Gazeta da Torre
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A infecção pela Covid-19 até pode ser assintomática, mas
isso não a impede de deixar marcas. De acordo com as informações mais recentes,
são aqueles pacientes que tiveram a doença em níveis mais graves que possuem
maior probabilidade de ficar com prevalência de sintomas e sequelas após serem
contagiados com o SARS-CoV-2.
Pessoas com casos mais leves da doença têm relatado
dificuldades nas semanas ou meses seguintes à infecção.
“Ainda não tivemos tempo suficiente para perceber como
vai ser esta evolução”, diz à CNN Portugal Andreia Leite, professora na Escola
Nacional de Saúde Pública, que trabalha em um estudo que irá avaliar a
persistência da ‘covid longa’ em Portugal.
“Tem ocorrido grande dificuldade em definir a covid
longa”, admite, bem como as sequelas que ficam em uma “condição pós-covid”.
“A condição pós-covid é um diagnóstico de exclusão”,
assinala ainda a investigadora. “Se alguém teve covid e começa com determinado
sintoma é preciso perceber se é, de fato, esta a justificação, até porque
existe um conjunto de outras causas para estes vários sintomas, o que torna a
abordagem mais difícil”, resume.
A própria nomenclatura de “covid longa” não levanta
consensos: um estudo publicado na The Lancet Respiratory Medicine, já no início
deste mês, refere que, dado o especto de sintomas que podem ocorrer e persistir
após a infecção da Covid-19, e também podem afetar diferentes órgãos e sistemas
do organismo, “é essencial concordar na nomenclatura e definição” para avaliar
a sua incidência, subtipos e gravidade.
“Este processo não pode ser deixado para as agências,
prestadores de cuidados de saúde ou investigadores, mas requer vasta discussão,
incluindo, nomeadamente, as pessoas afetadas.”
Sequelas e sintomas
Segundo uma revisão de estudos sobre a ‘long covid’, que estima que as sequelas da doença a longo prazo terão um impacto substancial na saúde pública, existem mais de 50 sintomas distintos relatados pós-infecção por covid-19, sendo os mais prevalentes a fadiga e dificuldades respiratórias, seguidas por perturbações do olfacto e paladar, cefaleias, dor no peito, névoa mental e perda de memória, bem como perturbações do sono.
Confira uma lista de 30 dos sintomas relatados e, se for
o seu caso, marque uma consulta.
Fadiga
Dor de cabeça
Dificuldades respiratórias
Dor de garganta
Lesões pulmonares
Dor no peito
Tosse persistente
Dor muscular e articular
Ansiedade
Depressão
Insônias
Dificuldade de concentração
Névoa mental
Perda de memória
Perda de olfacto
Perda de paladar
Irritações cutâneas
Perda de apetite
Vômitos
Dor abdominal
Refluxo gastroesofágico
Diarreia
Incontinência urinária e fecal
Alterações no ciclo menstrual
Queda de cabelo
Arrepios
Suor abundante
Arritmias e palpitações cardíacas
Inflamação do miocárdio
Edema dos membros
A “condição pós-covid”
Bernardo Gomes, médico de Saúde Pública, lembra a
definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera “condição
pós-covid” os sintomas que surgem três meses após infecção, que duram pelo
menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo.
Para o especialista, é importante, em termos de sequelas,
dissociar aquelas que são efetivamente decorrentes da Covid-19 e outras que
possam surgir de circunstâncias de doença mental ou até decorrentes de
alterações de estilos de vida determinados pelas medidas pandêmicas.
Segundo os estudos mais recentes, sintomas pós-covid são
mais comuns em adultos do que em crianças e mais habituais em doentes não
vacinados do que em pessoas que tomaram a vacina.
“E há outra circunstância: pessoas que podem não ter nada
na fase pós-aguda e aparecem com quadros, passado algum tempo, que se encaixam
na possibilidade de long covid”, acrescenta Bernardo Gomes.
Entre as sequelas mais comuns da Covid-19, o médico
aponta fadiga, dificuldade respiratória e disfunção cognitiva. “No entanto,
temos outros quadros de afecção do sistema nervoso.
Na prática, as suas consequências traduzem-se em
alterações inesperadas do ritmo cardíaco, arritmias, disfunções do sistema
digestivo que persistem”. O médico lembra ainda que há doenças cujo número de
casos parece ter aumentado no pós-covid, nomeadamente a diabetes, fenômeno que
se considera agora estar ligado a uma resposta autoimune exacerbada ao
SARS-CoV-2, mas que ainda terá de ser devidamente aprofundado.
“Não jogamos contra um único inimigo, jogamos contra o
vírus e as suas questões agudas mas também contra uma reação imunitária
exagerada que chegou a causar mortes. E ainda um terceiro inimigo, que deriva
do segundo, percebemos que existem reações desreguladas ao vírus que podem ter
um eco futuro e não se percebem num primeiro momento”, frisa o especialista de
Saúde Pública.
“Infelizmente, vamos tendo cada vez mais casos destes, a
expectativa é de que venha muita gente a ser afetada, ainda vai ter um impacto
social importante”.
O mesmo diz a investigadora Andreia Leite: “É esperado
que haja algum impacto do ponto de vista social e econômico, para além do
impacto nos serviços de saúde”, refere, acrescentando que ainda não existe uma
“imagem clara” da frequência da Covid-19 a longo prazo e suas sequelas, mas que
serão certamente precisos muitos recursos para a “marcha diagnóstica”
necessária nestes casos, que incluem a realização de exames complementares ou
referenciação dos doentes para diferentes especialidades.
A professora da Escola Nacional de Saúde Pública lembra
ainda que estas sequelas e sintomas do pós-covid são geralmente mais frequentes
em doentes hospitalizados ou que tiveram doença grave e, em alguns casos,
resolvem-se espontaneamente, mas em outros acabam por persistir “por um período
longo e com impacto no dia a dia, na qualidade de vida, na diminuição das horas
de trabalho ou obrigando a ter funções revistas”.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, entre 10% a 20%
das pessoas que tiveram Covid-19 sofrem de sintomas após recuperarem da fase
aguda da infecção, uma condição “imprevisível e debilitante” que afeta também a
saúde mental.
E um estudo publicado na eClinicalMedicine revela mesmo
que já foram identificados 203 sintomas associados à covid de longa duração e
que envolvem 10 órgãos diferentes do corpo humano. O estudo foi realizado com
dados de 56 países e envolveu mais de três mil pessoas, tendo concluído que 56
dos 203 sintomas identificados persistiram por sete meses.
Fonte:CNN Brasil
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