quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Como anda hoje o relacionamento das CRIANÇAS com os ADULTOS?

Psicóloga Luiza Brasil de Sá Leitão - Centro de Psicologia Hospitalar e Domiciliar 
Colaboradora do Gazeta da Torre


Refletindo sobre a relação criança/adulto, é preciso fazer a distinção entre a experiência infantil e a experiência adulta, no seio da sociedade. Diante de perguntas como: o que há hoje em dia com esses nossos pequenos?, será que as crianças estão perdendo sua essência, queimando etapas?, será que nossas crianças em breve deixarão de ser crianças?, é preciso entender, primeiramente, que a sociedade mudou. Nossa cultura tem se renovado; seu desenvolvimento se dá num ritmo nunca visto e as crianças, fruto desse meio, têm sido acionadas como nunca antes.

No mundo globalizado pela informação, a tecnologia não faz cerimônias em estender suas asas sobre as nossas casas. A informática deixou de ser apenas uma ciência e se tornou conhecida como uma plataforma de comunicação digital. As videoconferências que pareciam ser apenas um tipo de comunicação presente em filmes de ficção, hoje se integram de maneira profunda na vida de adultos e crianças. E os relacionamentos que, antigamente, se estreitavam na família e entre pessoas, no mundo moderno se tornaram obsoletos com a comunicação de áudio e vídeo em tempo real, favorecidas pela Internet.

A relação entre o saber e o não-saber, que sempre se configurou como elemento de distinção, por excelência, entre a experiência infantil e a experiência adulta, está perdendo a sua consistência. Além do aspecto fundamental do acesso à leitura, do saber ou não-saber ler, havia um outro aspecto, que distanciava adultos e crianças: a vergonha dos mais velhos, na relação com os pequenos, ante questões como violência, sexo e palavras grosseiras. Tudo isso contribuía para a construção de um clima de mistério e segredo, que ensejava a autoridade dos mais velhos, para impor à infância as diretrizes formadoras. 

O não-saber constitutivo da infância dissolve-se, no contexto atual, onde dominam a televisão e a internet, não só em razão da natureza da imagem que, contrariamente à alfabetização, é legível imediatamente, tanto aos de seis, quanto aos de sessenta anos, como também do caráter de entrada franca da televisão, que coloca adultos e crianças em pé de igualdade perante a informação. E, num mundo onde não há mais segredos, a relação adulto/criança teria que adquirir uma nova essência.

Apesar de tudo isso, crianças precisam de braços que as acolham, que as aplaudam e as guiem. Crianças precisam sentir-se crianças, independentemente de suas capacidades e habilidades de qualquer ordem. Saibamos, pois, que o arquétipo infantil existe, sobrevive e sobreviverá a todos os ataques, inclusive aos de determinadas culturas, que procuram massificar, erotizar e transformar nossos pequenos em adultos miniatura.

Nesse mundo da modernidade, apesar de ainda existir muita resistência, as relações entre adultos e crianças têm avançado no sentido da troca de opiniões, do respeito sem medo e da demonstração mais espontânea de amor. O adulto precisa tentar dar asas à criança, mas mantendo um lado protetor, para resguardar a criança contra a violência, e devendo ter cuidado com os excessos, pois a superproteção pode atrapalhar suas relações. 

Quando o adulto já tem essa conscientização, acolhe as necessidades da criança, de criar, manusear, jogar, brincar, mostrar suas habilidades, sonhar, falar de si e dos amigos. As famílias quase não se juntam mais para conversar e isso impacta na personalidade das crianças; muitos pais tentam compensar essa ausência com o atendimento de seus desejos e assim elas não criam um processo de conquista, já que recebem coisas instantaneamente, mas passam a colaborar com o que tem sido observado pelos estudiosos; que nas sociedades contemporâneas o mercado está mais atento ao modo de vida das crianças, que hoje não estão ausentes das relações econômicas e são consumidoras em potencial.

As crianças precisam continuar sendo vistas como crianças, porém é importante que o adulto as respeite e, a partir de um olhar discriminativo da condição do que é ser hoje uma criança, consiga fazê-las entender, que a autoridade ainda é deles, por sua experiência de vida, sua missão de pais e educadores.

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