Gazeta da Torre
Doações de alimentos |
A parcela de brasileiros que não teve condições para se
alimentar ou prover alimento à sua família em algum momento nos últimos 12
meses subiu de 30%, em 2019, para 36%, em 2021.
Este índice, divulgado na quarta-feira (25/maio/2022) em
pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Social, representa o novo recorde da
série histórica no país, iniciada em 2006.
De acordo com os dados do estudo, a insegurança alimentar
no Brasil subiu quatro vezes mais em relação à média dos outros 120 países
analisados.
“É a primeira vez desde então que a insegurança alimentar
brasileira supera a média simples mundial, comparando a média simples dos
mesmos 120 países com o Brasil, antes e durante a pandemia”, destacou a FGV.
Segundo a instituição, os dados sugerem a “ineficácia
relativa de ações nacionais”.
Em 2006, primeiro medidor deste índice pela FGV Social, a
taxa de segurança alimentar no Brasil era de 20%. Em 2010 a insegurança
alimentar reduziu para 19% e teve nova redução em 2014, indo para 17%.
Já em 2019, a taxa subiu para 30% e, em 2021, foi para os
36% apontados.
Na população mais carente, o aumento da insegurança
alimentar foi ainda pior. Entre os 20% mais pobres no país, houve um aumento de
22 pontos percentuais entre 2019 e 2021. Saiu de 53%, em 2019, para 75%, em
2021.
O nível de insegurança alimentar para este nicho da
população é bem próximo do observado em Zimbabwe, por exemplo, que é atualmente
o pior país neste quesito, com 80%.
Para Marcelo Neri, Diretor do FGV Social na Fundação
Getulio Vargas e autor da pesquisa, os números evidenciam um cenário
preocupante no país, que precisa de atenção especial no intuito de solucionar
os problemas apontados.
“Os resultados mostram que a insegurança aumentou mais no
Brasil do que no mundo ao longo da pandemia. Esse aumento é muito mais sentido
na base da distribuição, o que é algo muito preocupante, pois tem se
concentrado dentre os mais pobres, que já possuem outros tipos de
insuficiência”, comentou.
Em contrapartida, os 20% mais ricos tiveram queda de três
pontos percentuais na insegurança alimentar. Saiu de 10%, em 2019, para 7%, em
2021 – pouco acima da Suécia (5%), o país com menos insegurança alimentar.
“Na comparação com média global de 122 países em 2021,
nossos 20% mais pobres tem 27 pontos percentuais a mais de insegurança
alimentar enquanto nossos 20% mais ricos apresentam 14 pontos percentuais a
menos. Altos níveis e aumentos de desigualdade de insegurança alimentar
brasileira por renda são também encontrados por níveis de escolaridade”, destacou
a pesquisa da fundação.
No Brasil, o índice de insegurança alimentar entre
pessoas com apenas o ensino fundamental completo é de 52%. Já entre as que
possuem ensino médio é de 31% e as com ensino superior é de apenas 8%.
Outro recorte destacado pela FGV Social é a diferença entre
homens e mulheres no Brasil.
Enquanto a atual taxa de insegurança alimentar entre as
mulheres é de 47%, a entre os homens é de 26%. E essa distância aumentou ainda
mais entre 2019 e 2021.
Em 2019 o índice entre mulheres era de 33% e o entre os
homens de 27%. Ou seja, enquanto houve aumento de 14 pontos percentuais entre
as mulheres, foi apontada queda de 1 ponto percentual dentre os homens.
“Quando essa insegurança afeta as mulheres nesta proporção,
que mesmo nos dias atuais ainda são as que mais estão próximas às crianças,
essa situação pode gerar um efeito a longo prazo ainda mais difícil”, pontuou
Neri.
Fonte: CNN Brasil
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