quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Escolha precoce de carreira acarreta desistências no ensino superior

 Gazeta da Torre

Especialistas comentam estudo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira, que mostra que mais da metade dos alunos que ingressam no ensino superior não concluem seus cursos

Escolher uma carreira para seguir aos 18 anos, em média, é um fator relevante no número de estudantes que desistem do curso ao longo da graduação. É preciso fazer certa reflexão, junto de outras medidas, para atenuar a antecipada tomada de decisão na vida dos jovens. Testes vocacionais, entre outras estratégias com a finalidade de direcionar as escolhas, são essenciais para contribuir com a decisão precoce. A opinião é consenso entre especialistas em educação.

O professor titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP, polo Ribeirão Preto, Mozart Neves Ramos diz que um levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, apontou que 59% dos alunos desistem de seus cursos ao entrarem na faculdade. “Os dados abrangem universidades públicas e privadas, sem diferenças significativas.”.

Para Ramos, o principal elemento para atenuar essa situação seria as universidades trabalharem com formas mais flexíveis de acesso e de permanência, sem que os jovens se sintam obrigados a definirem o curso ainda muito cedo. “Essa é uma fase da vida em que ocorrem muitas transformações sociais e emocionais”, declara.

Da computação para a economia

Exemplo disso é o economista João Édison Delarissa Filho. Ele ingressou na faculdade pela primeira vez com o objetivo de cursar Ciência da Computação. Ele conta que seu processo de escolha foi influenciado pelo contexto de encerramento da escola e a necessidade de escolher os próximos passos. E não foi só isso. A proximidade com a área, devido ao fato de alguns familiares estarem atuando no segmento da Tecnologia da Informação, também pesou na escolha.

Mas, no decorrer do curso, percebeu que não era nada daquilo que ele queria. “Já no primeiro ano eu notei um descasamento das minhas expectativas do que seria o curso e os conteúdos que eram ministrados nas disciplinas. Foi a partir de uma reflexão sobre as disciplinas que eu mais tinha afinidade no colegial e as que mais me interessavam que passei a guiar meu segundo processo de escolha.”

De acordo com o economista, a busca por conteúdos da grade curricular fez total diferença na decisão de sua segunda graduação, mas o processo de escolha foi além. “Por gostar das matérias de história, geografia, sociologia e atualidades, passei a procurar cursos de graduação que dessem continuidade nesses estudos. Ainda tive um terceiro momento de escolha, que foi entre o curso de Ciências Sociais e o curso de Economia, mas acabei optando pela Economia. Fiquei positivamente surpreendido durante o curso de Ciências Econômicas”, pontua.

Ajuda profissional

O exemplo de Delarissa Filho, vivido por tantos outros jovens, revela que, durante a escolha da carreira, existem estratégias que podem contribuir para direcionar essa decisão, tais como o teste vocacional, que é bastante utilizado quando os jovens buscam ajuda. Lucy Leal Melo Silva, professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que, além dos testes vocacionais, também existem outros conceitos utilizados como orientação profissional e aconselhamento de carreira.

“Englobando todas essas possibilidades terminológicas, as intervenções de carreiras, por exemplo, são estratégias para ajudar um cliente ou um aluno a tomar e implementar decisões eficazes de carreira. Essas estratégias visam a auxiliar a pessoa a tomar decisões sobre os estudos ou trabalho e é mais realizada no Brasil com vestibulandos para a escolha da graduação”, descreve Lucy.

Ainda segundo Ramos, os testes vocacionais deveriam ser mais empregados nesse processo e oferecidos pelas próprias universidades, principalmente para os estudantes de famílias de baixa renda. “Isso permitiria, inclusive, que a instituição conhecesse melhor seus alunos”, finaliza.

Por Eduardo Nazaré e Susanna Nazar

- divulgação -


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