Gazeta da Torre
Maioria das mulheres já sofreu algum tipo de violência ou
assédio no trabalho, mas demoram a perceber a situação
Dois casos de assédio chamaram a atenção no mundo do
futebol nas últimas semanas. Rogério Caboclo, presidente da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), foi acusado de assédio moral e sexual por uma
funcionária da entidade. Dias depois, Caboclo foi afastado do cargo. Já o
atacante Neymar, da Seleção Brasileira e do Paris Saint-Germain, da França, foi
acusado de assédio sexual por uma funcionária de uma empresa de material
esportivo, que patrocinava o jogador. O caso está sendo investigado.
Os casos ganharam grande repercussão na mídia, mas são
apenas a ponta do iceberg, já que a maior quantidade dos casos sequer é
denunciada. Para se ter ideia, um levantamento feito pelo Instituto Patrícia
Galvão, organização feminista de referência na defesa às mulheres no Brasil,
revelou que 76% das mulheres já sofreram violência ou assédio no trabalho.
Violência no trabalho
A palavra assédio, seja moral ou sexual, traz a ideia de
que existe uma relação de poder do assediador sobre a vítima. Mas é preciso
entender cada caso e suas diferenças, como explica a terapeuta ocupacional
Maria Paula Panúncio, professora e presidente da Comissão de Direitos Humanos
(CDH) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
O assédio moral se configura com gestos, palavras e
comportamentos que expõem uma pessoa a circunstâncias humilhantes e
constrangedoras, e que podem ser ofensivas à personalidade, dignidade e
integridade física ou psíquica, com o objetivo de excluir a pessoa das suas funções,
desqualificar ou prejudicar o trabalho. “Esses atos, para serem considerados
como assédio, têm que ser frequentes, repetidos e intencionais”, destaca Maria
Paula.
Já o assédio sexual se caracteriza por palavras ou
atitudes que constrangem uma pessoa com a finalidade de conseguir vantagem ou
favorecimento sexual. Conta a professora que esse tipo de assédio “pode ser
caracterizado mesmo que praticado uma única vez e que a vítima se negue a
realizar os atos sexuais”.
Apesar de o tema ser cada vez mais discutido, muitas
pessoas ainda têm dificuldades em reconhecer uma situação de assédio. Segundo
Maria Paula, a naturalização desse tipo de violência – já enraizada na
sociedade – é um dos principais obstáculos. Brincadeiras e comentários sexistas
ou de cunho sexual, assim como o tratamento rude ou grosseiro de um chefe, são
exemplos de assédio moral e sexual, vistos com naturalidade no cotidiano.
Fonte:Jornal da USP
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