Gazeta da Torre
08 de outubro – Dia do NORDESTINO
Nordeste, que é Norte, sentido a se buscar na vida, e
Leste, orientação de onde se vem. Nordeste, primeiras terras avistadas pelos
que achavam que haviam “descoberto” algo por aqui... Nordeste, onde o sol
brilha primeiro, nosso Japão brasileiro. Nordeste, cujos sítios arqueológicos
piauienses já apontam para a presença dos primeiros humanos das Américas, há
mais de quarenta mil anos... Nordeste, quem te viu, quem te vê? Quem te enxerga
por outros jeitos de ser?
Nordeste, meu chão e coração – de onde vim e o que sou.
Ser nordestino é ter raiz forte do bioma catingueiro, vagar valente por
intrincadas veredas, crescer pela terceira margem do rio da existência,
florescer e frutificar em meio a vidas secas, com um dom extraordinário e
criativo para sobrevivências.
Nordestino, social, poética e quase que biologicamente
falando, um camaleão, de tanta luta r-evolutiva, mestre da arte da adaptação. É
arquétipo manifesto em sete cores de catavento, padrões de mosaicos em
movimento, tradição preservada de formas variadas, caminho com encruzilhadas de
Exu em mil direções, por onde passam e repassam mensagens de Hermes, em
reverberações de sensos e modos de escrever, ler, ver, interpretar, ouvir,
traduzir, transformar, reformar. É ter que dar seu jeito, muitas vezes mil jeitos,
de camuflar, resistir, re-viver, enganar o existir para ser. É conjugar na vida
o verbo nordestinar.
Nordestino é saber de onde se vem, nem sempre para onde
se vai – mas vai, assim mesmo –, pronto a encarar, resiliente e corajoso, até
onde indicar o novelo de sua sina. É entender-se nor-destino. Abraçar quem e o
que se é, num exercício existencial, antropofágico, de consciência de, e com,
classe – retinindo o galope do martelo do preconceito nas cordas de prata da
viola, rimando suas dores com revoltas métricas de cordéis e cantorias,
entoando as pancadas da vida na pele de bode mágica do pandeiro, fazendo-se em
mil pedaços de uma devotada oferenda à Vida, realizando seu sacrifício
cotidiano em forma de versos claros e improvisos certeiros, com sentimentos de
dor misturados aos de honra e glória pela luta, entre derrotas e vitórias. É,
num único ser quimérico, concretizar-se rei de si mesmo, guerreiro em defesa
dos fracos, mago revolucionário da história, amante do bem de toda a
humanidade. É ser deus e o diabo na terra do sol, um santo guerreiro contra o
dragão da maldade.
Ser nordestino é cumprir um destino, sem desatino. É o
cabra saber mirar fundo nos olhos do viver e subir nos cascos, ficar de pé,
quase arregalando os olhos de altivez e comprimindo os lábios de coragem, não
arredar para se fazer respeitar, usando boas e poucas palavras, se for o caso,
cerrar os punhos, puxar duma peixeira, vociferar, morder, meter cornos e coices
nas adversidades, e ganhar, na lei ou na marra, o que é seu. É que cabra não é
da mesma espécie que ovelha... É de outra natureza: cabra dá o sangue para não
dar a pele, o que explica seu pensamento, seu sentimento, seu comportamento –
de uma só palavra, um só coração, uma só atitude – tudo o que uma vez dito,
sentido e feito, não tem volta. É cumprir-se, com riso coringa de canto de
boca, enquanto crava sua seta objetivada em alvo certo, pena de poeta, espada
de guerreiro, na meta da vida. Em ponto.
Pronto! Nordestino
é isso. E mais isto...
*Trechos do artigo ‘Um jeito de ser nordestino’ de Max Müller, Mestre em Literatura e poeta nordestino
- divulgação -
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