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24 de junho - Dia do santo São João Batista |
Dentre as manifestações culturais do Nordeste brasileiro os festejos juninos configuram como uma das maiores expressão da sua identidade. Chegada ao Brasil pelas mãos dos portugueses, a festa religiosa da tradição católica cristã amalgamou-se as especificidades regionais, as práticas do mundo rural e as tradições afro-indígenas – das práticas mágico-sagradas, expressa nas crendices e superstições, as comidas a base de milho. Assim, tornou-se uma manifestação festiva edificada em consonância com o cotidiano de um povo mestiço que à festa transmitiu a diversidade de suas formas de ser e estar no mundo.
A festa nascida entre os povos pagãos do Hemisfério Norte
que em junho, no dia do solstício de verão, reuniam-se para saudar aos deuses e
deusas objetivava garantir a fertilidade da terra e as boas colheitas. Ao ser
incorporada ao calendário festivo da Igreja Católica (em torno do Século VI) a
festa, agora dedicada a comemoração do nascimento de São João Batista, manteve
sua condição de festa da colheita. De tal modo, no Nordeste brasileiro sendo o
mês de junho época de fartura, no meio rural a festa passou a acontecer com a
finalidade de comemorar as boas colheitas, momento de anunciar para todos a
abundância.
Nas últimas décadas, os festejos juninos passam por
transformações, um contínuo processo de ressignificação da tradição que
terminam, em alguns casos, por alterar completamente a essência da festa. É
importante chamar atenção para o fato a transformação inicial deu-se a partir
do processo de “rurbanização” da mesma (processo de transição do espaço rural
para o urbano). Nesse processo, os elementos estruturadores da festa
(conhecimentos, normas, valores, crenças e símbolos) começaram a perder seu
sentido e caindo gradativamente em desuso. Aquela tradicional cerimônia onde
parentes, os amigos, os namorados contraíam relações de compadrio, apadrinhamento,
namoro e até casamento há muito caíram em desusança. Também não se ler a sorte,
os esperados prognósticos de futuro, não se faz adivinhações para casamento. E
as quadrilhas, momento do riso, da alegria e do improviso? Hoje são
estilizadas, uniformizadas, padronizadas, coreografadas (secretamente),
arduamente ensaiadas (por meses a fio) e dançadas num ritmo alucinante.
Mas, independente do formato e da pandemia que
enfrentamos, os festejos juninos no Nordeste continuam lugar de destaque,
disputando com o ciclo natalino a posição de festa mais importante da região.
Continuam a revelar vivências, um prolongamento dos acontecimentos e valores
que permearam a constituição da nossa sociedade, reveladoras dos diversos
segmentos sociais nos quais é possível detectar a estrutura de relações da
sociedade.
As festas juninas ainda se constitui em lugar de
reprodução de valores, fortalecimento da identidade do grupo e consequente
espaço de resistência e espaços de fortalecimento dos laços comunitários.
Confirmando, como afirma Marcos Ayala (2001), que a festa além de permitir a
recriação simbólica da memória, também estabelece vínculos com o passado,
desperta uma forte consciência de filiação a uma nação, e contribui para
reconstituir o sentimento de comunidade e pertença a um grupo, deixando
“patente este vínculo essencial entre a memória, a identidade e o poder de
resistência cultural”, um espelho através do qual os grupos se percebem - não
apenas como portadores de valores culturais, mas também, como seus produtores.
Viva o Santo São João Batista! Viva o São João!
*Heloisa de Sousa, antropóloga e pesquisadora
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