Gazeta da Torre
![]() |
Cena da série 'Adolescência' da Netflix |
Brilhante, impactante, disruptiva e paradoxalmente brutal
sem apresentar nenhuma cena explícita de violência… ‘Adolescência’ é a mais
nova série da Netflix que figura no topo da lista das mais vistas nas últimas
semanas e, reconhecidamente, como uma das mais inovadoras, seja na forma como
foi filmada (plano-sequência), assim como na maneira que aborda um assunto que
vem causando um profundo incômodo nas famílias, instituições de ensino e na
sociedade como um todo.
‘Adolescência’ não é uma série de ficção policial que tem
como objetivo descobrir quem matou, mas instigar uma desafiadora reflexão sobre
por que nossos adolescentes vêm cometendo atitudes extremas, sem um “motivo
aparente”. A chamada geração Alfa (nascidos a partir de 2010) traz preocupações
e enfrentamentos diferentes das gerações nascidas nas décadas anteriores. Os
pais dessas gerações temiam os perigos existentes nas ruas – o mal a que
estávamos expostos nesse ambiente. Hoje esse medo ainda é real e pertinente,
mas para os pais da geração Alfa ainda existe um novo temor, explicitado na
série – o acesso a um mundo desconhecido por nós, localizado dentro das redes
sociais e acessado pelos computadores desses adolescentes, de seus quartos. Um
mundo digital cercado por símbolos (emojis), decifrados apenas por quem faz
parte dessa geração e que colocam as gerações anteriores como totais
analfabetos digitais. Insels, redpills, bluepills, teoria do 80/20, política do
cancelamento, cyberbullying e manosfera são algumas das expressões que compõem
o novo dialeto dessa geração que são nativos digitais e que trazem
características e comportamentos muito específicos.
Na geração Alfa, a exposição à tecnologia e a telas é
muito forte. Com muitos estímulos e acostumados a usar meios digitais para se
entreter e buscar informações, requerem uma educação mais dinâmica, ativa,
multiplataforma e personalizada. Essa geração tem como características a
flexibilidade, a autonomia e um potencial maior para inovar e buscar soluções
para problemas de forma colaborativa. Gostam de ser protagonistas, colocar a
mão na massa e aprender com situações concretas.
A geração Alfa não escreve mais cartas, manda mensagens
pelo WhatsApp ou pelas redes sociais. Não faz mais diários, posta vídeos no
TikTok, ou propaga suas ideias via X (antigo Twitter). As pesquisas já não são
mais feitas em enciclopédias, mas sim no “Senhor Google”.
As gerações Baby Boomers e X, que predominam entre os
docentes que atuam no ensino superior, foram educadas a utilizar um equipamento
novo somente depois de terem lido todo o seu manual, com o temor de quebrá-lo
se esta regra não fosse cumprida. Na geração Alfa o raciocínio é completamente
inverso, ou seja, é necessário explorar um equipamento novo, livremente, para
poder aprender como se usa – é a cultura Touch, que exemplifica muito bem a
necessidade desta geração participar ativamente do processo para poder
aprender. O fato é que a geração Alfa precisa ser protagonista do processo para
que haja o seu engajamento. Diante desse cenário de possível conflito de
gerações, o uso das metodologias ativas passa a ser uma possibilidade muito
interessante para aproximar mundos tão distantes e diferentes.
Numa atualidade em que somos desafiados a nos
(re)inventar como docentes e as atividades remotas de ensino passaram a ser uma
nova possibilidade, o uso de metodologias ativas tornou-se uma estratégia muito
interessante, na medida em que busca tornar o processo ensino-aprendizagem mais
atrativo para as novas gerações que buscam o protagonismo dentro do processo
ensino-aprendizagem. Nesse sentido, metodologia ativa é um conceito amplo, que
pode englobar diferentes práticas em sala de aula. Em comum, todas têm o
objetivo de tornar o aluno protagonista dentro do processo, participando ativamente
de sua jornada educativa.
As metodologias ativas de ensino-aprendizagem
compartilham uma preocupação – estimular a participação ativa dos alunos,
tornando-os protagonistas no processo de aprendizagem –, porém, não se pode
afirmar que são uniformes, tanto do ponto de vista dos pressupostos teóricos como
metodológicos; assim, identificam-se diferentes modelos e estratégias para sua
operacionalização, constituindo alternativas para o processo de
ensino-aprendizagem, com diversos benefícios e desafios, nos diferentes níveis
educacionais.
A geração Alfa, com seus símbolos e comportamentos
próprios, escancarados na série Adolescência, atualmente está com seus
representantes mais velhos na casa dos 15 anos e mais dois ou três anos
ocuparão as salas do ensino superior. Será que estaremos preparados para eles? Seremos
capazes de decifrá-los ou seremos devorados?
Um dia, um amigo que também é docente me disse que “os
alunos nunca envelhecem… nós envelhecemos”. Nunca havia pensado nessa
perspectiva, mas concordei, e por isso acredito que cabe a nós procurar decifrá-los
e, desse modo, termos a chance, por meio de nossas experiências de vida e
profissional, contribuir para a formação de líderes para estas novas gerações
e, assim, prepará-los para um mundo coberto de incertezas…
Ah! Não podemos ainda esquecer que a partir de 2020 temos
uma nova geração, a Beta, nativos da inteligência artificial…
Fonte: Jornal da USP
- anúncio -
Nenhum comentário:
Postar um comentário