Gazeta da Torre
"Vivo num apartamento grande sozinha, mas não sinto
nada de solidão. Tenho meus dias muito ocupados e viajo muito", diz Eliana
Naves, de 65 anos.
Ela representa uma mudança estrutural em curso na
sociedade brasileira, de acordo com dados do Censo 2022 divulgados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com cada vez mais pessoas vivendo sozinhas e casais
optando por não ter filhos, a porcentagem de domicílios em que vive só uma
pessoa deu um salto, passando de 12,2% em 2010 para 18,9% em 2022, em todas as
faixas etárias e não mais apenas entre os idosos.
O mesmo ocorreu com a proporção de casais sem filhos: foi
de 16,1% para 20,2%.
Entenda a causa
"O envelhecimento da população é a principal
explicação", explica um dos coordenadores da pesquisa, Márcio Minamigushi.
"Os parceiros morrem, os filhos saem de casa, as
pessoas vão ficando sozinhas. Mas essa mudança (no perfil das famílias) está
relacionada a vários fatores", observa.
"Há o fato de as pessoas estarem adiando o casamento
ou optando por não se casar. E também preferindo adiar ou mesmo não ter filhos.
Existe uma mudança no comportamento, na formação da família."
Rio de Janeiro lidera o ranking
Eliana vive sozinha em um grande apartamento de cobertura
na zona sul do Rio. Em 2009, ela perdeu um filho de 25 anos que nasceu com
fibrose cística, uma doença que provoca o necrosamento do pulmão.
Dois anos depois, separou-se do marido, com quem estava
casada desde 1982, e ficou vivendo com a filha mais nova. Em 2016, no entanto,
a jovem se casou e saiu de casa.
A mãe de Eliana, que morreu em fevereiro, aos 97 anos,
vivia também sozinha em um outro apartamento na mesma rua, mas nenhuma das duas
quis abrir mão de sua independência, apesar dos encontros diários e do apoio
mútuo.
As maiores proporções de domicílios com apenas um morador
foram registradas exatamente no Rio de Janeiro (23,4%). Confira os três principais
estados do ranking:
Rio de Janeiro (23,4%);
Rio Grande do Sul (22,3%);
Espírito Santo (20,6%)
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul são os Estados com a
população mais envelhecida.
Os menores porcentuais de casas unipessoais estão no
Amapá (12,0%), Amazonas (13,0%) e Pará (13,5%), que também são os Estados mais
jovens do País.
Os números anteriores do Censo 2022 divulgados no fim do
ano passado já mostravam que Norte e Nordeste são as áreas mais jovens do
Brasil, onde 25% e 21% da população têm até 14 anos.
As regiões mais velhas são o Sudeste e Sul, ambas com
porcentuais de idosos que chegam a 12%. No Brasil, as pessoas com mais de 65
anos já representam 10,9% da população.
Detalhamento
O IBGE considera quatro espécies de unidades domésticas:
Unissociais: aquelas com apenas um morador;
Nucleares: em que vive só um casal, um casal com filho
(s) ou só uma pessoa com filho (s);
Estendidas: onde existe a presença de algum outro membro
da família, como neto (s), avó (s), genro e nora;
Compostas: onde vive também algum outro indivíduo que não
seja da família.
Entre as quatro espécies de unidades domésticas, a mais
frequente continua sendo a nuclear, que representa 64,1% do total, ante 66% no
Censo anterior, de 2010.
Na sequência, vem o tipo unipessoal (18,9%), que era de
12,2% na edição anterior. O modelo estendido foi para 15,4%, ante 19,1% no
último Censo.
Já o domicílio composto ficou em 1,5% - era de 2,5% na
década passada. Ou seja, o único tipo de unidade doméstica que aumentou sua
participação foi a unipessoal, além do número de casais sem filhos - englobados
na nuclear.
Também entre jovens
O aumento não está relacionado exclusivamente ao
envelhecimento da população.
Embora o grupo etário acima dos 60 anos ainda seja o mais
prevalente entre os domicílios unipessoais (28%), foi o que registrou o menor
crescimento entre 2010 e 2022 (33,5%).
Na faixa de 18 a 24 anos, o aumento do número de
domicílios com apenas um morador foi de 52,2%.
Já no grupo entre os 25 e 39 anos, o crescimento chegou a
61,4%; e entre 40 e 59 anos, o salto foi de 56,2%.
Segundo o Censo 2022, o Brasil tem 72 milhões de unidades
domésticas, 15 milhões a mais do que em 2010.
O número médio de moradores por domicílio também vem
caindo: era de 3,7 em 2000, passou a 3,3 em 2010 e, em 2022, foi de 2,8.
Atualmente, 72,3% das unidades domésticas têm até três moradores.
Fonte: Estadão
- divulgação -
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