Em tempos sombrios como estes atuais, talvez a melhor
solução seja uma boa dose de fantasia. Claro que panelaços, manifestações
sociais, resistência ao endurecimento tosco e pesquisa científica são elementos
essenciais para enfrentar e confrontar uma realidade pouco agradável a
estômagos sensíveis. Mas um bom conto de fadas que mostra o mundo menos duro,
subverte a história e funciona como um band-aid na alma, também pode funcionar.
E não se trata de escapismo ou alienação – é necessidade, é sobrevivência. E,
claro, diversão. Todos esses ingredientes estão em dois filmes: Era Uma Vez em…
Hollywood, de Quentin Tarantino, e Yesterday, de Danny Boyle.
Os dois filmes credenciados por seus diretores: Tarantino
talvez seja o realizador mais cult da atualidade, enquanto Boyle tem no
currículo o aplaudido e incômodo Trainspotting e Quem Quer Ser Um milionário,
Oscar de melhor filme de 2008. Mas não adianta ter um bom diretor por trás das
câmeras se não houver uma boa história a ser contada. E tanto Era Uma Vez…
quanto Yesterday são fábulas das mais interessantes, por mais que partam de
premissas distintas. E da mesma forma que divertem e até emocionam retorcendo a
realidade, criando mundos paralelos, também chegam a fustigar quando fato e
fantasia se veem diante do espelho e se reconhecem.
As reviravoltas, as tramas, os personagens (reais ou não)
que geram empatia – tudo isso é um prato cheio para spoilers desavisados. Mas,
indo contra a máxima de Oscar Wilde que dizia que a melhor forma de se livrar
de uma tentação é cair nela, como no carnaval, esse texto vai resistir e não
vai adiantar o que não pode ser contado. Mas fica o aviso: é fantasia, certo? E
no reino dos contos de fadas, tudo é permitido.
Por Marcello
Rollemberg, Editor de Cultura do Jornal da USP
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