Elisabet Sans
Salvador Dali, em uma das fotografias de seu livro de
receitas. TASCHEN / FUNDACIÓ GALA-SALVADOR DALÍ |
A editora Taschen reedita, depois de quatro décadas, o
livro de receitas ‘Les Dîners de Gala’
A publicação traz pratos opulentos acompanhados de
reflexões e ilustrações do artista.
Carne assada com verduras, vitela agridoce e filés
marinados poderiam ser as receitas de qualquer livro culinário. Mas, se
acrescentamos ao receituário os passos para cozinhar um arbusto de lagostas com
ervas vikings, ovos de mil anos, creme de rãs ou uma sobremesa chamada seios de
Vênus, os pratos darão uma ideia mais clara da peculiar personalidade do chef.
Neste caso, ninguém menos que Salvador Dali.
Ilustração de Dalí do prato ‘Arbusto de lagostas com
ervas vikings’. TASCHEN / FUNDACIÓ GALA-SALVADOR DALÍ |
A editora Taschen reedita pela
primeira vez o livro de culinária publicado pelo artista em 1973. ‘Les Dîners
de Gala’ (Os Jantares de Gala) revela, quatro décadas depois, mais de uma
centena de receitas que dão uma ideia dos lendários jantares organizados por
Dalí e sua mulher e musa, em que havia desde fantasias até macacos como parte
da festa.
Ilustração de uma das receitas do Salvador Dali, no livro
‘Les Dîners de Gala’. TASCHEN / FUNDACIÓ GALA-SALVADOR DALÍ |
Um livro que, além de receituário, é também uma mostra de
obras de arte, pois os pratos foram ilustrados pelo próprio Salvador Dali
(1904-1989), que também aparece em algumas fotos ao lado de mesas opulentas.
São 136 receitas acompanhadas de reflexões do artista de Figueres, organizadas
em 12 capítulos com títulos como: Les cannibalismes de l’automne (ovos e frutos
do mar), Les entre-plats sodomisés (carnes), Les chairs monarchiques (caça e
aves) e Les je mange Gala (afrodisíacos).
Salvador Dali, à esquerda, em uma fotografia do livro ‘Les
Dîners de Gala’. TASCHEN / FUNDACIÓ GALA-SALVADOR DALÍ |
“Não é um livro de gastronomia saudável e está muito
longe da cozinha minimalista que está na moda hoje em dia. Trata-se do conceito
daliniano do comer bem”, conta María Eugenia Mariam, relações públicas da
Taschen. “Não são receitas nem para quem está de dieta nem para quem quer
comida saudável, como já escreveu Dalí no livro em 1973”. O artista também
deixou claro seu desprezo pelos espinafres e sua predileção pelos crustáceos.
“Alimentos que após uma única batalha para descascá-los se tornam vulneráveis
para a conquista de nosso paladar”, diz o pintor a respeito dos mariscos.
As receitas até podem ser preparadas em casa, mas, para
isso, é imprescindível ter uma despensa bem sortida e muita manha nos fogões,
já que incluem especialidades dos melhores chefs de restaurantes estrelados de
paris, como Lasserre, La Tour d’Argent, Maxim’s e Le Train Bleu. Além disso, o
corajoso que conseguir acertar o ponto de cocção dos alimentos ainda deverá
enfrentar o desafio da apresentação.
Originais de grande valor
A Taschen tomou a decisão de resgatar essas propostas
sensuais, imaginativas e um tanto exóticas por saber que existem poucos
originais dos Dîners de Gala e que hoje valem milhares de euros. Assim,
compraram os direitos para torná-lo acessível (49,99 euros). “A mandíbula é
nossa melhor ferramenta para nos aferrarmos ao conhecimento filosófico”,
reflete Dalí no livro. O banquete com nuances surrealistas, de 320 páginas,
chegou às prateleiras reeditado em italiano, alemão, inglês, francês e
espanhol. Um exemplar destinado não só aos fãs da boa comida, mas também aos
amantes da arte, já que as gravuras de algumas dessas ilustrações estão hoje
penduradas em uma sala de exposições do Panamá.
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