse uma refeição gourmet, pode aumentar significativamente
o prazer de ler.
Prazer vs. pressa: Apressar-se para terminar um livro
pode privar o leitor de uma experiência rica e reflexiva. Relendo livros com
essa nova perspectiva, pode-se descobrir passagens e detalhes anteriormente
negligenciados.
Impacto da tecnologia:
Distrações digitais: A leitura em dispositivos digitais,
como notebooks e iPads, pode ser prejudicada pelas constantes interrupções de
mensagens e notificações, diminuindo a capacidade de concentração profunda necessária
para a leitura lenta.
Aspecto ecológico: Embora a leitura digital seja
ecologicamente vantajosa, a tecnologia não eliminou o uso de papel, já que a
impressão de textos longos ainda é comum.
Educação e herança cultural:
Formação de jovens leitores: Miedema enfatiza a
importância de passar o hábito da leitura lenta para os jovens, argumentando
que isso pode melhorar a compreensão de textos e o desempenho escolar.
Papel dos bibliotecários: A nova habilidade dos
bibliotecários deve incluir orientar os leitores sobre como e o que ler para
maximizar o prazer e os benefícios da leitura.
Conexão imaginativa:
Imersão infantil: As crianças naturalmente praticam a
leitura lenta, imaginando-se ativamente nas narrativas. Recuperar essa
capacidade na idade adulta pode enriquecer a experiência de leitura.
Seleção de livros:
Leitura seletiva: Com uma média de 500 livros lidos ao
longo da vida, escolher cuidadosamente o que ler e absorver profundamente cada
obra é crucial. Cada livro lido contribui para a formação do caráter e do
conhecimento do leitor.
Reflexão pessoal:
Você, José Roberto Cardoso, destaca a importância do
livro em sua vida acadêmica e pessoal, lamentando não ter lido Slow Reading
antes. Esse reconhecimento sugere que adotar uma abordagem mais lenta e
reflexiva pode trazer benefícios significativos, não apenas no consumo de
textos, mas na forma como absorvemos e aplicamos o conhecimento adquirido.
Adotar a leitura lenta pode não ser uma mudança fácil,
especialmente em uma cultura que valoriza a rapidez e a produtividade. No
entanto, os benefícios apresentados por Miedema fazem dessa prática uma
consideração valiosa para qualquer leitor que deseja aprofundar sua compreensão
e apreciação literária.
Fonte: Jornal da USP
- divulgação -


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