Gazeta da Torre
WhatsApp usando ferramentas de IA |
Empresa disse que decisão da autoridade brasileira
atrasaria chegada de benefícios de inteligência artificial ao país
Pessoas ouvidas pela reportagem e usuários de redes
sociais relatam que perderam acesso, no WhatsApp, ao criador de figurinhas com
inteligência artificial, testado no Brasil desde o fim de maio.
A medida foi percebida por usuários após a Autoridade
Nacional de Proteção de Dados (ANPD) suspender, no último dia 2, a validade do
trecho da política de privacidade da Meta --a dona de Facebook, WhatsApp e
Instagram-- referente ao desenvolvimento de modelos de IA generativa, como o
ChatGPT.
A empresa avisava que utilizaria conteúdo público dos
usuários (textos, fotos e vídeos) para desenvolver grandes modelos de
linguagem.
No último dia 10, a ANPD rejeitou um pedido da Meta para
reconsiderar a medida cautelar. A big tech então ganhou mais cinco dias úteis a
partir de então para mostrar que suspendeu a política de tratamento de dados
para treinamento de IAs.
Procurada, a Meta disse que não comentaria a decisão.
Quando a ANPD notificou a big tech, havia dito que a big tech, havia dito que a
decisão da autoridade brasileira atrasaria a chegada dos benefícios da
inteligência artificial ao país.
Além do gerador de figurinhas do WhatsApp, o fundador do
Facebook, Mark Zuckerberg, havia avisado que o pacote de inteligência
artificial da empresa, o Meta AI, que seria integrado a todas as plataformas da
empresa, chegaria ao Brasil e à Europa em julho.
A tecnologia já está disponível em alguns países de
idioma inglês, como Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e países africanos.
A Meta também suspendeu o uso de dados dos usuários de
Facebook e Instagram para treinar modelos de inteligência artificial na Europa,
após o regulador da União Europeia sediado na Irlanda pedir explicações à
empresa em 14 de junho.
Na ocasião, a empresa também adiou a chegada do Meta AI
aos usuários europeus.
Nos Estados Unidos, onde não há legislação de proteção de
dados, usuários reclamam de negativas da Meta ao pedido de oposição ao uso de
dados pessoais para treinamento de IAs generativas, de acordo com o New York
Times.
À reportagem, a ANPD disse que a instauração do processo
de fiscalização em face da Meta foi realizada considerando o impacto do uso dos
dados para treinamento de IA sobre os direitos dos titulares e sobre crianças e
adolescentes. "Destacamos, também, a grande quantidade de pessoas
impactadas pela operação de tratamento: apenas no Brasil, o Facebook possui
cerca de 102 milhões de usuários ativos, fora os usuários das demais redes do
grupo."
"Havia, ainda, a possibilidade do tratamento de
dados de terceiros não usuários das plataformas", acrescenta a autoridade,
que diz também que outros processos poderão ser instaurados a fim de averiguar
o uso de dados pessoais para fins de treinamento de IA generativa.
O professor de direito digital FGV Luca Belli lembra que
a primeira multa aplicada pela ANPD em sua história, direcionada à operadora de
telemarketing Telekall, envolvia a raspagem de dados pessoais sem consulta aos
titulares.
Esse processo também faz parte do desenvolvimento de
plataformas de IA generativa, que necessita de uma quantidade massiva de
informações para direcionar o algoritmo a entregar as respostas mais adequadas,
na etapa chamada de treinamento.
"Quando eu perguntei ao ChatGPT quem era Luca Belli,
ele descreveu vários detalhes da minha vida, entre várias alucinações e
mentiras", disse o professor.
Para o docente, a ANPD detém o mandato para fiscalizar
como as empresas de inteligência artificial usam dados pessoais. "Essa
utilização nem sempre vai estar de acordo com o legítimo interesse do usuário,
como decidiu a autoridade brasileira no caso da Meta, o que coloca o
procedimento em desconformidade com a LGPD [Lei Geral de Proteção de
Dados]", diz.
A reportagem ainda havia mostrado que a IA geradora
figurinhas de WhatsApp reproduzia estereótipos considerados racistas, como
associar pessoas negras a fuzis. Além disso, mostrava políticos dentro de
arquétipos que ganharam popularidade.
Fonte:Folha de São Paulo
- divulgação -
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