Gazeta da Torre
Para tentar reduzir o aumento das taxas de obesidade,
nove países, com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), trabalham
num Plano de Aceleração com uma abordagem abrangente, que combina estratégias
regulatórias, fiscais e multissetoriais. De acordo com pesquisa realizada pela
organização, as taxas de sobrepeso e obesidade entre adultos nas Américas
aumentaram 52% de 1990 para 2022. “Esses números são alarmantes e representam
não apenas estatísticas, mas milhões de vidas afetadas por doenças crônicas,
como diabetes, doenças cardiovasculares e vários tipos de câncer”, disse Anselm
Hennis, diretor do Departamento de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da
Opas.
A professora Maria Edna de Melo, professora da Faculdade
de Medicina (FM) da USP, explica que as propostas apresentadas pelo plano de
aceleração passam pela implementação de uma rotulagem mais eficiente, uma
alimentação escolar melhor e a regulamentação de produtos que não são benéficos
para a saúde. Porém, ressalva que essas ideias só funcionarão se, através de
medidas regulatórias, os países fizerem o alimento saudável chegar para a
população mais barato do que os alimentos não saudáveis.
Marcio Mancini, chefe da Unidade de Obesidade da
Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas (HC),
completa: “Ações de promoção de alimentação saudável na infância precoce,
promover, proteger e dar suporte ao aleitamento materno, campanhas públicas de
alerta e de educação, padronizar e regular atividade física nas escolas, tudo
isso faz parte desse plano.”
Argentina, Barbados, Brasil, Chile, México, Panamá, Peru,
Trinidad e Tobago e Uruguai são os países por trás desse projeto, porém, entre
eles há diferentes realidades econômicas e culturais, o que pode dificultar a
implementação do plano para todos os países, além das regulamentações
dependerem de governos, que podem custar tempo tramitando no Congresso de cada
país. Maria Edna explica que precisa existir uma adequação na estratégia de
implementação que funcione para todos os países, como a rotulagem frontal de
alimentos no Brasil, com a lupa na embalagem, ou em alguns países que têm
octógonos, para que assim, mesmo um analfabeto entenda que tem algo diferente
no alimento ao ver os símbolos diferentes.
Mancini destaca que haverá muita dificuldade em todos
países colocarem as ideias em prática, porém, essa não é a única dificuldade
social que poderia ser mudada para que as pessoas alterassem seus hábitos
alimentares. Segurança pública, boa iluminação nas vias e transporte público faria
as pessoas se movimentarem mais.
Maria Edna, que faz parte da Associação Brasileira para o
Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), afirma: “As pessoas ainda
estão muito amarradas, acreditando que aulinha na escola, campanhas, ‘olha,
vamos comer mais saudável que isso vai funcionar’. Não, isso nunca funcionou,
tanto que a obesidade só aumenta. O que vai funcionar mesmo é uma mudança do
ambiente, para promover uma mudança nesse cenário para melhorar a saúde da
população. Outra mudança também, que precisa acontecer entre os médicos, é que
não é só orientar o paciente a fazer mudança de alimentação. Muitos vão
precisar de tratamento medicamentoso e uma boa parte também de tratamento
cirúrgico.”
De acordo com a OPAS, Argentina, Barbados, Chile, México,
Panamá e Uruguai já começaram a desenvolver seus planos de ação. Enquanto isso,
o México e o Panamá estão terminando de desenvolver seus respectivos planos
nacionais.
Fonte:Jornal da USP
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