Gazeta da Torre
O trabalho híbrido, que mistura o trabalho presencial e o
remoto e que ganhou muita força entre as empresas recentemente — principalmente
na América Latina —, melhora a satisfação no emprego, não afeta a produtividade
e reduz demissões de funcionários, como indica estudo publicado na revista
Nature. Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia, Administração,
Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade de São Paulo, explica que, em
2017, a reforma trabalhista introduziu um novo artigo na CLT, que permitiu o
trabalho a distância e, consequentemente, a flexibilização do controle da
jornada. A mudança criou uma tendência ao trabalho remoto entre as empresas,
mesmo que ainda muito incipiente, e foi essencial para o momento vivido na
pandemia causada pela covid-19, já que as empresas tiveram que se adaptar
instantaneamente, e tudo que era feito nos escritórios passou a sê-lo a
distância.
“Os trabalhadores gostaram, as empresas também gostaram,
porque representou uma economia para elas. Se gastava menos energia, aquelas
despesas de funcionamento de um escritório grande se reduziram e o trabalho
continuou a ser feito. O problema que as empresas se queixavam é que elas não
tinham a capacidade de garantir que a produtividade fosse mantida. Quando a
pandemia acabou, dada a necessidade da empresa de poder controlar e manter
aquele contato presencial, surgiu a ideia do trabalho híbrido, alguns dias da
semana em casa e alguns dias na empresa. Isso definitivamente é uma tendência”,
comenta ele.
Segundo Zylberstajn, a nova fórmula de trabalho criou
novos aspectos a serem analisados, como o direito à desconexão durante os
momentos remotos de trabalho, o que possibilita ao trabalhador definir sua
jornada e limitar sua disponibilidade ao horário de trabalho. Outra questão é o
custo extra que o trabalhador tem ao fazer suas funções de casa, seja com
energia, internet ou equipamentos, o que faz muitas empresas entrarem em
negociações com os empregados para assumir esses custos. Contudo, ele conta que
as características são diversas, já que cada empresa adota um sistema diferente
— em alguns casos, as empresas optam pela maior parte dos dias como
presenciais, enquanto outras dão preferência pelo trabalho remoto.
Prós e contras
A psicóloga Larissa Silva, pesquisadora e mestre pelo
Instituto de Psicologia (IP) da USP, afirma que o trabalho híbrido pode trazer
muitos benefícios para as pessoas que têm um ambiente familiar considerado
saudável, o espaço propício em casa para realização das tarefas e trabalham em
uma empresa que respeita os horários de jornada de trabalho. Dessa forma, o
modelo pode trazer muitos benefícios, tanto físicos como psíquicos, como a
melhora na qualidade de vida, a flexibilidade e a possibilidade de interação
com a equipe nos dias em que você está no escritório.
“A pessoa está economizando o tempo de ida e volta do
trabalho, que pode ser utilizado para uma atividade de lazer, uma atividade
física, cozinhar e ter uma alimentação mais saudável, ou para passar mais tempo
com a família. Esses aspectos são fatores importantes, que afetam a autoestima
da pessoa que, com uma autoestima elevada, acaba se sentindo melhor, oferecendo
o melhor desempenho. Então é um benefício tanto para a pessoa como também para
a organização, mas nem todo mundo tem esse ambiente familiar adequado”,
explica.
Nesse sentido, a especialista ainda declara que as
vantagens e desvantagens do trabalho híbrido variam, inclusive com algumas
pessoas se sentindo mais produtivas ao trabalhar em casa, enquanto outras
preferem o trabalho no escritório. Assim, apesar dos possíveis benefícios da
adoção desse modelo, este também pode ser responsável por potencializar e
ocasionar doenças mentais — como depressão, ansiedade, estresse e burnout — em
alguns trabalhadores, caso não seja bem implementado, de forma pensada e
cautelosa. Alguns exemplos das desvantagens são o acúmulo de funções que
algumas pessoas, especialmente mulheres, podem ter, e a mistura do convívio
familiar com as atividades laborais, necessitando o desenvolvimento da
habilidade de gerenciamento do tempo.
“Nós podemos ter a falha na comunicação, a sensação de
estar sempre trabalhando e não conseguir desligar, a má gestão do tempo, que
pode afetar nas entregas e nos resultados, pressionando e frustrando a pessoa,
a menor relação interpessoal formal e informal e o isolamento social,
profissional e político. Inclusive, no futuro, pode haver uma mudança cultural
na sociedade, em que a parte da socialização pode ficar muito comprometida. Por
isso é importante não só olhar como desvantagens, mas fatores que merecem
atenção, para pensarmos em formas estratégicas de fazer dar certo”,
complementa.
A pesquisadora entende que, para o modelo de trabalho
híbrido ser algo benéfico aos trabalhadores, é importante que estes busquem e
desenvolvam a sua inteligência emocional — capacidade de identificar e lidar
com as emoções e sentimentos pessoais e de outros indivíduos —, o que aprimora
características como adaptabilidade e fácil relacionamento, além de tornar
possível uma melhor dinâmica organizacional. “Essas mudanças significativas se
tornam mais evidentes quando você tem um controle das suas emoções, tanto
pessoal quanto profissional. Pode ser um desafio, no modelo de teletrabalho, já
que a inteligência emocional envolve também a comunicação com o outro, então
relacionamento interpessoal, conseguir se relacionar com a outra pessoa, ter
empatia, se conhecer, conseguir lidar com a gente mesmo”, conclui.
Fonte Jornal da USP
- divulgação -
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