Rachel Mills
- Especial para a BBC*
Máquinas de exploração sumbarina |
Ao redor do mundo, diversos países estão reivindicando
soberania sobre áreas de difícil acesso no fundo dos oceanos. Por quê?
No século 20, por exemplo, missões para chegar ao Polo
Sul foram financiadas por investidores dispostos a se beneficiar da futuração
exploração desas áreas desconhecidas.
Mas o aspecto geopolítico ganhou força em 1945, quando o
então presidente dos EUA, Harry Truman, reivindicou a totalidade da plataforma
continental adjacente ao país.
Em 2007, a Rússia usou um submarino-robô para fincar uma
bandeira no fundo do mar abaixo do Polo Norte.
O que há de real por trás do mito dos Illuminati?
A nova fronteira é o fundo dos oceanos. Explorar essas
áreas pode resultar na descoberta de uma grande quantidade de recursos
naturais.
Abismos e montanhas
Apenas 5% do leito oceânico, que cobre cerca de 60% da
superfície da Terra, foi propriamente explorado até agora.
A luz não chega às profundezas, que vivem na escuridão,
em temperaturas perto de zero.
Cada missão exploratória revelou estruturas frágeis e
animais nunca antes vistos. Mas empresas e governos estão de olho em mineirais
que potencialmente podem valer bilhões.
Nos últimos anos, houve grande avanço na tecnologia para
mapear e extrair esses recursos - incluindo a construção de equipamento
robótico capaz de operar em grandes profundidades.
A mineração em grandes profundidades, ideia que data dos
anos 1960, pode se tornar realidade já na próxima década.
Tudo isso é alimentado também pelo crescimento
populacional e econômico do mundo, além das preocupações com a oferta de
recursos minerais em terra firme.
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No solo oceânico, por exemplo, há cobre, níquel e cobalto
em grandes concentrações, assim como depósitos de metais
"estratégicos", como é o caso dos chamados elementos terra-rara,
usados em tecnologias como chips de memória e baterias para carros elétricos.
Estima-se, por exemplo, que apenas montanhas no fundo do
Pacífico contenham 22 vezes mais telúrio, elemento usado em painéis de energia
solar, do que em todas as reservas terrestres conhecidas.
Sob pressão
Até o momento, esses recursos minerais estão sendo apenas
localizados, não extraídos.
Há sérios obstáculos a superar nessas locações
remotas.
O equipamento precisa funcionar em profundidades de 5 mil
metros, onde a pressão é 500 vezes maior que na superfície, apenas para começar
a escavar. A atual tecnologia de mineração profunda permite apenas a operação
em regiões de mil metros debaixo d´água.
As regras para a exploração do fundo dos oceanos ainda
não foram estipuladas, mas os interessados terão que demonstrar que avaliaram o
impacto ambiental das operações e os planos de contigência para efeitos das
atividades.
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talvez não conheça
O grande problema é que o conhecimento humano sobre esses
ambientes é limitado, o que dirá a compreensão sobre os efeitos de sua
exploração para a extração de recursos.
A biodiversidade nos oceanos é espetacular, mesmo em
grandes profundiades, e os cientistas sabem que há muito mais espécies a serem
descobertas.
Um consórcio internacional de cientistas começou a tentar
medir o impacto ambiental da escavação do leito oceânico. Os especialistas
temem que isso possa afetar muitas formas de vida e mesmo a capacidade dos
oceanos de fornecer alimento e absorver dióxido de carbono da atmosfera.
As consequências podem até afetar a indústria
farmacêutica, que nos últimos anos desenvolveu até tratamentos contra o câncer
a partir de criaturas marinhas.
De quem é o fundo?
A atual legislação internacional estabelece que países
são donos do que é encontrado em uma extensão de até 200 milhas náuticas (370
km) de suas costas. Passado esse limite, a discussão se complica.
Um órgão das Nações Unidas, conhecido como ISA, é
responsável pelo licenciamento de projetos exploratórios do leito oceânico.
Criado em 1984, o ISA é reconhecido por 168 países, entre
eles o Brasil e a União Europeia, mas não os EUA.
Desde então, o órgão aprovou apenas 26 pedidos de
exploração de 20 países, nenhum deles da América do Sul. China e Rússia são os
países com mais licenças (quatro cada), ao passo que Reino Unido, França,
Alemanha, Índia e Japão têm dois.
Por determinação da ONU, os contratos têm de ser
divididos com uma nação em desenvolvimento.
Com os avanços da tecnologia, a corrida pelo fundo dos
oceanos só vai se intensificar.
*Rachel Mills é cientista e integrante de um grupo de
estudos sobre o futuro dos recursos oceânicos criado pela Royal Society de
Londres.
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